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4.4 ESTUDO DE EXPERIÊNCIAS EXITOSAS DE TURISMO FLUVIAL NA

4.4.4 Os Barcos Moscas e o Turismo Fluvial em Paris

Paris, capital francesa, é cortada pelo rio Sena, possuindo um total de 37 pontes em seu trecho urbano. Apoiada em sua tradição histórico-cultural e, detentora de uma vocação turística invejável, Paris é exemplo mundial no cooptação de visitantes, que vem de toda parte do mundo para conhecer a “cidade luz”, considerada um dos locais mais românticos do planeta. Desta forma, a capital parisiense consegue movimentar sua economia, investindo fortemente na atividade turística.

Grande parte deste esforço, pode ser observado no uso do rio Sena, onde são realizados diariamente diversos passeios turísticos em embarcações abertas, semiabertas ou fechadas, chamadas de bateaux mouches 15, construídas especificamente para navegação em rios com

finalidade turística.

Este tipo de embarcação, construída por Félizat Michel, originário da cidade de Lyon, chegaram aos rios de Paris em 1867, para a Exposição Universal de barcos, porém, o seu nome e fama só vieram em 1950 graças a criação de uma companhia de transportes e turismo por Jean Bruel (SIMON, 2012).

Dependendo da embarcação, pode-se priorizar a quantidade de passageiros (Figura 7), para passeios turísticos guiados, podendo-se observar toda a beleza e história que margeia o leito do rio Sena em um passeio turístico guiado, ouvindo explicações sobre a arquitetura

14 UNESCO: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Inglês); Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Português).

local, história da evolução da cidade e principais acontecimentos que se deram em seu leito e regiões marginais, que refletiram para a cidade de Paris e o mundo.

Figura 7 - Bateau Mouche Semiaberto

Fonte: EuroCheapo - Foto por Fabrice Terrasson, 2013.

Há também a possibilidade de se priorizar o conforto (Figura 8), onde o turista pode almoçar ou jantar em restaurante localizado em seu convés, enquanto contempla as belas paisagens naturais, culturais e arquitetônica ao seu entorno, dando um apelo mais romântico ao passeio, especialmente à noite, com as margens e pontes iluminadas que fazem jus ao título de Paris de “cidade luz”.

Figura 8 - Bateau Mouche Fechado

A partir da introdução dos Bateaux Mouches, o turismo fluvial em Paris cresceu, e várias outras operadoras de turismo passaram a oferecer passeios de barco, com pontos de embarque fixos nas margens do Rio Sena (Figura 9), solidificando esta atividade que se mantém forte até hoje.

Figura 9 - Ponto de Bateaux Mouches

Spinelli, 2016.

Porém, a atividade turística no rio Sena só teve êxito, por conta de dois fatores. O primeiro fator foi reverter o estado bastante degradado que o Sena se encontrava na década 1920, devido à forte ação antrópica das indústrias e agricultura que o margeavam. Como forma de solucionar este problema a França vem desde 1960 investindo em despoluição do rio, através da criação de estações de tratamento de esgoto. Para se ter uma ideia, na década de 60 existiam apenas 11 estações de tratamento de esgoto ao longo do Sena, em 2008 já eram mais de 2 mil. Além disso, foi dado de 100 a 150 euros por hectare a cada agricultor, como forma de beneficiar aqueles que não poluem o rio. Essas medidas tiveram como meta atingir em 2015 cem por cento de seu restauro (EXAME, 2013). O segundo fator se deve a investidura em infraestrutura marginal para embarque de passageiros, hoje compartilhada com o turismo fluvial. Esse investimento partiu da filosofia de Paris de devolver as ruas aos pedestres, priorizando carros e bicicletas no lugar dos carros e, desta forma, tornando-se uma cidade verde, com baixo teor de emissão de CO2 na atmosfera.

Para isso, houve a necessidade de se criar alternativas para o transporte de passageiros para seu cotidiano e trabalho de forma eficaz, para que a dependência do carro fosse bastante

reduzida. Neste contexto foi criado os Batobus, espécie de ônibus que faz sucesso na capital parisiense, servindo como mais um modal de transporte de passageiros, com baixo impacto ao meio ambiente, que traz mais qualidade de vida ao desafogar o trânsito e encurtar distâncias, promove um contato mais próximo da população com natureza e beneficia milhares de passageiros que utilizam este tipo de transporte para ir ao trabalho ou, ainda, como mais uma alternativa de lazer. (Figura 10)

Figura 10 - Bateaux Mouches e Batobus

Spinelli, 2016.

A população Parisiense se beneficia do uso dos rios como rotas fluviais graças à vontade da gestão pública em valorizar o rio Sena, dando a ele uma nova identidade na conjuntura urbana da cidade. Neste contexto, vale salientar que a identidade de um local é passível de transformações, podendo ser vista e interpretada de diversas formas, como Anthony Simon explica:

A identidade não é só de um local, mas também de um legado histórico, que ajudou a forja-lo ao longo do tempo. A identidade é criada dentro da área geográfica em que a comunidade reconhece e se baseia em sinais diferentes que são descritos como marcadores de identidade, agrupados em quatro categorias: cultura local, o ambiente, o uso de espaço e atores. (SIMON, 2012, p.8)

Hoje, Paris conseguiu expressar uma nova identidade tanto à sua população autóctone quanto aos turistas, dando novos usos ao rio Sena, fazendo com que a sua história e cultura fossem redescobertas por outros ângulos. Outra capital europeia que teve êxito em integrar o

dia-a-dia da população aos seus cursos de água é Amsterdã na Holanda, que conseguiu unir em seu contexto urbanístico uma forte identidade e relação harmoniosa com suas águas.