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As brincadeiras, para a criança, constituem atividades primárias que trazem grandes benefícios do ponto de vista físico, intelectual e social. Como benefício físico, o lúdico satisfaz as necessidades de crescimento e de competitividade da criança. Os jogos lúdicos devem ser a base fundamental dos exercícios físicos impostos às crianças pelo menos durante o período escolar.

Como benefício intelectual, o brinquedo contribui para a desinibição, produzindo uma excitação mental e é altamente fortificante.

Illich (1976), afirma que os jogos podem ser a única maneira de penetrar os sistemas formais. Suas palavras confirmam o que muitas professoras de primeira série comprovam diariamente, ou seja, a criança só se mostra por inteira através das brincadeiras.

Como benefício social, a criança, através do lúdico representa situações que simbolizam uma realidade que ainda não pode alcançar; através dos jogos simbólicos se explica o real e o eu. Por exemplo, brincar de boneca representa uma situação que ainda vai viver desenvolvendo um instinto natural.

Como benefício didático, as brincadeiras transformam conteúdos maçantes em atividades interessantes, revelando certas facilidades através da aplicação do lúdico. Outra questão importante é a disciplinar, quando há interesse pelo que está sendo apresentado e faz com que automaticamente a disciplina aconteça.

Os benefícios didáticos do lúdico são procedimentos didáticos importantes; mais que um passatempo; é o meio indispensável para promover a aprendizagem disciplinar, o trabalho do educando e incutir-lhe comportamentos básicos, necessários à formação de sua personalidade. Estudar as relações entre as atividades lúdicas e o desenvolvimento humano é uma tarefa complexa, e para facilitar o estudo classificou-se o desenvolvimento em três fases distintas: aspectos psicomotores, aspectos cognitivos e aspectos afetivo-sociais. Nos aspectos psicomotores encontram-se várias habilidades musculares e motoras, de manipulação de objetos, escrita e aspectos sensoriais.

Os aspectos cognitivos dependem, como os demais, de aprendizagem e maturação que podem variar desde simples lembranças de aprendido até mesmo

formular e combinar idéias, propor soluções e delimitar problemas. Já os aspectos afetivo-sociais incluem sentimentos e emoções, atitudes de aceitação e rejeição de aproximação ou de afastamento. O fato é que esses três aspectos interdependem uns do outros, ou seja, a criança necessita dos três para tornar-se um indivíduo completo.

Ainda com respeito às categorias psicomotoras, cognitivas e afetivas, assim como a seriação dos brinquedos, devem-se levar em conta cinco pontos básicos: integração entre o jogo e o jogador, deixando-o aberto para o mundo para transformá-lo à sua maneira; o próprio corpo humano é o primeiro jogo das crianças; nos jogos de imitação, a imagem ou modelo a ser seguido é importante; os jogos de aquisição começam desde cedo e para cada idade existe alguns mais apropriados; os jogos de fabricação ajudam na criatividade, no sentimento de segurança e poder sobre o meio.

Além disto, a brinquedoteca tem um grande potencial de inclusão social, pois, segundo Vaz (1994):

Num país como o Brasil, a Brinquedoteca é importante por permitir que as crianças, principalmente as mais pobres, tenham acesso a brinquedos e a espaços para brincar. Com o uso em comum dos brinquedos a criança tem oportunidade de vivenciar ações de cooperação e partilha, reduzindo, assim, as atitudes egocêntricas próprias dos primeiros anos de vida. Neste sentido, contribui para a formação dos cidadãos em bases democráticas e de respeito aos valores sociais e coletivos.

Ou seja, pelo fato de juntar diferentes crianças em um mesmo ambiente com objetivos em comum ditados pelas brincadeiras e jogos, elas aprendem a aceitar suas diferenças e conviver em sociedade.

5 A BRINQUEDOTECA COMO INSTRUMENTO DE TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL

O estudo do efeito da brincadeira sobre o desenvolvimento das crianças, tanto no nível psicológico, social quanto educacional, existe há muito tempo. Blow, em 1875 já comentava acerca deste assunto. Ela enfatiza uma afirmação que Fröbel fez em Mother Play (Mutter und Kose-Lieder, 1844), onde “a criança imita o que ela está tentando entender”. Com isso, pode-se concluir que a brincadeira tem um papel fundamental na compreensão do todo pela criança.

Além disto, a criança freqüenta a brinquedoteca por vontade própria e pelo prazer de jogar, ou de encontrar amigos para jogar (SANTOS, 1997, p. 85). Esta característica diferencia a brinquedoteca dos demais espaços de ensino.

Ao aliar o potencial de educação através das brincadeiras, com a vontade das crianças de estarem ali, cria-se um dos espaços mais valiosos para que o Assistente Social possa exercer sua prática.

A brinquedoteca pode ser utilizada como recurso de intervenção socioeducativa porque possibilita e facilita a realização de um trabalho de grande abrangência, com crianças, adolescentes e seus familiares. A linguagem lúdica facilita uma abordagem sistêmica e integradora, dentro do processo educativo de crianças, adolescentes e adultos.

O trabalho desenvolvido na brinquedoteca contribui na prevenção do risco social de crianças e adolescentes, diminuindo sua vulnerabilidade social por meio de ações preventivas que visam a sociabilização, o fortalecimento da autoestima, a integração familiar, a capacidade de expressão e de intervenção social.

Com a brincadeira é possível observar as carências apresentadas pelos usuários da brinquedoteca e as questões que devem ser trabalhadas.

Para Souza (2000) a observação pode ser definida como técnica de apreensão da realidade que exige que os profissionais tenham clareza a respeito dos objetivos pretendidos.

Além disto:

A observação consiste na ação de perceber, tomar conhecimento de um fato ou conhecimento que ajude a explicar a compreensão da realidade objeto do trabalho e, como tal, encontrar os caminhos necessários aos objetivos a serem alcançados. É um processo mental e, ao mesmo tempo, técnico. (SOUZA, 2000)

Após a observação e registro destas questões, é estudada a melhor maneira de atuar nas expressões das questões sociais e para isso o Assistente Social utiliza a instrumentalidade como ferramenta para auxiliar na sua prática profissional.

Uma das formas de intervir com a brinquedoteca é através de dinâmicas de grupos.

Souza (2008, p.127) afirma que:

A dinâmica de grupo é uma ferramenta que pode ser utilizada pelo Assistente Social em distintas ocasiões de sua intervenção. Para instigar um debate sobre determinado tema com um número maior de usuários, bem como atender um maior número de pessoas que estejam vivenciando situações parecidas. E nunca é demais lembrar que é o instrumento que se adapta aos objetivos profissionais no caso, a dinâmica de grupo deve estar em consonância com as finalidades estabelecidas pelo profissional.

A dinâmica de grupo é um instrumento muito importante, pois é uma técnica que utiliza jogos, brincadeiras, simulações de determinadas situações, com vista a permitir que os membros do grupo produzam uma reflexão acerca de uma temática definida.

Utilizando-a no âmbito do Serviço Social é fundamental que a temática tenha relação com o objeto de intervenção e as diferentes expressões da “questão social”.

Neste instrumento o Assistente Social tem o papel de facilitador, um agente que provoca situações que levem à reflexão do grupo. Isso requer tanto habilidades teóricas, como uma postura política democrática (que deixa o grupo produzir), mas também uma necessidade de controle do processo da dinâmica, guiando o grupo para que este atinja o objetivo desejado.

No NAE é o Assistente Social o encarregado de fazer o primeiro contato com o usuário. Ele utiliza diversos instrumentais técnico-operativos, tais como:

 Fichas de cadastro – instrumento de registro de informação destinado a receber informes, a fim de armazenar e transmitir informações sobre o usuário. As fichas de cadastro servem para transformar dados em informações. Possibilita o agrupamento de dados e informações sobre o usuário do programa, por exemplo. A ficha de cadastro é composta de informações diversas desde dados pessoais, endereço, documentação, parecer técnico.

 Entrevistas – técnica utilizada pelos profissionais do Serviço Social junto aos usuários para levantamento e registro de informações. Esta técnica visa compor a história de vida, definir procedimentos metodológicos, e colaborar no diagnóstico social. A entrevista é um instrumento de trabalho do assistente social, e através dela é possível produzir confrontos de conhecimentos e objetivos a serem alcançados. É na entrevista que uma ou mais pessoas podem estabelecer uma relação profissional, e tanto quem entrevista quanto o que é entrevistado saem transformados através do intercâmbio de informações (LEWGOY, 2007).

Folha de Produção Diária – é um instrumento no qual o assistente social anota as demandas diárias, é uma folha que especifica a data e a ocorrência dos atendimentos para controle do Assistente Social. Nela constam as atividades e as providências que foram tomadas e a assinatura do estagiário ou Assistente Social responsável no momento do atendimento. O uso destes instrumentos é de fundamental importância para a realização de uma ação na prática profissional, como nos revela MARTINELLI (1994 p. 138), onde o instrumental e a técnica estão relacionados em uma “unidade dialética”, refletindo o uso criativo do instrumental com o uso da habilidade técnica. “O instrumental abrange não só o campo das técnicas como também dos conhecimentos e habilidades”.

A instrumentalidade permite a mediação para que o Assistente Social exercite sua prática profissional de forma crítica e competente. Adotar a instrumentalidade como mediação significa tomar o Serviço Social como totalidade constituída de múltiplas dimensões: técnico instrumental, teórico intelectual, ético político e formativa (GUERRA, 2007).

Nesta mesma linha de raciocínio Iamamoto (1999, p.57) afirma que:

As bases teórico-metodológicas são recursos que o Assistente Social aciona para exercer seu trabalho. Contribuem para iluminar a leitura da realidade e imprimir rumos a ação, ao mesmo tempo que moldam o conhecimento, é um meio através do qual é possível decifrar a realidade e clarear a condução do trabalho a ser realizado. Nessa perspectiva, o conjunto de conhecimento e habilidades adquiridos pelo Assistente Social ao longo de seu processo formativo é parte do acervo de seus meios de trabalho.

Percebe-se então que é possível trabalhar com diversas ferramentas técnico operativas do acervo do Serviço Social através de atividades lúdicas e/ou educativas e intervenções aplicadas no âmbito social.

Segundo Guerra (2000) a passagem da teoria à prática é possibilitada pelo caráter instrumental das ações profissionais. Para a autora a instrumentalidade fundamenta a razão de ser do Serviço Social como campo de mediação e como referenciais de novos norteadores. A partir destes, os padrões de uma nova racionalidade e ações instrumentais passam a se estabelecer.

As ações profissionais constituem-se de um arsenal de conhecimentos, informações, técnicas e habilidades que estão subjacentes às práticas do Assistente Social. Em seu trabalho cotidiano, os Assistentes Sociais se relacionam com sujeitos que lhes contam suas dificuldades, seus conflitos, suas perspectivas, seus projetos, seus sonhos e até mesmo suas intimidades e, com efeito, seu trabalho é mediado pela relação humana, seja no plano individual ou coletivo.

Magalhães (2006, p. 9) enfatiza que:

O profissional não pode ser apenas. “um ombro amigo”. Precisa demonstrar capacidade - e disso se orgulhar - de ter como um dos pontos de apoio o instrumental técnico-operativo concernente a sua profissão. Dessa forma, nossas relações com o usuário ganham um caráter de acolhimento, sem o perigo de resvalar para a pieguice ou para um paternalismo nada profissional. Afinal, trata-se de relações que se efetivam num ambiente de trabalho, o que pressupõe acolher, respeitar e compreender, num contexto em que ali estamos com nossa individualidade, mas também com a competência de um saber que nos legitimou para tanto.

Desta forma, é fundamental, que o usuário reconheça o Serviço Social como um espaço de escuta, respeito e acolhimento, o que faz dele um lugar

qualificado para atender, intervir e encaminhar as demandas e necessidades que aí incidem.

Ao discorrer sobre “O Serviço Social na Educação” Almeida (2000, p.20) assinala dois eixos a partir dos quais surgiram novos significados do campo educacional para os Assistentes Sociais: a posição estratégica que a educação passou a ocupar no contexto de adaptação do Brasil à dinâmica da globalização e o movimento interno da categoria, de redefinição da amplitude do campo educacional para a compreensão dos seus espaços e estratégias de atuação profissionais.

O que constatamos, como mesmo reflete o autor em tese é que é justamente a partir da ampliação do conceito de educação e das possibilidades de desenvolvimento de programas e ações educacionais que desembocam novas demandas e espaços de trabalho para o profissional de Serviço Social.

A inserção do Serviço Social na educação é de extrema importância e sua função é justamente intervir na realidade das instituições educacionais focando as questões sociais que incidem no processo ensino aprendizagem e que extrapolam a prática pedagógica.

Almeida (2000) mostra que alguns temas como trabalho, cidadania, família, sexualidade, drogas, violência, cultura, lazer, adolescência, que por sua vez já integram a prática profissional do Assistente Social, tem sinalizado os limites das instituições educacionais e dos profissionais de ensino em lidarem com este tema em seu cotidiano. Apesar de todos os parâmetros curriculares para educação básica, profissional, superior e a educação especial, a rede de ensino tem se mostrado ineficiente no enfrentamento desses temas e é justamente nesta lacuna que o Assistente Social vêm incorporando essas diversas demandas.

Desta forma, podemos dizer que a inserção do Assistente Social na educação contribuirá para que os espaços responsáveis pela educação executem sua função social de proteção dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, pois os problemas sociais como: evasão escolar, dificuldade econômica, desagregação familiar, envolvimento com drogas, dentre outras questões emergentes, exigem a intervenção de uma equipe interdisciplinar (LOPES, 2005).

Nesta perspectiva é essencial que o profissional acompanhe as mudanças ocorridas na sociedade brasileira, o desenvolvimento das políticas sociais, os debates e discussões pertinentes a profissão, as legislações e concepções presentes em cada época histórica para que possa ter sua atuação voltada de forma efetiva à viabilização e garantia dos direitos à população.

Podemos situar aqui alguns acontecimentos e discussões importantes que estão contribuindo com as reflexões a respeito do Serviço Social na Educação, que por sua vez foram assinalados no Grupo de Estudos sobre Serviço Social na Educação, coordenado por Bressan (2001), como as contribuições dos autores Backhaus (1992), Camardelo (1994), Almeida (2000), além da realização do 8º e 9º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) realizado em 1995 em Salvador e 1998 em Goiânia. Ainda em relação à inserção do profissional de Serviço Social no campo da educação Bressan (2001, p. 7) assinala um importante desafio:

Que é o de construir uma intervenção qualificada enquanto profissional da educação, que tem como um dos Princípios Fundamentais de seu Código de Ética Profissional o “posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática”. O que significa que precisamos empreender uma construção coletiva (enquanto categoria profissional), que será caracterizada por caminhos e experiências diferenciadas, mas com o mesmo propósito.

Com isso, o trabalho do Assistente Social deve ser pautado no pressuposto de que a educação é uma política pública de direito constitucional e por isso deve ser garantido não somente com a democratização do acesso do sujeito à educação, mas, sobretudo ante a qualidade do ensino, a fim de promover o crescimento cultural do indivíduo enquanto cidadão como explicita Lopes (2005).

A necessidade deste profissional na educação, portanto se dá na medida em que o cotidiano das instituições educacionais enfrentam complexas expressões da questão social que apenas o conhecimento pedagógico não consegue enfrentar, precisando de outros saberes, como por exemplo, do Assistente Social.

No item seguinte, destacam-se as ações empreendidas para a implantação da brinquedoteca, no campo de estágio da acadêmica.

6 O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA BRINQUEDOTECA

A partir da prática e da experiência vivenciada no período de estágio curricular obrigatório, do Curso de Serviço Social da UNISUL, constatou-se empiricamente aquilo que se havia descoberto na teoria. As crianças não só precisavam ter contato com um tipo de espaço como uma brinquedoteca, como este contato promoveu uma melhora na formação e no desenvolvimento social dos educandos. Portanto o núcleo já havia providenciado um acesso a uma brinquedoteca.

As crianças vinculadas e atendidas no NAE tinham acesso a uma brinquedoteca através de um projeto próximo localizado na Cidade da Criança. Para chegar ao local é necessário o deslocamento com a travessia de ruas, que além de perigoso acarreta perda de tempo e impossibilita a atividade na ausência de profissionais responsáveis ou em caso de tempo ruim. Além disto, havia restrições quanto ao número de educandos e aos horários disponíveis para o NAE, sendo necessário selecionar os educandos para a atividade.

A partir de diálogos e reflexões mantidas com os outros educadores do NAE, constatou-se a necessidade de criar uma brinquedoteca dentro do núcleo. Deste modo o acesso a este espaço seria facilitado e sem restrições, permitindo trabalhar com mais freqüência e facilidade as questões socioeducativas.

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