• Nenhum resultado encontrado

2. Os Auxílios de Estado

2.4. Os Auxílios Tributários

2.4.1. Os benefícios fiscais

Nas palavras de CASALTA NABAIS (2016) “os desagravamentos fiscais lato sensu [este conceito abrange as medidas “estruturais”, ou seja inerentes ao sistema, incluídas na tributação regra: ao nível da incidência, da determinação da matéria colectável, da liquidação, da estrutura das taxas aplicáveis136] abrangem as categorias dos desagravamentos fiscais stricto sensu (exclusões tributárias) e os benefícios fiscais lato sensu, sendo que estes últimos comportam os estáticos e os dinâmicos… os benefícios fiscais são considerados pelo direito da União, mais precisamente pelo direito europeu da concorrência, auxílios de Estado em tudo idênticos aos auxílios financeiros directos”137 e NEVES, LOBO, SOUSA, MENDONÇA, PAIVA (2013) “… com impacto ao nível da competitividade empresarial, não só a nível doméstico, como também, e de forma relevante, ao nível internacional”138, neste sentido e, à semelhança do que já fora extensivamente referido em termos gerais (vide ponto 2.2), para além de se traduzirem numa derrogação às regras gerais de tributação - ou excepções ao modelo de tributação regra, como refere SÁ GOMES (1991)139 - cabe agora referir, com especificidade, os critérios caracterizadores dos benefícios de natureza fiscal ou parafiscal (vantagens económicas atribuídas a certas empresas/produções pelos poderes públicos) todos eles cumulativos:

- Critério da existência de uma vantagem, este critério verifica-se quando forem concedidos tratamentos mais benéficos do que o da tributação-regra estabelecido num dado ordenamento jurídico a certa empresa ou produção;

- Critério da selectividade (quer material quer regional) através do favorecimento de certas empresas/produções, ou favorecimento de empresas

136 SÁ GOMES, 1991, p. 33

137 NABAIS, 2016, p. 392 (esquema) e 395

138 NEVES, LOBO, SOUSA, MENDONÇA, PAIVA, 2013, p. 96

139 Neste sentido, SÁ GOMES, 1991, esclarece “…todo os modelos de tributação regra comportam, em

maior ou menor medida, situações de não tributação implícita, que, resultam da própria lei de tributação…” p. 32

localizadas em determinadas regiões140, na acepção de PEREIRA (2013) “ no caso de medidas de natureza fiscal, a selectividade resulta de um favorecimento concedido exclusivamente a determinadas empresas através de medidas que se desviam do regime tributário ordinário do Estado-membro em causa”141;

- critério do falseamento da concorrência, quando já se tenham verificado os dois critérios mencionados anteriormente, existe distorção da concorrência, pois as empresas/produções não estão todas a concorrer, entre si, em igualdade;

- Critério da afectação do comércio intracomunitário, tem que haver uma alteração das condições de trocas entre os EM142, nas palavras de PEREIRA (2013) “a afectação da concorrência pode acontecer tanto ao nível de mercados conexos ou derivados, sendo entendida como uma consequência necessária e incontestável da atribuição de uma vantagem a uma determinada empresa ou produção, permitindo o carácter da medida estimar, pelo menos potencialmente, esses efeitos”143;

- Critério da irrelevância da forma, podendo os benefícios fiscais assumir várias formas144 - impostos (tem carácter unilateral, em sentido amplo, independentemente das suas particularidades, pois todos eles são passíveis de originar situações de auxílios estatais); as contribuições financeiras a favor de entidades públicas (as contribuições para a segurança social, independentemente da sua proveniência, dos trabalhadores ou da entidade patronal); as taxas (têm carácter bilateral, pela prestação de um serviço, útil e vantajoso, por parte do Estado, o receptor paga um valor pelo seu usufruto, ou seja paga mas recebe algo em troca); outras contribuições ou taxas de natureza parafiscal (imposição por entidade pública ou privada, tendo em vista o financiamento das actividades que beneficiem todo o sector económico a que respeita).

- Critério da intervenção Estatal, ao serem “concedidos por um EM ou provenientes de um recurso estatal” uma vez que se tratam, ao nível da fiscalidade,

140 Cfr. SANTOS, 2003, p. 323 o critério da vantagem e o critério da selectividade têm sido, no plano

comunitário, tratados em conjunto.

141 PEREIRA, 2013, p. 27

142 Cabe referir que estes dois últimos critérios, falseamento da concorrência e afectação do comércio

intracomunitário têm sido, pela Comissão e pelo TJUE, tratados em conjunto, pois traduzem-se numa relação causa-efeito.

143 PEREIRA, 2013, p. 43 144 SANTOS, 2003, p. 314 - 317

de decisões públicas, administrativas e legislativas de aplicação regional, local e nacional;

Neste contexto, é ainda pertinente definir os benefícios fiscais quanto ao seu carácter. Na acepção de SÁ GOMES (1991)145, os benefícios fiscais distinguem-se entre benefícios fiscais estáticos (strictu sensu) e benefícios fiscais dinâmicos (também designados incentivos ou estímulos fiscais):

- os primeiros, têm como pano de fundo tutelar situações (de renúncia de receitas) já verificadas - ou que ainda não se tenham verificado totalmente – visando apenas beneficia-las por superiores razões – de índole económica, social, religiosa, religiosa, políticas de defesa e politica externa146.

- os segundos, visam incentivar ou estimular certas actividades – ou como a doutrina por vezes refere medidas de fomento fiscal - com vista a alcançar uma vantagem futura. Podendo, tanto os estáticos como os dinâmicos, revestir carácter temporário, quando a duração da vigência do benefício está previamente fixada por lei; ou carácter permanente, quando não é determinado o seu prazo de duração147. Porém, independentemente da sua natureza, estes benefícios traduzem-se sempre por uma derrogação ao Princípio da Igualdade Fiscal148.

De facto, embora distintos no plano económico e jurídico, todos apoios financeiros atribuídos sob a forma de benefícios ou incentivos fiscais e parafiscais, visam a atingir os mesmos objectivos: as vantagens para as empresas.

145 SÁ GOMES, 1991, p.35 146 NABAIS, 2016, p. 391 147 SÁ GOMES, 1991, p. 145

148 Segundo NABAIS, 2016, este principio consubstancia-se na ideia universal de que todas as

pessoas (quer singulares, quer colectivas) têm a obrigação de pagar impostos, e que consequentemente lhe seja conferido, pelo mesmo critério, o critério da capacidade contributiva – ou seja igual imposto para quem tem a mesma capacidade contributiva, para quem dispõe de uma capacidade contributiva diferente, o imposto deve ser-lhe aplicado proporcionalmente – pp. 151-154.

2.4.2. Os auxílios tributários e o Princípio da Incompatibilidade com