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6. As Publicações do IHGPEL

6.2 Os Cadernos do IHGPEL

O desejo da publicação dos Cadernos do IHGPEL surgiu da necessidade de divulgar e preservar documentos históricos. Além disso, os Cadernos têm como característica abordar, exclusivamente, um assunto por edição. O primeiro Cadernos

do IHGPEL foi publicado em 2010 e em 2015 alcançou seu quarto volume. Abaixo, na tabela 26, pode ser observada a descrição mais detalhada da publicação:

Tabela 26 – Descrição dos Cadernos do IHGPEL.

Nome Volume Ano

Cadernos do Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas: visita da Princesa Isabel à cidade de Pelotas.

1 2010

Cadernos do IHGPEL: Dois Ases na Linha de Fronteira do Rio Grande de São Pedro.

2 2011

Cadernos do IHGPEL: posturas policiais adotadas para o regime do município da Câmara Municipal da Vila do Rio Grande de São Pedro do Sul adotadas pela Câmara da mesma vila em sessão de 31 de julho de 1829; posturas policiais aprovadas pelo conselho Geral para Câmara Municipal da vila de São Francisco de Paula – 1834.

3 2012

Cadernos do IHGPEL: Portugueses insulares e suas descendências no sítio charqueador pelotense.

4 2015

Fonte: Biblioteca Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas.

O primeiro volume dos Cadernos do IHGPEL possui noventa páginas e foram impressos trezentos exemplares. Esse caderno foi a união de várias notícias que saíram em jornais das cidades de Pelotas e Bagé, na região sul do Rio Grande do Sul, referentemente à visita da Princesa Izabel a Pelotas no ano de 1885. O Major Ângelo Pires Moreira, sócio fundador da instituição, por muitos anos colecionou recortes de jornais, que doados ao IHGPEL em 1992, originaram um dos setores da instituição denominado de hemeroteca Major Ângelo Pires Moreira.

Esses recortes de notícias de jornal, em especial, sobre a Princesa Izabel, estavam muito deteriorados. Preocupados em salvaguardar os jornais e em divulgar notícias, surgiu na diretoria do IHGPEL a ideia de elaborar os Cadernos (ABUCHAIM e BETEMPS 2010). A partir desse primeiro volume, os outros seguiram a mesma linha de transcrição, divulgação e preservação de documentos.

As notícias sobre a vinda da Princesa Izabel à região circularam de seis de fevereiro de 1885 à dezessete de março de 1885. Essas notícias saíram nos jornais

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As notícias referiam-se à agenda da Princesa nas cidades, como por exemplo, assistir à missa, almoçar, visitar as instituições e as fábricas, ou seja, fornecer uma descrição das atividades da Princesa na cidade. Abaixo podemos observar os compromissos da Princesa durante o dia oito de fevereiro de 1885, e assim entender como funcionava rotina na cidade:

Ás onze foi visitar o Imperial Asylo da Conceição, acompanhada de seu veador e aia, [...] Em uma das salas do edifício, sentada S.A.I. em uma cadeira primorosamente estufada, foi saudada pela asylada Amalia, que pronunciou congratulando-se com a visita de S.A. [...] Pouco antes do meio dia, S.A.I. retirou-se. Ás 2 horas da tarde achava-se S.A. e sua comitiva na importante fabrica de chapeos dos Srs. Cordeiro e Wienner. S.A. visitou a fabrica toda, [...] e disse que não tinha visto, no imperio, um estabelecimento d‟esse gênero tão importante. As 3 ¹/4 foi S.A. a fabrica de sabão e vellas do Sr. F. C. Lang&C. também uma das que, no seu gênero, dá ao estrangeiro prova de quanto Pelotas se dedica à industria. [...] As 4 ¹/2 S.A. Imperial, seus augustos filhos e comitiva recolheram-se a palacio. As 5 ¹/2 foi S.A. fazer um passeio, em carro descoberto, á lindíssima chacara do Barão do Tres Serros, localizada na luz (ABUCHAIM e BETEMPS, 2010 apud, Correio Mercantil, 1885).

E assim, como a citação aponta, os dias da Princesa e de sua comitiva eram cheios de atividades, sendo ela sempre acompanhada de pelotenses que lhe apresentavam a cidade. Quanto aos vários compromissos diários da Princesa, relata o jornalista Maximio Serzedello, do jornal Gazeta de Noticias, no dia dezessete de março de 1885:

Sua Alteza a Sra. Princeza tem andado n‟estes dias em uma verdadeira roda viva. [...] Eu já chego a ter pena de Sua Alteza, que afinal de contas, indo a toda parte, ainda não foi a parte nenhuma, e isto por cansa dos ciceroni que lhe arranjou o Sr. conselheiro Andrade Pinto, que póde limpar, d‟esta vez como das outras, as mãos á parede (ABUCHAIM e BETEMPS, 2010 apud, Correio Mercantil, 1885).

Abaixo na figura 27 a capa do Cadernos do IHGPEL:

Figura 27 – Imagem da capa do Cadernos do IHGPEL: Visita da Princesa Izabel a Pelotas, n. 1, (ABUCHAIM e BETEMPS 2010).

Fonte: Biblioteca do IHGPEL.

O segundo volume dos Cadernos do IHGPEL possui noventa e nove páginas e foram impressos trezentos exemplares. Nesse volume foi transcrita a documentação doada pela família da sócia e pesquisadora Maria Coleta Souza Dutra da Silveira de Almeida Couto. O arquivo de genealogia é formado principalmente pela documentação das pesquisadoras Alda Jaccottet e Maria Coleta.

O volume dois conta com a pesquisa realizada por encomenda por Dr. Blau para Maria Coleta, no ano de 1993. Maria Coleta, estando em Portugal, enviava cartas com o resultado da pesquisa e a documentação encontrada nos arquivos. Os documentos referem-se à história do Rio Grande do Sul e a personagens como Rafael Pinto Bandeira e José Marcelino de Figueiredo. Segundo Magalhães (2011, p.5):

Contam há muito tempo os historiadores regionais uma curiosidade: nas lutas pela expulsão dos espanhóis da Vila de Rio Grande, entre 1763 e 1776, foi grande o pavor que a astúcia e a valentia de Rafael, o nosso mais famoso caudilho do período colonial, incutia no ânimo dos castelhanos. Eles

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chegavam a ameaçar os filhos, na hora das refeições: - Come tudo, senão Pinto Bandeira vem te pegar...

Porém, não existia um registro incontestável deste fato, transmitido por tradição oral. Agora – a partir da publicação deste texto que o leitor tem em mãos – ficamos todos sabendo que “era voz pública em idioma castelhano que os cavalos tremiam quando se nomeava o nome [sic] de Rafael Pinto Bandeira”.

Em vinte e um de abril de 1993, Maria Coleta envia a primeira carta de Lisboa para o Dr. Blau, com notícias da pesquisa.

Tenho imenso prazer em atender qualquer pedido relacionado com a pesquisa histórica. Principalmente, em se tratando de um „colega‟ recomendado por amigos do Rio Grande.

Hoje, irei à Torre do Tombo procurar notícias dos primeiros tempos e do final da vida de Manoel Jorge Sepúlveda, governador de nossa terra de 1769 a 1780, sob o nome de José Marcelino de Figueiredo. Quanto à estada de Rafael Pinto Bandeira em Lisboa, tenho sérias dúvidas. Mas darei uma busca na documentação da chancelaria de Dona Maria (1776 a 1792) e outras fontes (BITTENCOURT E ABUCHAIM, 2011, p.9).

Em maio de 1993, Maria Coleta envia outra carta ao Dr. Blau, entretanto, afirma que não recebeu resposta quanto ao recebimento do material anterior. A documentação inclui cartas recebidas e enviadas não somente por Rafael Pinto Bandeira, mas também por outras pessoas referindo-se a ele. As questões de genealogia, especialidade de Maria Coleta, possuem uma vasta descrição, sendo que vários relatórios foram enviados entre abril e agosto de 1993. Ainda se encontram fotos e documentos digitalizados ao final do caderno. A seguir pode ser observada a capa do segundo volume dos Cadernos do IHGPEL:

Figura 28 – Imagem da capa do Cadernos do IHGPEL: Dois Ases na Linha de Fronteira do Rio Grande de São Pedro, n. 2 (BITTENCOURT E ABUCHAIM, 2011).

Fonte: Biblioteca do IHGPEL.

O terceiro volume dos Cadernos possui setenta e uma páginas e foram impressos trezentos exemplares. O caderno refere-se à transcrição das posturas policiais aprovadas nos anos de 1829 e 1834. Cabe destacar que Pelotas ainda pertencia ao município de Rio Grande em 1829. Em 1830 Pelotas foi considerada vila pelo Conselho Geral da Província, porém somente em 1832 foi reconhecida oficialmente como Vila de São Francisco de Paula e instalou-se sua Câmara de Vereadores (MAGALHÃES, 2011).

As posturas de 1829 foram impressas em Porto Alegre pela Tipografia de Silveira e Dubreuil, contudo esse caderno teve como base a publicação da Revista do Primeiro Centenário de Pelotas organizada por João Simões Lopes Neto em 1912 (SANTOS, 2012). E por sua vez, as de 1834 compõem o acervo do IHGPEL. Os dois documentos estão disponíveis na instituição, no arquivo histórico João José Planella, fundo da Câmara Municipal de Pelotas, e podem ser consultados.

As posturas de 1829 estavam divididas em dezesseis capítulos que discorrem sobre as instruções e regras para uma melhor convivência em comunidade. Por exemplo, estabelece regras para a utilização dos cavalos “Capítulo III - Sobre correr em Cavalos dentro das Povoações, tê-los amarrados nas portas, e frente das casas”

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(SANTOS, 2012, p.15). As posturas abordam também as regras para os taberneiros, proibindo os escravos de se divertirem,

Capitulo V

Sobre os Taberneiros

Art. 7. Os Taberneiros não consentirão nas suas tabernas os escravos parados sem necessidade, nem comendo, jogando ou conversando; se contravierem serão multados em seis mil réis pela primeira vez e doze mil réis e seis dias de prisão. Se tiverem as Portas mal abertas, ou alguma delas fechadas para encobrir essas coisas, pagarão pela primeira vez dois mil réis, e quatro mil pela segunda e mais vezes (SANTOS, 2012, p.16, grifos do autor).

As posturas de 1834 foram divididas em duas sessões, Sessão I - saúde pública; Sessão II - polícia, e ainda subdividida em cento e quarenta e quatro artigos. Referentemente à saúde pública,

Titulo 5º

Sobre cemitério e enterros

Artigo 31º Enterrar corpos dentro das igrejas e sacristias, ou dentro de

recinto da Vila, ou no das Povoações do termo, que lhe são anexas.

Penas. De trinta mil réis pela primeira vez, e sessenta pelas reincidências (SANTOS, 2012, p.38-39 grifos do autor).

Na sessão II encontra-se um artigo sobre o lixo na vila, “Artigo 37º: Depositar nas ruas, praças, e mais lugares de pública servidão, quaisquer materiais ou objetos que embaracem o trânsito público. Penas. De dois mil réis por a primeira vez, e quatro pelas reincidências” (SANTOS, 2012, p.39 grifos do autor). As posturas serviam para colocar ordem na comunidade, mas também para punir quem não cumprisse as regras estabelecidas. A seguir a capa do Cadernos do IHGPEL volume três:

Figura 29 – Imagem da capa do Cadernos do IHGPEL: posturas policiais adotadas para o regime do município da Câmara Municipal da Vila do Rio Grande de São Pedro do Sul adotadas pela Câmara da mesma vila em sessão de 31 de julho de 1829; posturas policiais aprovadas pelo conselho Geral para Câmara Municipal da vila de São Francisco de Paula – 1834, nº 3 (SANTOS, 2012).

Fonte: Biblioteca do IHGPEL.

O quarto volume dos Cadernos do IHGPEL possui 157 páginas e recebeu patrocínio do Governo de Portugal para a publicação, com uma tiragem de quinhentas cópias. Esse caderno foi uma pesquisa de genealogia de autoria de Vera Rheingantz Abuchaim, sócia e membro da diretoria, e de Maria Roselaine da Cunha Santos, sócia e ex-presidente nos biênios (2010-2012) e (2012-2014) e funcionária cedida pela Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul. Esse caderno se diferencia dos anteriores que focam, sobretudo, na transcrição e reprodução de fontes históricas.

O estudo de genealogia reuniu as principais famílias de charqueadores de Pelotas (Furtado de Mendonça; Silveira Calheca; Rodrigues Barcellos; Silva Tavares; Jacinto de Mendonça e Rocha Osorio) que vieram de Portugal. “Os dados genealógicos foram montados a partir de pesquisas dos genealogistas Alda Maria de Moraes Jaccottet, Carlos Grandmasson Rheingantz, Ilka Neves, João Simões Lopes, Leandro Betemps e Raquel Domínguez de Minetti” (ABUCHAIM e SANTOS, 2015, p.12). Esse trabalho, além do estudo de genealogia, ainda apresenta imagens

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e fatos históricos referentes às famílias pesquisadas e à cidade de Pelotas, como podemos acompanhar no trecho abaixo:

Florência Maria do Pilar, com o apoio de sua mãe, conseguiu, junto a Antonio Colônia, a doação da representação do padroeiro da recém formada freguesia de São Francisco de Paula; Colônia acompanhou-a no iate Argelino que, saindo do porto de Cristovão Pereira em Mostardas, aportou na charqueada de Calheca. Além de Calheca, vinha no iate o vigário Felício. [...]

Como a igreja ainda estava em construção, não possuindo alfaias nem andor, o padre Felício carregou a imagem do santo nos braços, auxiliado pelos patrões de iate [...] (ABUCHAIM e SANTOS, 2015, p.40).

A seguir a imagem capa do quarto Cadernos do IHGPEL:

Figura 30 – Imagem da capa do Cadernos do IHGPEL: portugueses insulares e suas descendências no sítio charqueador pelotense, nº 4, (ABUCHAIM e SANTOS, 2015).

Fonte: Biblioteca do IHGPEL.

Podemos observar que os Cadernos do IHGPEL são o resultado da preocupação com a preservação de documentos de interesse dos sócios. Os volumes um e três divulgam documentos considerados de difícil acesso, as reportagens sobre a visita da Princesa Izabel e as Posturas Policiais de 1829 e 1834. Os volumes dois e quatro apresentam dados de investigações das sócias Maria Coleta e Vera Abuchaim, respectivamente.

Observamos que os Cadernos possuem um enfoque historicista, afastando-se da perspectiva mais aberta das revistas. A história oficial da cidade é privilegiada, seja com a visita da Princesa Izabel, as Posturas Policiais, as notícias de Rafael Pinto Bandeira ou a genealogia das tradicionais famílias pelotenses. Apesar disso, os Cadernos contribuem para a salvaguarda de documentos em risco e para o acesso facilitado a essas fontes.