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com o co-labor

Neste capítulo compartilho uma narrativa reflexiva sobre a metodologia- pedagogia de co-labor e os percursos que se mostraram possíveis nesta pesquisa. Em constante experimentação, os caminhos foram sendo trilhados aos poucos, entrelaçando diferentes sensações, momentos e estratégias, onde contei com a interlocução, apoio, disponibilidade, confiança e paciência especialmente de ACS que compartilharam comigo suas experiências e saberes. Em meio à afobação, insegurança, confusão, entusiasmo e estranhamento diante de novos caminhos metodológicos, fui tentando dar os primeiros passos. O ponto de partida foi uma conversa que tive no começo de 2017 com meu orientador, aqui transcrita parcialmente:

- Eu: Sobre a análise, estas poderiam ser compartilhadas, talvez. Levar pra elas o conteúdo transcrito, o que acha? Mas a análise teórica não tem como deixar de fazer, pois a tese exige isso. O que me deixa bem confusa é: como fazer isso sem produzir subalternidade?

- Nelson: O que tem feito Walsh e outros pesquisadores decoloniais? Está na hora de sair da confusão para o caminho... Você é mulher e sofre todas as consequências de uma sociedade sexista, machista e patriarcal. O que faz para não ser subalterna?

(...)

- Eu: Também pensei em convida-las para escrevem diários ou narrativas, mas isso pode sobrecarrega-las, ser uma imposição...

- Nelson: Para protege-las de uma possível sobrecarga (construída unilateralmente na sua perspectiva sobre o que são as ACS) você resolve impor a elas a sua visão... Não é exatamente isso que os colonizadores fizeram com os povos indígenas? Será que nenhuma delas toparia conduzir um grupo focal e você ficaria de observadora? Será que nenhuma delas toparia entrevistar outras agentes, discutir e depois você faria transcrição e discutiria as análises com elas? (...) O conhecimento que queremos é uma militância e não um exercício intelectual apenas.

Com essas diretrizes comecei a refletir sobre como fazer, o que olhar e o que buscar com a pesquisa orientada para o trabalho de co-labor. O fazer metodológico não seguiu protocolos: foi sendo construindo e experimentado a partir das relações desenvolvidas com agentes de saúde, com as quais eu estava mais em contato. Uma das minhas preocupações foi compartilhar com elas “novas” possibilidades metodológicas, para ver qual proposta seria mais interessante e adequada às suas rotinas, tanto laboral como pessoal/familiar. Entre orientações,

imersão em leituras o co-labor e estudos culturais e, claro, conversações com quatro ACS, uma das estratégias escolhidas foi convidá-las para entrevistarem umas às outras. Além disso, também transitei por capacitações e eventos institucionais nas quais pude interagir com muitxs profissionais de saúde da rede de atenção básica de Campinas. Essas interações foram importantes e me ajudaram a ampliar o olhar para pressupostos que são caros a esta investigação.

Apesar da narrativa aqui apresentada ter sido construída a partir do meu olhar como pesquisadora, está fundamentada na intersecção de vozes e nos encontros proporcionados pelo trabalho de campo, seja no acompanhamento das capacitações, nas conversações e nas entrevistas com ACS. Para dar destaque a esses encontros nos textos a seguir colocarei as falas dxs meus/minhas interlocutorxs, registradas no meu diário de campo, entre “aspas” e em formato itálico. Sem esquecer do TCLE, os nomes dxs “participantes da pesquisa” foram substituídos por mim para garantir a confidencialidade das informações (mesmo sabendo que, apesar do cuidado, algumas pessoas poderão ser facilmente identificadas por quem é da rede SUS Campinas). Sem a pretensão de forjar uma linha cronológica dos acontecimentos (e sem querer privilegiar um em detrimento do outro), apresentarei uma reflexão sobre cada um dos cenários por onde me desloquei, costurando as experiências extraoficiais até as experimentações com as entrevistas.

Observações, interações e conversações extraoficiais

Ao ingressar na área da Saúde Coletiva fui adentrando espaços e conhecendo modos de pensar e agir até então desconhecidos por mim. Desde 2014, devido à minha pesquisa de mestrado sobre a sociabilidade nos grupos de práticas corporais e meu vínculo com o LAPACIS, fui me aproximando de trabalhadoras e trabalhadores da saúde, dentro e fora da UNICAMP. Assim, comecei a transitar por espaços que, até então, “apenas” como cientista social ou como usuária do SUS seriam inacessíveis para mim (pelo menos no meu imaginário sobre o que é e quem atua no “campo da saúde”). Desde então, a experiência mais efetiva foi como integrante do grupo condutor do Curso de Formação em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde - PICS, entre os anos de 2015 e 2016.

Uma discussão recorrente nas reuniões de planejamento deste curso era sobre a importância de reconhecer os protagonismos locais, valorizando os trabalhos

já realizados, principalmente a atuação de ACS com grupos de práticas corporais. Entretanto, apesar da proposta de que o curso deveria ser construído coletivamente, a partir da demanda dos próprios trabalhadorxs, a abertura para a participação de ACS foi inexpressiva. Era muito comum a presença de apoiadorxs dos distritos de saúde, de médicxs, psicólogxs, enfermeirxs e, claro, a minha, como porta-vozes do trabalho com as práticas integrativas e complementares nos serviços de saúde. Mas, o que pensavam as/os ACS sobre isso? Como poderiam contribuir na construção do curso a partir de seus conhecimentos e experiências com o Lian Gong ou o Movimento Vital Expressivo, por exemplo?

Além de ter tido a oportunidade de acompanhar de perto e de dentro (69) a construção desse curso – observando principalmente uma dinâmica que eu não estava familiarizada – também participei como facilitadora e ouvinte no processo formativo. Essa experiência foi importante para interagir com outras ACS e ampliar minha rede de contatos. Pude ouvir seus relatos sobre as principais dificuldades e enfrentamentos em relação à manutenção de seus grupos de práticas corporais. Também aprendi sobre como conduzem os grupos e como criam suas próprias tecnologias de cuidado. Sem dúvidas, isso contribuiu bastante para aumentar meu interesse em investigar os sentidos da oferta de Lian Gong, sendo constitutivo (e imprescindível) para o amadurecimento do projeto de doutorado.

Relendo os registros das reuniões no meu diário de campo e rememorando alguns encontros do processo formativo, comecei a refletir sobre as assimetrias que reproduzimos no grupo condutor. Ao compreender temáticas como grupalidade, convivência, acolhimento das diferenças e cuidado, a formação centralizou a condução dos encontros nas falas de “especialistas”. A maior parte do tempo “ensinamos” e falamos sobre assuntos que também eram de domínio de agentes de saúde que trabalham com grupos de práticas corporais há muitos anos. Tal crítica não é para reduzir a importância do curso em questão, mas necessária para colocar em perspectiva uma das (várias) formas de silenciamento sofrido por ACS na estrutura hierárquica de conhecimentos.

De modo geral, o objetivo do curso foi “ampliar e produzir novos olhares sobre as práticas integrativas e complementares em saúde, possibilitando a qualificação e a inovação das ações de cuidado no cotidiano dos serviços do SUS” (diário de campo e convite enviado para xs facilitadorxs). Seguindo o formato de

oficinas, a dinâmica do curso priorizou perguntas disparadoras que contemplassem tanto reflexões sobre os fundamentos teóricos e políticos das PIC, como também uma problematização sobre as dificuldades e contradições que xs trabalhadorxs encontravam para trabalhar com essas práticas no cotidiano dos serviços (70). De fato, foi a única vez que, dentre as capacitações da prefeitura que acompanhei, observei maior abertura para a discussão em pequenos grupos, não sobre as técnicas ou os conceitos em si, mas sobre as “experiências, sentimentos, expectativas e curiosidades em relação aos temas explorados” (diário de campo).

Em cada encontro eu ficava atenta ao debate estimulado durante e após a exposição dxs facilitadorxs e também às trocas que aconteciam no espaço onde o curso foi realizado (a hora do intervalo se mostrou bastante propícia para isso). Por não ser profissional de saúde e estar distante do cotidiano dos serviços foi uma oportunidade de conhecer um pouco das histórias, dos desafios, das potencialidades, dos problemas e das possibilidades do trabalho com as práticas integrativas no SUS Campinas. Se para mim era “óbvio” que os grupos de práticas corporais proporcionam encontros que produzem saúde e cuidado, ao longo da capacitação ficou mais explícito para mim o quanto essa “evidência” ainda era pouco debatida (e até mesmo problemática) no campo da saúde.

Para citar um exemplo: a partir dos relatos nas rodas de conversa fui percebendo que, assim como os grupos de práticas corporais que eu havia pesquisado no mestrado, o trabalho realizado com hortas comunitárias também contribui para a construção de vínculos horizontais entre usuários/as e profissionais de saúde. Além disso, também sofre com a falta de espaço físico nas unidades de saúde, um limitador para a oferta dessas atividades para a comunidade. Do mesmo modo requer ainda um “trabalho de formiguinha” para que, tanto a população, como os profissionais de saúde, tenham mais conhecimento sobre os benefícios para o cuidado em saúde com o uso de plantas medicinais e produtos fitoterápicos.

Quando as discussões abordavam os “grupos de vivência” (como de lian gong, movimento vital expressivo, caminhada e qualidade de vida, para citar os mais populares) a participação das agentes de saúde era mais expressiva e elas lançavam questionamentos cujas respostas ou soluções não eram (e continuam não sendo) simples ou fácies de serem resolvidas. Um dos tensionamentos mais recorrentes era em relação às contradições que envolvem a equação “potencialidades de cuidado

proporcionado aos praticantes de práticas corporais” x “invisibilidade/desvalorização do trabalho com os grupos de vivência dentro dos serviços de saúde”.

Embora fosse comum profissionais de nível superior afirmarem que xs ACS são “agentes transformadores do cotidiano” e que seu trabalho é fundamental – aparentemente numa tentativa de encorajar-lhes – esse elogio não garantia, de fato, apoio aos enfrentamentos feitos por agentes de saúde na defesa de seus grupos. Nesse sentido, compreendi o quanto a institucionalização das práticas corporais nos serviços de saúde ainda é fragmentada, ficando muito mais associada à vontade individual de determinado/a profissional de saúde do que efetivamente compreendida enquanto uma política pública.

Logo em seguida deste curso participei como ouvinte de um dos módulos de outra capacitação, dessa vez com a condição de “apenas observar” as aulas. A recomendação foi expressa: eu não poderia entrevistar as ACS e nem fazer perguntas para as facilitadoras. Foi a primeira vez que eu tive que lidar com restrições para realizar o trabalho de campo, pois, embora já tivesse obtido a autorização da Secretaria Municipal de Saúde, meu projeto ainda estava em análise pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Entretanto, foi difícil não me envolver (mesmo que contidamente) e passar a semana sem cometer um deslize (que poderia ter comprometido minha permanência em campo). Experimentei uma observação não muito participante, mas que me permitiu entrar em contato com questões sobre o trabalho dxs ACS que até então eu só conhecia a partir dos olhos teóricos de artigos científico e outras formas de publicação.

Conforme as orientações que recebi, no primeiro dia eu me apresentei e falei brevemente sobre a pesquisa, enfatizando que estava ali para observar a capacitação e que isso era uma das etapas da minha investigação. A forma como fui recebida pelas ACS e pelas facilitadoras foi bastante acolhedora. Já na primeira tarefa em grupo as agentes de saúde me incluíram na atividade, mas percebi que eu não tinha condições de contribuir para a discussão do estudo de caso. O meu desconhecimento sobre o tema era grande. Eu não sabia nada sobre o cotidiano e o processo de trabalho dessas profissionais. Realmente eu não poderia contribuir. Não me sentia apropriada (e nem autorizada) para falar sobre um universo que, para mim, era distante e desconhecido. Minha condição ali era de “participar-não-participando”.

Em alguns momentos senti que tal condição soara estranho para as agentes de saúde que me receberam em seus grupos de trabalho: mas o que eu fazia ali, afinal?

Como não tinha autorização para entrevistar as ACS eu não sabia como (e nem se eu realmente poderia) explicar sobre a minha condição e meus interesses, dúvidas, vontades e curiosidades. Quando me perguntavam se eu não participaria da atividade respondia que estava “só acompanhando” e ficava observando, “de longe”, a movimentação. Contudo, não consegui ficar quieta por muito tempo, sem perguntar nada pra ninguém. Era tudo muito novo para mim. Uma das minhas dúvidas era: como e quem participou da elaboração do curso? Quais eram e como os conteúdos foram definidos? Impulsivamente, sentindo que eu estava mais próxima de uma das facilitadoras, no meio da semana perguntei-lhe sobre a estrutura do curso e o conteúdo didático, para tentar entender melhor aquilo que estava observando. Recebi um silêncio incômodo como resposta...

Imediatamente a pessoa que me concedeu permissão para acompanhar a capacitação entrou em contato comigo por telefone para reforçar a condição de “não perguntar nada para ninguém”. Apesar de ter me advertido, a responsável geral pela capacitação foi atenciosa comigo ao me explicar que, como o material didático ainda estava em fase de revisão, a apostila utilizada pelas facilitadoras seria disponibilizada para consulta após a conclusão do processo formativo. Fiquei constrangida por ter quebrado um acordo e também por ter deixado a facilitadora desconfortável com meu questionamento. Não lembro nem se pedi desculpas pelo ocorrido, mas passei a ter mais cuidado e a me vigiar (com a sensação de que também estava sendo vigiada) para não cometer mais nenhum “vacilo” e perder a confiança que tinham em mim.

Dentro das minhas possibilidades segui com o trabalho de campo observando também meu próprios limites e dificuldades. Tentei me conformar que em outro momento eu teria acesso ao material da capacitação, mas consciente que isso não me daria acesso aos acontecimentos cotidianos, como as interações, os conflitos e os debates suscitados. Entretanto, de uma forma ou de outra, acompanhar um dos módulos da capacitação me ajudou a entender melhor determinados aspectos do processo de trabalho desta categoria profissional, dando mais consistência aos artigos e manuais técnicos que eu já tinha lido. Além disso, a observação das atividades e das tensões decorrentes foi importante para refletir sobre a presença dxs ACS nas equipes de saúde.

Na minha visão essa capacitação não foi um processo de aprendizado compartilhado. Os espaços de fala eram mediados e controlados por duas facilitadoras – ambas enfermeiras – na maior parte do tempo. Mesmo que um dos debates tivesse problematizado o “trabalho em equipe e as ferramentas utilizadas por ACS” em suas práticas cotidianas, coube às facilitadoras intervirem e reconstruírem os conceitos trazidos pelxs “alunxs”, ensinando-lhes sobre suas atribuições e papéis nos serviços de saúde. Em contrapartida, as agentes de saúde questionavam entre si a forma como os temas eram abordados no módulo expondo as assimetrias entre a teoria e a prática. Falando a partir de seus próprios conhecimentos, a principal crítica das profissionais foi em relação à aplicabilidade da capacitação para as suas rotinas de trabalho em equipe.

Durante uma das atividades em grupo uma agente, aparentando desânimo com a condução da capacitação, comentou com as colegas que “o aprendizado é adquirido no dia a dia do trabalho”, argumentando que o mais difícil não era seguir o roteiro (referindo-se aos instrumentos de trabalho dos ACS, especificamente à visita domiciliar), mas sim resolver conjuntamente os casos mais complicados. Apoiando esse posicionamento outra agente de saúde enfatizou que “o curso é muito legal, mas não adianta nada. A gente sabe o nosso papel, mas e as enfermeiras? Elas é que precisam saber e entender nosso trabalho”.

Os estudos de caso utilizados ao longo do módulo que acompanhei provocaram inúmeros relatos sobre as relações com outros profissionais e os conflitos que acontecem no cotidiano dos serviços de saúde, bem como no trabalho intersetorial com outros equipamentos situados no território onde atuam. Na maioria das vezes, as críticas mais elaboradas foram feitas nos grupos de trabalho e/ou durante os intervalos. Já no momento do debate geral, as ACS compartilhavam seus descontentamentos, mas “pisando em ovos” para evitar “maiores problemas” e conflitos com as facilitadoras. Mesmo assim, todo esse cuidado não evitou um desentendimento mais grave envolvendo uma das facilitadoras e duas agentes de saúde, quando estas se manifestaram para mostrar a inviabilidade de uma dinâmica de grupo que havia sido feita.

Numa tentativa de silenciar a agente de saúde que “insistia” em fazer-se ouvida – e que queria explicar sobre a assimetria existente na distribuição da palavra nas reuniões de sua equipe, argumentando que os exemplos utilizados no curso não

expressavam, de fato, a realidade do trabalho no cotidiano – uma das facilitadoras a interrompeu rudemente e disse ser necessário que “os ACS” desenvolvam “traquejo para se colocarem diante dos outros profissionais”, sendo imprescindível “agir com nobreza, gentileza e delicadeza”. Um silêncio pungente e inquietante tomou conta da sala, onde suspiros e feições de discordância foram expressos de forma velada e contida. Notavelmente, essa foi uma das respostas mais contundentes à pergunta de partida desta tese: “pode o subalterno falar?”. Eu senti meu corpo tremer e senti um vazio que me deixou sem ar... Fiquei atônita, olhando para os lados e olhando para o nada sem acreditar no que tinha acabado de ouvir. Na hora, este conflito não fora problematizado com a turma, tampouco houve um pedido de desculpas individual ou coletivo. Depois eu soube pelas meninas que no dia seguinte as facilitadoras conversaram diretamente com Gabriela, a ACS que foi silenciada.

Em outro momento, tendo como pano de fundo a questão da autonomia, as ações com as práticas corporais foram abordadas por duas ACS que me contaram duas experiências bem diferentes. Com um grupo de ginástica já consolidado, Marina começou a mesclar aulas de Movimento Vital Expressivo, esporadicamente. Diante da grande aceitação do grupo reorganizou sua agenda e passou a ofertar cada atividade uma vez por semana, atendendo aos pedidos dxs praticantes e sem esperar autorização da coordenação do serviço. Por outro lado, Celina falou sobre a dificuldade em trabalhar com grupos de práticas corporais já que não conseguira nem mesmo encontrar com a sua coordenadora para pedir que ela fizesse sua inscrição na capacitação do Lian Gong, que estava planejada para ser ofertada ainda em 2016. Por causa desse desencontro, ela temia perder a oportunidade e questionou: “cadê a nossa autonomia que tanto falam aqui no curso?”, referindo-se à alguma das dificuldades para poder fazer a capacitação na prática corporal.

Conversando mais sobre essa condição Celina me explicou sobre seu interesse em aprender o Lian Gong para retomar um grupo que tinha no seu serviço, argumentando que essa prática não era para ela (já que não se tratava de um interesse pessoal, para benefício próprio), mas sim para a população. Ainda argumentou que o Lian Gong não está fora das suas atribuições como ACS, “pois ele é uma prática de educação em saúde e está lá no livrinho11, o trabalho com educação

em saúde”. Entretanto, afirmou que não sentia que tinha apoio no serviço para ofertar

atividades com essa abordagem, principalmente porque muitas vezes “o trabalho do ACS” fica limitado ao cadastramento de novos usuários, à atualização do cartão SUS e às ações regulares de combate à dengue.

Ao me contar sobre sua experiência como agente de saúde, Celina falou sobre a “transformação do ACS”, que acontece a partir da relação com a comunidade, tanto numa dimensão individual (nos encontros com cada usuário/a do serviço), quanto coletiva (nas atividades em grupo), enfatizando que “quando se ensina, também se aprende”12. Para ela, “o ACS entra com seus próprios valores e no

cotidiano vai aprendendo e mudando sua própria relação” com as pessoas, ressignificando suas abordagens e construindo suas próprias práticas de cuidado.

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