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CAPÍTULO 3 ASPECTOS ESTRUTURANTES DA ECONOMIA POLÍTICA DO SBTVD

3.4 Os canais de cidadania em multiprogramação.

O desafio da democratização dos meios em função dos fins educacionais e direitos coletivos da população (MAGNONI, 2001) deve ser a base de sustentação do segmento educacional público e as emissoras educativas já foram oficialmente chamadas pelo governo federal a acelerar seus processos de migração para a tecnologia digital. O decreto publicado na imprensa oficial possibilita a essas emissoras exibirem as quatro faixas de conteúdo previstas no Canal da Cidadania e manter uma quinta faixa com a programação que já exibem atualmente (MINICOM, 2013).

O Canal da Cidadania foi previsto no decreto de implantação da TV digital, em 2006 e seu objetivo é dar espaço à produção das próprias comunidades e divulgar os atos dos poderes locais, como prefeituras, câmaras de vereadores e assembléias legislativas. Para isso, a base do seu funcionamento é a multiprogramação, com quatro faixas de conteúdo: a primeira para o Poder Público municipal, a segunda para o Poder Público estadual e as outras duas para associações comunitárias, que ficarão responsáveis por veicular programação local. Segundo o decreto: “Entre os princípios do canal estão o exercício da cidadania e da democracia; a promoção da diversidade de gênero, étnico-racial, cultural e social; o diálogo entre as múltiplas identidades do país; o fomento à produção audiovisual independente, local e regional; a prestação de serviços de utilidade pública e a promoção de programas de finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas”.39

O estado brasileiro declara abertamente que pretende se comunicar por essa forma de difusão interativa e vem investindo em pesquisas que viabilizem modelos

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Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o país. Fonte : http://www.mds.gov.br/bolsafamilia 39

de entrega de conteúdos e aplicativos de relacionamento com ministérios, agências reguladoras, entes federativos e inúmeros serviços ao cidadão (EBC, 2014).

A possibilidade de uso do sinal de um dos canais da cidadania para a difusão de conteúdos educacionais e de exercício da cidadania voltados às populações não atendidas pelas redes informacionais metropolitanas (WAN), eleva consideravelmente a importância dessas faixas de freqüência previstas em lei e que estão relativamente desprezadas pelas prefeituras e outras instituições públicas. As emissoras educativas podem ocupar um espaço valioso de comunicação audiovisual e interatividade local ou com canal de retorno intermitente 40 com essas populações relativamente excluídas dos planos de expansão da cobertura de banda larga por conta do desinteresse das operadoras em investir nessas regiões periféricas com populações de baixa renda.

Os dispositivos de redes móveis já atingem uma quantidade de aparelhos vendidos maior do que a população do país e os demais dispositivos que permitem a vivência no universo multitelas, tais como tablets e notebooks lideram a venda de eletrônicos. Essas tendências e outras pesquisas indicam que no ambiente doméstico, a família pode migrar do computador de mesa (desktop) para a televisão digital como ferramenta de inclusão digital (BRASIL, 2014) (GOOGLE, 2014).

As emissoras públicas, comunitárias e universitárias podem oferecer mediação do conhecimento para uma população que já obteve alguma fluência no uso de aplicativos de internet e de automação bancária, muitos dos quais acessam a internet apenas em locais públicos gratuitos ou de trabalho onde o uso para fins pessoais sejam permitidos. Uma parcela considerável da população brasileira pretende adquirir dispositivos digitais de comunicação para uso pessoal e familiar nos próximos anos e existe uma parcela significativa que será atendida na sua demanda por educação continuada por uma entidade privada ou subsidiada pela política de estado que distribuirá receptores de televisão digital com recursos interativos para os beneficiários do Bolsa Família.

O telespectador exercita sua cidadania pela comunicação bidirecional que a televisão digital interativa oferece quando conectada à internet, mas também pode

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Interatividade local: esse nível diz respeito à interatividade circunscrita na comunicação eletrônica/digital entre o controle remoto e a URD, e referente ao fluxo de radiodifusão. Apesar do usuário poder dispor instantaneamente do conteúdo solicitado, a URD não possui canal de retorno. (fonte:CPQD)

Interatividade com canal de retorno intermitente: essa interatividade é possibilitada à medida que o sistema

possua canal de retorno para estabelecer uma comunicação assíncrona do usuário com aplicativos residentes no ambiente do provedor do serviço. Essa interatividade permite, inclusive, a comunicação com outros usuários

oferecer interatividade local apenas a partir do set top box em aplicações transmitidas pela difusão OFDM.

Pelo fortalecimento da produção audiovisual nacional, as ações positivas vão desde os editais de incentivo à produção através de iniciativas como do Canal Brasil, das redes educacionais (TV ESCOLA e outras), da profissionalização da produção nas emissoras oficiais legislativas, judiciárias e similares, dentre outras que priorizam a prestação de serviço de comunicação social ao cidadão brasileiro.

Todas essas iniciativas e políticas públicas indicam claramente a necessidade urgente da operacionalização da comunicação oficial entre os entes federativos e os cidadãos que, embora não possuam uma conexão exclusiva de internet em sua casa ou sua mesa de trabalho, podem se beneficiar da difusão de dados híbrida através do sinal televisivo ou da internet, quando o acesso está disponível.

A oferta de serviços interativos e aplicativos aos cidadãos, que passam a dispor de um eficiente meio de inclusão digital, educação e cidadania que poderia atender uma parcela significativa da metade dos brasileiros que ainda não acessam a internet (BRASIL, 2015), conectando-os às redes de comunicação social públicas em modo híbrido de difusão de conteúdos.

... como uma porta de acesso do Estado brasileiro à casa do cidadão, oferecendo diferentes serviços, aplicativos e conteúdos audiovisuais digitais (CASTRO, 2005)

A radicalização da cidadania conquistada no direito de receber educação de qualidade, serviços, entretenimento e comunicação audiovisual bidirecional através do sinal de TV aberta, oferece formas inéditas de inclusão social e digital diretamente ao cidadão brasileiro que ainda não possui conexão de banda larga como serviço essencial.