3. A GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NO ESTADO DE MINAS
3.2. O Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos
3.2.4. Os Comitês de Bacias Hidrográficas em Minas Gerais
Conforme apresentado anteriormente, os Comitês de Bacias Hidrográficas (CBH) são organismos deliberativos e normativos, isentos de personalidade jurídica e têm como principal papel a co-gestão dos recursos hídricos em nível local, ou seja, na bacia hidrográfica de sua atuação. Dentre suas atribuições encontram-se: resolver em primeira instância administrativa os conflitos pelo uso da água, debater políticas relativas aos recursos hídricos, aprovar e acompanhar os planos diretores de bacias hidrográficas, estabelecerem mecanismos e valores para a cobrança pelo uso da água, dentre outras.
Conforme apresentado anteriormente para uma efetiva gestão dos recursos hídricos no Estado de Minas Gerais a área de atuação dos CBH’s deixou de ser necessariamente a bacia hidrográfica. Assim, foram instituídas as Unidades de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos (UPGRH). Segundo SANTOS (2011), estas levam em consideração características físicas, socioculturais, econômicas e políticas relacionadas aos recursos hídricos da área de atuação.
Segundo estudos do IGAM seriam necessárias 36 UPGRH’s, atualmente todas encontram-se instituídas e atualmente possuem seus Comitês de Bacias Hidrográficas instalados, regulamentados por ato do Governador do Estado.
Seguindo os fundamentos da Política Estadual de Recursos Hídricos a co- gestão da água a nível local, ou seja, nas Bacias Hidrográficas tem como base a gestão descentralizada e participativa. Desta forma, as representações nos CBH’s são quatripartides e igualitárias, contando com a participação dos
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Poderes Públicos Estaduais, Municipais, usuários de recursos hídricos e sociedade civil organizada (Art. 36, Lei Estadual nº 13.199/99).
O processo de eleição dos membros dos Comitês é de responsabilidade do IGAM, ocorrendo através de livre inscrição dos interessados mediante comprovação de atuação ambiental na Bacia. Visando o papel democrático a eleição dos membros se da através de voto direto e aberto na maioria dos Comitês. Entretanto, vale ressaltar que os regimentos internos4 dos CBH’s apresentam normas para tal situação e devem ser respeitados.
Visando a estruturação dos Comitês o Estado através de sua política de atuação fornece apoio técnico e financeiro. O apoio técnico é fornecido principalmente pelo órgão gestor, ou seja, o IGAM contando ainda com os conhecimentos desenvolvidos nos próprios Comitês por instituições de ensino e pesquisa, por exemplo. O apoio financeiro é realizado através da própria dotação orçamentária do Estado, através de repasse de recursos provenientes do Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado de Minas Gerais – FHIDRO5, realizado através da SEMAD, aportando 7,5% dos recursos provenientes deste Fundo. A figura 3.2. apresenta a divisão do Estado por UPGRH.
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Os Regimentos Internos dos CBH’s são elaborados pelas Câmaras Técnicas dos respectivos Comitês com o apoio do IGAM que os aprovam. Estes são responsáveis pelos norteamentos de funcionamento dos Comitês de Bacias Hidrográficas.
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O FHIDRO tem como objetivo dar suporte financeiro a programas e projetos que promovam a racionalização do uso e a melhoria, nos aspectos quantitativo e qualitativo, dos recursos hídricos no Estado, inclusive os ligados à prevenção de inundações e o controle da erosão do solo. Maiores informações no sitio eletrônico www.igam.mg.gov.br.
Fonte: IGAM( 2006).
Figura 3.2. Unidades de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos de Minas Gerais (UPGRHs)
Os processos de criação dos Comitês se deram ao longo do tempo e para avaliar o desenvolvimento deste é necessário levar em consideração fatores como os anseios sociais e os estímulos fornecidos pelo Estado, dentre outros. Desta forma, a implementação dos Instrumentos de Gestão se dão de forma desigual em cada Bacia Hidrográfica gerando um mosaico heterogêneo de desenvolvimento das ações de Gestão. O Estado tem gerado esforços no sentido de alinhar suas atuações. Assim, foram criados os Projetos Estruturadores como, por exemplo, a elaboração dos os Planos de Recursos Hídricos e das propostas de Enquadramento dos corpos d’água para todas as Unidades de Planejamento e Gestão.
4. OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS
A legislação vigente relativa a gestão das águas, seja ela Federal ou Estadual, prevê mecanismos de comando e controle de qualidade e quantidade da água. Entretanto, cabe ressaltar que a água antes vista como bem privado torna-se um bem de domínio público, limitada e dotada de valor econômico.
GUEDES (2009) subdivide os Instrumentos de Gestão em dois grupos, os de comando e controle, ou seja, os regulatórios e os instrumentos de baseados no mercado, ou seja, econômicos. Segundo o Art. 5º da Lei Federal 9.433/97 são instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:
I - os Planos de Recursos Hídricos;
II - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água;
III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;
V - a compensação a Municípios;
VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos. Visando atender os fundamentos e objetivos da PNRH e da própria Política Estadual de Recursos Hídricos a Lei Estadual 13.199/99 instituiu os mesmos instrumentos de gestão para o Estado com as seguintes diferenças:
• os Planos Diretores de Recursos Hídricos de Bacias Hidrográficas; • o Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos;
• o rateio de custos das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo;
• as penalidades.
Desta forma, os instrumentos de comando e controle ou regulatórios (Planos de Recursos Hídricos, o enquadramento dos corpos de água, a outorga dos
direitos de uso da água e o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos) apresentam normas e regras para a conduta dos usuários impostas pelo Estado. Estes instrumentos regularizam os tipos de usos, quantidade e qualidade das águas para empreendimentos através do processo de licenciamento, determinam vazão máxima e mínima outorgáveis.
Os instrumentos de baseados no mercado, ou seja, econômicos tem como fundamento a mudança de atitudes consideradas nocivas aos recursos hídricos e ao meio ambiente através da conscientização dos usuários utilizando-se do principio do poluidor pagador6 ou como um incentivo adicional ao cumprimento da lei. Neste caso aplica-se dois instrumentos expressos em lei a Cobrança pelo uso da água e as penalidades.
Água neste contexto passar a ter um papel misto, pois tem caráter de bem de domínio publico e também um valor econômico de mercado. Entretanto, para efetiva gestão dos recursos hídricos que vise um desenvolvimento sócio- ambiental de uma Bacia Hidrográfica não devem ser vistos desassociados.
Este capitulo dará ênfase aos instrumentos de gestão, em especial o Plano Estadual e Diretores de Recursos Hídricos e de Bacias Hidrográficas, uma vez que estes encontram-se em implementação no Comitê de Bacia Hidrográfica do Alto Rio Grande área de estudo do presente trabalho. Os demais Instrumentos serão apresentados para titulo de conhecimento.