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CAPÍTULO II – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

9 OS CONCURSOS DE DANÇA

Com base nos objetivos do estágio - preparação de variações de RC -, e tendo sido proposto, pela professora cooperante, a participação de uma das alunas da turma do estágio num Concurso Internacional de Dança, com uma das variações preparadas durante o decorrer das aulas de estágio, foi suscitado um tema muito atual no mundo da Dança – a grande procura e oferta no âmbito dos Concursos de Dança. Em boa verdade, assistimos, hoje em dia, a um crescente número de Concursos Internacionais de Dança e a uma, cada vez maior, adesão aos mesmos por parte dos alunos de dança, quer de escolas privadas quer de escolas vocacionais.

Esta é uma realidade que nos leva a todos, profissionais de Dança, a questionarmos a razão ou motivação existente por de trás de tanta procura. Esta interrogação tornou-se

ainda mais pertinente quando foi notório o entusiasmo das alunas da turma de estágio aquando do conhecimento da possibilidade da participação num Concurso Internacional de Dança. A este entusiasmo, acresce, ainda, o facto da aluna que participou nesse concurso com uma das variações preparadas durante este estágio, referir, no decorrer das respostas dadas a um dos questionários levados a cabo pela estagiária, que, para ela, o ponto mais positivo da aprendizagem das variações de RC tinha sido o facto de ter participado no referido concurso, na categoria de solistas, concretizando assim um dos seus sonhos.

Assim, pareceu-nos pertinente para o tema em questão procurar entender este fenómeno, não pretendendo em momento algum chegar a conclusões ou verdades absolutas. Esse objetivo daria seguramente para desenvolver um outro estudo ou investigação.

A literatura sobre o tema dos Concursos de Dança é escassa ou até mesmo nula, contudo alguma produção escrita vai surgindo sobre o tema sob a forma de artigos ou outras reflexões escritas. Se por um lado estes concursos podem desvirtuar o ballet enquanto arte, exercendo uma influência negativa sobre os alunos, a verdade é que a maioria dos alunos de dança vivem expectantes no que respeita à sua participação em concursos e trabalham motivados para atingirem o seu melhor, quer física, quer artisticamente.

Perguntamo-nos então: Qual será o objetivo dos alunos que participam nos concursos de dança? Será a participação no Concurso um objetivo de per si, ou antes um meio para atingir um fim, sendo este o objetivo principal?

Em várias conversas que tivemos oportunidade de desenvolver a este respeito, quer com as alunas da turma de estágio, quer com alunos de outras escolas que pudemos conhecer durante este concurso e outros por onde já passamos durante o decorrer da nossa atividade profissional como professoras de Dança, verificamos que, para a maioria destes alunos, a participação nestes concursos pauta-se pela vontade de dançar num palco, não estando focados em nenhum prémio ou competição. O gosto deles em participar é o mesmo, quer se trate de Concursos, de Espetáculos ou Festivais de Dança, mesmo não existindo nestes a componente competitiva.

Nesta perspetiva, os Concursos de Dança cumpririam o seu papel como expoente máximo das aulas de técnica de dança. Como refere Minden (2005), a dança é uma arte performativa, em que a gratificação final é o espetáculo, é dançar num palco.

No entanto, a maior crítica apontada aos concursos prende-se com o facto de o aperfeiçoamento da técnica se sobrepor à expressividade e interpretação do movimento. Alguns profissionais da área consideram mesmo que os concursos

como Homans citada por Robb (2013), ao referir que o ballet atualmente sofre de “too much athleticism” e “a fear of feeling”, sublinhando que “The curious thing about dance now, and ballet in particular, is that it has taken the form but left the feeling.”. Muitos são os profissionais da dança que lamentam o facto de, no âmbito dos concursos, os bailarinos apenas pensem e queiram agradar o júri e a plateia, preocupando-se ambos em perceber quem eleva mais a perna acima da cabeça ou quem consegue executar o maior número de piruetas. Tudo isto se direciona para o talento físico, como refere Susan Jaff, citada igualmente por Robb (2013), “This is pure physical talent and that, of course, is not where the art of ballet lives”. Portanto, para os opositores destas competições, o ponto mais negativo da questão reside no conceito de competição, institucionalizada, diferente do conceito, intrínseco ao ballet, de rivalidade competitiva, esta sim, saudável.

Como já referimos, a verdade é que os concursos, não obstante as críticas apontadas, se revelam verdadeiros catalizadores de inspiração e motivação para os alunos de dança.

Não podemos negar que a competição é propulsionadora de mudança, porque torna as pessoas mais exigentes, com elas próprias e com os outros. Tanto alunos como professores e coreógrafos tentam constantemente superar-se, numa busca incessante pela excelência. Este tipo de trabalho performativo eleva a motivação dos alunos e permite-lhes conhecer colegas com diferentes trabalhos e perspetivas na dança. Será este um ponto negativo? Consideramos que tudo dependerá de como todo o percurso é conduzido, e neste campo julgamos que o papel do professor é fundamental.

Queremos acreditar que, tendo em conta a realidade atual e controvérsia, pouco faltará para que surja literatura sobre o tema. Talvez se devesse estabelecer uma ponte entre os prós e os contra e tentar equilibrar ambos. Eventualmente, será necessária uma revisão de critérios e uma diferente valorização na apreciação dos jurados dos concursos de dança, com valorização dos aspetos da performance artística, sem descurar, naturalmente, o desenvolvimento e superação técnicos.

Muitas incertezas num campo, ainda, polémico, e, também, por esse motivo, tão fértil para investigação e estudo.

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