6 DISCUSSÃO 6.6 OS CUIDADORES DOS IDOSOS COM DOENÇA DE ALZHEIMER Quanto ao perfil dos cuidadores primários dos idosos do estudo, os resultados encontrados são semelhantes a dados bem sedimentados da literatura científica, com maior prevalência de cuidadores do gênero feminino (SALVA et al., 2009; WHO, 2012), do tipo informal (SALVA et al., 2009), sendo na sua maioria filhos(as) ou esposos(as) dos pacientes (SALVA et al., 2009; WHO, 2012). Quando aplicada a escala ZBI para avaliar a sobrecarga dos cuidadores, a média dos resultados encontrados foi de 25,9 ± 15,31, similar ao estudo de Salva et al. (2009), no qual foi encontrado valor médio de 27,4 ± 15,5, porém em população de cuidadores de idosos com demência predominantemente moderada e grave, diferentemente da atual pesquisa, na qual a maioria dos idosos está ainda na fase leve. Obviamente, outros fatores podem estar relacionados ao nível de sobrecarga dos cuidadores avaliados nessas pesquisas além do nível de prejuízo cognitivo do paciente, como a frequência de problemas de comportamento, o número de horas semanais gastas no cuidado e a necessidade de procurar serviços de saúde (WHO, 2012). Na medida em que a doença progride, os membros da família frequentemente proveem cuidado por muitos anos e são submetidos a altos níveis de estresse (WHO, 2012). No presente estudo o resultado da escala ZBI foi significativamente mais alto nos cuidadores de idosos com DA moderada e grave, comparados aos da fase leve, demonstrando que a sobrecarga do cuidador tende a aumentar com a progressão da demência. De acordo com a análise estatística realizada, não foi encontrada correlação entre as pontuações das escalas ZBI e MAN, indicando não haver associação entre o estado nutricional do paciente e o nível de sobrecarga do cuidador. No estudo de Roque, Salva e Vellas (2012), apesar de ter sido encontrada diferença estatisticamente significativa entre a média dos resultados da escala ZBI para os diferentes diagnósticos nutricionais realizados pela MAN, a análise de regressão logística multivariada também não encontrou relação entre o pior estado nutricional e a sobrecarga do cuidador. Ao contrário, no estudo longitudinal de Gillette-Guyonnet et al. (2000), os autores descreveram que resultados mais altos nas escalas ZBI e Memory and Behavior Problems Checklist (avalia quanto o cuidador se sente incomodado pelos distúrbios de comportamento apresentados pelo paciente) foram preditores de perda de peso em idosos com DA. Nesta pesquisa o resultado médio da ZBI foi de 29 ± 18,4 no início do estudo e 36,7 ± 15,5 após 30 meses. Segundo os autores, é possível que os cuidadores estressados não estejam dispostos a investir esforços suficientes para possibilitar que os idosos com DA alimentem-se corretamente (GILLETTE-GUYONNET et al., 2000). Segundo Ferri et al. (2005), a abordagem com melhor custo-efetividade para o atendimento à população com demência é a atenção primária para apoiar e aconselhar os cuidadores familiares. O apoio aos cuidadores também é uma das ações-chave recomendada pela OMS (WHO, 2012) para lidar com a problemática atual da demência. Hirakawa et al. (HIRAKAWA et al., 2011) realizaram uma pesquisa para identificar as necessidades prioritárias de informação por parte dos cuidadores de idosos com demência e encontraram que quase metade dos 475 cuidadores familiares entrevistados tinham interesse em informações relativas a alimentos e nutrição. Esse dado corrobora o achado do presente estudo, no qual 39,6% dos cuidadores referiram ter dúvidas quanto à alimentação do paciente. Alguns estudos têm sido realizados mostrando que programas de educação nutricional voltados aos cuidadores de idosos com DA trazem resultados positivos ao paciente, podendo melhorar o peso, a função cognitiva (RIVIERE et al., 2001), o estado nutricional e imune (PIVI et al., 2011) e reduzir o risco de desnutrição (SALVA et al., 2011) em idosos com demência. Assim, os órgãos governamentais responsáveis pela elaboração de políticas públicas devem ser alertados sobre a importância de o nutricionista compor a equipe multiprofissional, pois a falta de intervenção nutricional apropriada e rápida em situações de anorexia e perda de peso involuntária predispõe o idoso ao declínio progressivo e piora da fragilidade (VISVANATHAN; CHAPMAN, 2009). Quanto mais precocemente for realizada a avaliação e a intervenção nutricional no paciente com Alzheimer, tanto melhor será o prognóstico de seu quadro (CASTRO; FRANK, 2009). A prescrição dietética é uma atividade privativa do nutricionista (BRASIL, 2005), o qual é capacitado a adequar a dieta do indivíduo, respeitando sua cultura, hábitos e preferências alimentares, além das condições socioeconômicas e clínicas, realizando educação nutricional e proporcionando a melhora ou ao menos a manutenção do estado nutricional do paciente. Este estudo teve algumas limitações metodológicas. A amostra de pacientes com demência grave foi pequena, pois a pesquisa foi realizada com pacientes ambulatoriais, o que dificulta o acesso dos indivíduos mais comprometidos ao local. Entretanto, a prevalência de doentes na fase grave também é menor na população em geral. O avançado prejuízo cognitivo dos pacientes com DA grave dificulta a compreensão e o seguimento dos comandos para a realização dos testes de FPM e TGUG, limitando sua aplicabilidade nesta população. Porém, esses idosos foram mantidos na análise e classificados como tendo resultados reduzidos quando não foram capazes de realizar esses testes, pois o avançado prejuízo funcional dos pacientes na fase grave da DA é vastamente descrito na literatura científica acerca do tema. É importante que haja investimento em pesquisas buscando novos testes que permitam a avaliação da função muscular em idosos com demência avançada. Também, a utilização da IB fez com que fossem excluídos indivíduos que pudessem apresentar alterações neste exame, como aqueles com insuficiência renal, edema, próteses metálicas, impossibilidade de suspender diuréticos e também os mais frágeis, pela impossibilidade de ficarem em pé para serem pesados. Muitos idosos se enquadram nesses critérios por serem condições comuns no envelhecimento e, portanto, estudos devem ser direcionados às populações com essas condições. No documento DANIELLE RODRIGUES LECHETA ALTERAÇÕES NUTRICIONAIS E ALIMENTARES NO IDOSO COM DOENÇA DE ALZHEIMER: SARCOPENIA, CAPACIDADE FUNCIONAL E DIETA (páginas 89-92)