Capítulo II : O Serviço de apoio domiciliário
3.2. Os cuidadores informais
Pérez, Abanto e Labarta (1996), referido por Marques et al (2012), salientam que, o cuidador informal é o indivíduo que cuida das necessidades básicas e instrumentais da vida diária do idoso, durante grande parte do tempo, sendo que não aufere qualquer remuneração por prestar estes cuidados. Habitualmente, o cuidador informal é aquele familiar ou alguém próximo do idoso que, pela sua condição familiar ou de proximidade, assume este papel. Muitos familiares tornam-se cuidadores informais porque consideram ser um dever moral e também para não se sentirem culpados uma vez que o cuidar está desde sempre relacionado com a família, e é muitas vezes considerado como uma obrigação. O papel de cuidador é assumido primeiramente pelo cônjuge, em seguida pelos filhos, mas se ambos não conseguirem prestar o cuidado necessário, este é prestado em alguns casos por outros familiares, amigos ou até mesmo vizinhos. No entanto são os familiares do sexo feminino que, na maioria das vezes, assumem e se responsabilizam pelo cuidado aos idosos. Este cuidado, está relacionado como já vimos, com a satisfação das Actividades Instrumentais da Vida Diária, (AIVD) e com as actividades da vida diária, (AVD) que tendem a provocar um desgaste físico e emocional no cuidador. Assim, para evitar uma situação de exaustão limite que impeça o cuidador de assumir o seu papel, é fundamental que exista uma complementaridade entre os cuidados familiares e os profissionais. Segundo Figueiredo e Sousa “… avaliar como os cuidadores perspetivam o seu estado de saúde e o modo como este se relaciona com a sobrecarga do seu papel enquanto cuidadores é fundamental para a continuidade da disponibilidade familiar: alerta para a necessidade de um reconhecimento crescente do cuidador como ´paciente oculto` e permite pensar na necessidade de formas de intervenção adequadas”. (2008:16) Deste modo, o ato de cuidar envolve uma complexidade de implicações e motivações, quer para o idoso, quer para a sua família e para o cuidador informal principal. As necessidades de todos estes indivíduos cuidadores não devem ser descuradas, mesmo que assumam o ato de cuidar como uma missão e retirem dele ganhos pessoais e relacionais que dão sentido à sua vida e ao seu quotidiano. Por vezes, os cuidadores informais fazem muitas cedências e o tempo que dedicam a outras atividades é reduzido, sendo a sua dedicação tão intensa aos idosos
36 que o fim deste compromisso significaria uma perda de sentido vital. É notório que os estes cuidadores ficam sem tempo para si e para os que o rodeiam, refletindo-se pela situação, posteriormente, na sua saúde física e mental. Em algumas situações, os cuidadores acabam por estar divididos entre as solicitações dos idosos e as exigências dos outros familiares. Quando os outros familiares são crianças necessitam de atenção e são uma fonte de preocupações, mas quando são os cônjuges ou os filhos mais velhos, a relação de ambos pode ser por um lado de cumplicidade, de apoio, de carinho, ou por outro, de distanciamento e indiferença.
O contexto do ato de cuidar pode ser potenciador de situações de stress, dependendo da forma como os cuidadores gerem a sua relação com o idoso. Por outras palavras, a sua maior ou menor capacidade de tolerar as exigências e as solicitações, bem como eventuais ofensas por parte dos idosos, e ainda a realização de tarefas ligadas aos idosos e ao seu domicílio, influenciam o seu estado físico e emocional, que por sua vez afeta a sua disponibilidade para assumir o seu papel de cuidador. Por isso, o suporte familiar é para o cuidador informal um mecanismo que pode minimizar os impactes a que o cuidador está sujeito. Segundo Figueiredo “…sendo a família uma rede complexa de relações e emoções, o impacte da tarefa de cuidar recai sobre todos os membros e não apenas sobre o cuidador principal”. (2007:125) Assim, quanto mais o núcleo familiar for profundo, afetivo e partilhe encargos e tarefas, menor será a sobrecarga do cuidador informal principal. Ainda assim, o cuidador e a família devem ser acompanhados pelos profissionais sociais e pelos profissionais de saúde, de modo a ser realizada uma avaliação das suas dificuldades, dos seus estados de saúde, bem como a que sejam dadas informações ao cuidador e à sua família sobre serviços a que podem aceder. A partilha de encargos com os profissionais ajuda a atenuar os impactos negativos do ato de cuidar. Sem esta complementaridade entre os cuidadores, a família poderá não conseguir prestar cuidados aos idosos e poderá ocorrer uma eventual institucionalização da pessoa idosa.
Os constrangimentos de cuidar de uma pessoa idosa podem começar antes de o cuidador assumir o seu papel, através do reconhecimento das dificuldades, da responsabilidade para assumir este compromisso e das eventuais mudanças a que o seu núcleo familiar poderá estar sujeito. Como já foi referido anteriormente, a esfera dos cuidados é predominantemente assumida pelos indivíduos do sexo feminino. Sendo que a inserção no mercado de trabalho, a mobilidade geográfica, a valorização da privacidade do núcleo familiar, os constrangimentos familiares e materiais, e ainda a
37 ausência de conhecimentos para cuidar, dificultam a decisão de assumir este papel. Por outras palavras, estamos numa sociedade em que se valoriza a carreira profissional e a realização pessoal, sendo que as atividades produtivas são recompensadas. Enquanto para assumir o papel de cuidador, muitas vezes as mulheres tem de abandonar o seu trabalho e alguns agregados não conseguem fazer face às suas despesas apenas com um salário. Para além disso, a presença de um familiar que não pertencia a este núcleo, afeta a privacidade, a intimidade e altera as rotinas e os ritmos do quotidiano. Acresce referir que a ausência de preparação prática para cuidar pode condicionar a opção pela provisão de cuidados, em especial se a pessoa idosa estiver acamada. Considerando a família como um recurso importante para a prestação de cuidados, é fundamental implementar medidas que equilibrem o papel dos cuidadores informais com as instituições formais, de modo a que as estratégias de complementaridade entre os vários atores resultem em respostas sustentáveis para fazer face aos problemas ligados ao envelhecimento populacional.