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Os cuidadores informais

No documento Sara Graciete dos Santos Costa (páginas 47-49)

Capítulo II : O Serviço de apoio domiciliário

3.2. Os cuidadores informais

Pérez, Abanto e Labarta (1996), referido por Marques et al (2012), salientam que, o cuidador informal é o indivíduo que cuida das necessidades básicas e instrumentais da vida diária do idoso, durante grande parte do tempo, sendo que não aufere qualquer remuneração por prestar estes cuidados. Habitualmente, o cuidador informal é aquele familiar ou alguém próximo do idoso que, pela sua condição familiar ou de proximidade, assume este papel. Muitos familiares tornam-se cuidadores informais porque consideram ser um dever moral e também para não se sentirem culpados uma vez que o cuidar está desde sempre relacionado com a família, e é muitas vezes considerado como uma obrigação. O papel de cuidador é assumido primeiramente pelo cônjuge, em seguida pelos filhos, mas se ambos não conseguirem prestar o cuidado necessário, este é prestado em alguns casos por outros familiares, amigos ou até mesmo vizinhos. No entanto são os familiares do sexo feminino que, na maioria das vezes, assumem e se responsabilizam pelo cuidado aos idosos. Este cuidado, está relacionado como já vimos, com a satisfação das Actividades Instrumentais da Vida Diária, (AIVD) e com as actividades da vida diária, (AVD) que tendem a provocar um desgaste físico e emocional no cuidador. Assim, para evitar uma situação de exaustão limite que impeça o cuidador de assumir o seu papel, é fundamental que exista uma complementaridade entre os cuidados familiares e os profissionais. Segundo Figueiredo e Sousa “… avaliar como os cuidadores perspetivam o seu estado de saúde e o modo como este se relaciona com a sobrecarga do seu papel enquanto cuidadores é fundamental para a continuidade da disponibilidade familiar: alerta para a necessidade de um reconhecimento crescente do cuidador como ´paciente oculto` e permite pensar na necessidade de formas de intervenção adequadas”. (2008:16) Deste modo, o ato de cuidar envolve uma complexidade de implicações e motivações, quer para o idoso, quer para a sua família e para o cuidador informal principal. As necessidades de todos estes indivíduos cuidadores não devem ser descuradas, mesmo que assumam o ato de cuidar como uma missão e retirem dele ganhos pessoais e relacionais que dão sentido à sua vida e ao seu quotidiano. Por vezes, os cuidadores informais fazem muitas cedências e o tempo que dedicam a outras atividades é reduzido, sendo a sua dedicação tão intensa aos idosos

36 que o fim deste compromisso significaria uma perda de sentido vital. É notório que os estes cuidadores ficam sem tempo para si e para os que o rodeiam, refletindo-se pela situação, posteriormente, na sua saúde física e mental. Em algumas situações, os cuidadores acabam por estar divididos entre as solicitações dos idosos e as exigências dos outros familiares. Quando os outros familiares são crianças necessitam de atenção e são uma fonte de preocupações, mas quando são os cônjuges ou os filhos mais velhos, a relação de ambos pode ser por um lado de cumplicidade, de apoio, de carinho, ou por outro, de distanciamento e indiferença.

O contexto do ato de cuidar pode ser potenciador de situações de stress, dependendo da forma como os cuidadores gerem a sua relação com o idoso. Por outras palavras, a sua maior ou menor capacidade de tolerar as exigências e as solicitações, bem como eventuais ofensas por parte dos idosos, e ainda a realização de tarefas ligadas aos idosos e ao seu domicílio, influenciam o seu estado físico e emocional, que por sua vez afeta a sua disponibilidade para assumir o seu papel de cuidador. Por isso, o suporte familiar é para o cuidador informal um mecanismo que pode minimizar os impactes a que o cuidador está sujeito. Segundo Figueiredo “…sendo a família uma rede complexa de relações e emoções, o impacte da tarefa de cuidar recai sobre todos os membros e não apenas sobre o cuidador principal”. (2007:125) Assim, quanto mais o núcleo familiar for profundo, afetivo e partilhe encargos e tarefas, menor será a sobrecarga do cuidador informal principal. Ainda assim, o cuidador e a família devem ser acompanhados pelos profissionais sociais e pelos profissionais de saúde, de modo a ser realizada uma avaliação das suas dificuldades, dos seus estados de saúde, bem como a que sejam dadas informações ao cuidador e à sua família sobre serviços a que podem aceder. A partilha de encargos com os profissionais ajuda a atenuar os impactos negativos do ato de cuidar. Sem esta complementaridade entre os cuidadores, a família poderá não conseguir prestar cuidados aos idosos e poderá ocorrer uma eventual institucionalização da pessoa idosa.

Os constrangimentos de cuidar de uma pessoa idosa podem começar antes de o cuidador assumir o seu papel, através do reconhecimento das dificuldades, da responsabilidade para assumir este compromisso e das eventuais mudanças a que o seu núcleo familiar poderá estar sujeito. Como já foi referido anteriormente, a esfera dos cuidados é predominantemente assumida pelos indivíduos do sexo feminino. Sendo que a inserção no mercado de trabalho, a mobilidade geográfica, a valorização da privacidade do núcleo familiar, os constrangimentos familiares e materiais, e ainda a

37 ausência de conhecimentos para cuidar, dificultam a decisão de assumir este papel. Por outras palavras, estamos numa sociedade em que se valoriza a carreira profissional e a realização pessoal, sendo que as atividades produtivas são recompensadas. Enquanto para assumir o papel de cuidador, muitas vezes as mulheres tem de abandonar o seu trabalho e alguns agregados não conseguem fazer face às suas despesas apenas com um salário. Para além disso, a presença de um familiar que não pertencia a este núcleo, afeta a privacidade, a intimidade e altera as rotinas e os ritmos do quotidiano. Acresce referir que a ausência de preparação prática para cuidar pode condicionar a opção pela provisão de cuidados, em especial se a pessoa idosa estiver acamada. Considerando a família como um recurso importante para a prestação de cuidados, é fundamental implementar medidas que equilibrem o papel dos cuidadores informais com as instituições formais, de modo a que as estratégias de complementaridade entre os vários atores resultem em respostas sustentáveis para fazer face aos problemas ligados ao envelhecimento populacional.

No documento Sara Graciete dos Santos Costa (páginas 47-49)

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