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IV. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

4.3. A educação e formação na União Europeia

4.3.3. Os Cursos de Educação e Formação no eixo dos jovens

Em 1997, uma das medidas do Programa de Integração de Jovens na Vida Activa (PIJVA) levou à implementação dos primeiros Cursos de Educação e Formação, com duração de um ano letivo, com o objetivo de aumentar a oferta de formação para jovens que não tivessem obtido o nono ano de escolaridade, assegurando, desse modo, uma formação profissional e a equivalência à escolaridade obrigatória.

Não bastava anunciar “Agora já tenho a Escola toda!” (o slogan utilizado pelo Ministério da Educação na década de noventa, em reafirmação do sucesso do alargamento da duração da escolaridade obrigatória). Perante a constatação da existência de um elevado número de jovens que entravam precocemente no mercado de trabalho com níveis insuficientes de formação académica, e/ou sem qualificação profissional, o Despacho - Conjunto nº 123/97, de 7 de Julho (ME e MTSS, 1997), determinou que os jovens com quinze anos de idade, que não possuíssem a Escolaridade básica, pudessem obter, simultaneamente, o diploma do 3º ciclo de ensino básico e uma qualificação profissional de nível 2.

Em 2002, a publicação do Despacho Conjunto n.º 279/2002, de 12 de Abril, (ME e MTSS) extingue o Programa 15-18 e lança os Cursos de Educação e Formação. Este normativo proporcionou aos estabelecimentos de ensino regular a definição de uma nova oferta curricular, ao assegurar uma oportunidade de educação e formação que permitisse a obtenção de uma qualificação profissional de nível 1 e nível 2, e da certificação dos 1º, 2º ou 3º Ciclos do Ensino Básico. Era igualmente desígnio garantir que todos os jovens até aos 18 anos de idade (independentemente de estarem ou não a trabalhar), pudessem atingir níveis crescentes de escolaridade ou de qualificação profissional, através de uma tipologia de itinerários estruturados de acordo com as suas habilitações académicas, e de um referencial de Escolaridade mínima de acesso (Quadro 1).

O diploma apresenta sete tipologias diferentes de cursos, que se apresenta em síntese no quadro em anexo, que consta do site do Instituto de Emprego e Formação

Profissional (IEFP)2. No seu preâmbulo, este normativo legal apresenta uma declaração

de intenções relativamente a medidas consideradas prioritárias “que visem, de forma sistemática, a promoção do sucesso Escolar, bem como a prevenção dos diferentes tipos de abandono Escolar, designadamente o desqualificado”. As referidas medidas inserem- se num quadro mais alargado de políticas educativas, definidas ao nível da União Europeia, bem como num quadro de “respostas nacionais aos objectivos definidos, entre outros, na Estratégia de Lisboa e, nesse âmbito, também no Plano Nacional de Emprego.”

Em complemento do que atrás foi referido, são objetivos destes cursos cumprir e concluir o ensino básico de caráter obrigatório, desenvolver competências fundamentais para a educação ao longo da vida, melhorar a autoestima, construir uma maior autonomia pessoal e alcançar uma maior integração social e profissional através de uma certificação na respetiva área de formação.

Os Cursos de Educação e Formação apresentam uma estrutura “acentuadamente profissionalizante que integra as componentes de formação sócio-cultural, científica, tecnológica e prática em contexto de trabalho” (IEFP), e conferem uma dupla certificação escolar e/ou profissional, em função das habilitações de acesso definidas para cada percurso formativo.

O seu desenho curricular assenta em quatro componentes de formação: a sociocultural (que inclui as disciplinas de Língua Portuguesa, Língua Estrangeira, Tecnologias da Informação e Comunicação, Mundo Actual, Higiene e Segurança no Trabalho, Educação Física), a componente científica (Matemática e Físico-Química), a tecnológica (disciplinas específicas/técnicas do curso) e a prática (estágio em contexto de trabalho).

Tal como frisa Silva (2006: 120), é a afirmação da criação de uma identidade própria associada a este modelo formativo que tende a ver socialmente reconhecida esta modalidade formativa de Educação e Formação não como um mero recurso de remediação destinado aos fracassados do ensino regular, mas como resposta

2

Quadro retirado do site do Instituto do Emprego e Formação Profissional, Quadro “Tipologia de Cursos”, acedido

diferenciadora dirigida aos diferentes tipos de alunos que a escola teve de aprender a saber respeitar, numa sociedade democrática onde o respeito pela diferença é um valor.

As componentes sóciocultural e científica, como a própria designação indica, visam a “aquisição de competências no âmbito das línguas, cultura e comunicação, cidadania e sociedade e das diferentes ciências aplicadas numa lógica transdisciplinar e transversal” (Despacho Conjunto nº 453/2004,27 de Julho, Capítulo II, artº 3º, ponto 2). Neste domínio, as diferentes disciplinas deverão organizar-se com o objetivo de proporcionar aos alunos um desenvolvimento “equilibrado e harmonioso”, uma “aproximação ao mundo do trabalho e da empresa”, a “sensibilização às questões da cidadania e do ambiente” e o aprofundamento de questões ligadas à “saúde, higiene e segurança no trabalho” (Despacho - Conjunto nº 453/04 de 27 de Julho, Capítulo II, artº 3º, ponto 3).

No que concerne a componente tecnológica, devem ser desenvolvidas as competências relacionadas com a qualificação profissional abrangida pelo respetivo curso. As relativas disciplinas são definidas pelo referencial de formação do Instituto de Emprego e Formação Profissional e são planeadas em harmonia com as competências e aprendizagens que os alunos devem adquirir. A componente prática é realizada em contexto de trabalho e toma a forma de estágio profissional; é estruturada segundo um plano individual de formação e “visa a aquisição e o desenvolvimento de competências técnicas, relacionais, organizacionais e de gestão de carreira relevantes para a qualificação profissional a adquirir” (Capítulo II, artº 3º, ponto 4).

Para um entendimento pleno desta matéria, é apresentado em seguida o desenho curricular dos Cursos de Educação e Formação:

Componentes de Formação Total de Horas (a) (Ciclo de Formação) Componente Sociocultural

• Língua Portuguesa • Língua Estrangeira • Cidadania e Mundo Atual

• Tecnologias de Informação e Comunicação • Higiene, Saúde e Segurança no Trabalho • Educação Física 192 192 192 96 30 96 Componente de Formação Científica

• Matemática Aplicada

• Disciplina/Domínio específica/o 333 (d)

Componente de Formação Tecnológica • Unidade(s) do itinerário de qualificação associado (b)

768

Componente de Formação Prática

• Formação em Contexto de Trabalho (c) 210

Total de Horas / Curso 2109

(a) – Carga horária global não compartimentada pelos 2 anos do ciclo de formação, a gerir pela entidade formadora, no quadro das suas competências específicas, acautelando o equilíbrio da carga horária anual por forma a optimizar a formação em contexto escolar e a formação em contexto de trabalho.

(b) – Unidades de Formação/Domínios de natureza tecnológica, técnica e prática estruturantes da qualificação profissional visada.

(c) – O Estágio em contexto de trabalho visa a aquisição e o desenvolvimento de competências técnicas, relacionais e organizacionais relevantes para a qualificação profissional a adquirir.

(d) – A distribuir entre as disciplinas de Matemática Aplicada e Disciplina/Domínio específica/o.

Fonte: despacho conjunto n.º279/2002

No que se refere à carga horária, o Despacho - Conjunto nº 453/2004 determina ainda o referencial de horas de formação que os alunos devem cumprir: cerca de 2200 horas, no caso de percursos com a duração de dois anos letivos, que são correspondentes a 70 semanas, “das quais 64 a desenvolver em contexto escolar e as restantes 6 em contexto de trabalho, sob a forma de estágio” (artº 5º, ponto 4, alínea b). No respeitante aos cursos acima indicados, o plano de formação foi organizado de acordo com a seguinte distribuição da carga horária: componente sociocultural: 798 horas; componente científica: 333 horas; componente tecnológica: 768 horas; estágio/formação em contexto de trabalho: 210 horas, num total de 2109 horas.

Nestes cursos o nível de assiduidade dos alunos não poderá ser inferior a 90% da carga horária total de cada disciplina. Para a conclusão da componente de formação prática com aproveitamento a assiduidade dos alunos não pode ser inferior a 95% da carga horária do estágio. Sempre que haja necessidade de um aluno faltar ou professores as horas de formação em falta têm de ser repostas.

A avaliação nestes cursos é contínua, com caráter regulador, de modo a permitir ajustes no processo de ensino aprendizagem. Os registos desta avaliação ocorrem nos momentos estabelecidos para os períodos de avaliação. Esta avaliação, nos cursos tipo 2, expressa-se numa escala de 0 a 5, não havendo lugar a retenção num percurso de dois anos.

Os alunos que não obtenham aproveitamento na Componente de Formação Tecnológica não poderão frequentar a Componente de Formação Prática. No final do curso e após a aprovação na Componente de Formação Prática terão de realizar uma Prova de Avaliação Final (PAF), perante um júri de três elementos.

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