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CAPÍTULO 1 ORIENTAÇÃO SEXUAL: UM TEMA EM DISCUSSÃO

1.3 OS DESAFIOS DE SER PROFESSOR NA CONTEMPORANEIDADE E O

O professor contemporâneo está inserido num sistema que cobra dele uma dinâmica polivalente, com várias atribuições, uma vez que a sociedade moderna tem delegado competências diversas à escola, incluindo o desempenho escolar satisfatório do aluno e sua formação integral. As exigências no campo da educação fazem com o professor reveja sua prática quase que cotidianamente. Muitas vezes, as cobranças sociais e a burocracia impedem que o trabalho realizado pelo professor, em sala de aula, alcance o seu objetivo maior: formar cidadãos conscientes e autônomos. Para entender o que se passa hoje, é preciso fazer uma retomada histórica, referente à organização do sistema escolar e as atribuições do professor.

Segundo Charlot (2008), em meados do século XX a educação brasileira obedecia a uma estrutura de formação do sujeito, organizada na lógica de transmissão do conteúdo. O professor tinha a tarefa de ensinar determinados conteúdos pré-estabelecidos e o aluno, passivamente, deveria absorver esses conteúdos sem questioná-los, apenas utilizando os recursos da memorização. Todo conhecimento científico era subdividido em conteúdos

estanques, distantes da realidade do aluno. Nessa época, segundo ele, a escola era para poucos e o tempo escolar se resumia há apenas alguns anos. Poucas pessoas continuavam estudando após o nível primário e a grande maioria da população era analfabeta. Não havia a preocupação com os alunos que fracassavam e nem com o que acontecia no interior da escola. Nesse tempo seguia-se o que era proposto: “debate-se o acesso à escola e a contribuição do ensino para a modernização do país.” (CHARLOT, 2008 p.18)

Esse tipo de organização escolar, de acordo com o autor, começou a mudar a partir do ano de 1960. Na maior parte do mundo, a escola era vista e pensada sobre o aspecto do “desenvolvimento econômico e social”. O Estado, então, responsabilizava-se pela promoção, expansão e universalização do ensino. O novo sistema de organização da sociedade indicava que quanto maior o nível de escolaridade, melhores eram as possibilidades de “inserção profissional” e “ascensão social”.

Localizando esse tipo de educação no contexto histórico vamos entender o porquê dela. Foi nessa época que a indústria, principalmente a automobilística, tomou um grande impulso. Segundo Antunes (2007, p. 196), após os anos 60, o mundo viveu os chamados “anos dourados” do capitalismo com o avanço da indústria do automóvel de padrão “taylorista” e “fordista”, que se tratava de uma “produção cronometrada, homogênea, com ritmo controlado”

O autor coloca ainda que “esse cenário foi dominante até o início dos anos 1970, quando ocorreu a crise estrutural do sistema produtivo. Aquilo que a imprensa, à época, denominou „crise do petróleo‟, em verdade foi expressão de uma turbulência muito mais intensa que, de certo modo, se prolonga até os dias de hoje.” (ANTUNES, 2007 p.197).

Com as mudanças na organização do mundo econômico, o papel da escola, do professor e do aluno mudou também, mais uma vez acompanhando o modelo social vigente. Para Charlot (2008), a escola se transforma em um espaço de concorrências. Os professores são vigiados e sofrem pressões sociais, tanto por parte das famílias quanto do Governo, uma vez que os resultados satisfatórios dos alunos passam a ser privilegiados. Outro aspecto destacado por esse autor, como desafiador para a escola, para o professor e para a família, é o rápido desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação. Todas essas mudanças têm provocado também transformações na profissão docente. O professor, dos dias de hoje, “ganhou uma autonomia profissional mais ampla, mas, agora, é responsabilizado pelos resultados, em particular pelo fracasso dos alunos.” (CHARLOT, 2008 p.20).

Em uma análise mais aprofundada sobre esse assunto, Cunha (2010) destaca que a sociedade brasileira tem “atribuído responsabilidades crescentes à educação escolarizada e

aos professores de todos os níveis, decorrentes das mudanças no mundo do trabalho, da revolução midiática e da alteração da estrutura da organização familiar” (p. 129). Para essa autora, não há mais uma clara definição de papéis tanto nas relações profissionais como nas organizações familiares; o que tem dado significativa importância à “flexibilidade do conhecimento” e à necessidade de adaptá-lo a situações novas e imprevisíveis. Essa flexibilidade atinge também os currículos escolares, a figura e as competências profissionais do professor, a forma de verificação da aprendizagem dos alunos e até mesmo os materiais didáticos utilizados em sala de aula, que anteriormente estavam reduzidos a caderno, lápis e giz, hoje se ampliaram para a utilização, cada vez maior, dos recursos interativos do computador e da informática.

Para corresponder com eficiência às exigências do sistema educacional e realizar um trabalho coerente com as necessidades das crianças e jovens que são matriculados todos os anos nas escolas do nosso país, o professor da Educação Básica pode utilizar vários recursos que motivem seus alunos para a aprendizagem dos diferentes conteúdos que compõem o currículo escolar. Nesse sentido, o trabalho com o tema da sexualidade que, segundo os PCN, corresponde aos anseios e descobertas dessa faixa etária, além de oferecer informações sobre saúde e prevenção, oportuniza o espaço para a reflexão, a discussão e a interação. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (2001, p.122) destacam ainda algumas experiências exitosas em escolas que efetivam o trabalho com a Orientação Sexual, indicando resultados positivos relevantes. Dentre eles, estão a melhoria do rendimento escolar, o desenvolvimento da solidariedade e do respeito entre os alunos, além do reforço dos laços de amizade entre educadores e educandos. Sendo assim, pode-se inferir que quanto mais o aluno conhece sobre o tema, melhor será a relação com sua sexualidade e maior equilíbrio adquire ao relacionar-se com seus pares.