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Os dirigentes da UOFT articulando os casos de greves (1918)

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CAPÍTULO III A Organização da União dos Operários em Fábricas de Tecidos, nas cidades

1.3. A organização da União dos Operários em Fábricas de Tecidos (1917-1919)

1.3.2. Os dirigentes da UOFT articulando os casos de greves (1918)

As greves da década de 1910 foram as de maior mobilização na cidade do Rio de Janeiro.831 Entre os anos de 1917 e 1919, ocorreram várias greves promovidas pelas fábricas de tecidos e os dirigentes da UOFT articulavam essas greves juntamente aos operários e aos diretores e donos das fábricas. Para o presente item, centramos nas greves realizadas no ano de 1918, nas cidades do Rio de Janeiro e de Petrópolis, e que tiveram o dirigente Albino Moreira Dias como um dos articuladores.

No ano de 1918 houve greve nas fábricas têxteis da cidade do Rio de Janeiro como exemplos a Aliança, Confiança832, Moinho Inglez833, Aldeia Campista834 e na Fábrica do sr. Luiz Durão.835 Como exemplos de greves na cidade de Petrópolis citam-se as realizadas pela Companhia de Tecidos Nossa Senhora do Rosário,836 Fábrica São Pedro de Alcântara837, Fábricas de Tecidos Dona Isabel,838 Cometa do Meio da Serra839 e na Cometa do Alto da Serra. 840

As greves eram promovidas em uma dada fábrica e não pela união das fábricas, desse modo analisaremos os motivos para a ocorrência dessas greves e a ação dos dirigentes da UOFT na construção de estratégias para o movimento. Ressaltamos que não trabalharemos detalhadamente todas as greves citadas, mas apenas aquelas sobre as quais encontramos mais informações e nas quais Albino esteve envolvido na articulação: fábrica Moinho Inglez, Confiança, Cometa do Alto da Serra e São Pedro de Alcântara.

830A Voz do Trabalhador. 01 de novembro de 1913, p.3-4. 831 GOLDMACHER, M., 2009, Op. Cit. p.11.

832

Gazeta de Notícias. 12 de julho de 1918, p.2.

833Gazeta de Notícias. 20 de março de 1918, p.6. 834Gazeta de Notícias.16 de março de 1918, p.5.

835Gazeta de Notícias. 22 de setembro de 1918, p.5. O motivo da greve pacífica na fábrica Luiz Durão foi pela

demissão de operários que eram delegados da UOFT.

836Tribuna de Petrópolis. 03 de fevereiro de 1918, p.1. Tribuna de Petrópolis. 07 de fevereiro de 1918, p.1. 837Tribuna de Petrópolis. 28 de junho de 1918, p.2.

838Tribuna de Petrópolis. 16 de outubro de 1918, p.1. 839

Tribuna de Petrópolis. 27 de janeiro de 1918, p.1.

A fábrica Moinho Inglez, localizada na rua Gambôa841, era um importante estabelecimento e “uma empreza de grande capital e que explora um serviço de vulto, tal é o

abastecimento de trigo moido.”842 Possuía um setor de moagem de trigo e a seção de

produção de panos, como o brim, e de panos para ensacar o trigo.

No Moinho Inglez, no início do ano de 1918, havia antagonismos entre os operários do setor da tecelagem e os patrões. Os operários desse setor, no mês de janeiro, procuraram a redação de A Razão e relataram as precárias condições de trabalho. Os operários afirmaram que entravam

ás 6 horas da manhã e sahem ás 5 horas da tarde. Durante essas longas horas de serviço, têm apenas I hora, sendo 45 minutos para o almoço e 15 para o café. Esses operarios vivem num compartimento exíguo, de 30 metros de largura por 80 de extensão, mais ou menos onde trabalham, neste tempo, com todo o rigor do verão e sob nuvens de poeira, 120 homens.

E é necessario que se note: nesse recinto acanhado se agglomeram 437 teares. Não ha a menor ventilação, o ar é deficiente, pois não existe janella alguma, e apenas um numero reduzido de pequenas claraboias. Dá a impressão de um enorme camarote lugubre, um verdadeiro e horrendo carcere!

A altura desse compartimento não corresponde ás condições hygienicas imprescindiveis a um edificio, onde trabalham 120 operarios.

O chão de quadrilateros de cimento armado não soffre, a mais comesinha lavagem. É fartamente sabido que o trabalho de tecelagem do algodão prejudica a saude e ataca os pulmões.

E ainda por cima as condições pessimas da secção, onde não ha o menor resquicio de asseio e a menor hygiene!

Mas há ainda cousa peor: - na parte interna da fabrica na sala de teares, existe ao fundo um tanque pequeno, cheio d’agua suja, onde vem ter um cano que despeja os vapores quentes das caldeiras.

Esse tanque d’agua infectas, (proximo a uma sentinal) serve para aquecer as parcas refeições dos pobres operarios.

A agua em deposito nesse tanque se conserva, ás vezes, um mez nesse estado!843

Após denunciar as condições do edifício do Moinho Inglez, o autor do artigo passa a “relatar as injustiças por que passam os operarios,” revelando o desespero de cento e vinte homens que trabalhavam diariamente em um “um inferno, sem o menor exaggerro!”O relato das injustiças prosseguiu com a afirmação de que muitos operários “moram longe, nos subúrbios e logares distantes da cidade, e quando, por esse motivo ou por moléstia, faltam sem licença ao serviço, são suspensos por uma semana!” Recebiam baixos salários para realizarem “um esforço inaudito, um grande sacrifício, pois trabalham numa fornalha” recebendo “apenas, 30$000 por semana!” 844

A Razão e a Gazeta de Notícias relataram que esta configurava como um protesto dos operários do setor da tecelagem do Moinho Inglez em relação à demissão de um operário. No dia onze de fevereiro de 1918, às sete horas da manhã, os operários do setor da tecelagem abandonaram os seus postos. Os diretores da fábrica reagiram demitindo todos os operários que eles consideravam terem incentivado a paralisação ocorrida.845

No dia doze de fevereiro, depois que os empregados demitidos haviam sido impedidos de entrar na fábrica, a diretoria da UOFT se fazia representar no Moinho Inglez, por meio do presidente, Manoel Ignacio de Castro, que “lá estava, para entender-se com o gerente sobre

841 Gazeta de Notícias. 12 de março de 1918, p.4. 842A Razão. 31 de janeiro de 1918, p.7.

843 Ibidem. 844

Ibidem.

as demissões referidas.”846 A atitude do gerente foi a de se recusar “a dar qualquer

explicação, mandando fechar os portões do estabelecimento.”847 Dessa forma, percebemos

que o gerente adotou uma postura contrária à dos diretores das fábricas Aldeia Campista e de Sapopemba, que haviam optado por receber a diretoria. Este conflito entre operários e os dirigentes ocorreu em fevereiro de 1918 e, somente em agosto deste ano, os operários e o Centro Industrial acordaram que os diretores da fábrica deveriam receber os representantes dos operários.

O presidente Castro aproveitou que às nove e meia se iniciava o horário de almoço dos operários e “mandou que após a entrada, depois do almoço, todos os tecelões abandonassem

os seus trabalhos.” 848 Os operários, às dez e quinze, atenderam a ordem do Castro e

abandonaram seus postos. Dirigiram todos os operários para a sede da UOFT a fim de discutir o que seria exigido do patronato. 849

Os operários que abandonaram o trabalho foram os da seção de tecelagem. Mesmo não sendo todos os operários da fábrica a abandonarem seus postos é possível ressaltar como a decisão de Castro, tomada diante da recusa do gerente da fábrica em recebê-lo, propagou-se pelos operários em horário de almoço. Castro não foi recebido e o gerente mandou fechar os portões da fábrica. Assim, provavelmente ele não adentrou o estabelecimento. Consideramos a possibilidade do delegado da UOFT, atuante no Moinho Inglez, ter sido o agente a divulgar a decisão de Castro.

Ao formular as exigências para que voltassem ao trabalho, a UOFT exigiu da diretoria a “readmissão dos 6 operarios demitidos,” o reconhecimento da UOFT, como representante dos operários e “a regulamentação da proporção e preço da mão de obra.” 850 Os diretores não responderam o ofício com as exigências.

A greve prolongou-se e no dia dezenove de fevereiro ocorreu uma reunião na UOFT com a presença dos tecelões do Moinho Inglez, ficando decidido que os operários mantivessem em greve pacífica “emquanto os industriaes não se resolverem a atender às

suas reclamações.”851 No dia vinte e um de fevereiro, outra reunião ocorreu na UOFT com a

presença dos grevistas e a diretoria afirmou a manutenção da greve e a espera pela resposta ao ofício enviado.852

Na reunião, um operário afirmou ter tido conhecimento através de uma pessoa de sua confiança, “que a fabrica recebeu por estes dias uma encomenda de dous milhões de metros de brim e que, não sendo esse panno para o ensacamento do trigo da casa, os patrões teriam

que ceder forçosamente daqui até o dia 1º de março próximo.”853 Identificamos a estratégia

do tecelão grevista que era a de procurar obter informações sobre o funcionamento da produção e da administração da fábrica.

O fato de precisarem de dinheiro e temer serem demitidos foram fatores que fizeram com que muitas greves não fossem mantidas pelos operários. Como a previsão do tecelão grevista falhou e a diretoria da fábrica continuava sem responder ao ofício foi necessário providenciar o auxílio para os grevistas que se encontravam há mais de dez dias em parede e, portanto, sem receber salário e correndo o risco de serem demitidos. No dia dois de março, a UOFT se disponibilizou a ajudar por até um ano os operários grevistas do Moinho Inglez. 854

846 Ibidem. 847 Ibidem. 848 Ibidem. 849 Ibidem. 850 Ibidem.

851Gazeta de Notícias. 20 de fevereiro de 1918, p.6. 852Gazeta de Notícias. 22 de fevereiro de 1918, p.6. 853

Ibidem.

Em reunião ocorrida em doze de março, com a presença dos grevistas, Albino discursou sobre a necessidade da união entre os operários: “[...] sem a união nada conseguirá

o operário e hoje, diz elle, o operario que não tiver unido estar condenado a desaparecer.”855

A união propagada por Albino se fazia necessária porque os patrões se mantinham em “attitude intransigente e egoista,” não cedendo às exigências dos grevistas. Um mês após a greve, não se tinha “uma proposta seria e razoavel por parte do Moinho Inglez, afim de pôr

um termo á situação.” 856 Os dirigentes da UOFT mandaram que os operários das outras

seções da fábrica também parassem de trabalhar e estes atenderam a ordem. De forma semelhante ao que fizera em seus escritos ao longo do ano de 1913, Albino estimulou a solidariedade para com os grevistas. Ao incentivar a união entre os operários, procurava evitar o desânimo dos operários frente a recusa dos patrões em ceder.

Os dirigentes da UOFT agiam de acordo com os interesses dos operários, o de melhorarem as condições de trabalho, que era de extrema penúria, de se recusarem a aceitar as demissões dos operários, mas também era necessário agir considerando a posição dos outros envolvidos, no caso o patronato. Os dirigentes não pretendiam realizar uma greve extensa, mas frente a posição intransigente dos patrões, mantiveram a greve:

E´ logico que a União dos Operarios em Fabricas de Tecidos, como orgao legitimo e defensor dos operarios grevistas, não reccusaria um accordo digno que visasse os interesses em jogo.

Mas desde já podemos com absoluta segurança declarar que essa almejada e urgente solução só se dará quando as reclamações e os interesses dos operarios sejam harmonisados e plenamente satisfeitos pela directoria do Moinho Inglez.

Cedo ou tarde, por maiores ameaças e habeis recursos de que lancem mão, os operarios terão de sahir moralmente vencedores nessa questão, a menos que a secção de tecelagem da empresa mencionada fique para sempre no estado em que está, pois não haverá operarios de tecidos que possam trahir esses companheiros, justamente revoltados contra a attitude indebita do Moinho Inglez. 857

Os dirigentes da UOFT e os operários sofriam com o prolongamento da greve e os diretores do Moinho Inglez também viam-se em dificuldades. A falta de operários na tecelagem resultou em “falta de panno para o fabrico dos saccos destinados á exportação da farinha, pois a formula recentemente adoptada de exportar em saccaria de aniagem, tem produzido resultados negativos e dado margem a constantes e repetidas reclamações dos

consumidores que, recebem os saccos quase vasios.”858 Eram essas dificuldades que traziam

esperanças de um acordo para os membros da UOFT. Porém os patrões buscavam alternativas para não atender as exigências dos grevistas, como a de contratar outros operários para exercer as funções na seção dos teares.859 A UOFT, buscando combater essa alternativa, publicou notas nos jornais recomendando que os operários não buscassem trabalho na fábrica. A nota emitida pela diretoria afirmava,

Moinho Inglez - Prevenimos a todos os trabalhadores que não devem procurar trabalho nesta fabrica, cujos operarios se encontram em greve, por ter a directoria da mesma despedido, sem motivo justificado, seis companheiros. Prevenimos mais que os annuncios que diariamente apparecem nos jornaes, pedindo tecelões para a rua da

855 Ibidem. 856A Razão. 13 de março de 1918, p.5. 857 Ibidem. 858A Razão. 24 de março de 1918, p.5.

859 O jornal A Noite informou, no dia quatorze de março de 1918, que estavam trabalhando no Moinho Inglez os

encarregados das seções de teares e “alguns tecelões, hontem contratados para tal serviço

[...],”evidenciando a prática dos dirigentes da Moinho em recorrer a contratação de outros operários diante

Gambôa, são daquella fabrica, não devendo, por isso, os trabalhadores ir procurar trabalho ali sem primeiro pedir informações á rua Acre 19. – A directoria. 860

A publicação das notas na Gazeta de Notícias e nas edições de A Razão, configuravam-se em uma ação incisiva dos dirigentes da UOFT. Enquanto os patrões assumiam uma postura de tentar inibir as ações para amenizar os efeitos da greve, manter a fábrica funcionando e não desagradar os clientes, o movimento grevista se articulava para que os patrões não tivessem os seus lucros garantidos por intermédio de outros trabalhadores.

O número de tecelões grevistas era superior a cem, mas havia os poucos que resistiam a greve e continuavam trabalhando, garantidos pela polícia do 11º distrito.861 Dentre os que trabalhavam estavam os tecelões Raul Dantas e Estanislao Mischarff, que nas primeiras horas da manhã” dia quatorze de março de 1918, dirigiram-se ao “botequim da rua da Gamboa n.

35, pertencente a Antonio Mendes” 862 para tomar café. 863 No botequim,

os tecelões Estanislao e Raul encontraram mais seis collegas que tambem trabalham no Moinho Inglez. Entre os recem chegados e os outros, havia uma certa

animosidade devido a uma questão de serviço.

Estabeleceu-se então entre os tecelões calorosa discussão, que terminou por um sério conflicto, que poz grande parte da rua da Gamboa em polvorosa, em

consequencia dos gritos dos contendores e dos tiros que foram disparados.

Os populares que se achavam próximo [sic] ao local do conflicto apitaram, comparecendo então as autoridades policiaes do 11º Districto, representadas por um commissario, o agente Léo Osorio e o anspeçada n.486, do 2º batalhão da Brigada Policial, que prenderam o tecelão Candido Ferreira Lessa, de côr preta, com 25 annos de edade e morador da casa n. 45 da rua da Gamboa, o qual ainda estava de

revolver em punho, ameaçando os seus adversários.

No conflicto sahiram feridos os tecelões Raul Dantas, que é pardo, casado, tem

26 annos de edade e reside no proprio Moinho Inglez; e Estanisláo Micharff, que

é russo, casado, tem 30 annos de edade e reside á rua Senador Soares n. 48.

Micharff, que declarou ter sido aggredido por Ferreira Lessa, apresenta um

ferimento por projectil de arma de fogo, na cabeça; e Dantas recebeu quatro ferimentos por faca, sendo dous nas costas um no peito e outro no queixo. (grifos

meus) 864

A imagem abaixo foi publicada no jornal A Noite e mostra os envolvidos no conflito da Gamboa. O registro da imagem foi feito após a briga que resultou em feridos e na prisão de Lessa.

860Gazeta de Notícias. 12 de março de 1918, p.4. A nota incentivando aos operários a não aceitarem trabalho na

fábrica Moinho Inglez também foi publicada no jornal A Razão. A seção intitulava-se “Movimento Operário” e as notas foram publicadas entre os dias treze e dezessete de março de 1918, na sexta página do periódico, exceto na edição do dia dezessete que ocorreu na nona página.

861Gazeta de Notícias. 15 de março de 1918, p. 2. 862 Ibidem.

863 Jornal do Brasil. 15 de março de 1918, p. 8. A Gazeta de Notícias apresentou uma versão diferente quanto ao

momento que ocorreram as agressões dentro do botequim. De acordo com o periódico, Raul Dantas e Estanislao Micharff “ao meio dia deixaram a officina, para o lunch” e dentro do botequim foram atacados por um grupo de reclamantes. Gazeta de Notícias. 15 de março de 1918, p. 2.

864Jornal do Brasil. 15 de março de 1918, p. 8. O jornal A Epoca apresentou uma foto de Candido Ferreira Lessa

e abaixo da foto a afirmação “O estivador Candido Ferreira Lessa, que foi preso.” No decorrer da matéria classificou Lessa como tecelão. A Epoca. 15 de março de 1918, p. 4.

Figura 6- Fotos dos tecelões grevistas do Moinho Inglez.

Fonte: Jornal. A Noite. 14 de março de 1918, p.2.

Os jornais, que noticiavam o caso ocorrido no dia quatorze de março de 1918, apontavam as referências dos tecelões envolvidos na briga:865 Candido Ferreira Lessa e Raul Dantas eram brasileiros sendo o primeiro preto e o segundo de cor parda. Estanisláo Micharff era de nacionalidade russa, evidenciando assim as diferenças étnicas entre os operários de tecidos na Primeira República.866

Dentre todos os jornais consultados, apenas a notícia publicada em A Epoca afirmou que o russo Estanisláo Micharff seria contramestre.867 Caso ele ocupasse o posto de contramestre da seção de tecelagem do Moinho Inglez seria mais um fator para gerar animosidades entre o russo e os operários grevistas, pois os operários viam os contramestres como indivíduos que colaboravam com o patronato.

865

Os jornais Gazeta de Notícias e A Epoca publicaram as fotos de Lessa e de Micharff. A Epoca publicou a

foto de Micharff, mas afirmou ser Dantas.(Gazeta de Notícias.15 de março de 1918,p.2.) (A Epoca .15 de março de 1918,p.4.)

866 Baseamos nas leituras dos jornais A Epoca e A Noite para afirmar que Raul Dantas era brasileiro. De acordo

com A Epoca, “no botequim de propriedade de propriedade de Antonio Mendes, [...], deu-se um conflicto, do

qual resultou sairem feridos o nacional Raul Dantas, casado, tecelão ali residente e o russo Estanislao Micharff.” (A Epoca. 15 de março de 1918, p. 4.). De acordo com A Noite, “Raul Dantas e Estanislao Michalski, o primeiro brasileiro e o ultimo russo.” (A Noite. 14 de março de 1918, p. 2.) O autor Sidney Chalhoub, ao

analisar os processos crimes da Primeira República, encontrou vários casos que o levou a concluir sobre a existência de rivalidade entre os membros da classe trabalhadora, na cidade do Rio de Janeiro, provocadas pelas diferenças de raça e de nacionalidade. A rivalidade entre os brasileiros e portugueses se fez mais comumente presente. Cf: CHALHOUB,Sidney. Sobrevivendo. In: Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos

trabalhadores no Rio de Janeiro da belle époque. Campinas: Unicamp, 2001. 867A Epoca. 15 de março de 1918, p. 4.

Com a análise das fontes consideramos que Raul e Estanisláo eram operários e não contramestres.868 O Jornal do Brasil, informou que Raul era morador “no proprio Moinho

Inglez”869configurando-se em um vínculo mais antigo desse operário com a fábrica. A Gazeta

de Notícias ao relatar a agressão informou que os grevistas aguardavam “a sahida dos

operarios que não os acompanharam nas suas pretenções, no intuito de aggredil- os.”870Diante das informações, presentes nos periódicos, consideramos que Raul e Estanisláo eram operários do Moinho Inglez não fazendo parte do grupo contratado para suprir a falta dos trabalhadores da seção de tecelagem.

Os jornais relataram uma agressão com tiros e facadas. Segundo os relatos o preto Lessa “deu o tiro que attingiu Estanisláo,”871sendo autuado em flagrante872 e o único preso. Ele foi “apresentado como um dos cabeças do grupo atacante.”873 Apesar de ter sido preso sozinho estava “andando a policia no encalço de Penna, o autor das facadas, e de seus

companheiros.”874Os redatores de A Epoca referiam-se ao tecelão Manuel Penna, que estava

foragido, e aos demais operários participantes da briga no botequim da Gamboa.

A prisão de Lessa chegou até a sede da UOFT e quase um mês depois da prisão, a diretoria da UOFT pediu para os redatores de A Epoca, publicarem a seguinte nota,

Sobre o incidente occorrido no dia 14 de março? Um espesso véo caiu sobre o caso?

Assim acham-se com direito de perguntar alguns dos companheiros do infeliz

Ferreira Lessa, pois o desgraçado e involuntario autor sofre mui pesadamente suas consequencias, sem que seus companheiros procurem levar-lhe o devido conforto.

Quem sabe como passará esse infeliz, de alma e de corpo?

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