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Os edifícios de escritórios e o movimento moderno em

Capítulo 3 Prelúdio

3.3 Os edifícios de escritórios e o movimento moderno em

O período de 1930 a 1950 caracteriza-se pelo início da verticalização do Centro, com a introdução de novas linguagens de arquitetura, que lentamente marcariam o rompimento com a tradição eclética. A Escola de Chicago, o Art-Déco e as formas piacentinianas

abriram o caminho para os pioneiros do Movimento Moderno, como Warchavchik, Levi e Pilon.

Na década de 40 o Movimento Moderno ganha prestígio no país, e com a vinda de muitos arquitetos da avant-garde européia durante a guerra, surgem as primeiras torres comerciais influenciadas pela nova arquitetura em São Paulo.

Neste grupo inicial de prédios já está presente a característica regional da Arquitetura Brasileira no Movimento Moderno. Manifestação de caráter local que, segundo Lúcio Costa, não somente renova uns tantos recursos superficiais peculiares à nossa tradição, mas fundamentalmente porque é a própria personalidade nacional que se expressa, utilizando os materiais e a técnica do tempo, através de determinadas individualidades do gênio artístico nativo.

O Edifício Vicente Filizola (1943/46), na Rua da Consolação n°65, de Jacques Pilon, com a colaboração de Adolf Franz Heep, edifício com pavimento térreo com lojas, sobreloja e 9 pavimentos-tipo com escritórios, marca o início desta renovação da arquitetura em São Paulo. Sua volumetria elegante é caracterizada pelo uso de brise-soleil horizontal, que compõe a fachada principal, pela primeira vez em São Paulo. Os primeiros estudos para o edifício datam de 1943. Portanto, é contemporâneo das soluções do MEC no Rio de Janeiro, cujo impacto já repercutia nos EUA.

Segundo Ilda Castelo Branco, Jacques Pilon, na época, já sentia necessidade de renovação e, tendo Franz Heep como colaborador, teve contato direto com a linguagem corbusiana e os princípios funcionalistas

do racionalismo europeu. Heep é considerado o introdutor do brise-soleil na arquitetura paulistana, dando um caráter mais leve às fachadas e introduzindo um necessário controle de iluminação e calor aos panos de vidro que vinham sendo introduzidos na arquitetura de um país tropical.

O edifício Vicente Filizola ( fig.47)

Também neste mesmo período Heep projetou o Edificio O Estado de São Paulo, na Rua Major Quedinho (1943/51). Sua volumetria, obedecendo às imposições do Código de Obras Arthur Saboya, compreende três organizações distintas, reunindo, no corpo maior as dependências do jornal, na parte recuada o hotel e nos sétimo e oitavo andares a rádio. Segundo o colaborador Herbert Duschenes, Heep

adaptou os grandes escritórios (salões) para o projeto do hotel, devido a dificuldades de financiamento no empreendimento.

Este edifício faz uma interessante fusão entre o modelo da torre de escritórios desenvolvido por Pilon e os conceitos funcionalistas de Heep (brise-soleil e estrutura de concreto armado independente das paredes, estas atuando apenas como "pele" do edifício). Esta configuração, aliada às perspectivas oferecidas pela Avenida S. Luís e pelo Viaduto Major Quedinho, torna o edifício monumental, com uma presença impressionante na paisagem.

O reticulado de brises-soleil metálicos define a unidade plástica do conjunto de três programas distintos. Na tradição dos grandes murais e painéis pintados das torres de escritórios Art-Déco em Nova York, destaca-se na elevação principal o mural de Di Cavalcanti. No interior há um painel de Clóvis Graciano.

Destaque para a engenhosidade com que foi resolvido o desenho do sistema estrutural, dos acessos e circulação vertical neste terreno em forma trapezoidal, denotando uma armação estrutural clara e de fácil execução. No posicionamento do mural, fixado na fachada de um volume térreo independente, que parece saltar de dentro de um espaço aberto marcado apenas pelas colunas da estrutura, está a influência da Escola Carioca de Costa e Niemeyer, presente no prédio do MEC.

O encanto das fachadas reside no contraste equilibrado entre a textura permeável e móvel dos brises em relação às faixas contínuas que arrematam e interceptam a trama modulada, as empenas e painéis opacos que dão ainda maior riqueza aos ritmos gráficos do volume.

Edifício O Estado de São Paulo – 1953 ( fig.48)

Nesta mesma fase, o Edifício Jaçatuba, localizado na Rua Araújo n° 155/165 (esquina com a Rua Major Sertório), de autoria de Oswaldo Arthur Bratke por volta dos anos 40, destaca-se pela implantação em leque, com elevações para as Ruas Araújo e Major Sertório, formando uma volumetria que permite a existência de uma pequena praça ajardinada na esquina. Devido à restrição nas importações em tempo de guerra, Bratke utilizou pela primeira vez desenho industrial de sua autoria. O térreo faz uso do tijolo de vidro para acompanhar a curvatura em leque do volume. É uma pequena obra, mas que adquire perspectiva monumental.

Edifício Jaçatuba ( fig.49)

Do mesmo autor, o Edifício Gibraltar (Edificio ABC) (1950), também na Rua Major Sertório (esquina com Rua Araújo), é um dos primeiros exemplares de arquitetura funcionalista/racionalista de influência européia em São Paulo e destaca-se pela fachada totalmente envidraçada e pelo revestimento de pastilhas, um dos primeiros da cidade. O edifício acompanha tradicionalmente o alinhamento das Ruas Major Sertório e Araújo e a esquina é trabalhada em um cilindro côncavo. Tal como o edifício do IAB-SP, do MEC e o CBI-Esplanada, destaca-se pela preocupação urbana de criar um porticado, similar em conceito às colunatas cobertas das praças renascentistas da Itália e das cidades universitárias inglesas medievais, recuando o térreo dos edifícios em relação ao alinhamento do lote, ampliando a calçada.

Segundo Xavier-Lemos-Corona, "por conveniência particular dos incorporadores, foi concebido de modo a possibilitar, no futuro, uma

fragmentação em três unidades autônomas; daí a existência de dois blocos distintos de escadas, elevadores e sanitários, separadas por um átrio".

Edifícios Gibraltar (ABC), de Oswaldo Bratke ( fig.50)

Merece destaque também a Sede do IAB-SP (1948), edifício situado à Rua Bento Freitas, 306 (esquina com as Ruas Major Sertório e General Jardim), projeto de Abelardo de Souza, Galiano Ciampaglia, Hélio Duarte, Jacob Ruchti, Rino Levi, Roberto Cerqueira César e Zenon Lotufo (o grupo de projeto foi escolhido por Oscar Niemeyer, membro do júri do concurso, a partir das propostas coletadas, e todos colaboraram na versão final, desenvolvida no escritório Rino Levi).

O edifício é composto por um pavimento térreo com loja e galeria, sub-solo multi-uso, duas sobrelojas para a sede do IAB (com salão para eventos e restaurante), seis pavimentos-tipo para escritórios, um bloco de circulação com escadas, elevadores e banheiros.

Prédio em lote de esquina com estrutura de concreto armado, os salões e escritórios estão voltados para as ruas enquanto um bloco nos fundos do terreno concentra as instalações de banheiros, escadas e elevadores com seus respectivos átrios previstos por lei.

O programa foge um pouco do tradicional, em se tratando de sedes institucionais conjugadas com escritórios de renda, graças à originalidade com que é tratada a volumetria das duas sobrelojas do IAB, totalmente diferenciada da do térreo e dos andares-tipo para renda.O pavimento térreo abriga o hall de entrada e uma ampla galeria de exposições envidraçada, voltada para as Ruas Major Sertório e Bento Freitas, quase uma continuidade da rua, que traz a cidade para dentro do prédio. Na esquina, a galeria envidraçada recebe um corte chanfrado.

É notável como este prédio trabalha plasticamente diferentes volumes e texturas ao longo das fachadas e na quina do lote. A sobreloja é sustentada por uma esbelta laje, que serve de marquise ao térreo, terraço do restaurante e salão de festas com pé-direito duplo, avançando além do alinhamento da rua, em um gesto de desafio às noções tradicionais de simetria e equilíbrio. Há uma clareza estrutural que ousa não só expor pilares por fora do edifício, como independente das paredes, que deixam de ter função estrutural, dispostas "aleatoriamente" sem relação com a malha de concreto armado.

Os pavimentos-tipo, com panos de vidro perimetrais, procuram aproveitar ao máximo a área útil com um amplo salão possibilitado pela estrutura de concreto de planta livre. É um dos primeiros edifícios a ter o andar-tipo livre corbusiano, sem compartimentalização dos ambientes por paredes. A disposição do hall de circulação vertical, com dois conjuntos

separados de banheiros, permite que até duas firmas distintas possam ser instaladas em um mesmo andar.

O Código de Obras estabelece o recuo dos dois últimos pavimentos-tipo, diminuindo a área de escritórios. Apesar disso, a unidade plástica do edifício é preservada em seu enquadramento em relação à volumetria e à rua, com a manutenção do limite da laje na mesma prumada do andar-tipo, caracterizando uma mesma estrutura.

Maquete do edifício do IAB (fig.51)

O Edifício Esplanada-CBI (1947/48), localizado na Praça Ramos de Azevedo, esquina da Rua Formosa, projeto do arquiteto Lucjan Korngold. Com 33 andares e 50.000m2 de área construída, foi na época a maior estrutura de concreto armado do mundo, uma demonstração da

vitalidade econômica e industrial de São Paulo, em um período em que a economia mundial ainda se encontrava em processo de reconstrução.

Edifício Esplanada-CBI (fig.52)

Foi o primeiro edifício do pós-guerra com estrutura racional definida e casada com os panos de vidro, oferecendo grandes salões para escritórios, pois até então os edifícios comerciais eram em seus andares todos compartimentados em pequeninas salas ao longo de escuros corredores.

Abriga em seu programa, térreo comercial com sobrelojas, 29 pavimentos-tipo com escritórios e 3 pavimentos de escritórios menores na cobertura (para obedecer ao Código de Obras), com núcleos de

circulação vertical situados no eixo longitudinal do prédio, possibilitando o acesso pelas duas ruas, em níveis diferenciados .

A solução dos núcleos de circulação vertical, atendendo ao nível do Hotel Esplanada na Rua Formosa e ao nível do Vale, permite uma circulação fluida e eficiente, necessária para o tráfego de 20.000 pessoas/dia. Para tanto, os elevadores foram dotados de recursos pioneiros na época: o conjunto principal de circulação, voltado para o Vale, é composto por oito elevadores e o conjunto voltado para o Hotel Esplanada, por quatro unidades. Nos andares-tipo, dois conjuntos de WCs simétricos, articulam-se com as escadas, os elevadores e o hall de circulação. Isto permite que o andar-tipo possa ser dividido em até quatro salões, servidos por halls de circulação, dois a dois, com as paredes divisórias articulando-se com as divisões de caixilharia, dimensionando o tamanho das salas e/ou ambientes a serem compostos com as divisórias.

Pode ser considerado como uma das primeiras grandes manifestações em escala urbana, da arquitetura racionalista na cidade de S. Paulo. A organização da planta de seu pavimento-tipo demonstra a racionalidade do partido: a estrutura de concreto independente da caixilharia de vidro, os pilares periféricos a um metro da parede envidraçada (com o eixo dos montantes das esquadrias coincidindo com o eixo da coluna). A localização centralizada dos conjuntos de hall de circulação/escadas/WCs/elevadores não se espelha uma composição simétrica de volumes nas fachadas do edifício, mas a necessidade dos conjuntos de servir aos escritórios do andar-tipo (voltados para o exterior de modo a receber luz e a ventilação naturais) .

A disposição dos conjuntos de circulação vertical e banheiros, ao redor de um vazio central e posicionados no eixo longitudinal, permite o acesso de luz e ventilação naturais para o espaço mais interno dos pisos. Caracteriza-se assim um bloco independente de serviços e circulação, que divide o prédio em dois blocos de escritórios ou quatro salões.

Em termos plásticos e volumétricos, o edifício pode ser caracterizado como um bloco envidraçado apoiado em uma colunata que, à primeira vista, suaviza a transição entre a massa edificada e nível da rua. O CBI-Esplanada, juntamente com o Vicente Filizola, o OESP, a sede do IAB e o ABC, constitui um rompimento com a linha adotada até então por edifícios de escritórios na cidade, de partido e linguagem influenciados pela arquitetura vertical dos EUA do pré-guerra. Evidentemente isto não ocorria apenas com os edifícios de escritórios na verticalização do centro, mas também com as torres de apartamentos. Dois exemplos mais significativos da época, o Edifício Prudência (Rino Levi - 1944) e o Edifício Louveira (Vilanova Artigas - 1946).

Dentro desta nova concepção de espaço, o volume vertical não está pousado diretamente sobre o solo, mas flutua acima do chão sustentado pela colunata, cedendo seu vão para um espaço de transição entre o nível da rua e a massa edificada. Atenua-se o peso da construção, criando um espaço sombreado, que pode ser liberado para jardins, estacionamentos, uma continuidade coberta de uma praça, uma área social, comércio, serviços e hall de circulação. Este vão pode criar um espaço intermediário entre o edifício comercial e a rua na forma de uma passagem porticada semi-coberta que amplia o espaço de

circulação da calçada. Cria-se uma inter-relação entre o domínio "público" da rua e o "privado" do comércio, reforçada com o uso de uma marquise.

Com suas linhas limpas e clareza de espaços funcionais, representa um bom exemplo do racionalismo de linha bauhausiana. Apresenta em seus volumes uma discreta composição classicista, bem menos explícita e, portanto, mais elegante do que obras piacentinianas vizinhas. Além da preocupação com as proporções, a diferença de tratamento entre o térreo-sobreloja (aberto), os andares-tipo (bloco maciço) e a cobertura conota um sentido de composição tripartite.

É importante destacar que todos estes pioneiros do Movimento Moderno no Brasil tiveram de levantar seus edifícios dentro da mesma prática artesanal de canteiro (enquanto países como os EUA e a Inglaterra realizavam considerável avanço na industrialização da construção e racionalização do canteiro, com economia de 'materiais e mão-de-obra). A linguagem tecnológica e industrial da Arquitetura Moderna Brasileira, que encantou o mundo nos anos 40 por meio da obra Brazil Builds, de Goodwin, continuava a ser erguida dentro de esquemas de canteiro do século XIX. Mas, o que pode ser considerada como uma crítica à situação da época também pode ser vista como algo positivo. Stroeter afirma que um dos grandes méritos dos arquitetos modernistas foi justamente o de terem usado materiais e técnicas convencionais, de uma forma não-convencional.

Edifício da Mesbla (1941): projeto de Augusto Renol, edifício de uso misto (habitação e escritórios) com 10 pavimentos e loja de departamentos no térreo. Localizado na esquina da Avenida 24 de Maio esquina com Rua Dom José de Barros.

Edifício da Mesbla ( fig.53)

Edifício Leônidas Moreira (1941): localizado na Rua do Carmo, Centro. Projeto do arquiteto Eduardo Kneese de Melo, com 6 pavimentos e 1 subsolo. A fachada principal deste edifício acentua claramente a estrutura modulada de concreto armado. Cada módulo, correspondente a uma sala, foi vedado com tijolos de vidro, acima e abaixo de um painel de brises móveis, o que denota uma preocupação marcante com a iluminação e ventilação das salas de escritórios.

Edifício Leônidas Moreira ( fig.54)

Palácio da Secretaria da Fazenda (1941): projeto de Ferrucio Julio Pinotti, com 22 pavimentos e 3 subsolos, localizado na Avenida Rangel Pestana – Centro. Foi o primeiro edifício com escadas rolantes da cidade.

Edifício Central (1942): localizado na esquina das Ruas XV de Novembro e Boa Vista, projeto de Francisco Matarazzo Neto para a Cia. Central de Importação e Exportação. Com 24 pavimentos e 1 subsolo, o edifício compõe-se de três corpos distintos unidos entre si por uma passagem longitudinal de 4m de largura, ligando as ruas XV de Novembro a Boa Vista e dotando o edifício de duplo acesso.

Edifício Central ( fig.56)

Edifício Souto de Oliveira (1945): de autoria do arquiteto Icaro de Castro Mello, com 17 pavimentos, o edifício implantado em terreno em forma de trapézio possui frente para duas ruas – a Major quedinho e o viaduto Nove de julho, no centro de São Paulo. Ocupa a projeção total do terreno até o 12° pavimento, a partir do qual apresenta volume escalonado.

Edifício Souto de Oliveira (fig.57)

Edifício dos Andradas (1946): projeto de Henrique Mindlin, localizado na Av Ipiranga n° 1267. Implantado em lote de esquina, retangular, num volume único ocupando a projeção total do lote do térreo ao 12 ° pavimento e a partir daí escalonado.

Edifício Cofermat (1946): edifício com 12 pavimentos implantado em lote retangular e ocupando toda sua projeção, projeto de Rino Levi e Roberto Cerqueira César, localizado na Rua Florêncio de Abreu n° 305.

Edifício Severo e Vilares (1946): Localizado na rua XV de Novembro, edifício realizado pela Severo Vilares e Cia Ltda, com 22 pavimentos. Em função da sua volumetria e ritmo das aberturas nas fachadas, este edifício guarda uma relação de semelhança com o edifício Banespa.

Edifício Cofermat ( fig.59) e Edifício Severo Vilares ( fig.60)

Edifício Cavaru (1947): projeto de Eduardo Kneese de Mello para a sociedade Comercial Rômulo de Mello Ltda., localizado à Rua Maria Paula n° 64, centro. Com 13 pavimentos, o edifício está implantado em lote trapezoidal estrito, sem recuos de frente e laterais, conformando um volume compacto com fachadas frontal e posterior com brises verticais.

Edifício Praça das Bandeiras (1948): edifício de 15 pavimentos, localizado na Praça das Bandeiras, centro, projeto de Francisco Beck.

Edifício Praça das Bandeiras ( fig.62)

Edifício Thomas Edison (1948): edifício de 24 pavimentos, de autoria do escritório técnico Francisco Beck, com a participação do arquiteto Lucjan Korngold, localizado à Rua Bráulio Gomes n° 60, centro de São Paulo.

Edifício Thomas Edison (fig.63)

Edifício de escritórios à Rua 7 de abril (1949): projeto de Plínio Croce. Edifício com 12 pavimentos, implantado em lote retangular ocupando quase a projeção total do lote, apenas com recuo de fundo e dois poços de iluminação e ventilação junto às circulações verticais.

3.4 Expansões: a verticalização em São Paulo entre 1950 e 1960

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