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4 DA CONSOLIDAÇÃO PROCESSUAL À CONSOLIDAÇÃO SUBSTANCIAL: EM BUSCA DA MAIOR EFICÁCIA DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL DE GRUPOS

4.2 Os efeitos decorrentes da consolidação substancial no contexto brasileiro

Assim como nos Estados Unidos, a consolidação substancial deve ser aplicada como medida de exceção pelos juízes e tribunais brasileiros. Essa excepcionalidade se justifica devido ao fato de que, mesmo agrupadas, as devedoras caracterizam-se como entes dotados de personalidade jurídica e patrimônios autônomos218. Há de se considerar, ainda, que ao contratar com alguma componente do grupo, a priori, o credor assumiu os riscos inerentes àquela determinada empresa com quem celebrou o negócio jurídico219. Da mesma forma, percebe-se que própria estrutura dos grupos empresariais, como demonstrado no primeiro capítulo deste trabalho, visa à separação de riscos, de modo que, em regra, cada sociedade se apresenta a terceiros como ente distinto dos demais componentes do mesmo grupo, respondendo juridicamente apenas pelas obrigações por ela mesma adquiridas220.

217 BRASHER, Andrew. Substantive consolidation: A critical examination. Unpublished Manuscript, v. 65, p.

72, 2006.

218 CEREZETTI, Sheila C. Neder. Grupos de sociedades e recuperação judicial: o indispensável encontro entre

Direito Societário, Processual e Concursal. In: YARSHELL, Flávio Luiz; PEREIRA, Guilherme Setoguti J. (Coords.). Processo Societário II: adaptado ao Novo CPC – Lei nº 13.105/2015, São Paulo: Quartier Latin, 2015, p. 766.

219 FONTANA, Maria Isabel Vergueiro de Almeida. Recuperação Judicial de Grupos de Sociedades. 2016.

Dissertação (Mestrado em Direito Comercial) – Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo/SP, p. 58.

220 CEREZETTI, Sheila C. Neder. Grupos de sociedades e recuperação judicial: o indispensável encontro entre

Direito Societário, Processual e Concursal. In: YARSHELL, Flávio Luiz; PEREIRA, Guilherme Setoguti J. (Coords.). Processo Societário II: adaptado ao Novo CPC – Lei nº 13.105/2015, São Paulo: Quartier Latin, 2015, p. 766.

Percebe-se, assim, que a consolidação substancial somente deveria ser aplicada, a princípio, em situações extraordinárias, de forma subsidiária. Isso porque, nos casos em que aplicada a consolidação substancial, diferente da consolidação processual, desconsidera-se a autonomia patrimonial entre as empresas do grupo para os fins do processo de recuperação judicial e há a concentração de todo o ativo e de todo o passivo das suas componentes em uma figura fictícia, que consiste no supracitado “todo unitário” formado pelas integrantes do grupo consolidadas materialmente.

Consequentemente, após a constatação do juiz competente de hipótese que dê ensejo à consolidação substancial, todos os atos e fases do processo deixam de ser individualizados para cada litisconsorte e passam a ser consolidados na figura do grupo como um “todo unitário”.

Deve haver, somente após a determinação da consolidação substancial pelo juiz competente, uma única relação de credores, unificada para todo o grupo, que será utilizada para aferir a aprovação, ou não, do plano de recuperação judicial pela assembleia geral de credores, que também deverá ser única para o grupo221. Faz-se a ressalva quanto à unificação das relações de credores somente após a determinação da consolidação substancial porque as devedoras, em seu pedido de recuperação judicial, devem apresentar relações distintas, não cabendo a elas presumir a consolidação substancial e apresentar uma lista unificada222.

Se a determinação da consolidação substancial não se dê antes de findar o prazo para o administrador judicial apresentar sua relação de credores, o auxiliar do juízo também deverá apresentar listas individualizadas para cada litisconsorte.

Da mesma forma, somente poderá ser apresentado um único plano de recuperação judicial para o grupo como “todo unitário” após a deliberação do juiz competente pela consolidação substancial. Nesse caso, há tão somente um plano de recuperação judicial para todo o grupo, sem a individualização das propostas de pagamento em relação a cada devedora, não havendo necessidade de informar qual devedora é titular de cada ativo utilizado na operação do grupo, assim como não se exige que cada litisconsorte apresente os meios de

221 “Uma vez aprovada a consolidação substancial, os credores devem ser organizados, na assembleia-geral para

apreciação do plano, nas quatro classes previstas no art. 45, mas sem que haja obrigatória divisão conforme possuam créditos perante uma ou outra devedora”. CEREZETTI, Sheila C. Neder. Grupos de sociedades e recuperação judicial: o indispensável encontro entre Direito Societário, Processual e Concursal. In: YARSHELL, Flávio Luiz; PEREIRA, Guilherme Setoguti J. (Coords.). Processo Societário II: adaptado ao Novo CPC – Lei nº 13.105/2015, São Paulo: Quartier Latin, 2015, p. 781.

222 FONTANA, Maria Isabel Vergueiro de Almeida. Recuperação Judicial de Grupos de Sociedades. 2016.

Dissertação (Mestrado em Direito Comercial) – Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo/SP, p. 89.

saída da crise. Na hipótese de consolidação substancial, o plano é denominado “plano unitário223”.

Caso contrário, mesmo estando em discussão a incidência de consolidação substancial nos autos do processo, sem constar, contudo, decisão do juiz sobre a matéria, as litisconsortes deverão apresentar planos distintos, ou mesmo um plano em que se individualizem as propostas de pagamento e o patrimônio para cada devedora, este denominado pela doutrina como “plano único”224.

Mesmo em caso de apresentação de plano único, assim como se apresentados planos individualizados, a sua votação deverá ser separada. Ainda que feita em uma única assembleia para os credores de todas as recuperandas, a apuração dos votos deve ser segregada, pois o plano deve ser votado pelos respectivos credores de cada litisconsorte225.

Fontana226 destaca, ainda, ser importante que o plano único contemple a possibilidade de não aprovação do referido documento pelos credores de uma ou de algumas das recuperandas, indicando alternativas viáveis aos credores em caso de decretação de falência de parte das sociedades do grupo.

Nos casos de consolidação substancial, por outro lado, observa-se que o destino do grupo será um só, ou seja, ou há uma “reestruturação conjunta de todas as dívidas, ou todas elas sucumbem em conjunto, em decorrência de uma contaminação sistêmica do grupo que

forma um todo praticamente indivisível e indissociável227”. Assim, inexiste a possibilidade de

uma ou algumas empresas do grupo terem, em seu favor, a concessão da recuperação judicial,

223“Um único documento a reger conjuntamente o pagamento dos passivos e a reestruturação das devedoras,

sem consideração dos distintos patrimônios e passivos de cada uma delas”. CEREZETTI, Sheila C. Neder. Grupos de sociedades e recuperação judicial: o indispensável encontro entre Direito Societário, Processual e Concursal. In: YARSHELL, Flávio Luiz; PEREIRA, Guilherme Setoguti J. (Coords.). Processo Societário II: adaptado ao Novo CPC – Lei nº 13.105/2015, São Paulo: Quartier Latin, 2015, p. 781.

224“O plano único é o documento no qual as recuperandas preveem a forma de superação da crise por cada

sociedade e a forma de pagamento empregada por cada uma das recuperandas para seus respectivos credores. Ou seja, nessas situações, apesar de o plano ser um documento único, deve haver clara distinção entre os ativos e os passivos de cada recuperanda”. FONTANA, Maria Isabel Vergueiro de Almeida. Recuperação Judicial de Grupos de Sociedades. 2016. Dissertação (Mestrado em Direito Comercial) – Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo/SP, p. 92.

225

FONTANA, Maria Isabel Vergueiro de Almeida. Recuperação Judicial de Grupos de Sociedades. 2016. Dissertação (Mestrado em Direito Comercial) – Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo/SP, p. 93.

226

FONTANA, Maria Isabel Vergueiro de Almeida. Recuperação Judicial de Grupos de Sociedades. 2016. Dissertação (Mestrado em Direito Comercial) – Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo/SP, p. 93.

227 CARPENTER, Marcelo Lamego; HENRICI, Ricardo Loretti. Pluralidade de Devedores e a Consolidação de

Direitos e Obrigações no Plano de Recuperação Judicial: Breve Análise Da Jurisprudência Atual. Revista de

após a aprovação do plano pelos seus respectivos credores, enquanto o restante das litisconsortes terem a sua falência decretada.