• Nenhum resultado encontrado

3 Abertura comercial, Tecnologia e Impactos sobre o Mercado de Trabalho Industrial

4.2 Modelo Teórico

4.2.5 Os Efeitos do Comércio Intra-Indústria

Nas subseções precedentes foram apresentadas as relações entre as variáveis para o país doméstico que, mutatis mutandis, aplicam-se ao país estrangeiro. Nesta subseção, discute-se os efeitos que a abertura comercial promove nos dois países.

Considere que os dois países, como de início, diferem em suas dotações relativas de trabalho qualificado. O país doméstico é relativamente escasso em trabalho qualificado, isto é,

) ( )

< h∗ ω

h (para todo ω relevante) e um país relativamente menor que o estrangeiro )

A Figura 3 mostra os efeitos do comércio intra-indústria sobre o salário relativo dos trabalhadores qualificados e o tamanho da firma representativa18. As curvas FF e PP para o país doméstico e FF* e PP* para o estrangeiro representam, respectivamente, os equilíbrios nos mercados de fatores e de produtos.

Admita que as economias partem de uma situação inicial de equilíbrio de autarquia (pontos A e A* na Figura 3) e que haja um processo de abertura comercial. Na ausência de impedimentos ao comércio, os dois países se engajarão no comércio intra-indústria. A curva PP está à esquerda da curva P*P*, pois o país doméstico é menor que o estrangeiro e a curva F*F* está à esquerda de FF porque o país doméstico é relativamente escasso em trabalho qualificado. A A* B B*

*

, x

x

P’ P’ P* P* P P F* F* F F * A

w

'* A

w

*

ω

ω

ω,ω*

Figura 3 – Efeitos do comércio intra-indústria

FONTE: Adaptação de Dinopoulos, Syropoulos e Xu, 2001.

No equilíbrio de autarquia o país doméstico é caracterizado por possuir firmas menores relativamente ao estrangeiro, sendo o salário relativo de equilíbrio para este país menor que o observado para o estrangeiro. 19

Com base nos equilíbrios de autarquia, determina-se (ωA,xA)e(ω*A,x*A) . A passagem do equilíbrio autárquico para o livre comércio intra-indústria não muda as curvas FF e F*F*. Isto ocorre devido à condição de equilíbrio no mercado de fatores (18), que depende somente da oferta relativa de trabalho qualificado, sendo que, por hipótese, não há mobilidade de fatores entre países.

Contudo, analisando a questão do ponto de vista da firma representativa, observa-se que, com a abertura, cada firma do país doméstico ou estrangeiro terá seu mercado ampliado paraN +N* consumidores, de maneira que a condição de preço dada por (15) deverá levar em consideração um mercado de tamanho N+N* . Admitindo que as firmas produzem com tecnologias idênticas e que atendem ao mesmo mercado, a curva P’P’ na Figura 3 representará sua nova condição de preço.

Percebe-se, então, que, na ausência de mobilidade de fatores, o livre comércio intra- indústria expande o tamanho da firma representativa nos dois países, representado pela sua produção, e aumenta a elasticidade preço da demanda para cada variedade produzida, mudando as curvas PP e P*P* para P’P’.

19 No caso geral, não há como garantir, a priori, em qual país o salário relativo dos trabalhadores qualificados

Os pontos B e B* representam a situação de livre comércio, ficando claro que há um aumento no salário relativo dos trabalhadores qualificados nos dois países, contrário ao preconizado por HOS.

Devido à relação positiva entre salário relativo e intensidade do uso do trabalho qualificado na produção, observa-se um aumento na proporção de trabalhadores qualificados ao nível de firma (e indústria) nos dois países.

Desta forma, com a introdução do comércio intra-indústria verifica-se que as seguintes proposições são válidas:

Proposição 1: Se a expansão da produção é viesada para o trabalho

qualificado (i.e., prevalece a Condição A) e os consumidores em ambos os países consomem uma quantidade positiva de todas as variedades disponíveis sobre comércio livre, então a passagem da autarquia ao livre comércio intra-indústria:

(a) aumenta o salário relativo do trabalho qualificado ω em ambos os países;

(b) gera um aumento na qualificação da firma típica através do aumento na intensidade de qualificação na produção e abundância relativa de trabalho qualificado em ambos os países;

(c) aumento no produto da variedade típica x nos dois países; (d) aumento na produtividade total dos fatores nos dois países.

Proposição 2: Se a expansão da produção é viesada para o trabalho

qualificado (i.e., prevalece a Condição A) e os consumidores em ambos os países consomem uma quantidade positiva de todas as variedades disponíveis sobre livre comércio, então o salário relativo do trabalhador qualificado ω é menor (maior) e o produto por variedade x é maior (menor) no país com abundância em trabalho qualificado (não qualificado) sobre livre comércio intra-indústria. (DINOPOULOS; SYROPOULOS; XU, 2001, p.19).

4.3 Conclusões

Neste capítulo descreveu-se o modelo de concorrência imperfeita de Dinopoulos, Syropoulos e Xu (2001), que mostra as repercussões sobre o emprego, rendimentos e produtividade de um processo de abertura comercial com comércio intra-industrial.

A principal inovação desse modelo, em relação aos modelos de Dixit e Stiglitz (1977); Dixit e Norman (1980) e Krugman (1979), diz respeito ao relaxamento da hipótese de homoteticidade da função de produção.

Como demonstrado, a abertura comercial e a introdução do comércio intra-indústria contribuem para ampliar a desigualdade salarial entre trabalhadores qualificados e não qualificados, diferentemente de estudos baseados na análise de Heckscher-Ohlin-Samuelson, onde o livre comércio contribui para a melhoria da distribuição de renda.

Uma das principais implicações do modelo, que é objeto de estudo nesta pesquisa, diz respeito à correlação positiva entre comércio intra-indústria e salário relativo do trabalho qualificado ω=wH wL. Neste sentido, nos capítulos seguintes serão apresentados e discutidos os dados e a metodologia empírica utilizada para tratar essas questões no caso brasileiro, com base no modelo teórico aqui exposto.

CAPÍTULO 5

DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS E DESCRIÇÃO DOS DADOS UTILIZADOS

5.1 Introdução

No capítulo anterior foi apresentado o modelo teórico adotado nesta tese. Neste capítulo, descreve-se os procedimentos empíricos utilizados para analisar os efeitos da abertura e do comércio intra-industrial sobre as desigualdades salariais entre trabalhadores qualificados e não qualificados da indústria de transformação brasileira.

A análise se restringe à indústria de transformação brasileira e ao período pós- abertura. De acordo com Kume, Piani e Souza (2003), a reforma tarifária do período 1988-89 não produziu efeitos significativos sobre o grau de proteção à indústria interna, uma vez que manteve intactas as restrições não-tarifárias e os regimes especiais de tributação. Neste sentido, considera-se, nesta tese, o ano de 1990 como marco da abertura comercial no Brasil.

O capítulo encontra-se dividido em duas seções, além desta breve introdução. Na seção seguinte são apresentadas as fontes de dados utilizadas na pesquisa. Far-se-á uma análise das principais variáveis do modelo, as quais contemplam informações sobre produção, emprego e rendimento na indústria de transformação e informações de comércio exterior. A última seção traz as conclusões do capítulo.