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Os elementos significantes dos portais de notícias

No documento DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA (páginas 85-90)

Capítulo 3 A semiótica discursiva e os desdobramentos na semiótica sincrética

3.7. Os elementos significantes dos portais de notícias

Os portais de notícias trazem elementos significantes que simulam o jornal impresso, operando efeitos de sentido já consolidados na mídia tradicional. Entretanto, como destaca Oliveira, não se pode deixar de fora as qualidades estésicas de cada uma das mídias e a sua interferência tanto (e principalmente) no plano da expressão, quanto do conteúdo. A textura do papel jornal é a primeira diferença que se instala. O papel, como elemento tátil, com um toque amaciado resultante de sua menor gramatura, com a

153 Ibid. p.227.

80 tinta ligeiramente fresca, cujo cheiro característico desprega-se de suas páginas e, às vezes, ainda sujam os dedos, compõem uma plasticidade que permeia e identidade do jornal impresso. Em oposição, os portais de notícias só podem ser acessados em algum dispositivo digital que dê acesso à internet e que possibilite a materialização de um objeto que só adquire a categoria espacial, quando virtualizado em computador, “tablete”, telefone celular ou qualquer outro tipo de suporte que lhe dê visibilidade. Depreende-se desse fato, um de seus principais elementos significantes: simular o ato de “estar em movimento”.

No plano de expressão, os portais de notícias têm uma topologia definida, demarcada pelo espaço de uma tela. Esse elemento matérico, retangular, de tamanhos variados, abriga uma dinâmica de simulação de uma espacialização única, proporcionada, não mais pela virada de páginas, como no jornal impresso, mas que se amplia por uma barra de rolagem que opera a movimentação da tela e determina um plano de conteúdo variável, que pode estar contido na dimensão da barra de rolagem ou pode adquirir uma nova a e inesperada espacialização, pela ação dos “hiperlinks”, que instalam conteúdos inúmeros, muitas vezes imprevisíveis ao sujeito produtor do discurso. Tal perspectiva simula alçar o destinatário à condição de coprodutor do discurso, mas o que se tem é uma leitura direcionada pelo sujeito da enunciação que, por uma série de estratégias, busca guiar a leitura possível do texto sincrético. A enunciação deixa marcas no objeto, que apontam caminhos e escolhas para o enunciatário, possibilitando alguma interação na constituição de um mosaico com um conjunto específico de enunciados, porém, mesmo esses estão inscritos previamente no texto sincrético.

As categorias topológicas retilíneas e curvilíneas circunscrevem o limite do domínio do destinatário na espacialidade do portal. Não será possível avançar além de um espaço determinado de oferecimento. Neste espaço, os temas são pré-determinados,

81 como um simulacro do jornal impresso, em que as notícias em destaque vão no alto, determinando um nível de importância e atualidade pressupostas. A noção de espacialidade nos portais de notícias segue a internalização de significantes das mídias impressas, embora esteja em um plano de expressão que não o limita a esse procedimento.

Na categoria intercalado vs intercalante estão inseridos os ícones de acesso às outras mídias, sonoras (rádio) e audiovisuais (televisão), que se interpõem entre os textos verbovisuais, como possibilidades de manifestação, desde que acionadas pelo destinatário, já que em um primeiro momento são apenas índices estáticos, compondo apenas a gama de visualidade imagética do sítio. Nesta categoria surge também a temática publicitária. Na espacialidade dos portais esta possui uma dimensionalidade própria que se movimenta pela tela, manifesta-se e desaparece do campo visual do enunciatário. Além de recobrir os textos sincréticos, intercala-os e é intercala por eles. Ao mesmo tempo em que participa, está a parte do conteúdo sincrético. Ao movimentar-se, a publicidade fundamenta-se nas categorias curvilíneas, concêntricas, na medida em que se movem do centro em direção aos cantos periféricos dos sítios e não-concêntricas, ocupando os espaços laterais.

No plano de conteúdo, os portais de notícias são mosaicos visuais em que as notícias se mesclam ao entretenimento, jogando com efeitos que visam fidelizar o destinatário, em uma abordagem estratégica que envolve cores, texturas, e procedimentos discursivos que aproximam e afastam o enunciatário do “mundo” instaurado pelo jornalismo on-line. Do excesso de figuras à recorrência temática, há uma evidente abordagem sensacionalista e espantosa. O fechamento de sentido é obtido por uma dupla abordagem: a narrativa e a fotografia. Em oposição significante, ambos os recursos em conjunto determinam um sentido espantoso, surpreendente ou trágico ao tema que enunciam. Por isso, a fotografia é um componente decisivo na composição dos mosaicos

82 do jornalismo on-line. Não porque se destaque, ocupe grandes espaços ou mostre-se diferenciada. Em equilíbrio com o tecido verbal, as fotos sustentam a narrativa imagética dos campos. Estão caracterizadas em tamanhos pequenos, retangulares ou quadradas, sem retoques que as diferenciem no ambiente virtual. O que conta é o enquadramento. Ocupam um espaço até tímido em meio à profusão de ritmos apreendidos nesse ambiente. Próximas às fotos, estão as manchetes (ou títulos) que dão sentido e chamam o leitor para a notícia. Essas podem vir acompanhadas por um subtítulo e um pequeno resumo da notícia ou não, muitas vezes trazem no alto uma palavra-chave para o que representam. Há um fechamento de sentido conferido pelos traçados verbovisuais dos mosaicos. Instala-se uma estrutura que busca direcionar a leitura dos fatos e, muitas vezes, dispensa o leitor da continuidade interna, pois os assuntos estão misturados, levando o olhar de um ao outro.

Em razão de sua abundância, a visualidade vive numa batalha perpétua, na qual cada objeto visual disputa com os demais, a possibilidade de ser apreendido pelo olhar do destinatário e orientar sua visão para nele adentrar. Procedimentos manipulatórios, de ajustamento comandam, de distintos modos e com artimanhas próprias, o olhar sensibilizado. Fazer olhar, sentir, ver, ler e interpretar são as metas visadas por todos estrategistas da visão, que galgam mobilizá-la pela monossensorialidade ou pela polissensorialidade (OLIVEIRA,

2005, p. 109).

A prevalência de fotografia do tipo “retrato” nesse mosaico inicial também é um traço recorrente no jornalismo pela internet. A forma como esses retratos recobrem temas estereotipados, contumazes, como as figuras do feminino, por exemplo, é perceptível. O olhar mais atento pode ainda capturar a tendência de disposição de tais elementos na página virtual. O canto esquerdo, inferior, estampa as “tragédias” e fatos dramáticos. Ao lado, a leveza de afazeres pessoais e domésticos ou a mulher revestida de qualidades sexuais.

83 Particularmente, no que tange à fotografia como parte desse enunciado de sentidos aberto a um primeiro olhar, mas fechado diante do processo histórico a que se remetem, a posição do retrato contribui com a intencionalidade de doação de valor aos objetos, pois como observou Barthes155, a fotografia é a própria expressão da morte, ainda que pareça ressaltar a vitalidade.

155 BARTHES, Roland. A Câmara Clara.Trad. Julio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Nova

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