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OS EMBARGOS INFRINGENTES NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973 – FASE

No documento MESTRADO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL (páginas 69-72)

O recurso de embargos infringentes contra decisões de segundo grau e perante o Supremo Tribunal Federal tinha sido abolido no Anteprojeto do Código de Processo Civil de 1973, limitando-os somente às causas de alçada152. Na Exposição de Motivos apresentada pelo Prof. Alfredo Buzaid consignou-se que a supressão dos embargos infringentes nas hipóteses acima referidas objetivava evitar “arrastar-se a verificação do acerto da sentença por largo tempo, vindo o ideal de Justiça a ser sacrificado pelo desejo de aperfeiçoar a decisão”.

Após alguns debates, o Projeto do Código de Processo Civil de 1973 manteve os embargos infringentes contra decisões em segundo grau de jurisdição153, alterando toda a redação do texto inicialmente apresentado com o Anteprojeto154. O Projeto do Código de Processo Civil foi convertido na Lei 5869, sancionada em 11 janeiro de 1973 e que passou a vigorar a partir de 01 de janeiro de 1974.

Gisele Heloísa Cunha, em poucas palavras, define os embargos infringentes como sendo “um recurso genuinamente brasileiro. Isto quer dizer que nenhuma outra legislação prevê este recurso (ou mesmo algum outro que a ele se assemelhe)”155.

152 Pela redação do artigo 516 do Anteprojeto, somente seriam admitidos embargos infringentes na

seguinte hipótese: “Art. 516. Nas causas, cujo valor for igual ou inferior a 5 (cinco) vezes o salário mínimo vigente na sede do Juízo, só se admitirão embargos de declaração (art. 504) e infringentes.”

153 Rogério Lauria Tucci escreve que “…sua prática mostra-se antagônica à pretendida simplificação

procedimental objetivada pelo legislador nacional, com quebra, também no plano recursal, dos perseguidos escopos de economia processual e de celeridade na prestação jurisdicional”. (ob. cit. p. 331)

154 Jacy de Assis, em trecho transcrito por Marcos Afonso Borges, escreve que “O Anteprojeto suprimia o

recurso de embargos infringentes (arts. 544 e 561. O Congresso de Campos de Jordão, por expressiva unanimidade, convenceu o eminente prof. Alfredo Buzaid de que os embargos infringentes não podiam ser suprimidos, mas antes mantidos em todos os processos” (ob. cit., p. 66, nota 6).

Moniz de Aragão, contrário à inclusão dos embargos infringentes de Acórdãos no Projeto do Código de Processo Civil de 1973, entende que esse recurso somente era viável quando tinha o fim de proporcionar o reexame do feito, “na impossibilidade de o vencido apelar da sentença”, o que não mais se justifica, diante do consagrado princípio do duplo grau de jurisdição. Para esse mesmo autor não se justifica a manutenção desse recurso, uma vez que “nenhuma legislação alienígena adota os embargos, principalmente em Portugal, onde já foi afastado pela sua flagrante impropriedade” 156.

No entanto, esse posicionamento não era compartilhado por todos. Na oportunidade, Costa Carvalho defendia a manutenção dos embargos infringentes, uma vez que se trata de “um recurso útil e necessário, que proporciona, não raro, a reparação de erros graves e de injustiças notórias que, sem ele, prevaleceriam em detrimento das partes litigantes. Mantê-lo é medida acertada, que se impõe”157.

Antes da modificação imposta pela Lei 10.352/2001, o recurso de embargos infringentes era interposto, no prazo de 15 dias, contra decisão proferida em sede de apelação ou rescisória, bastando para tanto a existência de um voto vencido. Irrelevante, na oportunidade, a reforma ou anulação da decisão; a existência de uma decisão de mérito ou não, sendo suficiente a existência de um voto minoritário. No caso da ação rescisória, pouco importava a procedência ou improcedência; a divergência no juízo rescisório ou no juízo rescindendo, sendo suficiente a existência de um voto minoritário.

156 Ob. cit. p. 82.

157 Código de Processo Civil, v. 1, tomo 2, p. 911. Sergio Bermudes também acompanha esse

Caso a decisão contivesse uma parte unânime, o recurso especial e/ou extraordinário era interposto na mesma oportunidade dos embargos infringentes. Por conta disso, inicialmente, processava-se os embargos infringentes, ficando os demais recursos sobrestados até definição dos infringentes.

Em determinadas situações, a interposição dos embargos infringentes era condição até mesmo de admissão dos recursos extraordinários (especial e o extraordinário propriamente dito). A Súmula 281 do Supremo Tribunal Federal158 há tempo sinalizou para a necessidade de esgotamento das vias ordinárias para utilização da via especial, tendo o Superior Tribunal de Justiça sumulado entendimento mais direto quanto à necessidade de interposição dos infringentes159.

A admissão do recurso se dava de imediato, com pronunciamento, de plano do relator. Em caso de inadmissão, cabível o recurso de agravo interno no prazo de 5 dias (art. 532 do Código de Processo Civil). Uma vez admitido o recurso, proceder-se-ia ao sorteio do relator, devendo a escolha, quando possível, recair em juiz que não tivesse participado do julgamento da apelação ou da rescisória (art. 533 do Código de Processo Civil).

Com o relator designado, o embargado era intimado a apresentar suas contra-razões no prazo de 15 dias. Com o término do ciclo de manifestações, os autos eram encaminhados para o relator que, caso mantido o posicionamento inicial quando ao processamento do recurso, elaborava seu voto e encaminhava para o revisor, sendo, na seqüência, o recurso encaminhado para julgamento, com ampla apreciação da questão pelo órgão colegiado.

158 Súmula 281: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber, na Justiça de origem, recurso

ordinário da decisão impugnada”.

159 Súmula 207: “É inadmissível recurso especial quando cabíveis embargos infringentes contra acórdão

Essas eram as condições para cabimento/processamento dos infringentes até o início do ano de 2002, quando passaram a vigorar as novas regras.

7. DA SUBSISTÊNCIA DOS EMBARGOS INFRINGENTES NO NOSSO SISTEMA

No documento MESTRADO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL (páginas 69-72)