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CAPITULO 4 “AQUI SE FAZ GOSTOSO”: A COSTRUÇÃO SOCIAL DE UM

4.2. Os espaços

Um dos fatos mais curiosos deve ser comprovado por todos aqueles que fizerem uma busca rápida de imagens ou mapas de São Miguel do Gostoso pela internet. Perceberá que a maioria destas imagens evidenciam a área litorânea da cidade. Como dito antes, após ser elevado a condição de munícipio, São Miguel do Gostoso passou a contar com outras 26

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comunidades e distritos. No entanto, neste jogo de imagens produzidas pelo marketing turístico verifica-se que a imagem de São Miguel do Gostoso se reduz ao seu circuito turístico, formado pelas praias da zona urbana costeira do município.

Geograficamente, a zona turística da cidade é a sua zona urbana costeira, notadamente o centro da cidade, da Avenida dos Arrecifes em direção ao mar, o que informa os seguintes espaços: Ponta do Santo Cristo, Praia do Cardeiro, Praia da Xêpa, Praia do Maceió, Praia do Tourinhos (Tourinhos do Reduto) e Praia do Marco. Dentro deste circuito, outros espaços são colocados como de visitação turística: O “suspiro da baleia” (Praia do Tourinhos), a Igreja de São Miguel Arcanjo, o museu “Casa de Taipa” (ver anexos) e o Marco do descobrimento localizado na praia que faz referência ao fato histórico. A ilustração a seguir é um dos inúmeros mapas e infográficos que se pode encontrar na internet, nos sites e blogs das agências e outros mediadores do turismo local, são também os fornecidos pelas recepções das pousadas aos seus hospedes:

Figura 25: Infográfico do espaço turístico de São Miguel do Gostoso31.

Segundo Cristiane Alecrim:

“Geograficamente falando, o circuito turístico de São Miguel do Gostoso é o seu

litoral, praticamente, só as praias aqui do centro, porque há outras praias, como a praia do Tourinho, um pouco mais distante, é assim... virgem, tem umas barracas, e o pessoal vai lá pra tomar banho, tomar uma cerveja, mas é basicamente as praias

daqui” (Cristiane Alecrim – ex- secretária de turismo, 04/2013)

Em São Miguel do Gostoso explora-se o turismo esportivo e o de sol e praia, sendo as praias da Ponta do Santo Cristo e Cardeiro, os principais espaços entendidos como

31 Informação retirada do site: http://www.aquisefazgostoso.com.br/index.php/mapas/em 15 de Julho de 2011 às 16h 15.

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propícios para o turismo esportivo e as praias da Xêpa, Maceió, Tourinho e do Marco os espaços destinados para o segundo tipo:

“Aqui temos o turismo de sossego, ou seja, as pessoas vem aqui pra descansar.

Outro tipo de turista é os que buscam os esportes náuticos, porque São Miguel tem o melhor vento do estado e é o melhor local para velejar, então aqui nós temos o campeão de kitesurf e o tri-campeão de windsurf. O mar daqui não é revolto, não tem arrebentação, o que é propício para um novo esporte, o stand up paddle. A ponta do Santo Cristo é um lugar especifico para a prática desses esportes, então o turista

que vem pra cá para isso, geralmente ficam nesta região de São Miguel do Gostoso”

(Cristiane Alecrim – Ex-secretária de turismo 04/2013)

Segundo informações fornecidas pela Secretaria de Turismo, somado aos dados coletados durante a pesquisa de campo, fizemos abaixo uma descrição sobre os espaços designados como “espaços turísticos”. Estes são lugares apresentados pela gestão municipal e a iniciativa privada como o roteiro/circuito turístico de São Miguel do Gostoso. Costumam aparecer em abas de sites e blogs dos mediadores do turismo como “O que deve ser visto” ou “o que deve ser visitado”. As narrativas sobre estes espaços foram contadas principalmente pelos moradores mais velhos da localidade, difundidas pelas instituições sociais locais e repetidas uníssonas pela população. Segue abaixo as descrições sobre estes espaços:

Praia do Santo Cristo:

As narrativas sobre esta praia – que de antemão informamos, precisam ser relativizadas – informam que após fincar o marco do “descobrimento” na Praia do Marco, a expedição comandada por Gaspar de Lemos navegava em direção ao sul quando percebeu nesta região um grupo de indígenas. A frota resolveu então ancorar nesta praia, e ao fazê-lo foram rechaçados pelos índios que ainda conseguiram aprisionar o padre que estava entre a tripulação. O padre foi morto e devorado em um ritual antropofágico. Segundo relatos, séculos depois, quando São Miguel do Gostoso já era uma pequena vila, encontrou-se nesta praia um crucifixo que foi associado à história anterior – que circula há séculos na localidade – e então decidiram chamar a praia de Ponta de Santo Cristo.

Hoje esta praia é a mais valorizada pelo mercado turístico, os valores dos imóveis próximos a ela são os mais altos. Nela encontram-se situados condomínios e pousadas ligadas aos clubes de kitesurf e windsurf. Este espaço foi designado pelo projeto turístico local como espaço privilegiado para os esportes náuticos, e bandeiras dos três clubes (Kauli Seadi, Dr. Wind e Escola do Gostoso) demonstram isto, demarcando os seus espaços em terra e no mar. É uma praia de eminente fluxo de pessoas durante todo o dia, principalmente durante os

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meses que correspondem à alta estação. Costuma concentrar em sua rede hoteleira o maior numero de turistas, principalmente os estrangeiros praticantes ou interessados nos esportes náuticos.

Figura 26: Ponta do Santo Cristo. Praticante de Windsurf. Acervo do autor: Paulo Filho, 01/2014.

Praia do Cardeiro:

Esta praia encontra-se ao lado da Ponta do Santo Cristo, separadas pela Lagoa do Cardeiro. O seu nome faz referência a um pé de Cardeiro que, segundo as narrativas, lá existia e que desapareceu com o avanço do mar. Este espaço também fora destinado para a prática do windsurf e kitesurf. Mas ao contrário da Ponta do Santo Cristo, existe nela uma pequena infraestrutura urbanística onde se encontram alguns quiosques e bares. Assim como na praia vizinha, costuma concentrar em suas pousadas grande parte dos turistas que visitam São Miguel do Gostoso.

101 Praia da Xêpa:

De acordo com Leonardo Godói, a Praia da Xêpa recebe este nome em referência ao fato histórico ocorrido em 1944, quando foi destacado para São Miguel do Gostoso um pelotão do exército. “Xêpa” em termos militares significa comida. E a referência feita ao local deve-se ao fato de que nele era distribuída entre a população local a sobra da “xepa” dos soldados ali acampados.

Este espaço possui a maior infraestrutura urbana, com quiosques, praça e quadra poliesportiva. Além disso, possui bares e restaurantes, muitos dos quais oferecem culinária estrangeira (mexicana, italiana e espanhola). Como dizem os moradores, apesar da infraestrutura que possui, a Praia da Xêpa é um local de “passagem” que em termos locais significa um local para onde se vai para tomar banho de sol e de mar, mas onde os visitantes não costumam permanecer muito tempo em sua visita ao local.

Figura 28: Fotografia aérea da Praia da Xepâ. Acervo: Sebah Campos, 2011.

Praia do Maceió:

A Praia do Maceió recebe este nome em referência as pequenas lagoas que se formavam a partir das águas do mar nas grandes marés, fenômeno que já não mais ocorre, pois a duna que se formou na entrada do mar impede. O Maceió é um tradicional centro pesqueiro, foi lá que se iniciou o povoamento de São Miguel do Gostoso. Alguns a chamam

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de “Porto Trapiá” em referência à um trapiazeiro que antes lá existia. Se as Praias da Ponta do Santo Cristo e do Cardeiro são destinadas e vendidas como espaço para a prática dos esportes náuticos, a Praia do Maceió é vendida pelo marketing turístico local como espaço de tranquilidade e descanso. O cenário vendido é o de um bucolismo relacionado às práticas pesqueiras.

Assim como a Praia da Xepâ, o Maceió é uma local de “passagem” no que diz respeito ao turismo, exceto pelos hóspedes de algumas pousadas a beira-mar desta praia. Todavia, neste espaço impõem-se as rotinas de pesca, que por sua vez são integradas a paisagem oferecida pelo pacote turístico.

Figura 29: Embarcações de Pesca na Praia do Maceió. Acervo do autor: Paulo Filho, 09/2013.

Praia do Tourinhos:

Localmente também é conhecida como Praia do Reduto (Reduto de Holandeses) por ter servido de abrigo para os holandeses expulsos de Touros em 1654. É considerada a praia mais bonita de São Miguel do Gostoso (inclusive pelo marketing turístico), sua enseada é margeada por formações rochosas conhecidas como reduto. Não possui infraestrutura urbana e encontra-se fora do centro da cidade. Por sua paisagem e também pela falta de estrutura urbanística, é vendida pelos sites dos mediadores do turismo local como praia exótica, quase “virgem”. Por se encontrar um pouco mais distante da cidade e por não possuir meios de hospedagem próximos, a praia é um espaço para breve visitação considerada propícia para a prática do turismo de “sol e praia”. Lá se encontra o “suspiro da baleia” um fenômeno natural que ocorre proveniente da pressão formada pela água do mar ao penetrar as formações rochosas.

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Figura 30: O "suspiro da baleia", Praia do Tourinhos. Arcevo: Heldene Santos, 2013.

Praia do Marco:

Nesta praia, que também se encontra fora da sede do município, encontra-se o primeiro Marco de Posse Português chantado durante o Brasil colonial (ver capítulo 2), o seu principal atrativo. A esta praia vincula-se a prática do turismo de “praia e sol”, mas também se começa a dar maior atenção às visitações interessadas pelo caráter histórico local. Encontrar-se-á nela algumas poucas pousadas, sendo a mais conhecida delas a de propriedade de Tânia Teixeira, chamada de “Arraial do Marco”; também possui um importante núcleo pesqueiro que divide espaço com casas de veranistas32.

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