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3. Revisão de literatura e estudos empíricos

3.2. O cumprimento das divulgações obrigatórias

3.2.3. Os estudos sobre o cumprimento das divulgações exigidas pela IFRS

O presidente do IASB, Hans Hoogervorst, em Julho de 2013, participou numa conferência e apresentou um texto intitulado “10 good proposals to make disclosures

more effective”. No seu seguimento, o FASB e o EFRAG expressaram igualmente as suas preocupações acerca da quantidade de divulgações obrigatórias e da necessidade de um quadro-resumo. Tsalavoutas et al. (2014) referem que a revisão levada a cabo por estes organismos deve ter em conta a definição de materialidades. Adicionalmente, na ausência da divulgação exigida, as IFRS deviam impor às empresas que apresentassem uma declaração explícita sobre a razão pela qual não divulgaram ou porque a mesma é impraticável, reduzindo assim a assimetria de informação e melhorando a comparabilidade entre empresas.

O grau de cumprimento das divulgações obrigatórias apresenta valores entre os 70% e os 80% na maioria dos estudos desta temática (Tsalavoutas, 2011), verificando-se igualmente uma grande variabilidade nos resultados. O país de origem é uma grande influência, devido aos sistemas de reporte financeiro específicos dos países, comprovando que a adoção generalizada das normas internacionais não se traduz necessariamente num maior grau de cumprimento das divulgações obrigatórias.

“A quase inexistência de estudos fora do paradigma da contabilidade anglo-saxónica

levanta a questão de se os seus resultados são aplicáveis aos países com diferentes padrões contabilísticos, especialmente depois da adoção obrigatória das IFRS por estes países” (Baboukardos e Rimmel, 2014, pág.4; tradução própria)

Shalev (2009), para o mercado americano, constata que apenas em 67% das concentrações empresariais é divulgada a principal razão para a realização da operação no anexo às demonstrações financeiras. Apenas 13% das empresas adquirentes divulgaram os fatores que contribuíram para o reconhecimento do goodwill. Em 34%, as empresas adquirentes divulgaram a alocação do justo valor aos ativos e passivos adquiridos. Em geral, os resultados evidenciam uma variabilidade de níveis de divulgação elevada tanto entre empresas como nos itens a divulgar. Será de referir que a

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métrica de materialidade que melhor explica os níveis de divulgação é o rácio entre o preço de aquisição e o total de ativos pré-aquisição da empresa adquirente, sendo que as divulgações incrementam substancialmente quando perante negócios cujo rácio é superior a 5%.

Tsalavoutas (2011) apresenta uma série de características que influenciam os níveis de divulgação, nomeadamente relacionadas com a estrutura e a performance da empresa e o próprio mercado: dimensão, autonomia financeira, liquidez, rentabilidade, tipo de auditor e setor de atividade. Para estudar, na Grécia, o cumprimento com a IFRS 3, o autor considera um total de 20 itens, chegando a um valor médio de 72%, com um desvio-padrão de 31%, o que denota a grande variabilidade de resultados, muito por culpa de a IFRS 3 exigir a divulgação de informação privada do negócio, a qual se for detalhada pode acabar por prejudicar a própria empresa que a divulga.

Glaum et al. (2013), no seu estudo com os 17 principais mercados de capitais europeus, para testar o cumprimento com as divulgações exigidas pela IFRS 3 e IAS 36, verificaram que existe uma relação significativa e positiva entre os índices de divulgação e a dimensão do goodwill no balanço das empresas, a reputação do auditor e a origem geográfica escandinava ou anglo-saxónica. É notório o maior cumprimento com as divulgações exigidas por parte dos países anglo-saxónicos e escandinavos (78% a 82%). Por sua vez, embora o limite máximo seja superior, verifica-se uma maior variabilidade de níveis de divulgação e um limite inferior bastante baixo no caso dos países de origem francesa e germânica (56% a 85%).

Mazzi et al. (2014), para uma amostra de empresas europeias, verificam o nível de cumprimento das divulgações obrigatórias exigidas pela IFRS 3 e IAS 36, obtendo uma média de 82% com uma grande variabilidade, mas tendencialmente crescente no período analisado. Os resultados evidenciam que a não divulgação ocorre essencialmente em relação a informação privada do negócio e informação reveladora dos julgamentos e expetativas dos gestores.

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Tsalavoutas et al. (2014), na análise ao cumprimento das divulgações obrigatórias da

IFRS 3, IAS 36 e IAS 38 no ano de 2010, validam que os processos de concentração empresarial estão relacionados com as condições de crescimento económico, verificando que nos países menos afetados pela crise económica as empresas mantiveram o seu investimento na aquisição de novos negócios (ex: Alemanha e Reino Unido).

As principais conclusões a retirar do estudo são as seguintes:

A grande maioria das empresas divulga o preço de aquisição e o método de pagamento da consideração atribuída aos anteriores proprietários da empresa adquirida;

Apenas um quarto das empresas que reconhecem goodwill efetuam uma descrição qualitativa dos fatores que as levaram ao seu reconhecimento, sendo geralmente esta uma pequena afirmação de que são esperadas sinergias, o que denota uma falta de orientação sobre o que é expectável ser divulgado;

Apenas uma pequena parte divulga que o método de mensuração dos interesses minoritários é o full goodwill, o que denota que o novo método não é uma opção largamente utilizada;

Sem a orientação devida sobre quando e como os itens devem ser divulgados, as empresas acabam por fornecer informação divergente acerca das concentrações de atividades empresariais, afetando consequentemente o grau de comparabilidade. Do ponto de vista do utilizador da informação financeira, não é percetível se esta divergência é causada pelo facto de as empresas não considerarem as aquisições como materiais, não entenderem e interpretarem devidamente as exigências de divulgação ou simplesmente não divulgarem intencionalmente os conteúdos necessários.

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