• Nenhum resultado encontrado

1.2 Adesão à Terapêutica

1.2.2 Os fatores associados

De acordo com a OMS (2003), são vários os fatores que afetam a adesão ao regime terapêutico, os quais podem, sumariamente, ser agrupados em cinco grupos:

- Fatores socio-económicos e culturais: nível de escolaridade, situação prossional, apoios sociais, condições habitacionais (englobando o número de co-habitantes), preço relacionado com transportes e fármacos, étnia, crenças culturais e desigual- dades sociais (Bugalho e Carneiro, 2004). Apesar de, segundo a OMS (2003), os fatores socio-demográcos não estarem claramente associados à adesão, Machado (2009) inclui, neste grupo, alguns destes fatores como a idade, sexo e estado civil; - Fatores associados aos prossionais de saúde: nível de desenvolvimento dos siste-

mas de saúde, sistema de distribuição de fármacos, taxa de comparticipação, acesso aos medicamentos, recursos humanos e técnicos disponíveis, horários das consultas e conhecimento dos prossionais de saúde sobre doenças crónicas.

- Fatores relacionados com a doença e co-morbilidade(s): gravidade dos sintomas, incapacidade física, psicológica, social e prossional, gravidade atribuída à doença por parte do indivíduo e o, consequente, impacto que esta representa na sua vida (Bugalho e Carneiro, 2004). Dentro deste grupo também se engloba o carácter da doença, isto é, se se trata de uma doença aguda ou crónica e se a mesma apresenta ou não sintomas (Giorgi, 2006);

- Fatores relacionados com a terapêutica: complexidade (esquemas terapêuticos), duração do tratamento, ausência imediata de melhorias e efeitos secundários (Bu- galho e Carneiro, 2004; Giorgi, 2006; Machado, 2009);

- Fatores relacionados com o doente: estado psicológico, conhecimentos sobre doença e/ou tratamento, crenças, perceções sobre episódios da doença e as expetativas sobre a evolução da doença. Neste grupo de fatores inclui-se também a falta de capacidade, de motivação e auto-ecácia para gerir o plano terapêutico (Bugalho e Carneiro, 2004; Giorgi, 2006; Oliveira et al., 2007, Machado, 2009).

Apesar desta classicação proposta pela OMS, vários investigadores desta área pro- põem outras classicações. Almeida et al. (2007), por exemplo, indica que os fatores referidos devem ser agrupados em: fatores externos, fatores relacionais e fatores internos ao doente. Os primeiros referem-se ao acesso a medicamentos, às características da doença e ao regime terapêutico. No que concerne aos fatores relacionais, estes autores incluem os apoios sociais e a relação entre o médico e o doente. Por m, nos fatores internos, são in- cluídos fatores psicológicos, crenças relativas à saúde e características socio-demográcas. De entre os fatores externos, estudos demonstram que, quanto maior for o número de medicamentos e/ou tratamentos, menor será a adesão (Leite & Vasconcellos, 2003; Valle, 2000; Santos, 2008). Vários estudos, revelaram, igualmente, que, quanto maior forem os apoios dados ao doente e quanto melhor for a relação médico-doente, melhores são os resultados relativos à adesão (Sabaté, 2003; Leite & Vasconcellos, 2003). Em relação aos fatores internos, não existe unanimidade sobre a inuência da idade na adesão. Relativa- mente ao sexo, este não parece inuenciar a adesão, contudo, o baixo nível económico e a baixa escolaridade, parecem inuenciar negativamente a adesão (OMS, 2003).

Capítulo 2

Objetivos

O presente estudo tem como objetivo principal a avaliação da prevalência da não- adesão à TARc e a identicação dos fatores (sócio-demográcos, biomédicos e psicossoci- ais) associados ao controlo da infecção VIH e à não-adesão à terapêutica anti-retrovírica, permitindo, assim, caracterizar os diferentes pers dos doentes não aderentes à respetiva terapêutica.

A determinação destes fatores permitirá desenvolver campanhas que incidam sobre os doentes de risco, isto é, indivíduos que se identiquem com o perl dos doentes não aderentes, com o objetivo de diminuir a prevalência da não-adesão.

Capítulo 3

Material e Métodos

3.1 Descrição Geral do Estudo

O presente trabalho integra-se no estudo Adesão à Terapêutica Anti-Retrovírica em do- entes seropositivos para o VIH: prevalência e fatores associados (Estudo ATAR-VIH), con- duzido pelo Instituto de Medicina Preventiva (IMP) do Hospital de Santa Maria (HSM). Trata-se de um estudo observacional de coorte: (1) com inclusão retrospetiva de do- entes que, entre 2005 e 2008, tenham tido, pelo menos, uma dispensa de TAR, prescrita no Hospital de Dia de Infeciologia do HSM; (2) e com seguimento prospetivo dos doentes sob TAR, durante um período mínimo de 3 meses.

Para o estudo observacional de coorte prospetiva, foram considerados elegíveis todos os indivíduos que vericavam as seguintes condições:

1) Ser seropositivo (a) para o VIH-1; 2) Maior de 18 anos;

3) Seguido(a) no Serviço de Doenças Infeciosas do Hospital de Santa Maria;

4) Ter, pelo menos, uma consulta com prescrição de TAR durante o período de recruta- mento;

5) Capaz de consentir e participar no estudo;

6) Não se encontrar detido(a) num estabelecimento prisional, em instituições sociais ou depender de terceiros para a toma da medicação;

7) Não incluídos em ensaios clínicos.

No período de abril a julho de 2011, foi pedido aos médicos assistentes que identi- cassem os indivíduos elegíveis de forma sistemática, no momento da consulta, e que os convidassem a participar no estudo. Após consentimento informado, foi aplicado um questionário aos participantes em entrevista presencial e pedido aos médicos o preenchi- mento de um formulário com dados clínicos. A adesão à terapêutica foi avaliada com base no Questionário AIDS Adult Clinical Trial Group (AACTG), desenvolvido para auto- avaliação da adesão recente (últimos 4 dias, último m-de-semana e os últimos 30 dias). Desta forma, dos métodos referidos no capítulo anterior, foi utilizado um método indireto de avaliar a adesão. Em particular, o auto-relato da adesão.

Em função das respostas para os diferentes momentos avaliados, foi possível classicar cada indivíduo como apresentando uma adesão elevada, moderada ou fraca (gura 3.1).

Tabela 3.1: Classicação dos níveis de adesão à terapêutica anti-retrovírica, em função das respostas dadas para os diferentes momentos ou períodos de tempo avaliados

Momento Adesão elevada Adesão moderada Adesão fraca

Últimos 4 dias Sempre Sempre Falhou uma toma Posologia nos últimos 4 dias Sempre Frequentemente ou menos − − −−

Fim de semana Cumpriu Não cumpriu − − −− Últimos 30 dias Sempre Ocasional ou frequentemente Raramente ou nunca

Posteriormente, classicaram-se como aderentes os participantes considerados com adesão elevada e como não aderentes, aqueles que foram cuja adesão à terapêutica o considerada moderada ou fraca, de acordo com a classicação apresentada na tabela 3.1.

O questionário ao participante incluiu, para além do Questionário AACTG, a avaliação de características sócio-demográcas e clínicas e a aplicação de escalas validadas para a população portuguesa, para avaliação de a) Satisfação com o Suporte Social (ESSS), cuja pontuação varia 15 e 75 pontos - quanto maior a pontuação obtida, maior a satisfação com o suporte social; b) Ansiedade, Depressão e Stress (EADS), cuja pontuação oscila entre 0 entre 21 pontos - quanto maior a pontuação, mais negativo é o estado psicológico; c) Crenças e Perceção da Doença (IPQ-R), cuja pontuação varia 0 entre 45 pontos - quanto maior a pontuação mais crónica é a perceção da doença; d) Crenças sobre a medicação (BMQ), onde quanto maior a pontuação, maiores são as crenças acerca da necessidade dos fármacos e das crenças acerca dos efeitos secundários do mesmo.

3.1 Descrição Geral do Estudo 23

Documentos relacionados