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Os financiadores das produções da UNESCO para educação móvel

5 O FINANCIAMENTO DA APRENDIZAGEM MÓVEL

5.1 Os financiadores das produções da UNESCO para educação móvel

A UNESCO é uma organização instituída pela ONU logo após a sua criação, em 1945, responsável por promover o “desenvolvimento de conhecimento e ações normativas para a educação, a ciência e a cultura” (CRUZ, 2014, p. 33-34). A UNESCO, bem como a ONU, são instituições criadas após a II Guerra Mundial com o propósito de manutenção de uma paz armada. Como lembra Cruz (2014), entre as missões assumidas, está o esforço em combater os elementos geradores dos conflitos mundiais e evitar o extermínio de milhões de pessoas. Ainda segundo essa autora, a ONU e a UNESCO surgiram como instituições reguladoras, com a finalidade de apaziguar os problemas étnicos e coloniais. A regulação desses órgãos também se estende às questões relacionadas com o controle populacional e qualidade de vida.

Concordamos com Maués e Bastos (2016) quando afirmam que

O papel dos organismos multilaterais se aprofundou com a mundialização. Os meios e os recursos se ampliaram, permitindo maior participação/ingerência desses organismos nos países em desenvolvimento em diferentes áreas. O processo de internacionalização da educação [, nesse contexto,] se amplia e ganha cada vez mais espaço (p. 699).

Segundo esses autores, a criação da Organização Mundial do Comércio, nos anos 90, promoveria a criação de uma agenda de discussões sobre comércio e serviços cuja proposta de divisão, em 1999, colocaria a Educação entre os doze temas prioritários a serem tratados, impulsionando assim o processo de internacionalização da mesma. Lima e Maranhão (2009), ao tratarem da internacionalização da educação, distinguem a relação entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento como ativa e passiva, já que, no primeiro grupo, predominam situações de atração e acolhimento de profissionais em setores estratégicos, com possibilidade de mobilidade para formação, enquanto que, no segundo grupo de países, a carreira docente é repleta de instabilidade e insegurança financeira.

Além da questão relacionada à história e à sua finalidade inicial, temos também que considerar a origem do financiamento do sistema das Nações Unidas. Enquanto uma nação contribui com mais de 20% dos recursos, o Brasil, entre os dez maiores contribuintes, com algo em torno de 2% dos recursos e outras quase duas dezenas de nações contribuem ao todo com outros 2%. Tal desigualdade tende a se estender para as parcerias de empresas privadas com a UNESCO. Dessa forma, existe uma tendência muito grande a que as empresas de países desenvolvidos controlem parte dos debates da instituição sobre educação, quando consideramos a relação com as tecnologias, podemos verificar um aumento desta possibilidade.

Entre as empresas mais frequentes no grupo de financiadores e colaboradores nos documentos que orientam sobre tecnologias e aprendizagem móvel, temos a finlandesa Nokia18. No material disponibilizado pela UNESCO que reúne artigos relacionados a aprendizagem móvel destinado aos professores, a empresa europeia é citada como uma parceira, especialmente Riitta Vänskä e Gregory Elphinston (UNESCO, 2012a). A empresa é novamente citada, dessa vez como grande responsável pelas contribuições financeiras no material de 2014.

Ainda sobre os materiais da UNESCO, no trabalho que trata sobre tecnologias na educação, de maneira mais ampla, temos um maior número e mais complexo conjunto de instituições colaboradoras, entre elas, a espanhola Fundação Santillana, especializada na área educacional; a sul-coreana Samsung, do setor de eletrônicos (celulares, tablets, laptops etc.); a americana Microsoft, que produz desde conteúdos até

equipamentos de informática; o conglomerado espanhol Telefônica – entidade representada pela Fundação de mesmo nome; além do Insper, instituição de Ensino Superior do ramo de negócios.

Tal como aponta Ball (2014, p. 29), podemos verificar que “a política educacional está sendo feita em novas localidades, em diferentes parâmetros, por novos atores e organizações”. Ainda, segundo esse autor, as

redes políticas são um tipo de “social” novo, envolvendo tipos específicos de relações sociais, de fluxos e de movimentos. Eles constituem comunidades de políticas, geralmente baseadas em concepções compartilhadas de problemas sociais e suas soluções (ibidem, p. 29).

No caso do texto intitulado O futuro da aprendizagem móvel (UNESCO, 2014), podemos verificar que o nome da empresa finlandesa Nokia, aparece constantemente associado a exemplos de programas educacionais implantados em diferentes contextos escolares:

o projeto Nokia MoMath, na África do sul, por exemplo, usa as funcionalidades do serviço de mensagens curtas (sms) de celulares padrão para que os alunos acessem o conteúdo de matemática e recebam reforço. [...]. A Nokia Life Tools, por exemplo, é um serviço de assinatura baseado em sms e ferramentas de busca que oferece uma extensa gama de informações de saúde, agricultura e educação (UNESCO, 2014, p. 16).

[...].

O projeto de coleta de dados Nokia Data Gathering (2012), que permitem a coleta e análise de novos tipos e séries de dados em tempo real (UNESCO, 2014, p. 30).

Percebemos, então, que uma série de materiais elaborados com intuito de orientar sobre o uso de dispositivos móveis em contextos educacionais elaborados pela UNESCO contou com maior ou menor participação da iniciativa privada do setor de telecomunicações e ONGs educacionais.

Apesar do encantamento pelo OLPC (no Brasil intitulado PROUCA), por trás dos seus benefícios tecnológicos repousava a figura do custo abaixo dos 100 dólares. No entanto, constatou-se que na experiência brasileira tal desejo ficou longe de ser realizado. Quando considerados os custos do programa, reforça-se a observação da UNESCO (2014) que apontava para a prioridade nos investimentos em formação e capacitação em detrimento dos gastos em tecnologia. Tanto no caso brasileiro como no financiamento dos trabalhos sobre tecnologias móveis, podemos observar um esforço novo por parte do Estado, mas também uma nova relação deste com a iniciativa privada e com o terceiro setor – lembrando o que Ball (2014) aponta como uma nova governamentalidade lançada pelo neoliberalismo.

Vejamos mais sobre as reflexões oportunizadas pelo presente estudo no próximo capítulo, que, embora intitulado considerações finais, deseja retomar alguns questionamentos.