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2.2 PERCURSOS DA PESQUISA

2.2.1 Os fios da análise

Ao trabalhar com metodologia e fontes (auto)biográficas, o pesquisador aprofunda-se em “[...] uma realidade social multifacetária, complexa, socialmente construída por seres humanos que vivenciam a experiência de modo holístico e interrelacionado, em que as pessoas estão em constante processo de autoconhecimento”. Desse modo, a pesquisa (auto)biográfica utiliza-se de diversas fontes de investigação: narrativas, história oral, fotografias, vídeos, filmes, documentos, memoriais, diários, acima de tudo utiliza-se do exercício da rememoração, por excelência. É a partir do movimento da rememoração que o narrador tem a possibilidade de (re)construir sua subjetividade, ressignificar sua vida e suas construções pessoais e profissionais que envolvem a sua trajetória. A rememoração é um componente essencial no trabalho do pesquisador, é a partir desse processo que o pesquisador pode interpretar e compreender os elementos importantes para a análise das narrativas dentro da investigação (ABRAHÃO, 2004, p. 203).

Em relação à interpretação das informações que surgem por meio das narrativas autobiográficas, Souza (2006a) contribui dizendo que a abordagem biográfica se aproxima das identidades e das subjetividades das histórias de vida. Desse modo, cuidados metodológicos são necessários para o recolhimento das fontes. Isso implica pensar sobre o modo de intervenção do pesquisador, pois a compreensão dos sentidos e das experiências vividas pela sujeito-narrador surgem das suas próprias vivências, sejam elas individuais ou coletivas. É importante ressaltar que o trabalho com narrativas de vida envolve aspectos de ordem emocionais, sociais e histórico-culturais da vida de alguém, aspectos que não podem ser traduzidos em dados exatos e acabados, mas sim interpretados a partir da escuta sensível, da confiança, da reciprocidade, de uma análise cuidadosa e um envolvimento ético- profissional.

Souza (2006a, p. 141) com amparo teórico em Poirier et al (1999), entende o trabalho a partir da abordagem (auto)biográfica como possibilidade de diálogo no processo da pesquisa e como construção de espaços formativos colaborativos, que

ganham novas dimensões e contornos quando são potencializados na interação com as narrativas dos envolvidos no processo de investigação. Desse modo, existe uma “superação dos pressupostos de objetividade e de verificação de hipóteses no trabalho com histórias de vida”, pois não constituem um espaço investigativo com o intuito de verificar leis, provar hipóteses ou verdades, mas sim apresentam como função recolher, elucidar e descrever acontecimentos vividos.

A investigação biográfico-narrativa nas pesquisas em educação está pautada em um “giro hermenêutico” produzido nos anos setenta nas ciências sociais; da visão positivista se passa a uma perspectiva interpretativa, na qual o significado narrado pelos atores se converte no foco central da investigação. O enfoque biográfico e narrativo entende os fenômenos sociais e o processo de ensino como “texto”, cujo significado é dado pela autointerpretação hermenêutica dos próprios atores. Assim, supera o contraste estabelecido entre objetividade e subjetividade, para pautar-se nas evidências originárias do mundo da vida. A narração biográfica possibilita um marco conceitual e metodológico para analisar aspectos sociais ou de uma profissão no tempo de uma pessoa, marcando suas linhas pessoais e expectativas de desenvolvimento. Desse modo, a narrativa não expressa somente dimensões importantes sobre a experiência vivida, mas torna-se mediadora da própria experiência permitindo a construção social da realidade19 (BOLÍVAR, 2002).

Jerome Bruner tem sido um dos autores que mais tem contribuído para construir um estatuto epistemológico ao modo narrativo de conhecimento. Bolívar (2012b) destaca que Bruner (1988) propõe, além do “pensamento paradigmático”, um outro modo de conhecimento, “o pensamento narrativo” – por ele os seres humanos dão sentido as suas vidas. Cada modo tem suas próprias formas para ordenar a experiência, construir a realidade e entender o mundo. Representam duas formas de compreender a realidade, uma não se reduz a outra e as formas de julgar a validade da pesquisa também diferem.

Como forma de ampliar a discussão, trago, a seguir, um quadro ilustrativo organizado por Bolívar, Domingo e Fernández (2001), que apresenta as duas formas de conhecimento científico no estudo da ação humana, conforme Bruner (1988).

19 Em relação a isso Bolívar (2002), amparado teoricamente por estudos de Bruner (1988), nos diz que

a narrativa não é apenas uma opção metodológica, mas uma forma de construir realidade, apropriar - se dela e dos significados particulares e coletivos expressos no ato de narrar, é outra forma de construir conhecimento.

Paradigmático (Lógico-científico)

Narrativo (Literario-historico) Caracteres Estudio científico de la

conducta humana. Proposicional.

Saber popular, construido al modo hermenéutico- narrativo. Métodos de verificación Argumento: procedimientos estandarizados y métodos convencionalmente

establecidos por la tradición positivista.

Relato: hermenéuticos, interpretativos, biográficos, narrativos, etc.

Discursos Discurso de la investigación: enunciados objetivos, no valoración, abstracto.

Discurso de la práctica: expresado en intenciones, deseos, acciones, historias particulares.

Tipos de conocimiento

Conocimiento formal, explicativo por causas- efectos, certidumbre, predectible.

Conocimiento práctico, que representa intenciones y significados, verosímil, no transferible.

Formas Proposicional: categorías, reglas, principios.

Desaparece la voz del investigador.

Narrativo: particular, concreto y temporal,

metáforas, imágenes. Están representadas las voces de actores e investigador.

Quadro 1: formas de conhecimento científico no estudo da ação humana, segundo Bruner. Fonte: Bolívar, Domingo e Fernández (2001).

O modo paradigmático de conhecer e pensar se aproxima, segundo Bolívar, Domingo e Fernández (2001, p. 104), de uma forma de pensamento abstrato e formal, pois sua verdade independe do contexto. Como conhecimento proposicional se expressa, normalmente, em regras ou princípios prescritivos. “Este modo paradigmático no se identifica estrictamente con el positivismo clásico, aunque lo comprende”. Por outro lado, o modo narrativo (emergente) é caracterizado por apresentar a experiência humana concreta (a experiência prática repleta de

intenções), mediante uma sequência de eventos, tempos e lugares, onde os relatos biográficos-narrativos são os meios privilegiados de conhecimento e investigação.

No entender de Bolívar, Domingo e Fernández (2001), o enfoque narrativo possibilita “dar voz” aos docentes, superando os modelos habituais de compreender e investigar as dimensões sociais da vida. Nesse contexto, permite estudos sobre a vida dos professores, possibilitando conhecer o processo educativo e o modo como os docentes reflexionam suas vidas profissionais, para apropriar-se da experiência vivida e adquirir novas compreensões deles mesmos, em um processo de desenvolvimento pessoal e profissional.

Com o objetivo de compreender as trajetórias de vida de bacharéis egressos do PEG a fim de investigar os processos formativos que levaram a construção da docência, optei pela análise narrativa como possibilidade metodológica para a interpretação das informações. A intenção do processo de análise, nesta pesquisa, não foi aspirar um trabalho de generalização, mas valorizar as narrativas particulares de cada participante. “Aquí no buscamos elementos comunes, sino elementos singulares que configuran la historia” (BOLÍVAR, 2002, p. 52)20.

Para uma melhor visualização trago um quadro ilustrativo com o contraste entre dois tipos de análise de dados narrativos propostos por Bolívar (2002, p. 52)21:

(continua)

Análisis paradigmático Análisis narrativo Modos de análisis Tipologías, categorías,

normalmente establecidas de modo inductivo.

Conjuntar datos y voces en una historia o trama,

configurando un nuevo relato narrativo.

Interés Temas comunes,

agrupaciones conceptuales, que facilitan la comparación entre casos. Generalización.

Elementos distintivos y específicos. Revelar el carácter único y próprio de cada caso. Singularidad.

20 “Aqui não procuramos elementos comuns, mas elementos singulares que compõem a história”

(BOLÍVAR, 2002, p. 52, tradução minha).

21 Esse quadro foi produzido pelo autor com base nos modos de conhecimento (paradigmático e

(conclusão)

Criterios Comunidad científica establecida: tratamiento formal y categorial.

Autenticidad, coherencia, comprensible, carácter único.

Resultados Informe “objetivo”: análisis

comparativo. Las voces como ilustración.

Generar una nueva historia narrativa conjuntada – a partir de las distintas voces – por el investigador.

Ejemplos Análisis de contenido convencional, “teoría fundamentada”.

Informes antropológicos, buenos reportajes

periodísticos o televisivos.

Quadro 2: contraste entre dois tipos de análise de dados narrativos . Fonte: Bolívar (2002).

Em contraste com a proposta paradigmática, a análise narrativa possibilita que o investigador configure os elementos que dão sentido e significado a uma história, com o intuito de expressar o modo autêntico da vida individual, sem manipular a voz dos participantes. Nesse processo de análise é importante que o pesquisador consiga desenvolver uma trama22 com o propósito de “unir temporal ou tematicamente os

elementos”, para isso é necessário que se construa uma resposta compreensiva no sentido de justificar como as coisas foram acontecendo. O objetivo final dessa proposta de análise revela o caráter único de um percurso individual e permite a compreensão da complexidade particular presente em cada enunciação (BOLÍVAR, 2002, p. 52).

Se no modo paradigmático existe uma valorização dos procedimentos de racionalidade, em que o conhecimento formal precisa estabelecer relações de causa e efeito, e a verificação das informações acontece de forma fragmentada; o modo narrativo apresenta aspectos qualitativos distintos, ao centra-se nos sentimentos, nas vivências e nas ações que acontecem em contextos específicos, em práticas e histórias particulares. O modo narrativo de conhecimento23 parte do princípio que as

22 O conceito de trama é problematizado por Bolívar, Domingo e Fernández (2001, p. 91) com base em

Ricoeur (1995), sendo uma operação configurada pela qual fatos específicos e alguns event os adquirem a forma de história ou narração. Do mesmo modo que acontece na narrativa histórica ou de ficção, diferentes tramas podem ser compostas em relação ao mesmo evento, pois, conforme Ricoe ur (1995), é sempre possível tecer sobre a sua própria vida tramas diferentes.

ações humanas são únicas, dessa forma, a riqueza de tonalidades presente em cada vida e em cada acontecimento não pode ser definida em categorias ou proposições abstratas. O conhecimento narrativo direciona mais o seu olhar para as intenções humanas e seus significados, mais pela coerência e compreensão em relação a lógica, o controle e a previsão. Por esse motivo a preocupação não é identificar os casos dentro de categorias, mas valorizar os sentidos singulares atribuídos pelos participantes na construção da sua narrativa (do seu relato de vida) (BOLÍVAR, 2002). A investigação narrativa, na compreensão do autor anteriormente citado, apresenta como ponto forte o aspecto de não violar as vozes dos participantes da pesquisa; por outro lado apresenta como fragilidade a proposta de respeitar em excesso o discurso dos interpretados, impossibilitando a explicação comparativa, generalizada ou teórica, importante para construir o processo de análise. A partir disso o autor não quer dizer que a narrativa produzida no processo de pesquisa precisa passar por uma análise formalista ou ser fragmentada em elementos codificáveis sem contextualização. No entanto, uma excessiva “fidelidade” ao próprio discurso poderia limitar esse processo.

A tarefa do investigador além de “(...) decifrar significativamente los componentes y dimensiones relevantes de las vidas de los sujeitos” (p. 54)24, precisa

ser a de situar os relatos narrativos dentro de um contexto que possibilite fornecer uma estrutura em que tome um sentido micro e macrossocial. Para que os relatos

sejam significativos, considerando os propósitos da investigação, precisam ser reconstruídos de acordo com determinados modos paradigmáticos aceitos para analisar as informações (BOLÍVAR, 2002, grifos meus). Assim, é importante

compreender as possibilidades que os dois tipos de análise oferecem, optando, de forma clara e coerente, por uma mescla da análise narrativa e paradigmática, já que, conforme menciona Elbaz (1997)25, podem existir interesses legítimos na

investigação, que não cheguem a ser cobertos apenas pela análise narrativa.

Nesse caso, se, por um lado, é interessante agrupar os dados coletados em uma trama significativa para a compreensão do tema, por outro, não se pode negar que a observação de tendências nos discursos não desperte, também, o interesse, podendo auxiliar, inclusive, a alinhavar os fios que possibilitarão a constituição da trama narrativa (FORTES, 2012, p. 29).

24 “(...) decifrar significativamente os componentes e dimensões relevantes da vida dos sujeitos”

(BOLÍVAR, 2002, p. 54, tradução minha).

A organização metodológica a partir do enfoque narrativo constitui-se em um processo complexo e reflexivo, em que o investigador recria os textos de modo que o leitor possa “vivenciar” os acontecimentos narrados. Assim, o resultado não é um informe objetivo e neutro, nem mesmo uma simples transcrição de dados, consiste em construir uma trama, um enredo, para atribuir sentido às informações narradas, a partir de diferentes contextos, cenários, rupturas; diferentes formas e modos de representar e manifestar a vida que está sendo contada (BOLÍVAR, 2002).

Para a construção das tramas, após a realização das entrevistas, iniciei o trabalho de transcrição das informações, nesse processo percebi que o envolvimento do pesquisador é algo muito relevante, principalmente porque é uma forma de aproximar-se ainda mais do modo como cada participante constrói o seu relato (auto)biográfico. Não foi um trabalho fácil, nem mesmo rápido, mas quando eu sentava na cadeira e colocava o fone de ouvido, eu viajava para outro lugar, eu ficava imaginando as pessoas, os lugares, os fios que teciam as tramas das histórias de vida.

Após a transcrição das entrevistas realizei a leitura integral do material produzido, destacando alguns elementos que considerei importante para atender os objetivos da pesquisa. Posteriormente agrupei esses elementos a partir da construção de um quadro síntese26 (um quadro para cada participante), que serviu como base27

para a reconstrução das trajetórias de vida individuais. O quadro foi construído a partir de algumas orientações para a produção de biogramas propostos por Bolívar, Domingo e Fernández (2001). Para os autores o biograma é uma estrutura gráfica e cronológica dos acontecimentos que estruturam a vida e a carreira. Se trata de representar a estrutura básica do relato por meio de um esquema - que pode ser um mapa da trajetória ou uma forma de análise vertical dos suportes que estruturam cada relato, como fazem os autores. A construção do quadro para sintetizar as informações produzidas pelas entrevistas, não teve a intenção de organizar os dados de acordo com um conjunto específico de categorias comuns, mas auxiliar a organização temporal e temática para a construção da trajetória de cada participante.

A construção do quadro também foi uma solicitação dos participantes que, ao receberem o relato transcrito, solicitaram que eu fizesse uma sistematização das

26 Os quadros sínteses estão disponíveis no Apêndice E.

27 É importante salientar que o quadro síntese serviu como base para a construção das trajetórias, não

sendo utilizado de modo exclusivo, pois a todo o momento eu procurei voltar às narrativas transcritas , com o propósito de ficar atenta aos detalhes e aos aspectos temporais, argumentais e narrativos dos relatos.

informações, no sentido de facilitar a leitura e a análise das narrativas. Deste modo, a construção do quadro foi um trabalho colaborativo entre pesquisador e participantes e aconteceu por meio de trocas de e-mails. Nestas ocasiões os participantes inseriram dados cronológicos que não apareceram no relato original, inseriram alguns elementos que consideraram importante, ajustaram e corrigiram os vícios de linguagens nos excertos que foram destacados e retiraram algumas informações que causaram certo desconforto.

É importante lembrar, conforme Bolívar, Domingo e Fernández (2001, p. 110), que o processo de análise narrativa implica sintetizar um agregado de dados em um conjunto coerente, no lugar de separá-los por categorias. O resultado desta integração narrativa é uma compreensão em retrospectiva dos fatos passados, segundo uma sequência temporal contínua, para chegar a um determinado fim. “Aquí el proceso recursivo se mueve de los datos obtenidos a la emergencia de una determinada trama argumental”28. Esta trama é que vai determinar que dados devem ser incluídos, com

qual ordem e com que finalidade.

Optando pela investigação biográfico-narrativa de casos individuais, não tive a intenção de chegar a generalizações e nem identificar casos dentro de categorias, mas conferir importância e valorizar as experiências implicadas nas trajetórias de cada professor participante desta pesquisa. Assim organizei a análise a partir de dois

movimentos.

O primeiro movimento envolveu a reconstrução das trajetórias de vida como textos narrativos, compondo tramas. Essas trajetórias foram reconstruídas com o auxílio do quadro síntese, a partir de alguns “fios biográficos” que conduziram a análise: “percursos formativos” (gênese, lembranças de infância, adolescência e vida adulta, percurso formativo acadêmico); “percursos profissionais” (experiências profissionais e acontecimentos que antecederam a docência); e “percursos na/da docência” (inserção na docência, exigências e desafios, aprendizagens, momentos marcantes, experiências de aula, organização e planejamento das aulas , contribuições do PEG, compreensão sobre o ser professor)29.

Para compreender a construção da docência de bacharéis egressos do PEG, empreendi um segundo movimento, fazendo analogia ao tear – artefato ou máquina

28 “Aqui o processo recursivo se move dos dados obtidos para o surgimento de uma certa história”

(BOLÍVAR, DOMINGO e FERNÁNDEZ, 2001, p. 110, tradução minha).

que permite que os fios se entrelacem para compor o tecido. Mas não um tear qualquer, nesta pesquisa faço referência ao “tear biográfico” que são as próprias narrativas de vida repletas de sentidos e significados, que, ao serem rememoradas, produziram movimentos (similares aos do tear) e [re]significações. “Tear biográfico” como um dispositivo que impulsionou, no contexto desta investigação, o entrelaçamento de tramas que carregam marcas pessoas, culturais, históricas e sociais, possibilitando a composição de tecituras - representações, sentidos e saberes - que constroem a docência de bacharéis egressos do PEG30.

Cabe destacar que o entrelaçamento das tramas não aconteceu por meio de instrumentos de categorização de dados, mas foi realizado por mim, à medida que fui construindo as trajetórias individuais. Foi como construir os tecidos por meio do tear, a partir dos “fios biográficos” elaborei as tramas e a partir das tramas fui entrelaçando, fui percebendo como cada participante, nos seus percursos de vida, constrói à docência. Até chegar na composição das tecituras - das representações, dos sentidos e dos saberes que marcam, de certa forma, o modo de ser e constituir-se professor, um processo que começa e nunca será concluído (FREIRE, 1987).

Diante do exposto, o percurso da análise foi sintetizado na Figura 1 que segue:

Fonte: elaborada pela autora.

30 Resultou no capítulo 5: “O ‘tear biográfico’ e as suas tramas: tecituras que constroem a docência de

Cabe ressaltar que a intenção não foi silenciar a voz dos participantes e do investigador, nem mesmo trazer apenas a mera transcrição de dados, mas construir uma trama narrativa que consistiu em dar sentido às informações e representar o significado no contexto em que ocorreu. Busquei realizar, como menciona Bolívar (2002), uma espécie de “visão binocular”, uma “dupla descrição”, que envolve pensar: se por um lado, é preciso “um retrato” da realidade interna do informante; por outro é preciso registrar o contexto externo que contribua para dar sentido e significado a realidade vivida pelo informante. “Hay que situar las experiencias narradas en el discurso dentro de un conjunto de regularidades y pautas explicables sociohistóricamente, pensando que el relato de vida responde a una realidad socialmente construida”31 (p. 56), apesar de ser completamente único e singular.

O raciocínio narrativo, segundo o autor, funciona por meio de uma coleção de casos individuais em que de um se passa a outro, e não de um caso a uma generalização. A preocupação maior não é identificar a trajetória individual dentro de uma categoria geral, o conhecimento procede por analogia, em que uma trajetória pode ou não ser similar à outra. Assim, o mais importante são as experiências vividas pelos sujeitos e os sentidos singulares que expressam por meio das narrativas e da lógica particular de argumentação.