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3 OS MUNICÍPIOS LITORÂNEOS DO PIAUÍ: UMA ANÁLISE ESPAÇO-

3.3 Os Fluxos e a Construção dos Espaços Turísticos

Os fluxos são produto de movimento de circulação de produtos, informações e pessoas. Eles refletem as interações espaciais resultantes da divisão social, territorial e tecnológica do trabalho nos mais diferentes aspectos. Todos eles são proporcionais às escalas de produção e de demanda de serviços.

Ao dependerem da fluidez dos espaços, os fluxos estão diretamente vinculados à presença e eficiência dos sistemas técnicos, sistemas de engenharia e das infraestruturas, que dinamizam os deslocamentos. Assim, teorizamos que quanto maior o número e a tecnologia das vias, dos terminais e dos veículos, mais dinamicamente se apresentam os fluxos.

É pelos fluxos aéreo, terrestre, fluvial e marinho que a demanda turística se desloca. Tais fluxos são responsáveis pela materialidade dessa demanda pelo território. A partir de seu mapeamento, esses fluxos podem contribuir de forma significativa no estudo das conexões, nas mais diferentes escalas geográficas.

No âmbito do turismo, os fluxos são oriundos do movimento da demanda para o atrativo e vice-versa. Ainda assim, é necessário identificar quem são os turistas.

Nesse ponto, surge um problema conceitual que rotula todas as pessoas que saem de seu local habitual de moradia para outro local – e ficam neste por mais de vinte e quatro horas e por menos de um ano – como turistas.

Cruz (2001) externa que essa definição faz generalizações quanto ao fluxo de turistas, pois a base dos dados está nos embarques e nos desembarques dos terminais e não no indivíduo.

Dessa maneira, todos os que viajam por período consecutivo, de acordo com a Organização Mundial do Turismo – OMT (2001), são considerados turistas. Mas, ainda não conduzindo para essa questão, o que destacamos é que o turismo não acontece sem o deslocamento espacial por uma determinada via, em um dado veículo até certo terminal.

Nesse mesmo sentido, Palhares chama atenção para determinados equívocos com relação à identificação de quem é ou não é turista, para quem planeja os transportes e faz parte do trade turístico, pois

[...] tanto o agente quanto os planejadores de transporte e turismo poderão muitas vezes estar lidando com viajantes que não são turistas (como no caso de diplomatas que adquire uma passagem aérea para uma missão no exterior). Ainda assim, a importância destes viajantes, embora não classificados como “turistas”, não deve ser desconsiderada (PALHARES, 2002, p. 24).

Mas, como enfocado anteriormente, essa é uma discussão de caráter metodológico, que deve ser revisitada para que possamos ter melhor compreensão sobre as estatísticas de deslocamentos de turistas.

É possível verificar aumento considerável nos fluxos de passageiros. Isso representa um ponto de partida para que se possa compreender a lógica de circulação de pessoas e do capital, representados pelas indústrias ligadas aos transportes, como empresas que executam o referido tipo de serviço (e seus serviços atrelados), que demonstram crescimento importante no setor aeronáutico, de carrocerias e de chassis de ônibus e, o mais importante, no nosso entendimento, o surgimento de novas companhias aéreas.

O avanço das tecnologias de informação contribui significativamente para a criação de novos destinos turísticos. Esse papel, vinculado à utilização da Internet, aliado às estratégias de marketing das empresas do trade, que pôs à disposição desses potenciais consumidores as mais diferenciadas realidades vivenciadas no cotidiano, o que infla os desejos de viajar. Entre todos os tipos de turismo, o de massa é que tem movimentado a maior quantidade de pessoas que se utilizam do transporte aéreo como forma de deslocamento, embora represente o tipo de turismo que mais necessita de atenção em razão dos impactos provocados.

A motivação maior para a utilização do transporte aéreo decorre da velocidade de deslocamento e da amplitude da rede que possibilita a ligação com diferentes localidades no território brasileiro.

As inter-relações humanas e econômicas foram modificadas a partir do contexto atual da globalização e do meio técnico-científico-informacional em que vivemos.

No caso do nosso país, Santos e Silveira enfatizam que

A união entre a ciência e a técnica que, a partir dos anos 70, havia transformado o território brasileiro revigora-se com novos e portentosos recursos da informação, a partir do período da globalização e sob a égide do mercado. E o mercado, graças exatamente à ciência, à técnica e à informação, torna-se um mercado global. O território ganha novos conteúdos e impõe novos comportamentos, graças às enormes possibilidades da produção e, sobretudo, da circulação dos insumos, dos produtos, do dinheiro, das ideias e informações, das ordens e dos homens. É a irradiação do meio técnico-científico-informacional [...] que se instala sobre o território, em áreas contínuas no Sudeste e no Sul ou constituindo manchas e pontos no resto do país. (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 52-53)

Essa dinâmica, que se efetiva pela globalização, amplia a relação entre os “espaços do mandar” e os “espaços do fazer”. Os primeiros, ordenadores da produção, do movimento e do pensamento são responsáveis pela criação das necessidades, no caso aqui analisado, das necessidades de deslocamento em busca de novos atrativos turísticos; os segundos são responsáveis pela instrumentalização e devem atender de forma satisfatória à demanda gerada pelos primeiros.

É o nexo informacional instalado que gera o nexo circulacional, criando-se o movimento, inclusive do próprio turismo, cujos polos receptores são mais difusos e podem apresentar-se menos poderosos que os polos emissores (SANTOS; SILVEIRA, 2001), que geralmente são localizados nas regiões concentradas.

Ratificando esse raciocínio, estudo realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE (2012), encomendado pelo Ministério do Turismo, caracteriza e dimensiona o turismo doméstico no Brasil. Demonstra que, entre os meios de transporte utilizados para viagens, o percentual de uso do transporte aéreo foi de 10,8% em 2001, de 12,1% em 2005 e de 17,3% em 2011, portanto crescimento constante na última década.

Quanto ao principal meio de transporte na principal viagem doméstica, por classe de renda de um a quatro salários mínimos, o transporte aéreo teve um

incremento invejável de utilização pelos viajantes dessa classe de menor renda, indo de 3,6% em 2001 para 6% em 2005 e, extraordinários, 39,2% em 2012. Isso revela nitidamente a popularização desse meio de transporte no país.

Quanto às regiões emissoras e receptoras, o Relatório Executivo Sintético, indica que

A região Sudeste responde por 40,8% do emissivo e caracteriza-se também por representar a maior destinação do fluxo de visitação interna do País, com 36,5% do total do receptivo, em número de turistas. Convém ressalvar que algumas regiões podem se destacar como destinos, sem que sejam também importantes centros emissivos. Isto ocorre em nível mundial e também no plano nacional. No caso brasileiro, o caso mais evidente é dado pela região Nordeste, a qual, em número de turistas, é responsável por 25,8% do emissivo e representa 30,0% do receptivo. Uma importante informação para esse tipo de análise pode ser extraída a partir da relação entre as participações relativas das regiões emissivas e receptivas. Por esta relação tem-se uma indicação da característica da Região, sob os aspectos turísticos, se preponderantemente “emissiva” ou “receptiva”. De acordo com a relação origem/destino em número de turistas, observa-se, pelos índices obtidos, que a região Sudeste caracteriza-se como centro predominantemente emissor. A região Nordeste, por seu lado, caracteriza- se como eminentemente receptiva. As regiões Centro-Oeste e Sul têm caracterizando como igualmente receptoras e emissoras, enquanto que o Norte evidencia predominância do emissivo. (RELATÓRIO EXECUTIVO SINTÉTICO, 2012, p. 70)

É importante frisar que, segundo dados desse mesmo relatório, existem vinte destinos que são os mais desejados, entre eles Fernando de Noronha, Fortaleza, Salvador, Natal, Recife, Porto Seguro, Ipojuca, Maceió e São Luís.

Destacável a participação de Pernambuco com três destinos e a Bahia com dois, e decepcionante a ausência das cidades do litoral piauiense, mesmo que pensado no contexto da integração com o litoral do Ceará e Maranhão, que veremos posteriormente ao tratarmos da conectividade turística da região.

Ainda na análise desses dados, podemos perceber o significativo aumento dos fluxos turísticos, principalmente na classe de menor renda, o que se apresenta como resultado das estratégias competitivas adotadas pelas empresas de transporte aéreo e do trade, que, com essas ações, conseguem um aumento significativo dos movimentos a partir dessa classe.

Alguns fatores externos ao setor permitiram maior acessibilidade da população de baixa renda (boa parte nunca havia viajado de avião!) acesso a esse meio de transporte aéreo.

É certo que, ao mesmo tempo em que há deslocamento de pessoas, de mercadorias, de informações, de serviços e de capital, as infraestruturas tendem a

acompanhar para atender à crescente demanda desses deslocamentos. Como exemplos dessas infraestruturas, estão rodovias e aeroportos construídos ou revitalizados com o objetivo de aumentar o volume de passageiros atendidos, de cargas e de mala postal.

Para o fortalecimento e ampliação da malha aérea de aeroportos regionais, o Governo Federal lançou, em dezembro de 2012, o Plano de Aviação Regional, com previsão de investimento de R$ 7,3 bilhões somente na primeira etapa do Plano.

Nessa etapa seriam contemplados 270 aeroportos regionais que permitiriam aperfeiçoar a qualidade do serviço prestado, bem como agregar novos aeroportos à rede de transporte aéreo regular de passageiros e cargas e aumentar o número de rotas operadas por empresas aéreas regulares.

Segundo a Secretaria de Aviação Civil - SAC, órgão diretamente vinculado à Presidência da República, os projetos promoveriam em 64 aeroportos da região Nordeste a reforma e ampliação da infraestrutura aeroportuária, no que diz respeito às instalações físicas e equipamentos.

Os critérios utilizados pela Secretaria elegeram sete aeroportos no estado do Piauí, entre eles o Aeroporto Internacional de Parnaíba, considerando os aspectos socioeconômicos, o potencial turístico e o fomento da integração nacional.

Mesmo assim, devemos lembrar que, além dos aeroportos a serem revitalizados no estado do Piauí, o Ceará terá 09 aeroportos que receberão investimentos e o Maranhão, outros 11, entre eles o Aeroporto Internacional de Jericoacoara e o Aeroporto de Barreirinhas, que farão frente ao de Parnaíba, o único da região durante muitos anos.

Com o processo de interação dos fluxos turísticos, a cidade de Parnaíba passará a concorrer diretamente com as cidades dos estados vizinhos para atrair a demanda pelo turismo do litoral piauiense.