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Marianna de Franco Gomes UFMG, marianna.de.franco@hotmail.com Maria Cândida Trindade Costa de Seabra UFMG, candidaseabra@gmail.com Márcia Maria Duarte dos Santos UFMG, mdsantosy@yahoo.com.br

Resumo:

A pesquisa toponímica revela-se produtiva ao resgatar o significado do topônimo como forma de conhecimento, pois não se limita apenas aos traços linguísticos, conforme apresenta Dick (1990b, p.47): “Sua carga significativa guarda estreita ligação com o solo, o clima, a vegetação abundante ou pobre e as próprias feições culturais de uma região em suas diversas manifestações de vida”. A Cartografia Histórica, por sua vez, é contemplada como importante fonte de informação linguística para a investigação toponímica, uma vez que reúne nomes de lugares - registros históricos - que são valiosos objetos de estudo. O projeto Registros Cartográficos Históricos: Revelando o Patrimônio Toponímico de Minas Gerais do Período Colonial ao Joanino83, realizado entre 2014 e 2016 no Centro de Referência em Cartografia Histórica (CRCH/UFMG), permitiu estudar topônimos históricos retirados de quinze mapas que compõem as Comarcas da Capitania de Minas Gerais nos Setecentos e Oitocentos Colonial e Joanino: Paracatu, Rio das Mortes, Sabará, Serro Frio e Vila Rica. Coordenado pela Profa. Dra. Maria Cândida Trindade Costa de Seabra e pela Profa. Dra. Márcia Maria Duarte dos Santos, o projeto desenvolvido possibilitou a criação de um banco de dados em que os 2.341 topônimos levantados foram organizados, explicitando informações linguísticas, históricas e geográficas. Desde 2017, é possível ter acesso ao banco de dados por meio do Repositório de Dados84, que constitui um dos produtos do projeto,

acessível pela internet. Neste estudo, pretende-se apresentar o trabalho de Dissertação intitulado Geomorfotopônimos Históricos, defendido em fevereiro de 2019, na Faculdade de Letras da UFMG. Como desdobramento do projeto citado anteriormente, o trabalho objetivou estudar os geomorfotopônimos, ou seja, topônimos associados aos traços do relevo, segundo a classificação toponímica proposta por Dick (1990b), retirados do banco de dados do projeto. Utilizando-se os

83 Financiado pelo CNPq (Processo nº 408869/2013-5).

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pressupostos teóricos e metodológicos de Dick (1990 a,b, 1999, 2006) e Seabra (2004, 2006) sobre a Onomástica e a motivação toponímica, partindo-se da hipótese de que o topônimo esteja associado ao ambiente que nomeia, a pesquisa objetivou investigar, diacronicamente, a evolução dos geomorfotopônimos em Minas Gerais, evidenciando a importância dessa taxe no período Colonial e Joanino. Para realizar o trabalho fichas lexicográficas foram usadas, que compreendem o procedimento metodológico desenvolvido por Dick (1990) e adaptado por Seabra (2004), assim como incluiu-se algumas adaptações para a pesquisa, que possibilitaram sistematizar os topônimos coletados além de evidenciar a evolução toponímica dos objetos de estudo. Desse modo, 101 geomorfotopônimos foram estudados, considerando todas as ocorrências verificadas, ou seja, representando aproximadamente 4% do Repositório de Dados. A análise dos dados revelou o interesse do homem pelos traços topográficos, já que serviram como fator motivacional no ato denominativo dos locais contemplados na pesquisa. De modo geral, é possível afirmar que o estudo realizado cumpriu os objetivos propostos e confirmou algumas hipóteses, como o interesse por traços do relevo que remontam à apreciação da paisagem, como “Campo Bello”. Pistas da relação entre os topônimos estudados e o ambiente nomeado foram explicitadas, inclusive, por meio da representação do relevo nos mapas em que os topônimos foram coletados, lançando luz sobre tais interpretações. Além disso, verificou-se que as formas de relevo eram importantes referências no período de povoamento do território que hoje figura “Minas Gerais”, como revela a produtividade do topônimo “Morro” na nomeação dos acidentes geográficos, principalmente, os primitivos povoados. A permanência dos traços do relevo na toponímia atual, verificados por meio dos topônimos históricos estudados, valendo-se de variações e mudanças parciais na nomeação, indicam a importância da preservação toponímica, tratando-a como patrimônio imaterial de um povo. Nos casos dos geomorfotopônimos verificados, mantêm viva a presença dos morros que desde o período de povoamento de Minas Gerais revela a sua importância. Quanto ao resultado relacionado à origem linguística dos topônimos, indica-se a presença majoritária de topônimos de origem portuguesa, 79% do total, revelando-se compatível ao período de povoamento da Colônia, tendo em conta o domínio da Coroa portuguesa. Por meio de análise quantitativa e qualitativa, a pesquisa possibilitou, portanto, averiguar a relação entre os geomorfotopônimos e o ambiente inserido no contexto histórico estudado, revelando um patrimônio linguístico que contribui à memória histórica e cultural de Minas Gerais.

Palavras-chave:

105 Referências:

DICK, Maria Vicentina de Paula do Amaral. A Motivação Toponímica e a Realidade Brasileira. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo. Edições Arquivo do Estado, 1990a.

DICK, Maria Vicentina de Paula do Amaral. Toponímia e Antroponímia no Brasil. Coletânea de Estudos. 2. ed. São Paulo: FFLCH/ USP, 1990b.

DICK, Maria Vicentina de Paula do Amaral. Métodos e Questões Terminológicas na Onomástica. Estudo de caso: O Atlas Toponímico do Estado de São Paulo. In: Investigações Linguísticas e Teoria Literária. Recife: UFPE, 1999. p.119-148.

DICK, Maria Vicentina de Paula do Amaral. Fundamentos teóricos da toponímia. Estudo de caso: o Projeto ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais (Variante regional do Atlas Toponímico do Brasil). In: SEABRA, Maria Cândida Trindade Costa de. (org.). O léxico em estudo. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2006. p.91-117.

SANTOS, M. M. D. dos; SEABRA, M. C. T. C. de; COSTA, A. G. (Org.). Repositório de Dados: Toponímia Histórica de Minas Gerais, do Setecentos ao Oitocentos Joanino – Registros em Mapas da Capitania e das Comarcas. Belo Horizonte, MG: Museu de História Natural e Jardim Botânico (MHNJB/UFMG); Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHG/MG), 2017. Disponível em: <http://repositoriotoponimia.com.br/home> Acesso em: jun. 2019.

SEABRA, Maria Cândida Trindade Costa de. A formação e a fixação da Língua Portuguesa em Minas Gerais: a Toponímia da Região do Carmo. 2004. 368 f. Tese (Doutorado, Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004. 2 v.

SEABRA, Maria Cândida Trindade Costa de. Referência e Onomástica. In: MAGALHÃES J. S. D., TRAVAGLIA, L. C. (Org.). Múltiplas perspectivas em Linguística. Uberlândia/MG. EDUFU, v.1, 2006. p. 1953-1960.

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Entre ruas e caminhos – Um breve estudo sobre o “Tratado de Ruação” de José de