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Os Hospitais Universitários (HU): uma contextualização

1 O PAPEL DOS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS PÚBLICOS NO SISTEMA ÚNICO

1.2 Os Hospitais Universitários (HU): uma contextualização

Conforme Medici (2001), o vínculo entre hospitais e ensino é tão antigo como o conceito de saúde que surgiu com o renascimento. Somente a partir do século XX tornou-se obrigatório o vínculo orgânico e dependência institucional destas entidades junto às organizações de ensino de medicina.

No Brasil, somente nos últimos anos foi sendo construído um consenso a respeito das atribuições dos hospitais universitários, a saber: (i) atenção à saúde da comunidade; (ii) educação e desenvolvimento de profissionais; e (iii) produção de conhecimento e de tecnologia (MERHY, 1997, p. 15).

O Ministério da Educação (MEC) define os HU.

[...] são unidades de saúde, únicas em algumas regiões do país, capazes de prestarem serviços altamente especializados, com qualidade e tecnologia de ponta à população. Garantem também, o suporte técnico necessário aos programas mantidos por diversos Centros de Referência Estaduais ou Regionais e à gestão de sistemas de saúde pública, de alta complexidade e de elevados riscos e custos operacionais. (MEC, 2004, p. 7).

Para Medici (2001), um Hospital Universitário é entendido, antes de tudo, como um centro de atenção médica de alta complexidade, pois: (i) tem importante papel no atendimento médico de alta complexidade; (ii) apresenta forte envolvimento em atividades de ensino e pesquisa relacionada ao tipo de atendimento médico dispensado; (iii) atrai alta concentração de recursos físicos, humanos e financeiros em saúde; (iv) exerce um papel político importante na comunidade que está inserido, dada sua escala, dimensionamento, orçamento e custos.

Diante dessas características, os Hospitais Universitários (HU) são importantes centros de formação de recursos e de desenvolvimento de tecnologia para a área da Saúde. A efetiva prestação de serviços de assistência à população possibilita o constante aprimoramento do atendimento, com a formulação de protocolos técnicos para as diversas patologias, o que garante melhores padrões de eficiência e eficácia, colocados à disposição para a rede do Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo a Abrahue (2004), entre os mais de seis mil hospitais integrados ao SUS, cento e quarenta e oito foram reconhecidos pelos Ministérios da Saúde e da Educação como de ensino ou auxiliares de ensino.

Em 2002, esses hospitais foram responsáveis por aproximadamente 9% dos leitos, 12% das internações e 24% dos recursos do SUS destinados ao pagamento de internações. Conforme Albano (2002), responderam, no mesmo período, por cerca de 50% das cirurgias cardíacas, 70% dos transplantes, 50% das neurocirurgias e 65% dos atendimentos na área de malformações craniofaciais. Tal concentração reflete maior dimensão média, e envolvimento significativo com a alta complexidade, segundo Hospitais (2002).

Além disso, seus Programas de Educação Continuada (PEC) oferecem a oportunidade de atualização técnica aos profissionais de todo o sistema de Saúde. Outra característica importante é a de que os Hospitais Universitários apresentam grande heterogeneidade quanto à sua capacidade instalada, incorporação tecnológica e abrangência no atendimento.

Desta forma, a importância dos HU para uma comunidade é indiscutível, seja pelo tipo de serviço ofertado, seja pelo considerável volume de recursos consumidos. Considerando o fato dessas instituições lidarem, predominantemente, com pessoas gravemente enfermas e com

risco de morte (atendimentos de média e alta complexidade, ou seja, casos complicados), os HU adquirem maior importância, principalmente sob a percepção dos usuários.

Na verdade, o papel dos HU não se restringe à prestação de serviços assistenciais, esses hospitais contribuem para a formação de estudantes da área de saúde de nível superior, além de sediar muitos cursos de pós-graduação em senso estrito e amplo.

Segundo Vasconcelos (2004), todas estas atribuições fazem com que os custos dos HU sejam ainda mais elevados, quando comparados a hospitais não-universitários de alta tecnologia. O fato de ser uma atividade muito onerosa contribui para que os hospitais universitários passem por uma crise financeira crônica. Essa crise, ainda segundo o autor, pode ser visualizada nas dificuldades de atendimento aos usuários e na carência de recursos.

Nos hospitais públicos, em geral, o quadro de pessoal é financiado pelos instituidores, mas de modo insuficiente. Para os quarenta e cinco HU Públicos ligados às Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), o MEC arca com tal despesa; no caso das Universidades Estaduais, o respectivo orçamento estadual. Esses HU Públicos integrados ao SUS têm em seus recursos a maior parcela de seu financiamento.

O detalhe é que o SUS reembolsa os hospitais com base numa tabela de preços única para cada procedimento. Desta forma, os hospitais são reembolsados por esses valores, não importando o tempo de permanência no hospital ou os custos reais incorridos com os pacientes (ABRAHUE, 2004).

Além disso, conforme Silva, Costa e Tibério (2003), os hospitais de ensino encontram-se debilitados por serem mais dispendiosos dado que incorporam atividades de ensino, pesquisa e extensão e por serem um referencial em tecnologia de ponta quando é crescente a exigência do governo e da sociedade pela racionalização dos custos e despesas.

O Ministério da Saúde, por meio do Fator de Incentivo ao Desenvolvimento de Ensino e Pesquisa em Saúde (FIDEPS) diferencia o reembolso aos hospitais universitários por incorporarem atividades de ensino e pesquisa. Este percentual representa um aumento de aproximadamente 25% da arrecadação global dos hospitais universitários em relação aos outros hospitais públicos.

Percebe-se, então, que este sistema de reembolso, teoricamente, não admite ineficiências exigindo dos HU um alto grau de eficiência na alocação e gestão dos recursos. Com isso, torna-se fundamental a avaliação de desempenho (eficiência) dos investimentos efetuados.

Vale ressaltar que a complexidade dos atendimentos, a concentração de serviços médicos especializados com forte demanda por atualização tecnológica, a existência de cursos de pós- graduação, e o crescimento da população idosa com suas demandas específicas, fazem com que os HU tenham grande necessidade de investir em novos espaços físicos, tecnologia e equipamentos.

Para que os HU possam fazer tais investimentos é importante que haja recursos. Eles têm basicamente três maneiras de acumular recursos: (i) gastar menos do que ganham, isto é, superávit; (ii) conseguir recursos extras do governo por meio da aprovação de projetos; (iii) alavancar recursos por meio de doações da comunidade.

Independente de onde provêm os recursos, exige-se que o HU demonstre eficiência em utilizá-los e apresente retorno à sociedade. Por isso, é importante calcular o valor econômico que um hospital agrega à sociedade. Assim como as empresas privadas devem mostram o retorno proporcionado ao acionista, as entidades públicas devem mostrar o retorno à sociedade.

Abordou-se os principais aspectos sobre os HU, seu papel como empresa social e o vínculo com a sociedade. E, com a contextualização dos HU Públicos no setor de saúde, buscou-se evidenciar a necessidade de melhoria no processo de gestão dessas instituições.

O capítulo seguinte apresenta a discussão sobre a teoria de Gestão Baseada em Valor, como ferramenta de avaliação de desempenho. Só então, realiza-se uma análise da compatibilidade e viabilidade da aplicação desta teoria como ferramenta de gestão para entidades públicas, como forma de melhorar a avaliação do uso dos recursos aplicados pela sociedade.