3.2 A Avaliação da Qualidade na Educação Superior,
3.2.1 Os principais resultados da Sistemática de Avaliação
3.2.1.3 Os impactos das Recomendações das Comissões
em Mato Grosso do Sul que tiveram seus cursos avaliados pelo “provão” e
pela avaliação de pares, para fins de reconhecimento de cursos.
O acesso a esses relatórios foi possibilitado pela disponibilidade
deles junto ao sistema informacional do MEC, o SAPIEnS. Por essa razão,
foi possível obter todos os pareceres contidos nos relatórios das comissões
de avaliação, cujas visitas foram realizadas após 2002, uma vez que o
SAPIEnS foi criado nesse mesmo ano, conforme disposto na Portaria
Ministerial nº 323, de 31 de janeiro de 2002.
Por essa análise verificou-se que, apesar da existência de processo de
renovação de reconhecimento de cursos com uma periodicidade qüinqüenal,
apenas dois cursos passaram por dois momentos distintos de avaliações de
reconhecimento no período de 2002 a 2006, sendo os dois em instituições
privadas. A limitada quantidade de cursos e instituições que se enquadram
nessa condição é justificada pela recente adoção dessa sistemática de
avaliação na política de ensino superior e, ainda, por sua característica de
implementação fragmentada (CUNHA, 2003), o que, portanto, só agora
vem gerando os seus primeiros efeitos.
Esses efeitos vêm transcendendo de uma avaliação de curso para
o contexto institucional mais amplo, devido a sua dinâmica recorrente
na instituição, mas longitudinal em relação aos cursos. Pode-se perceber
110 Nesse sentido, a Portaria SESu/MEC nº 1.518, de 14 de junho de 2000, que designa membros
das comissões de especialistas de ensino, contou com 150 professores em seu conjunto, sendo 134
professores vinculados a instituições públicas, o que representa um percentual de 89,33%, 01 professor
de universidade privada em sentido estrito, o que representa 0,67% do conjunto e 15 professores ligados
a universidades privado-confessionais, o que equivale a 10%.
uma confluência entre a avaliação de cursos e a avaliação institucional.
Nesse sentido, o MEC na atual política em curso, ao procurar aprimorar a
sistemática anterior, adota na composição das comissões de avaliação de
cursos um avaliador institucional, com a finalidade de mediar “as relações
entre a comissão e as instâncias institucionais de gestão e de avaliação entre
a Comissão Própria de Avaliação (CPA) e o desenvolvimento do processo
avaliativo e pela validação dos relatórios de avaliação dos cursos” (Art. 3º,
§ 4º da Portaria INEP nº 31, de 17 fev. 2005).
Embora, a priori possam ser considerados incipientes, os resultados
desses relatórios permitem apreender os primeiros impactos das avaliações
de pares no contexto das instituições, uma vez que puderam ser constatadas
as mudanças processadas pelas instituições no período de uma avaliação
para a outra, corroborando algumas análises acerca das tendências
apontadas pelas estatísticas oficiais, ainda agregando dados qualitativos
sobre a qualidade do ensino superior no contexto das instituições.
Em síntese, pode-se observar que as modificações promovidas
pelas instituições a partir das avaliações sobre o mesmo curso refletiram
nos conceitos obtidos, havendo uma melhoria significativa no segundo
momento da avaliação em relação ao primeiro momento.
O curso de Letras da FPr14 obteve na avaliação de reconhecimento
do curso em 2002 os conceitos CB para Organização Didático-Pedagógica,
CB para corpo docente e CR para instalações, na visita de renovação do
reconhecimento do curso realizada em 2005 os conceitos atribuídos foram
CB para Organização Didático-Pedagógica, CMB para corpo docente e
CB para instalações.
O curso de Secretariado Executivo da FPr21 obteve, na avaliação
para fins de reconhecimento do curso realizada em 2003, os conceitos CMB
para Organização Didático-pedagógica, CR para corpo docente e CMB
para instalações. Já na avaliação para fins de renovação do reconhecimento
do curso, realizada em 2005, os conceitos atribuídos foram: CMB para
Organização Didático-Pedagógica, CB para corpo docente e CB para
instalações.
Embora se possa ter observado alterações nos conceitos obtidos
durante a visita de reconhecimento e renovação do reconhecimento, os
pareceres esclarecem os pontos que justificam essas alterações, demonstrando
impactos positivos das avaliações no contexto das instituições de ensino
superior. A síntese dos pareceres dos avaliadores consta no Quadro 3.
os procedimentos de reconhecimento de cursos e de renovação do
reconhecimento de cursos, mantendo, portanto, os mesmos indicadores e
padrões de qualidade.
Quadro 3 – Síntese dos Pareceres das Comissões de Especialistas,
contidos nos relatórios das avaliações produzidos para os mesmos cursos
em períodos distintos, para fins de reconhecimento de cursos e para fins de
renovação do reconhecimento, junto ao sistema SAPIEnS
O que dizia o 1º momento da
avaliação
O que dizia o 2º momento da
avaliação.
Organização
Didático-Pedagógica
• A auto-avaliação é quase
inexistente;
• O currículo carece de
melhor dimensionamento;
• Há uma configuração
preliminar de Programa de
Iniciação Científica;
• O curso possui processo de
auto-avaliação;
• O currículo está em
consonância com as normas
legais;
• Há a participação de
alunos em projetos de
iniciação científica e
extensão;
Corpo Docente
• Falta de professores
titulados;
• O quadro é de professores
horistas;
• produção científica nula;
• Evidencia-se preocupação
com a titulação;
• Apresentam-se professores
em regime parcial e integral;
• Inicia-se processo de
produção científica;
Instalações
• Não se constitui em
ambiente acadêmico;
• A aquisição do acervo da
biblioteca ocorreu no período
que antecedeu à visita;
• Inadequação dos
laboratórios;
• Não há adequação aos
portadores de necessidades
especiais.
• Espaço físico adequado
para o ensino superior;
• O acervo da biblioteca foi
expandido e informatizado
• Há os espaços físicos
destinados aos laboratórios
de informática e específicos,
devidamente equipados;
• Há adequação aos
portadores de necessidades
especiais.
De forma geral, pode-se apreender, pela análise conjunta desses
dois casos e pela análise das estatísticas oficiais, que há uma tendência
das instituições em acatar as determinações apontadas nos relatórios das
avaliações, o que permitiu evidenciar os avanços em três direções: a) a
busca em atender à legislação, sobretudo no que se refere ao atendimento
das diretrizes curriculares nacionais, a titulação e o regime de trabalho
do corpo docente, e a adequação das instalações físicas aos portadores
de necessidades especiais; b) a necessidade de titular os professores, não
só para atender à legislação, uma vez que não se trata de instituições
universitárias, mas para acatar as orientações das comissões de avaliação
e assim obter conceitos positivos; c) a melhoria nas instalações físicas,
particularmente no que se refere aos laboratórios específicos essenciais e
ao laboratório de informática, que passa a contar com equipamentos mais
modernos e atualizados, bem como a expansão do acervo da biblioteca,
que é ampliado inclusive para o momento das avaliações, como explicita
um dos relatórios.
Nos pareceres finais, as comissões direcionam seus comentários
justamente para esses três pontos. Inclusive no que se refere ao corpo docente
destacam a necessidade de se ter produção científica e o envolvimento
conjunto de alunos e professores em atividades de pesquisa e extensão, esta
última ainda não atendida, mesmo no segundo momento da avaliação.
De forma geral, pode-se perceber que as comissões procuraram de
fato induzir o padrão de qualidade que vinha sendo desenvolvido pelas
instituições públicas. Contudo, cumpre destacar que essas alterações
produzidas pelas instituições de ensino superior, a partir dos pareceres das
comissões de especialistas, não foram capazes de se converter nos resultados
dos rendimentos dos alunos, expressos nos resultados do “provão”.
3.2.1.4 A qualidade implícita nos pareceres das comissões de especialistas
No documento
IMPACTOS DA AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
(páginas 157-160)