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Os instrumentos de Lomé

No documento INSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTÃO (páginas 31-34)

2. As Convenções de Lomé

2.2 Os instrumentos de Lomé

Ao abrigo das Convenção de Lomé, é possível destacar um número significativo de instrumentos de ajuda que se articulam no auxílio aos países do espaço ACP, tais como: o Fundo Europeu de Desenvolvimento; os Programas Indicativos Nacionais e Regionais; o Ajustamento Estrutural; a Ajuda e Segurança Alimentares; a Ajuda Humanitária; o STABEX e o SYSMIN.

De todos estes instrumentos, destaca-se o FED, cuja criação foi prevista pelos artigos 131º e 136º do Tratado de Roma, tendo como meta a concessão de ajuda técnica e financeira aos países africanos ainda colonizados nessa altura e com os quais determinados Estados tinham laços históricos.

Este fundo, financiado pelos Estados-membros, via contribuições directas, encontra-se sujeito às suas próprias regras financeiras, sendo gerido por um comité específico. A Comissão Europeia, assim como outras instituições criadas no contexto da parceria, desempenham uma função-chave na gestão quotidiana deste Fundo. Cada FED é celebrado por um período de cerca de cinco anos, coincidindo, em geral, com os ciclos dos acordos/convenções de parceria. O FED é composto por diversos instrumentos, como sejam as subvenções, os capitais de risco e os empréstimos ao sector privado.

Os Programas Indicativos Nacionais (PIN) resultam de negociações entre os países ACP e a UE, onde os primeiros, individualmente, apresentam as suas áreas de intervenção prioritárias e os Programas Indicativos Regionais (PIR) são de aplicação regional. Ambos constituem a base pela qual se afectam os financiamentos do FED.

Convém salientar que na definição dos projectos de ajuda são tomados em consideração alguns aspectos aos quais a Comissão atribui grande importância, como a estabilidade económica ou o respeito pelos direitos humanos, o estabelecimento de

regimes democráticos e de um Estado de direito. O desrespeito destas últimas condições poderia implicar, a qualquer momento, a suspensão da ajuda prestada pela UE a esse país em causa, com excepção da ajuda humanitária.

A Facilidade de Ajustamento Estrutural foi estabelecida em Lomé IV e reiterada após a sua revisão intercalar, destinando-se principalmente aos países onde está em prática um Programa de Ajustamento Estrutural, implementado sob orientação das instituições de Bretton Woods (o FMI e o Banco Mundial). Com a utilização deste instrumento tentava-se alcançar uma coordenação entre a cooperação da UE e a de outros doadores ao nível do planeamento e da execução.

A Comissão institui Programas Sectoriais de Importação (PSI) ou Programas Gerais de Importação (PGI) que consistem em colocar à disposição do Banco Central, do país ACP beneficiário, as divisas necessárias para efectuar as suas importações, sendo a prioridade destes fundos o financiamento dos sectores mais sensíveis do ponto de vista social ou economicamente vital.

O respeito pelos direitos do Homem, a instituição de regimes democráticos e a boa gestão dos assuntos públicos estão igual e intimamente relacionados com o acesso aos recursos de apoio ao ajustamento estrutural.

Em 1967, foi criado, no decorrer de Yaoundé I, o Programa de Ajuda Alimentar, através do qual se procurava garantir a segurança alimentar das populações mais afectadas, numa perspectiva de longo prazo, tanto pelo melhoramento do seu poder de compra, como através da implementação de políticas sustentáveis a nível sectorial e macroeconómico.

Este tipo de ajuda consiste, para além do fornecimento de produtos alimentares (nomeadamente, cereais, considerados como a base alimentar da maioria dos países,

feijão, peixe seco, carne, enlatados, frutas, açúcar e leite em pó), também na distribuição de sementes, ferramentas e todo um conjunto de outros factores no contexto de programas de reabilitação do sector agrícola.

A Ajuda Humanitária está incluída na ajuda não programável porque resulta de situações imprevistas e excepcionais, tais como catástrofes naturais ou situações de guerra. Nos casos de situações de emergência, o serviço comunitário que presta assistência designa-se por European Community Humanitarian Office (ECHO).

Trata-se de uma ajuda de emergência, de apoio a refugiados e de criação de condições para os reconduzir aos seus locais de origem, no fim dos conflitos. As acções desenvolvidas nesta área são financiadas pelo Orçamento da Comissão e pelo FED.

O STABEX, como instrumento de cooperação, foi estabelecido em Lomé I, para facilitar a estabilização das receitas de exportação de um vasto leque de produtos de base agrícola e de minério de ferro para o mercado comunitário, através de transferências financeiras que atenuavam os efeitos negativos provindos das perdas que ocorriam nessas receitas. Esse mecanismo correspondia, portanto, à necessidade dos países ACP assegurarem receitas, indispensáveis para poder pagar as importações provenientes da CEE.

Apresentava vantagens, tais como a relativa segurança, a previsibilidade (permitindo aos Estados ACP um apoio mais seguro no estabelecimento da sua estratégia de desenvolvimento) e a neutralidade face ao funcionamento dos mercados e ao incremento das trocas internacionais.

As verbas eram atribuídas para fazer frente a dificuldades pontuais vividas por um determinado país (por exemplo, uma catástrofe natural) ou a factores adversos no circuito comercial (quebras de preço e/ou na procura dos produtos), mas nunca nos

casos de má gestão, má política económica nem devido a uma política de discriminação relativamente à UE.

Criado durante Lomé II, o SYSMIN procurava ajudar o sector mineiro ao permitir a concessão, em condições especiais, de empréstimos aos países ACP cujas economias, assentes nas exportações de minérios para a CEE, eram altamente dependentes dos recursos minerais que sofreram perdas na sua exportação. Como este sector era um dos mais relevantes para este grupo de países, os financiamentos destinavam-se a projectos de companhias mineiras privadas, de forma a manter ou a incentivar a sua produção, garantindo a oferta das matérias-primas de origem mineral e o desenvolvimento de novos recursos mineiros e energéticos dos ACP.

Entretanto, os instrumentos STABEX e SYSMIN foram suprimidos pelo Acordo de Cotonou, o qual passou igualmente a racionalizar os instrumentos do FED e ainda introduziu um sistema de programação que permite mais flexibilidade e atribui uma maior responsabilidade aos Estados ACP.

No documento INSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTÃO (páginas 31-34)