• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – UM CONFLITO NA CONDUÇÃO DA HISTÓRIA E NA

2.2 OS INTERESSES NA DINÂMICA DO CONFLITO ISRAELO-

A concepção de paz no Médio Oriente, a partir dos paradigmas que representam a dialética do ajustamento de “contas”, ou do jogo de interesses, atingiu o ápice e chegou ao esgotamento. Ultrapassar as barreiras existentes e criar novas situações previamente programadas pressupõe uma maneira inovadora de representar as partes envolvidas através de uma nova leitura quer seja histórica ou estratégica.

O diálogo surge como uma possibilidade indispensável no tratamento dos diferentes problemas que afetam a região. Neste sentido, em determinadas situações, torna-se necessária a presença mais efetiva da ONU, como mediadora imparcial para contribuir para a resolução de problemas que se acumulam e tomam formas cada vez mais complexas. O terrorismo, por exemplo, desterritorializou-se e, muitas vezes, age fora da região motivado pelo objetivo de vingança contra aqueles que consideram um obstáculo à concretização dos seus ideais e da sua causa. Neste ponto, é urgente a necessidade não de intromissão, mas da avaliação dos procedimentos tomados a nível internacional, para auxiliar na resolução dessa problemática.

O novo terrorismo desterritorializado revela a necessidade urgente de

um amplo revisionismo dos regimes internacionais de

representatividade e interlocução internacional com vistas à garantia dos princípios das Nações Unidas. Negligenciar o respeito aos direitos humanos, à liberdade de crença e de autodeterminação é alimentar mais esse cenário de terror e pânico xenófobo. A resposta está na necessidade de maior isonomia, diálogo multilateral e respeito por meio de efetiva vontade política coletiva, respaldada pela ONU, suas agências e organismos especializados. A prática decisiva da diplomacia preventiva ainda é um instrumento subutilizado pelos Estados (CASTRO, 2012: 266).

Os Estados mediadores, ou aqueles que tentam mediar uma solução para a paz, em parte, têm como primeiro objetivo, a realização dos seus interesses a nível económico-comercial ou, ainda, a obtenção da notoriedade. Os diversos atores que têm atuado como mediadores, na região, não utilizaram até ao esgotamento a capacidade diplomática para propor Acordos que contemplem os direitos e os deveres de todos os povos envolvidos. Isto porque, na maioria das vezes, os interesses individuais são a prioridade.

O princípio da trajetória de violência do conflito israelo-árabe é a consequência de uma série de jogos de interesses que antecedeu a fundação do Estado de Israel. A Grã-Bretanha, mandatária da região, agiu de má fé ao

fazer jogo duplo e prometer um Estado aos árabes e “ver com bons olhos” um Estado judaico. Aos árabes, a promessa de um Estado correspondia a uma troca, isto é, a ajuda na expulsão dos turcos otomanos da região.

Desde os primeiros episódios bélicos envolvendo os árabes e os judeus, houve acontecimentos marcados por mentiras e jogos de interesses. Os erros sucederam-se uns aos outros sem terem sido resolvidos os primeiros. No decorrer dos anos, novas motivações foram surgindo ao nível interno e externo e, assim, o conflito foi sendo alimentado por interesses díspares e, consequentemente, foi-se tornando mais violento e com fortes obstáculos a serem superados.

Na verdade, a política e a delimitação das fronteiras, na região, atenderam e ainda atendem às exigências económicas e ao acesso aos recursos naturais. No âmbito externo, as potências ocidentais também pretendem satisfazer os seus interesses estratégicos na região mais rica do planeta em recursos petrolíferos.

Ao visar atender os interesses económicos dos diferentes países na região, as fronteiras físicas foram demarcadas para atender as necessidades dos envolvidos não tendo, assim, prevalecido uma visão do que era justo e correto. As consequências de traçados limítrofes imprecisos e de interesses divergentes têm impulsionado as hostilidades na região. As tensões entre árabes e judeus intensificaram-se com o passar dos anos e a violência passou a fazer parte do quotidiano das populações autóctones.

Ao analisarmos o conflito israelo-árabe, percebemos que ele é peculiar no que diz respeito às motivações que o impulsionam, isto é, para além das questões territoriais, fronteiriças, políticas e económicas, acima referidas, tais motivações são respaldadas por reivindicações histórico-culturais de origem milenar de modo que os antepassados são resgatados para fazer a ligação com o presente através de laços intrínsecos e, assim, dinamizar o conflito.

Entre Israel e os Estados árabes, após vários anos de agressões e rejeições mútuas, construiu-se a cultura do ódio. Todo o processo que alimenta a construção cultural aconteceu de modo negativo. As trocas de elementos culturais positivos foram substituídas por elementos que alimentam a contenda e promovem a rejeição. Isto acabou por beneficiar a existência de culturas beligerantes, cujos objetivos não visam a paz, mas a negação do Outro.

Indubitavelmente, esta situação acaba por alimentar as rivalidades que, de certo modo, são sustentadas pela cultura dos mitos e da História remota.

Os mitos guiam o presente e projetam o futuro, tornando-se cada vez mais difícil estabelecer parâmetros capazes de fazer a delimitação entre o que é e do que poderá vir a ser em sentido real. Neste contexto, tem havido um desvio daquilo que é real em direção à utopia. Assim, mais direitos passaram a ser reivindicados e, consequentemente, a disputa tornou-se mais acirrada e na mesma proporção aumentaram o ódio e a intolerância.

O território em disputa entre Israel e a Palestina é inexpressivo em termos de extensão geográfica, mas enorme em termos de significados. São estes significados e sentido de pertença de cada povo, que aliados a um quadro de autoritarismos e humilhações que faz do Médio Oriente, hoje, uma das regiões mais turbulentas e inseguras do planeta.

Esta é uma parte do mundo, cujos excessos de sentidos, dão a tónica do conflito e anima a violência. Em termos de estratégias, eis a amálgama de uma situação que parece inalterada quanto à procura da paz. As diversas propostas para solucionar este problema que, em certo sentido, ultrapassa as fronteiras domésticas e chega ao terreno internacional sob o signo de um conflito maior ainda não se tornaram realidade.

Este conflito, cujas raízes nos remetem à História e mantém vivos os laços com o passado remoto, tem a capacidade de convergir em termos não só de interesses políticos e económicos, mas culturais. É o caso da Palestina que conta com o apoio dos Estados árabes, os quais mantém uma ligação cultural e religiosa que se manifesta através da língua árabe e da religião islâmica.

A cultura, enquanto patrimônio espiritual de um povo, tem papel fundamental na política externa dos Estados. Ao concebê-la como “patrimônio comum”, ela é capaz de promover a aproximação entre os povos, porém se tomada a partir de elementos opostos entre os diferentes atores, pode gerar a rejeição e levar ao conflito, como é a situação entre Israel e os Estados árabes. No momento em que a informação e as trocas culturais podem circular com maior facilidade, devido às tecnologias que romperam barreiras e encurtaram as distâncias, no Médio Oriente ainda há restições entre os diferentes atores com relação a Israel, o que inibe não somente as trocas

económicas e comerciais mas, principalmente, as culturais, as quais poderiam contribuir para o enrequecimento cultural e a aproximação entre os povos.

Nesse processo, o que os Estados procuram projetar, em última análise, são seus valores. Dependendo naturalmente do peso político de um Estado, esses valores terão maior ou menor irradiação. Dependendo de sua importância histórica, merecerão maior ou menor aceitação, despertarão maior ou menor curiosidade. Mas quase sempre se constituirão, ainda que em escala regional ou bilateral, em elementos de aproximação ou de abertura, entre os povos (RIBEIRO, 2011: 24).

Implícita ou explicitamente, os elementos culturais estão presentes nas relações bilaterais ou multilaterais, pois os mesmos estão entrelaçados na política interna e externa dos Estados. Não podemos esquecer, neste âmbito, que o “Estado é meio e fim; o Estado é agente e paciente dos objetos complexos da vida externa e interna” (CASTRO, 2012: 99).

O grande problema entre Israel e o mundo árabe reside no facto de que as culturas, para além de não se entrecruzarem, estão enraizadas em tradições que se opõem e se rejeitam mutuamente, procurando, através de um elemento uno e impregnado de valores e de significados, justificar a rejeição e, mesmo, o conflito.

A Palestina é o ponto unificador do conflito entre os árabes e Israel. Neste contexto, é cada vez mais urgente a solução do conflito entre Israel e a Palestina. Enquanto não resolver a questão palestiniana, dificilmente será possível estabelecer Acordos fiáveis entre Israel e os demais Estados árabes. Poderá haver hipóteses, mas é provável que, no final, o Acordo de Paz seja frustrado, tal como já aconteceu no passado.

Em 1993, Israel completou quarenta e cinco anos de independência e de embate contra os árabes. Neste mesmo ano, o Acordo de Oslo, ou Declaração de Princípios, acenou para a possibilidade de pôr um fim definitivo ao conflito entre Israel e a Palestina, mas acabou por falhar justamente porque ainda não foi resolvida a maioria dos problemas que faz parte desse conflito, isto é, aquilo que tem gerado a desconfiança de ambos os lados e minado os esforços em direção à paz.

Um plano de paz provisório foi assinado por Yasser Arafat e Yithzchak Rabin, em 1993. Através deste Acordo foi criada a ANP e assumido o compromisso segundo o qual Israel faria a devolução gradativa de terras e

daria a autonomia aos palestinianos. Tudo indicava uma nova direção para a região e uma nova forma de vida para aquelas populações.

Ao princípio, as negociações pareceram frutíferas mas, com o decorrer do tempo, todos os Acordos acertados foram cumpridos apenas parcialmente. A estagnação de Oslo deu-se definitivamente quando, em 1995, Yithzchak Rabin foi assassinado por um fundamentalista religioso israelita, o que significou um retrocesso às negociações do Acordo de Paz entre Israel e a Palestina.

No âmbito do cumprimento do que foi estabelecido em Oslo, cabe ressaltar que, em 2005, Israel se retirou da Faixa de Gaza. Tal atitude por parte deste país, pode ter representado, para o mundo, mais uma hipótese de paz entre palestinianos e judeus mas, na verdade, houve aí uma medida estratégica tomada por Ariel Sharon. Além de mostrar ao mundo uma atitude generosa, ele livrou-se de um “peso morto” pois, em Gaza, as despesas de Israel superavam os lucros.

Ariel Sharon cumpriu com dois objetivos ao desocupar a Faixa de Gaza. Eles foram os seguintes: a Faixa de Gaza é uma área pobre e sem recursos naturais e sofre com a escassez de água. Os colonatos eram poucos lucrativos. Porém, os colonos israelitas saíram sob protestos, o que contribuiu ainda mais para a estratégia da política de Ariel Sharon, ou seja, ao retirar-se de Gaza, Israel mostrou-se bom aos olhos do mundo e, ao mesmo tempo, deixou transparecer que o fim dos colonatos poderia gerar uma situação muito difícil com os colonos.

Este território costeiro, de uma extensão muito menor, em sua maioria árido e com solo arenoso, estava grotescamente polarizado entre a massiva população empobrecida palestiniana das cidades de Gaza, Jan Yunis e Rafah e a minúscula população judia que residia na ampla zona de assentamentos ao sul. Os palestinianos concentrados na Faixa de Gaza são quase um milhão e meio e representam uma das populações mais densas do mundo (e com um crescimento mais rápido), grande parte da qual vive em uma espantosa pobreza. Até meados de 2005 cerca de 7.500 judeus viviam nas suas amplas vintena de assentamentos que, não por casualidade, estavam situados principalmente em torno das escassas

fontes de água desta árida faixa. Estes assentamentos

entrincheirados atrás das fortificações militares, vigiados por centenas de soldados israelitas e ocasionalmente submetidos a algum ataque isolado, eram particularmente ineficazes e caros para Israel (TILLEY, 2007: 35-36).

Na verdade, Israel enfrentou a oposição radical dentro e fora do seu território. Internamente, os colonos e alguns segmentos da sociedade não concordavam com as medidas tomadas em Oslo e as concessões feitas à Palestina, mas a política de Ariel Sharon visava atingir objetivos maiores e conseguiu. “De facto, Sharon era um dos políticos mais conscientes de que a retirada de Gaza facilitaria em vários sentidos a permanência de Israel na Cirsjordânia” (TILLEY, 2007: 36-37)20.

Externamente, havia o Hamas que não reconhece o Estado de Israel e também não aceitou as determinações de Oslo. Como este grupo não participou das negociações, não se sentiu comprometido com o cumprimento daquilo que foi estabelecido. Para o Hamas, grupo em relação ao qual, a princípio, Israel aprovou a participação nas eleições com a finalidade de enfraquecer a ANP em troca de, no futuro, não ter ninguém para se sentar à mesa das negociações, tem contribuído de maneira decisiva para o agravamento do conflito.

Hoje, o Hamas é um dos grandes inimigos de Israel e, por parte deste Estado não é diferente, mas a verdade é que em dado momento houve um ponto de interesse convergente entre os dois inimigos, isto é, o enfraquecimento da ANP. Segundo Ignacio Álvarez-Osssorio e Ferran Izquierdo, “um dos objectivos do governo Sharon era o de ficar sem um interlocutor válido do lado palestiniano fortalecendo assim aqueles que nunca se sentariam para negociar um acordo de paz” (ÁLVAREZ-OSSORIO & IZQUIERDO, 2005: 147)21.

Nos anos subsequentes foram realizados diversos Acordos, porém infrutíferos. As decepções acumuladas ao longo dos anos contribuíram para o aumento da desconfiança e da violência na região. Assim, ampliou-se a intolerância na medida em que se reduziu a capacidade de negociação.

Os Acordos de Oslo, que marcaram uma época ante a perspectiva de superação da situação de conflito pela paz, passaram a fazer parte do passado. As várias resoluções da ONU não foram capazes de pôr fim ao

20De hecho, Sharon era uno de los políticos más conscientes de que la retirada de Gaza

Facilitaria en vários sentidos la permanencia de Israel en Cisjordania.

21Uno de los objetivos del gobierno Sharon era el de quedarse sin un interlocutor válido en el

lado palestino fortaleciendo así a aquellos que nunca se sentarían a negociar un acuerdo de paz.

estigma das pendências na região. As decisões quer ao nível interno entre Israel e os seus vizinhos, quer no âmbito da ONU, sucumbiram ante as intransigências intrínsecas ao conflito.

A luta contra os palestinianos trouxe motivação não somente para Israel, que disputava território, mas também para os árabes que defendiam este mesmo território para os palestinianos. Várias guerras foram travadas contra Israel e ambos os lados permitiram-se adotar a desconfiança. Foi num ato de suspeita contra o mundo árabe que Israel, em 1967, desencadeou a Guerra dos Seis Dias contra o Egito e a Jordânia, sob a alegação de uma guerra preventiva em relação à política pan-árabe do presidente egípcio Gamal Abdel Nasser.

Foi na Guerra dos Seis Dias que o conflito passou a envolver outros territórios árabes fora da Palestina e polarizou a região de modo mais intenso. A partir deste momento, Israel ampliou o seu território e ocupou terras egípcias, jordanianas, sírias e, também, Jerusalém Oriental. Estas terras ocupadas surgiram como mais um obstáculo ao processo de paz embora, em 1979, o Egito tenha recuperado as suas posseções através de um Acordo assinado com Israel.

Embora o Acordo estabelecido com o Egito, em Camp David, em 1979, sob o patrocínio do presidente norte-americano, Jimmy Carter, tenha sido bastante significativo, pois deu mostras de que é possível um Acordo de Paz, Israel não cumpriu com a determinação da ONU. A Resolução 242 estabeleceu a retirada completa de todos os territórios ocupados em 1967, porém Israel não cumpriu as obrigações legais e não sofreu nenhuma represália em consequência disso.

Pouco tempo depois de assinar o Acordo com o Egito, Israel abriu uma nova frente de batalha. Em 1982, travou a primeira guerra contra o Líbano, sob a justificativa de combater a OLP para cessarem os ataques palestinianos contra os judeus. Este tipo de ação foi alimentando o conflito que tem se alterado sucessivamente para situações de maior gravidade e de difícil resolução.

Em 1982, quando surgiu o Hezbollah, este passou a dar uma nova tónica ao conflito e intensificou o mesmo com a guerra de guerrilha ao iniciar os ataques suicidas. Este grupo, que inicialmente surgiu como uma milícia em

resposta a invasão de Israel ao Líbano, transformou-se com o passar dos anos em partido com peso político importante. Nas eleições de 2005, o Hezbollah elegeu 14 deputados para a Assembleia Nacional do Líbano. O grupo xiita, cuja inspiração ideológica radica no pensamento do aiatolá Khomeini, hoje conta com o apoio financeiro do Irão e da Síria para além dos libaneses xiitas espalhados pelo mundo e o seu secretário-geral, o xeique Hassan Nasrallah, tem como conselheiro religioso o aiatolá Seyyed 'Alî Hossaynî Khâmene'î.

O Hezbollah e o Hamas configuram-se como os principais grupos radicais e não estatais a combater Israel, mas não são os únicos. Embora estes grupos, hoje, sejam partidos políticos divergentes em termos religiosos, ou seja, xiitas e sunitas, há um inimigo comum que os unifica, que é Israel. Este país tem várias frentes rivais que passam pelos Estados, mas também pelos grupos insurgentes que são apoiados financeiramente por poderes legalmente constituídos e estatais, que também são inimigos de Israel.

Oslo foi a grande esperança para pôr fim às divergências entre Israel e os palestinianos. Em 1993, Yasser Arafat e Yithzchak Rabin, firmaram compromissos que pareciam ser o princípio de paz no Médio Oriente. Porém, a possibilidade de colocar termo à situação violenta da época não agradou a todos. Para Yithzchak Rabin, o aceno para a paz lhe custou a vida.

Após Oslo, vários Acordos foram realizados, mas sem sucesso. Mesmo ao ter assinado o Acordo de Paz com a Jordânia, em 1994, Israel não avançou em relação ao Líbano e à Síria. As disputas fronteiriças surgiram sempre como empecilhos às negociações e, em 2006, a Guerra de Israel contra o Líbano complicou ainda mais a situação.

Na verdade, o Acordo de Oslo I teve êxito apenas parcial, enquanto Oslo II fracassou totalmente. O fracasso de Oslo gerou mais decepção e descrença nas populações palestiniana e israelita. A falta de êxito nos processos de paz causou grande desilusão e revolta principalmente junto da população palestiniana, já tão massacrada no seu quotidiano, que acabou por culminar no ano 2000, na segunda Intifada.

A revolta teve como estopim o facto de Ariel Sharon, em campanha eleitoral, caminhar pela Esplanada das Mesquitas – ou Monte do Templo –, isto é, nos arredores da mesquita de al-Aqsa. Revoltados, os árabes palestinianos

interpretaram a atitude de Ariel Sharon como um gesto desaforado e reagiram

no dia seguinte dando origem a segunda Intifada. A situação agravou-se e grandes embates se deram entre palestinianos

e as IDF. Surgiu uma nova modalidade de terrorismo no conflito, isto é, os atentados suicidas que tomaram emprestada tal medida do Hezbollah e radicalizaram o conflito. Ampliou-se a escalada de violência e as retaliações israelitas.

Os ânimos inflamados dos radicais e a indignação dos palestinianos ante a situação imposta por Israel, contribuíram para o apoio quase que incondicional do mundo árabe à causa palestiniana, embora este apoio, na verdade, tenha sido mais moral do que prático.

É inquestionável que há uma fragmentação interna dos Estados árabes, o que sepultou a unidade árabe almejada por Gamal Abdel Nasser e aclamada nas décadas de 1950 e 1960. Inicialmente, ela culminou na formação da Liga dos Estados Árabes mas, em 2004, durante a Guerra do Iraque, esta colapsou em consequência das divergências políticas. A unidade árabe não existe, de facto, pois as diferenças políticas, as desconfianças e as rivalidades não permitem sustentabilidade suficiente para manter as relações em níveis crescentes ou estáveis. Os interesses particulares das lideranças árabes sempre estiveram em primeiro lugar. Este foi um dos pontos que esteve na origem do fracasso da integração árabe de outrora e fez sucumbir o nasserismo:

Mas o regime nasserista precisava de recursos financeiros para pôr em prática seu projeto de construção da unidade árabe sob o comando egípcio, e aqueles que detinham o poder econômico na região, as petromonarquias, não estavam dispostos a investir suas riquezas numa aventura integracionista na qual sabiam que perderiam em termos de poder político e prestígio. (FERABOLLI, 2013: 67).

A rejeição do apoio dos EUA a Israel, país de orientação ocidental, de

Documentos relacionados