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Um dos motivos pelo qual esses jornais foram selecionados para compor o corpus deste trabalho refere-se ao fato de fazerem parte do mesmo grupo empresarial, Folha da Manhã S.A., porém são de segmentos diferentes; enquanto a Folha de S. Paulo é considerada um jornal de imprensa mais elitista, tradicional, a chamada “grande imprensa” - ou ainda, na expressão de Norma Discini (2004) a imprensa “dita séria” -, o Agora São Paulo é representante da imprensa de segmento “popular”.

A autora distingue esses dois tipos de imprensa

não apenas por aquilo que diz, mas, principalmente, pelo modo como diz. Este corpo representando uma totalidade, construído por uma recorrência de procedimentos, constitui o estilo de cada jornal (op. cit., p. 118).

Ou seja, na verdade, a definição do segmento a que pertence o jornal se dará pelo estilo de cada um. “Estilo é recorrência de traços de conteúdo e de expressão, que produz um efeito de sentido de individualidade” (Discini, 2004, p. 31).

Ainda no dizer de Discini

Há, entretanto, diferentes jornais, diferentes informações, diferentes modos de oferecer informações sobre uma dada realidade, diferentes realidades construídas, diferentes simulacros de realidade. Há, portanto, efeitos de diferença, que supõem uma separação de corpos, na construção de individualidades (op. cit., p. 120).

Concluímos que o que diferencia, então, esses dois tipos de imprensa é o estilo, que basicamente é mais extravagante - com manchetes e cores mais chamativas, letras maiores e outros recursos que apelem para o visual – no caso da “imprensa popular”, e circunspecto – com extrema valorização do conteúdo, que dá ênfase às informações – no caso da “imprensa séria”. Ou seja, de uma forma bem simples e sintética, podemos dizer que a “imprensa popular” valoriza a forma e a “imprensa séria” valoriza o conteúdo.

Assim, julgamos importante, nesta altura do trabalho, fazer duas considerações esclarecedoras:

1ª. Na definição dos tipos de imprensa, não queremos, de forma alguma, estabelecer conotações axiológicas, mas apenas delimitar diferenças de estilo, assim definidas por Discini (2004), que nos possibilite fundamentar a hipótese de nosso trabalho;

2ª. dessa forma, essa dicotomia entre “imprensa séria” e “imprensa popular”, ou melhor, o uso desses conceitos, no decorrer de nosso trabalho, aparecerá, tão somente, e nos servirá, como meio para identificar didaticamente fórmulas distintas - de apresentação de produtos jornalísticos - que corroborem nossa hipótese de que veículos pertencentes a um e outro tipo de imprensa, têm, em princípio, estilos diferentes que são adaptados aos consumidores-leitores, tendo em vista, se tratar, também, de públicos distintos.

Conforme o dizer de Discini

A análise do estilo observará, então, para aquém da expressão textual, mecanismos de construção do sentido, os quais acabam por dar indicações de quem é o próprio sujeito pressuposto; esse sujeito, ao mesmo tempo único e duplo (2004, p.7).

Sobre a imprensa popular, Amaral nos diz que

Os jornais moldam seu discurso informativo de acordo com apropriações de características culturais de seus leitores. Isso não os exime de suas responsabilidades éticas, apenas mostra que os jornalistas devem tomar cuidado para separar o que de fato é mau jornalismo daquilo que é efetivamente jornalismo para uma determinada camada social, porém numa linguagem mais simples e chamativa (2011, p. 22).

Assim, entendemos que o “jornalismo popular”, segundo a óptica da autora, nada mais é do que uma estratégia linguístico-discursiva para adequar o produto jornal - respeitando as características culturais de seus destinatários – aos leitores de uma camada social, em tese, menos favorecida.

Ainda sobre esse tema, a autora nos diz que

O jornalismo dedica-se a produzir conhecimentos sobre o cotidiano, e os jornais populares dão visibilidade também aos sentimentos das pessoas sobre o mundo, mas não se resumem mais à produção de sensações com matérias policialescas. Atualmente, os jornais preocupam-se com que o leitor tenha um sentimento de pertencer a determinada comunidade, percebendo que o jornal faz parte do seu mundo (ibidem, p. 24).

Portanto, se esses jornais apresentam características distintas, tendo em vista pertencerem a segmentos diferentes de imprensa, acreditamos que essa distinção se estenderá, também, ao tipo de público-leitor a que se destinam, bem como na forma de abordagem de notícias e, principalmente, dos editoriais.

Apresentaremos, então, uma breve configuração de cada um desses jornais e alguns traços que identificam seus editoriais e leitores.

4.1.1 Agora São Paulo

Conforme o Manual da Redação da Folha de S. Paulo (2006, p. 107) esse jornal pertence à Empresa Folha da Manhã S.A. e começou a circular no dia 22 de março de 1999, em substituição à “Folha da Tarde”.

Dados disponíveis no site da ANJ – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS (2012) informam que o Agora São Paulo é líder de vendas entre os jornais populares no estado de São Paulo e 12º colocado em nível nacional, com tiragem média diária de 92.046 exemplares.

De acordo com o site do jornal, o projeto editorial privilegia a cobertura independente, prioriza a prestação de serviços ao leitor, e apresenta “textos curtos, em linguagem direta, que permitem uma leitura rápida e dinâmica”.

Trata-se, então, de um jornal do chamado segmento “popular”, caracterizado pela escrita simples e fontes grandes, com objetivo de facilitar o entendimento dos temas. Normalmente as manchetes trazem assuntos de interesse do trabalhador, como abertura de concursos públicos, aumentos salariais, e outros relacionados a aposentadoria e seguridade social. A abordagem desses temas do cotidiano facilita a identificação entre o jornal e o público-alvo.

É composto por três cadernos diários: o 1º apresenta as principais notícias do Brasil e do mundo; o caderno Vencer publica o noticiário esportivo; e o caderno Show! trata de variedades.

4.1.2 Folha de S. Paulo

Fundado em 19 de fevereiro de 1921, é atualmente o maior jornal em circulação no país, com uma tiragem média diária de 297.650 exemplares (dados de 2012 – ANJ – Associação Nacional de Jornais).

Segundo informações do site da Folha, os temas mais recorrentes apresentados no jornal tratam de questões macro e microeconômicas, política nacional e internacional, investimentos públicos e privados, novas tecnologias, além de esportes e entretenimento.

O jornal é composto por catorze cadernos, sendo sete diários e sete semanais. Os diários são: Poder (política nacional), Mundo (acontecimentos políticos e sociais internacionais), Ciência (ambientais e naturais), Mercado (negócios e política econômica), Cotidiano (noticiário local), Esporte (jornalismo esportivo) e Ilustrada (cultura e lazer); os sete suplementos semanais são: Folhinha (para o público infantil), Tec (tecnologia e redes sociais), Equilíbrio (saúde e qualidade de vida), Turismo (destinos de viagens nacionais e internacionais), Ilustríssima (arte, ciência e humanidade), Comida (cultura gastronômica e dicas de culinária) e The New York Times (fatos da semana que ocorreram em território internacional).

A Folha de S. Paulo “estabelece como premissa de sua linha editorial a busca por um jornalismo crítico, moderno, pluralista e apartidário". O jornal "apoia a democracia representativa, a economia de mercado e o debate dos problemas sociais: independência, apartidarismo, criticismo e pluralismo são a marca de um jornalismo moderno e em sintonia com os interesses do leitor". Também privilegia a prestação de serviços ao leitor.

Outras características da Folha são – segundo o site da empresa - a preocupação com o didatismo e a “insatisfação” com o produto, o que alimenta uma crise permanente na busca por fazer um jornal sempre melhor para o leitor.

Na área tecnológica, o jornal foi o pioneiro na impressão offset em cores no Brasil, o primeiro a utilizar computadores na redação e a criar um banco de dados digital. Na parte editorial, passou a dividir a cobertura em cadernos específicos, para facilitar a leitura e poder tratar com mais profundidade assuntos como política, economia, cultura, o noticiário local, internacional e esportes. Um diferencial apresentado pelo jornal é que, na relação com o leitor, foi o primeiro jornal brasileiro a adotar a figura do ombudsman, em 1989.

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