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Os livros didáticos de História

No documento 2012Isabel Regina Ramisch (páginas 48-53)

Os livros didáticos de História, na realidade das escolas públicas do país, têm-se consolidado como uma imprescindível ferramenta didática na ação pedagógica. Tal situação remete a fatores como: a deficiência na formação do educador e a falta de uma formação continuada; falta de estrutura física nas escolas e a disponibilidade de outros recursos didáticos; carência nos currículos escolares; a ausência de propostas pedagógicas portadoras de inovações e adequações na realidade de ensino; comodismo e falta de perspectivas dos educadores e dos educandários; enfim, falta de estruturas ínfimas que deveriam proporcionar uma prática pedagógica condizente com os anseios e necessidades da sociedade. Os livros didáticos que deveriam servir de auxílio para o educador na elaboração e realização das aulas, acabaram por estabelecer os rumos do ensino, definindo os conteúdos, os métodos, a didática, as correntes ideológicas a serem ensinadas.

Diante do cenário evidenciado, é pertinente e necessária a intervenção do professor no processo de ensino em buscar oportunizar a construção do conhecimento além das páginas dos livros didáticos. Os livros didáticos devem ser utilizados na sala de aula como suporte didático e não como o instituidor do que e como ensinar.

[...] não se está condenando o uso do livro didático em si. O que se considera problemática é a relação que determinada parcela dos professores estabelece com o livro, tomando-o não como um meio auxiliar no processo de ensino- aprendizagem, mas como recurso único e absoluto. Supervalorizando sua utilização, o professor está excluindo outras possibilidades de construção do conhecimento histórico.21

A ferramenta didática trazida pelo livro, é escolhida pelo próprio professor que a utiliza enquanto suporte para as aulas. A cada professor cabe a tarefa de escolha do livro didático podendo pautar-se pelos conteúdos apresentados por cada obra, a metodologia empregada, a linha de pensamento, a estrutura e divisão de conteúdos, enfim, critérios que tornam o processo de escolha muito particularizado e democratizado. O Governo Federal, através do FNDE, tem centralizado o processo de seleção e aquisição das obras e, segundo informações extraídas do site do FNDE, o processo se dá na seguinte ordem: “inscrição das

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editoras [...] triagem/avaliação [...] (emissão) guia do livro [...] escolha [...] pedido [...] aquisição [...] produção [...] distribuição [...] recebimento”.22

Para auxiliar os professores nesta tarefa, o MEC nomeia uma equipe de avaliação dos livros didáticos que se habilitam a participar do PNLD. Como resultado desta avaliação, emite-se o Guia do Livro Didático que possui uma avaliação detalhada de cada obra, atribuindo conceitos avaliativos. Segundo o Guia 2008, a equipe de avaliação constituiu-se de docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que procederam a análise das obras pautando-se nos seguintes critérios: “Concepção de História; Conhecimentos Históricos; Fontes Históricas/Documentos; Imagens; Metodologia de ensino-aprendizagem; Capacidades e habilidades; Atividades e exercícios; Construção da cidadania; Manual do Professor; Editoração e aspectos visuais”.23 Neste Guia é possível visualizar um parecer sobre as obras, o que pode auxiliar, e muito, o docente no processo de escolha dos livros didáticos.

Aqui, propomos lançar um olhar sobre os livros didáticos enquanto fonte de pesquisa, objetivando visualizar a inserção da história da América Latina enquanto conteúdo programático nas redações das literaturas didáticas, bem como, de maneira específica, buscar visualizar a inserção do Mercosul enquanto conteúdo da disciplina de História.

Nos valemos dos livros didáticos como fontes de pesquisa por considerar o que discorremos até aqui sobre sua importância no ensino de história e, também, por entender que os conteúdos propostos nas redações das obras são abordados em sala de aula e, no caso dos conteúdos que não constam nos livros, dificilmente serão analisados na prática pedagógica da disciplina de história.

Esta análise de exemplares de livros didáticos enquanto fonte de estudo, permeia a realidade de ensino das esferas públicas de ensino, sejam elas municipal, estadual ou federal. Nosso foco de análise concentra-se na 8ª série do ensino fundamental ou o 9º ano da educação básica. Esta opção por elencar o último ano do ensino fundamental justifica-se frente aos conteúdos abordados neste ano escolar que, com base no que preveem os Parâmetros Curriculares Nacionais de História (PCNs), sugere-se o estudo de história

22 Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/pnld/> acesso em: 12/04/2008.

23 BRASIL – Ministério da Educação. Guia do Livro Didático 2008 – História. p.13 a 16. Disponível em:

contemporânea, que nos remete a nossa problemática de visualizar a inserção da História da América Latina e, mais especificamente, o estudo do Mercosul enquanto conteúdo programático no ensino de história.

5. OS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA NO BRASIL

Historicamente o Brasil convencionou ‘dar as costas’ aos países latino-americanos e voltou seus olhos para o Norte (Europa e EUA). Esta concepção refletiu-se no ensino de história a partir de uma visão europeizada da História, ou seja, a Europa seria o modelo de desenvolvimento e progresso a ser copiado.

Porém, vários segmentos estão re-olhando para este cenário de distanciamento do Brasil com relação à América Latina. É possível visualizar ações concretas de aproximação e estreitamento de laços no campo econômico, político, diplomático e até cultural. Ao propormos visualizar a História da América Latina na prática pedagógica do ensino de História, a intenção incide, justamente, em perceber de que maneira a educação está acompanhando estas aproximações e, sobretudo, a disciplina de história enquanto oportunizadora de debates da própria história.

Os livros didáticos utilizados para a presente pesquisa são os livros de maior escolha no PNLD/2002 e no PNLD/2008. Neste intervalo de 6 anos, o que se objetiva é construir um comparativo entre as obras e perceber a evolução dos livros. Estes dois anos elencados são subsequentes à aprovação de leis federais que propuseram algumas alterações na educação do país, sendo o ano de 2001 em que foi aprovado o Plano Nacional de Educação (PNE) e o ano de 2007 que aprovou-se a lei do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB).

Outra ressalva que destacamos é que, o FNDE só possui registros informatizados dos processos de escolha dos livros didáticos, escolhidos através do PNLD, em âmbito nacional, a partir do ano de 1999, o que, consequentemente, inviabiliza um estudo de livros anteriores a este ano. Esta falta de registros oficiais nos limita a optarmos por avaliar obras recentes que, de fato, comprovam, numericamente, estarem efetivamente presentes nas escolas. Já as obras de anos anteriores, foram descartadas nesta pesquisa, já que teríamos que escolhê-las de forma aleatória e não teríamos como comprovar a utilização das mesmas pelos professores e alunos.

Optamos pelos livros didáticos indicados pelo FNDE, enquanto livros mais utilizados nos anos estudados em âmbito nacional, o que nos assegura uma certa confiabilidade. Metodologicamente, vamos nos valer da história comparada para

estabelecer uma análise entre os anos de 2002 e 2008, objetivando identificar um processo evolutivo dos livros didáticos não somente no campo estético mas, sobretudo, nas questões metodológicas e de conteúdos abordados apresentados nos/pelos mesmos.

Os exemplares de livros didáticos foram encontrados nas bibliotecas de escolas públicas estaduais da cidade de Erechim e Marcelino Ramos a que compõem o acervo das bibliotecas, constituindo-se em material de uso didático de suporte para os educadores. Muitos dos livros são manuais do professor remetidos aos professores durante o processo de escolha do PNLD. E, posterior ao processo de escolha, os manuais acumulam-se nas prateleiras das escolas por certo período, até serem descartados.

Com os livros em mãos, passamos a construir perguntas que regeram nosso olhar sobre as redações didáticas. Nossa intenção constituiu em coletar as informações autorais e dados gerais de cada obra e, investigarmos de maneira mais aprofundada os conteúdos contemplados por cada livro. Em cada obra buscamos visualizar várias questões pertinentes à inserção da história da América Latina, observando (1) os conteúdos sobre América Latina que são abordados nos livros, (2) de que maneira estão dispostos na estrutura metodológica, (3) como se associam à História do Brasil, (4) o que cada obra traz sobre processo de integração latino-americano, e (5) o que se discorre sobre o Mercosul.

Metodologicamente, percebeu-se uma evolução nos livros didáticos, neste intervalo de seis anos analisados (2002 – 2008). Constataram-se maiores cuidados quanto ao visual do livro, para que não polua as páginas e tornem-se atrativas. Destaca-se o uso das imagens, mapas, vocabulários e questionários que enriquecem os conteúdos abordados.

Já no que tange aos conteúdos, detectam-se a necessidade de distinguir os livros didáticos entre aqueles que abordam a História da América Latina e inserem o Mercosul e aqueles que, singelamente, abordam a História da América Latina mas que não incluem o estudo sobre o Mercosul. Estruturamos tabelas demonstrativas das obras analisadas em cada ano para melhor visualização, constando a classificação no PNLD em estudo (ordem de preferência), a editora, o título de cada obra, a tiragem por exemplar e o ano de publicação. Passamos a visualizar a análise dos livros didáticos do Programa Nacional do Livro Didático.

No documento 2012Isabel Regina Ramisch (páginas 48-53)

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