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2. Capítulo 2 A tutoria e o processo cognitivo de aprendizado

2.6. Os mapas conceituais

Uma técnica desenvolvida por Novak (Novak & Gowin, Learning how to learn, 1984), decorrente da teoria de Ausubel é a dos mapas conceituais. Mapas conceituais são representações gráficas usadas para representar conceitos e a relação entre conceitos na forma de proposições. Uma proposição é uma unidade semântica formada pela ligação de dois ou mais termos conceituais ligados por palavras. A figura 2.3 seguir exemplifica a construção de um mapa conceitual.

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Novak enfatiza que exceto para um grupo relativamente pequeno de conceitos, aprendidos muito cedo, quando ainda crianças por descoberta, os demais conceitos que aprendemos são adquiridos por meio da composição de proposições em que estão incluídos. Assim, diferentemente da abordagem socrática em que o conceito é descoberto por inferência a partir de deduções do próprio aprendiz, na abordagem com uso de mapas conceituais, a informação é apresentada de forma expositiva, ou seja, pronta para recepção, sem lacunas a serem preenchidas por hipóteses construídas pelo próprio aprendiz. Esse processo simplifica o caminho de aprendizado, uma vez que, desonera o aprendiz da carga de construção da descoberta do processo cognitivo, deixando- o disponível para concentrar-se em ligar o novo conceito aos pré-existentes.

Este tipo de aprendizagem pode se tornar significativa desde que os aprendizes estejam motivados para aprender e o material didático seja potencialmente significativo, considerando o que cada estudante já sabe para relacionar melhor tais conhecimentos com o novo conceito a ser aprendido.

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Os mapas conceituais podem ser utilizados de diferentes formas, de acordo com o objetivo que se queira obter. Podem ser utilizados numa mesma disciplina de forma individual ou conjuntamente ou ainda de forma a sumarizar os conceitos de uma disciplina quando ministrada por diferentes professores em diferentes turmas para alcançar um mesmo nível de aprendizagem entre todos os estudantes, independente de quem seja o professor.

Com mapas conceituais é possível explicitar o arcabouço conceitual, tanto do aluno quanto do professor, limitando-os a se concentrarem nos conceitos que são realmente relevantes, abstraindo os que turvam o entendimento de domínio e separar a informação mais significativa da trivial, de modo que, ao término do evento de aprendizagem, eles representam o resumo do que foi aprendido, sendo assim, uma técnica para explicitar conceitos e proposições.

Fundamentados na teoria de aprendizagem de Ausubel, os mapas conceituais são construídos em níveis de hierarquia, isto é, os conceitos mais relevantes e inclusivos ficam no topo da hierarquia subsumindo os menos inclusivos.

O interessante no processo de elaboração dos mapas conceituais é a descoberta de relacionamento entre conceitos que outrora eram desapercebidos, permitindo que os alunos estabeleçam novos significados entre eles. Esse comportamento não é privilégio somente do aluno! Professores podem a tempo perceber quais conceitos emergem dessa ressignificação e quais não foram apresentados por ele preliminarmente.

Um aspecto muito importante na construção de mapas conceituais é a fomentação de pensamento refletivo, ou seja, fazer algo de forma controlada, que implique levar e trazer conceitos, bem como juntá-los e separá-los de novo. Segundo Novak, os estudantes necessitam praticar o pensamento refletivo como exercício, assim, o fazer e o refazer de mapas conceituais e o seu compartilhar com os outros pode ser considerado um esforço de equipe no exercício de pensar. Sob essa perspectiva, perceba que uso de mapas conceituais vão além da externalização de conceitos, mas permitem a troca ou negociação de conceitos ou significados entre o aprendiz e professor.

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Uma questão interessante levantada por Novak é:

” À primeira vista, poder-se-ia dizer o seguinte: se o professor (ou o livro de texto) sabem supostamente o que é correto, como é que se pode sugerir que deve haver negociação com o aluno? ”

A resposta para essa questão reside na premissa que conhecimento não pode ser absorvido, e por isso, é preciso de que ele seja construído em termos de uma aprendizagem significativa e para que isso ocorra é necessário dialogar, trocar e compartilhar significados.

Isso evidencia a importância individual do aprendiz e professor nesse processo. O aprendiz deve deixar claro quais conceitos tem percebido e aprendido no processo de ensino e o professor deve garantir que aquilo que o aprendiz assimila é realmente o que pretendia ensinar, além do dever de conduzi-lo no conteúdo de domínio de forma adequada. Quando os mapas conceptuais são conscientemente elaborados, revelam extraordinariamente bem a organização cognitiva dos estudantes. É sobre esse relacionamento de responsabilidades individuais definidas que ocorre o compartilhar de significados, assim, não é nobre apenas o papel que o professor exerce nessa coreografia mas também o do aluno quando percebe sua importância no direcionar da atividade de ensino pela explicitação correta daquilo que tem aprendido.

Um grande benefício do uso de mapas conceituais é o registro de conceitos que representam o aprendizado num determinado período do tempo, ou seja, eles não representam o conhecimento em seu estado definitivo, assim, podem ser continuamente desenvolvidos à medida conceitos são amadurecidos pelo seu conhecimento em profundidade. Os mapas conceituais devem ser desenhados várias vezes, até porque, dificilmente serão criados mapas sem falhas conceituais logo na primeira tentativa, entretanto, na medida em que os conceitos são melhor compreendidos, o mapa se torna mais completo em termos de conceitos e relacionamentos em eles. Isso tem relação com os conceitos de diferenciação progressiva e reconciliação integrativa. Mesmo que pareça um processo enfadonho, Novak discorre em seus estudos que existe uma maior

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disposição maior para estudantes refazerem um mapa conceitual do que para voltar a escreverem trabalhos escritos.

Perceba que os mapas conceituais, como estratégia pedagógica de ensino, são o elo entre o ensino individualizado e personalizado como proposto pelos STI e a utilização de teoria de aprendizagem que preconiza a aprendizagem significativa. Resta agora, o desenvolvimento de um plano tático de ensino, em termos de ações, que seja centrado em mapas conceituais e considere os fatores que influenciam a aprendizagem, a fim de que, uma vez utilizado por tutores, ela seja significativa. Esse é o assunto do próximo capítulo.

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