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CAPÍTULO I ACESSO À JUSTIÇA

CAPÍTULO 2 ACESSO À JUSTIÇA: AS NOVAS PRÁTICAS DE

3.3 Os mecanismos de efetivação da cidadania através do estágio e da

O Curso de Direito da Universidade do Planalto Catarinense, UNIPLAC, entende ser função primordial do estágio o desenvolvimento de atividades nas áreas civil e penal. Essas atividades, por sua vez, visam a suprir as necessidades das camadas mais carentes da população.

Na área civil, ocorre a prestação de assistência judicial e extrajudicial, quando os estagiários, acompanhados pelos orientadores, atendem às camadas mais carentes da população, prestando assistência a pessoas economicamente necessitadas, que procuram o EMAJ, em todas as fases necessárias ao conhecimento das peculiaridades de cada caso: entrevista, elaboração de petição inicial, protocolização, acompanhamento do processo, realização de audiências, até a entrega da prestação jurisdicional. Na área penal, a atuação dos estagiários dá-se na maioria das vezes através de nomeação judicial dos professores orientadores (advogados) e demais procedimentos, e quando o cliente procura o escritório modelo.

Faz-se necessário salientar que além do estágio curricular, que é esse trabalho realizado dentro das dependências do Escritório Modelo, o EMAJ também proporciona ao estagiário uma forma de estágio diferenciado. A Universidade, através do EMAJ, desloca- se até os bairros mais distantes prestando seus serviços onde estão os clientes, pois é na periferia que se aglutinam as pessoas alijadas do processo econômico e, conseqüentemente, sem condições de contratar um profissional da área jurídica.

Embora o EMAJ fosse destinado ao atendimento jurídico da camada mais pobre da população, muitos representantes dessa camada insistiam em não procurá-lo. Mas, porque isso acontecia? Isto é, por que, mesmo tendo à disposição serviço jurídico

especializado e gratuito, algumas pessoas insistiam em abrir mão desse benefício? Ouvidas as comunidades, ficou evidente que havia clareza sobre os benefícios proporcionados pelo trabalho do estágio no Escritório Modelo, mas havia também empecilhos de ordem social e econômica que impossibilitavam o acesso, tais como: falta de dinheiro para se deslocarem à Universidade, mães que não tinham com quem deixar os filhos, clientes que não tinham como tirar cópias de documentos e/ou autenticá-los e ainda a ignorância sobre seus direitos e deveres, entre outros.

Em vista da situação levantada junto à população carente, a Universidade, através de uma das professoras orientadoras do Escritório Modelo elaborou um projeto no qual o acadêmico se desloca até as comunidades, num esforço de aproximação entre o estagiário, a Universidade e o cliente. Essa iniciativa teve sua origem ancorada num programa desenvolvido em parceria com a Prefeitura Municipal de Lages (SC), através do seu plano de Ação Integrada - O bairro é você. Foi a partir daí que o Escritório Modelo do curso de Direito deu início ao projeto A Universidade vai ao bairro.

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No projeto Universidade vai ao bairro , os estagiários do Curso de Direito, sob a supervisão dos professores orientadores, prestam serviços jurídicos à população residente na periferia de Lages, bem como desenvolvem um programa da cidadania junto a estas pessoas, a partir de palestras sobre direitos e deveres fundamentais do cidadão, direito de família, direito das sucessões e direito do trabalho.

Os objetivos desse projeto são: aproximar o estágio curricular do curso de Direito através do Escritório Modelo com as exigências acadêmicas e as necessidades das comunidades atendidas; proporcionar aos acadêmicos oportunidades de vivenciar a realidade da clientela atendida pelo Escritório Modelo; levar a Universidade ao bairro através do estágio curricular do Curso de Direito; vincular teoria e prática no processo do estágio curricular, articular parcerias interinstitucionais e buscar a integração entre a UNIPLAC e a comunidade; pesquisar a realidade através do estágio e contribuir para a transformação desta realidade; desenvolver o estágio curricular as partir da prestação de serviços extrajudicial e judicial, nos bairros; contribuir através do estágio curricular para o

139 Este projeto foi apresentado em abril de 1999 quando da realização do II Encontro Nacional de Estágio,, em Belo H orizonte -M G , organizado pelo IEL/MG, UFM G e Conselho de Estágio de Minas Gerais., e faz parte de uma coletânea publicada pelas instituições acima referidas.

esclarecimento à comunidade economicamente necessitada sobre os Direitos e Deveres Fundamentais do cidadão.

A operacionalização do projeto foi iniciada, em maio de 1997 com a participação conjunta da Secretaria de Ação Comunitária da Prefeitura de Lages (SC), a qual agendava as datas e horários de atendimento e definia os bairros a serem atendidos pelos acadêmicos. O trabalho desenvolveu-se em três momentos.

No primeiro momento, compreendido entre o período de maio a outubro de 1997 aconteceu a prestação de serviços, extrajudiciais e judiciais, quando se fez o atendimento, a partir de consultas e encaminhamentos de processos ao fórum, conforme o caso.

Já no primeiro semestre de 1998, ocorreu o segundo momento, atendendo à solicitação da própria comunidade, foram realizadas palestras com as seguintes temáticas: direitos e deveres fundamentais do cidadão; direito de família, registro civil, direito das sucessões e direito do trabalho. E num terceiro momento, entre o meses de abril de 1997 e março de 1998, fez-se a divulgação da prestação dos serviços e das palestras, através da distribuição de cartazes em pontos chaves dos bairros como: supermercados, bares, escolas, igrejas, mercearias etc. Saliente-se que a própria comunidade se encarregou da tarefa de divulgação, que contou, ainda, com os serviços de radiodifusão.

Inicialmente para a execução das palestras foram envolvidos 35 estagiários e a professora coordenadora do projeto. Ao todo 73 pessoas foram beneficiadas com a prestação de serviços e, aproximadamente, 90 assistiram às palestras.

Para a execução do projeto, contou-se coma parceria da Prefeitura Municipal de Lages, através de sua secretaria da Ação Comunitária e da Educação. As escolas municipais (CAIC) se encarregavam de fornecer e organizar o espaço físico necessário para o desenvolvimento das atividades. Foi utilizada também a infra-estrutura do estágio curricular do Curso de Direito e a atuação dos acadêmicos do Curso de Direito dos 9o e 10o semestres.

Depois dessa primeira experiência, tomou-se prática do EMAJ essa prestação de serviços diferenciada. Assim, além da função pedagógica, o Escritório Modelo presta uma

função social adicional, conforme demonstrado até aqui e no quadro abaixo. Nos últimos 6 anos, o atendimento prestado à comunidade carente de Lages e região, importou em:

TABELA 16 -A ç õ e s Protocoladas e Consultas

ANO AÇÕES PROTOCOLADAS NO EMAJ,

INCLUINDO NOMEAÇÕES DO CRIME

CONSULTAS TOTAL 1995 460 * 460 1996 622 * 622 1997 633 623 1.256 1998 829 477 1.306 1999 584 441 1.025 2000 335 318 653 TOTAL 3.463 1.859 5.322

* consultas computadas somente a partir do ano de 1997.

Fonte: EM A J da UNIPLAC.

Entretanto, na constante busca de melhorar o estágio, sua prestação de serviço, o EMAJ também está preocupado em demonstrar ao estagiário, futuro operador jurídico, a realidade social a que está inserido. Assim como também, preocupa-se o EMAJ em proporcionar o acesso à justiça, não apenas via ajuizamento de ações, mas diferenciar seu atendimento, com vistas a proporcionar o efetivo acesso à justiça, que presta orientação e informação jurídica pré-processual e pós-processual. Um acesso à justiça efetivo que oriente os cidadãos sobre seus direitos e quando for caso, de posse desses conhecimentos, que possa o cidadão optar pela solução do seu problema, conflito ou que possibilite esclarecê-lo sobre suas dúvidas a ponto de sentir-se senhor de seu futuro. Se não for esse o objetivo do cidadão, que seja esclarecedor sobre que decisão deve tomar diante de uma situação jurídica seja ela qual for, em termos de direitos básicos do cidadão, mas que saiba identificar que está diante de um problema jurídico.

Com a perspectiva de que o estágio seja um instrumento capaz de efetivamente capacitar os profissionais do futuro e de proporcionar o efetivo acesso à justiça, o EMAJ desenvolveu e pretende continuar desenvolvendo o projeto denominado A Universidade

vai ao bairro.

Assim, é intenção do EMAJ fomentar ações, envolvendo o maior número de acadêmicos, professores do Curso de Direito, psicologia, odontologia, pedagogia e demais

parcerias interinstitucionais e comunidade, buscando desvelar a realidade da região. Ao mesmo tempo, instrumentalizam-se os acadêmicos e os preparam para agir a partir das necessidades da comunidade, previamente levantadas, procurando a vinculação teoria e prática e permitindo ao processo de estágio, como um todo, rever suas políticas de operacionalização e de atualização de conteúdos curriculares, bem como de práticas pedagógicas do curso.

3.4 Pesquisa de campo: conhecendo na prática a construção do acesso à