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Os Modos de Internacionalização das Empresas

III. Comércio Internacional

2. Os Modos de Internacionalização das Empresas

Segundo a AICEP (2014), o potencial de internacionalização consiste na exploração de oportunidades com vista a desenvolver, no estrangeiro, as vantagens competitivas que as empresas possuem no mercado nacional. Surge com o objectivo de consolidar ou obter novas posições em mercados externos, de manter ou reforçar relações com grandes clientes, actuando de acordo com lógicas globais e integradas, de reduzir custos de produção, de aceder e absorver novas competências e afigura-se, para um número crescente de empresas, como uma realidade indispensável à exploração de oportunidades detectadas ou como resposta aos movimentos apresentados por outros players do mercado.

Nenhuma empresa nacional está livre da influência de forças envolventes estrangeiras ou internacionais, uma vez que existe sempre – e cada vez mais – a possibilidade da concorrência de

29 importações ou de concorrentes estrangeiros estabelecerem operações no seu próprio mercado. Por vezes, é mesmo a única forma de, defensivamente, fazer face à concorrência internacional e, ofensivamente, tirar partido da cada vez maior abertura e integração dos mercados – necessárias à difusão tecnológica e à inovação, e ao crescimento.

No nível empresarial, a AICEP (2014) atenta que as motivações mais relevantes subjacentes à decisão de internacionalização das empresas são internas ou estão associadas aos mercados, resultando, frequentemente, de um mix de vários factores: objectivos de crescimento (penetração nos mercados externos), acesso a recursos produtivos, manutenção ou reforço de redes de relações, resposta a movimentos de concorrentes, acompanhamento de clientes e acesso a recursos e/ou competências. Os benefícios da internacionalização situam-se ao nível do acesso a novos mercados, na prossecução de objectivos de crescimento e de diversificação geográfica e/ou do acesso a recursos (minimização dos custos produtivos) de que as empresas não dispõem no mercado doméstico, em condições tão vantajosas.

A teoria do Paradigma Eclético (ou paradigma O.L.I. – Ownership-Location-Internalization) desenvolvida por Dunning (2008) estabelece que o tamanho, forma e padrão de produção internacional são determinados por três conjuntos de vantagens adquiridas pelas empresas. Para que firmas de determinada nacionalidade compitam produtivamente com outras empresas nos seus países de origem, deverão possuir vantagens específicas de acordo com a natureza e/ou nacionalidade da sua propriedade. Essas vantagens – apelidadas de vantagens competitivas ou monopolísticas – deverão ser suficientes para compensar os custos de instalação e operação de um investimento direto no exterior de valor agregado, se comparados com aqueles enfrentados pelos produtores ou potenciais produtores locais.

Desta forma, a teoria do paradigma eclético tenta explicar porque existem Empresas Multinacionais (EMN) e por que razão elas possuem relativamente mais sucesso que as empresas domésticas. Demonstra que a extensão e padrão da produção internacional serão determinados pela configuração de três conjuntos de vantagens (Dunning, 2008).

A vantagem de propriedade ("O"), isto é, a vantagem competitiva que firmas de determinada nacionalidade possuem em relação a outras de diferentes nacionalidades e que lhes permitem manter um maior domínio e controlo sobre os seus recursos utilizados nos países estrangeiros. Assim, uma empresa pode e deve actuar num mercado estrangeiro fazendo uso das suas competências essenciais como diferencial competitivo face aos seus concorrentes, sob a forma de subsidiárias, mantendo sob o seu controlo a sua propriedade tangível e intangível.

Esta vantagem será derivada da posse privilegiada de um ativo intangível específico, como por exemplo, alta tecnologia, know-how, marca própria, capacidades de gestão, recursos humanos

30 qualificados, processos de produção e/ou sistemas de comercialização mais eficientes relativamente a empresas já instaladas nos mercados de destino. Tem ainda em linha de conta os benefícios intrínsecos às diversas estratégias de associação (alianças verticais, alianças horizontais e redes de empresas) que possam existir com outras empresas ou EMN;

As vantagens de localização ("L") quando comparadas com as vantagens dos potenciais países de possível actuação irão possibilitar a explanação da escolha do local para o investimento. A empresa internacionaliza-se a fim de explorar as vantagens de localização, ou seja, beneficiando das vantagens específicas potenciadas pela sua actuação no estrangeiro sendo que a sua escolha será justificada pelo mercado que melhores condições lhe proporcione. A EMN será influenciada relativamente à forma como a localização dos recursos e/ou mercados irão afectar a sua estrutura de custos bem como relativamente à sua capacidade de aquisição e exploração da vantagem específica de propriedade "O" de activos da empresa. Estas vantagens relacionam-se com mão-de-obra mais barata e/ou especializada, matérias-primas de menor custo, menor burocracia, melhor integração em espaços económicos alargados e/ou de funcionamento em clusters e de assimilação e adaptação ao mercado estrangeiro, reduzindo a distância psicológica, levando a menores custos de transporte e comunicação tendo como base de comparação a actividade exportadora e principalmente a capacidade de explorar o potencial do mercado.

A vantagem de internalização ("I"), isto é, a vantagem relacionada com a organização da empresa e ligada à exploração de vantagens de propriedade utilizando os canais próprios da empresa (subsidiárias e associadas através de acordos inter-empresas), que fomentem meios complementares para contornar ou reduzir as imperfeições dos mercados quando o IDE não é uma solução aplicável. Estas vantagens surgem ao construir uma estrutura no exterior para internalizar as operações que poderiam ser realizadas pelo mercado, ou seja, as vantagens advêm da internalização das transacções do mercado através, por exemplo, de fusões, aquisições, cooperação e alianças. Assim, a empresa pode reduzir custos de procura e de transacções, assegurar disponibilidade e altos padrões de qualidade dos materiais e componentes-chave, entre outros. Estas vantagens resultam assim da diminuição dos custos de câmbio, da propriedade da informação e da redução da incerteza e de um maior controlo da oferta e dos mercados e, principalmente, de acordos contratuais e de negócios.

A empresa adoptará a sua actividade internacional através da concretização das vantagens acima indicadas, sendo provável que se verifique IDE caso as três vantagens estejam reunidas. Esta teoria possui um valor explicativo muito forte para as empresas globais - com base na identificação das vantagens em termos de internacionalização da empresa e para uma determinada zona, será possível determinar o modo de penetração mais adequado: a empresa adoptará a sua actividade

31 internacional através da concretização das vantagens acima indicadas – a modalidade de investimento só será exequível com a conjugação dos três tipos de vantagens; no caso da vantagem localização ser insuficiente, as modalidades exportação e licenciamento deverão ser consideradas (Dunning, 2008).

Cada uma destas opções supõe diferenças consideráveis a respeito do grau de controlo que a empresa pode exercer sobre a operação externa, os recursos que deve comprometer e o risco que deve suportar. Neste âmbito, o controlo diz respeito ao poder da empresa em influenciar os sistemas, métodos e decisões relativas às operações nos mercados externos. O compromisso traduz o conjunto de recursos disponibilizados a activos físicos, humanos e organizacionais, relativos a actividades internacionais. Quanto ao risco, apresenta uma correlação positiva com o grau de compromisso, ou seja, quanto maior o grau de compromisso, maior será o risco do investimento (Dunning 2008). Dunning concluiu existir uma relação entre o nível do desenvolvimento do país e a sua posição em termos de investimento internacional bem como uma relação biunívoca entre ambos os factores e os fluxos de investimento estrangeiro.