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CAPÍTULO III – SER DOCENTE NO IFPB

3.2 IMPLICAÇÕES E PRÁTICAS

3.2.1 Adesão

3.2.1.1 Os modos de ser professor

O professor constrói relações pedagógicas criando e recriando suas práticas. Na trama dessas relações, vai assumindo seu modo de ser professor, engajando-se à proposta pedagógica da instituição, para cuja construção contribui participando da ação coletiva que envolve toda a comunidade escolar, e colocando em prática seu cabedal de conhecimentos específicos adquiridos ao longo de sua formação.

No caso da integração curricular, parece-nos indubitável o fato de que as diferentes perspectivas evidenciadas pelos professores inseridos nesse processo podem gerar ambivalências e contradições mas também, simultaneamente, podem favorecer o surgimento de novas formas de conceber a ação docente, sinalizadoras dos sentidos atribuídos a esse modo de integração e das escolhas feitas ao compasso de suas existências, que se vão refletir, fatalmente, em sua atuação profissional.

Para alguns, a influência familiar é determinante na escolha da profissão. É esse, pelo menos o ponto de vista defendido pelo professor Matheus, que assim enuncia: “Antigamente toda família tinha que ter um padre, um médico e um professor. Essa influência familiar já vinha no sangue. Tinha tios professores". Não obstante, havemos de convir que essa escolha, na maioria das vezes, liga-se à própria condição de subsistência da família ou ainda a tantos outros fatores externos − como o fato de serem esses sujeitos muito jovens e, por isso, estarem mais propícios a sofrer influências de vária natureza nesse processo decisório −, nada tendo a ver com a sua vontade de ser professor. Mas vale ressalvar, quanto a essa particularidade, que essa incerteza no que concerne ao futuro profissional não é algo inerente à esfera da atividade docente; reserva-se aos demais campos de atuação profissional. No caso do professor Matheus, mesmo reconhecendo a influência familiar na escolha da profissão, verifica-se uma tomada de decisão bem consciente e objetiva: “Quando fiz a opção pela docência, já entrei na profissão certo do que queria”. O professor João pautou seu modo de ser professor mirando- se em exemplo familiar: “Na engenharia, a minha referência foi um tio”; e nos saberes de sua

própria experiência no exercício da profissão: “A docência foi construída aos poucos, desde a graduação, ministrando aulas particulares de Física e Matemática”. Como fica evidenciado em seus discursos, ambos os professores – por diferentes caminhos − optaram por sua carreira profissional mais ou menos influenciados por exemplos familiares. Bem similar ao que se deu com o professor Marcos: “Eu tenho um irmão que é professor do IF também. Então, ele me conduziu a fazer o concurso”.

Em contrapartida, situa-se o caso do professor Pedro, cuja identidade docente não parece estar ainda bem consolidada, embora se tenha forjado no decurso de sua formação acadêmica: “Entrei num grupo de pesquisa e a docência foi meio natural; eu me descobri professor. Sou bacharel; não sou professor". Por seu enunciado, podemos, afirmar que o referido professor vivencia uma indefinição identitária no plano profissional. E o mais estranho é que esteja no exercício da docência há mais de 20 anos sem haver construído um modo de ser professor que possa associá-lo à sua identidade profissional. A identidade do docente com a profissão seria, então, constituída num processo dinâmico diretamente relacionado ao contexto social no qual está inserida, de modo que foi necessário romper com a tradicional fragmentação entre formação inicial e continuada, indicando a sua evolução e continuidade ao longo da carreira profissional. Para Saviani (1996), a constituição do educador se dá, no “ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos indivíduos”.

Experiência diferente é relatada pela professora Ana, em justificativa à sua escolha profissional: “Numa família de 07 filhos, pessoas pobres e humildes, a vida colocou uma saída, que foi a de terminar o ensino médio e fazer licenciatura, porque o retorno era algo mais rápido. A minha escolha pela docência surgiu de dois irmãos que me influenciaram − um no teatro e outro na escola − na prática em sala de aula, na metodologia, na busca pela teoria; uma professora de educação artística e um mestre, que me ensinaram a estudar na universidade. Ambos me influenciaram”. Por semelhantes motivações, o professor José fez sua opção: “A escolha pela docência, primeiro, foi a necessidade. [...] sou de uma família humilde; o meu pai era agricultor e via o estudo como fundamental para meu crescimento”. Nessa mesma direção, caminhou a professora Maria: “Como era de família simples, tinha essa necessidade de estudar e trabalhar. As pessoas se submetem a ser professor não por uma opção, mas por uma necessidade”. Em termos parelhos, o professor Antônio constrói sua identidade docente. Isso levando em conta o fato de haver ele começado a ministrar aulas no turno noturno – além de seu trabalho numa empresa de engenharia elétrica no período diurno −, em decorrência de uma necessidade de sobrevivência. Segundo acredita, foi essa

aproximação com o trabalho no setor industrial, obrigando-o a essa imersão singular na esfera educacional, que o conduziu à carreira docente.

Todos esses discursos revelam, pela força do testemunho que aí se presta, os mais singulares modos de constituição do ser docente e do estar na docência. Na linha dessas revelações, sobressai, como regularidade (ou seja, como informação mais reiterativa das falas), o fato de serem os sujeitos pesquisados, em sua maioria, descendentes de pais com baixo nível de escolaridade, o que, quase naturalmente, os induziu a escolher a docência como ancoragem profissional. Também decorrente da análise desses discursos, subentendemos que a prática docente pode ser vista, em consonância com a concepção de Sacristan (1999), como cultura objetivada, compondo a cultura escolar, na forma de um legado compartilhado e modificado pelos professores, que, ao ser assumido, faz com que estes participem das ações dos demais professores, dividindo condutas, crenças, formas de compreensão, valores e emoções. Segundo o autor, isso diz respeito aos esquemas de comportamento profissional que edificam a prática docente e que se reproduzem e dão continuidade a modelos pedagógicos estabelecidos nessa prática.