• Nenhum resultado encontrado

Os Movimentos Sociais e a Educação do Campo

No documento Download/Open (páginas 32-34)

I. CAPÍTULO I REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

2. CAPÍTULO II – CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO DO CAMPO

2.3 Os Movimentos Sociais e a Educação do Campo

As primeiras manifestações populares no contexto rural brasileiro têm como marco de origem a Revolta de Canudos, ocorrida na Bahia, entre os anos de 1896 a 1897, e posteriormente o Contestado, em Santa Catarina, ocorrido entre 1912 e 1916. Os dois movimentos foram originados de situações de exclusão derivada da pobreza e do abandono a qual foi relegada a população rural no Brasil, desde o início de sua história. Ambos os movimentos foram implacavelmente debelados pelas classes dominantes.

2

Conceito de Habitus elaborado por Bourdieu em sua obra A Reprodução consiste em um sistema de disposições duradoras, de modos de perceber, pensar, sentir, fazer que levam os indivíduos a agir de determinada forma, quando sob certas condições. Estas disposições não são mecânicas nem determinísticas. São adquiridas em decorrência da interiorização das estruturas sociais.

31 As lutas de enfrentamento à exclusão da população a escolarização realizados nos movimentos pela reforma agrária, da década de 1960 por diante, vão fornecer elementos para uma mudança de concepção de educação popular.

Até este momento histórico o conceito de educação popular era compreendido pelas classes populares, como o direito à escolaridade para as camadas populares, contudo, no momento em que os movimentos sociais que buscavam a reforma agrária passam a incluir na sua pauta de luta a educação para os povos do campo, “a educação popular passa a ser entendida, não só como um direito de cidadania, mas como a necessidade de encontrar caminhos para um processo educativo, mas também, político, econômico, social e cultural.” (JESUS Apud MOLINA, 2006, p.69)

O II Congresso Nacional de Educação de Adultos significou um marco histórico dessa mudança de concepção, em especial devido a atuação de Paulo Freire, quando na condição de relator no Seminário Regional de Pernambuco, convoca os educadores a realizarem um trabalho com o homem e não para o homem.

Esta mudança de perspectiva introduzida por Freire possibilita a educação popular a perceber (educadores e educandos), num processo onde “educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que sabem que pouco sabem...” (FREIRE,1983, p.25)

Sobre este momento de transformações, Jesus nos esclarece que:

As práticas desenvolvidas nesse período cunharam uma concepção de educação popular, com um conjunto de práticas que se realizam e se desenvolvem dentro do processo histórico no qual estão imersos os setores populares, ela deve ser compreendida também como estratégia de luta para a sobrevivência e libertação desses setores. (JESUS Apud MOLINA, 2006, p.70)

Esta nova concepção de educação popular arregimentou muitos setores da sociedade brasileira em defesa da escola, surgindo assim movimentos e organizações que concorreram para as concepções de educação do campo que conhecemos na atualidade.

Dentre estes, citamos os movimentos de educação popular, dentro do qual identificamos o Movimento de Cultura Popular – MCP, que foi criado em Pernambuco em 1960, tendo por meta a elevação da cultura do povo, preparando-o para a vida e para o trabalho, desenvolvendo programas de alfabetização e educação de base. O supracitado movimento foi imprescindível à pesquisa educacional, que irá referenciar a elaboração do método Paulo Freire.

Em 1961, a União Nacional dos Estudantes – UNE, cria os Centros Populares de Cultura que contribuiu fortemente para a politização da educação popular sobre as questões sociais. A UNE atuava principalmente com teatro de rua, mas também editou livros, produziu filmes e discos que salientavam a importância da alfabetização para a transformação social do país, tendo como condição a politização das massas.

Mencionamos ainda, dois outros movimentos identificados como sendo de educação popular, sendo eles a Campanha De Pé no Chão também se aprende a ler, realizada em Natal pela Secretaria Municipal de Educação, também em 1961, e ainda, O Movimento de Educação de Base –MEB, que se voltou às classes camponesas, por meio dos sindicatos rurais, trabalhando nas escolas rurais e paróquias na formação de lideranças, utilizando como recurso o rádio, conforme nos aclara Paiva (1985).

Ainda considerados como movimentos de educação popular que tiveram sua contribuição na trajetória histórica de construção da atual educação do campo, podemos citar os movimentos da ação católica, conhecidos como Juventude Agrária Católica - JAC, Juventude Estudantil Católica - JEC, Juventude Independente Católica - JIC, Juventude Operária Católica - JOC e Juventude Universitária Católica - JUC que desenvolviam uma metodologia chamada Revisão de Vida, que ficou célebre como método ver-julgar-agir, pois

32 propunha conhecer a realidade de vida dos jovens, que seria o momento do ver, pôr em confronto os desafios da realidade descortinada com a fé, sendo este o momento do julgar, e por último, o agir, onde considerando os passos anteriores, se definiria e executaria ações que visassem à transformação social em que os sujeitos viviam. Segundo a Ação Católica Operária (1985) sua metodologia dar ênfase a formação na ação.

A JEC iniciou as discussões ideológicas e políticas que a levaram a se constituir numa organização comunista inclusive durante o período da ditadura militar.

Houve organizações que trouxeram a luta dos camponeses para a visibilidade necessária para chegar ao ponto de provocar mudanças, consideramos para este estudo como as maiores as Ligas Camponesas criadas em Pernambuco em 1955, que iniciou um movimento pela reforma agrária que se irradiou pelo Nordeste do País. O Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master) surgido em 1950 no Rio Grande do Sul, que inaugurou como estratégia de luta e resistência a instalação de acampamento em terras de posse de latifundiários. E por fim, a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura – Contag, que foi a primeiro sindicato camponês do país, criado em 1963, que também defendia a reforma agrária como forma de acesso a melhores condições de vida para os trabalhadores do campo.

No documento Download/Open (páginas 32-34)

Documentos relacionados