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OS MUNICÍPIOS FRONTEIRIÇOS DA REGIÃO DAS AGULHAS NEGRAS

4 A REGIÃO DAS AGULHAS NEGRAS E SEU CONRETUR

4.2 OS MUNICÍPIOS FRONTEIRIÇOS DA REGIÃO DAS AGULHAS NEGRAS

A região das Agulhas Negras possui uma tríplice fronteira entre os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais (Figura 16). O município de Itatiaia tem fronteira com Bocaina de Minas (MG), Quatis tem fronteira com Passa-Vinte (MG) e Resende possui fronteira com os municípios de Areias (SP), Queluz (SP), São José do Barreiro (SP), Bananal (SP), Arapeí (SP), Bocaina de Minas (MG), Passa Quatro (MG), Itamonte (MG), Itanhandu (MG) e Passa-Vinte (MG).

Figura 16 – A região das Agulhas Negras e suas fronteiras

Entre os municípios paulistas, destacamos aqui São José do Barreiro e Bananal, que são considerados estâncias turísticas. De acordo com o governo do estado de São Paulo (2017, s.p.), a categoria estância turística “qualifica a cidade por oferecer condições de lazer, recreação, recursos naturais e culturais específicos”. Os setenta municípios do estado que possuem essa classificação possuem infraestrutura e serviços direcionados ao turismo, seguem legislação específica e pré-requisitos para essa qualificação. Ambos fazem parte da região turística “Vale do Paraíba e Serras”. (OLIVEIRA, 2016).

De acordo com o IBGE (2017), São José dos Barreiros é conhecida como o ‘Paraíso do Trekking’ no Brasil, principalmente devido à travessia de três dias pela antiga trilha do ouro, que ligava Minas Gerais ao litoral. Possui ainda diversas fazendas de café, cachoeiras, trilhas e é a porta de entrada oficial do Parque Nacional da Serra da Bocaina, que conta com inúmeros esportes de aventura como mountain bike, off road, cavalgada, rampa para voo livre e esportes náuticos na represa do Funil. (IBGE, 2017)

Bananal se destaca pelas paisagens e casarios coloniais construídos por barões e comendadores do ciclo do café, preservando uma arquitetura colonial em estilo neoclássico, além de fazendas com rico acervo cultural e remanescentes da Mata Atlântica. (IBGE, 2017).

Dos municípios mineiros, Itamonte, Itanhandu e Passa Quatro fazem parte do circuito turístico “Terras Altas da Mantiqueira”. De acordo com a Secretaria de turismo de Minas Gerais, os circuitos turísticos:

abrigam um conjunto de municípios de uma mesma região, com afinidades culturais, sociais e econômicas que se unem para organizar e desenvolver a atividade turística regional de forma sustentável, consolidando uma identidade regional. O trabalho destas entidades se dá por meio da integração contínua dos municípios, gestores públicos, iniciativa privada e sociedade civil, consolidando uma identidade regional e protagonizando o desenvolvimento por meio de alianças e parcerias. (SETUR MG, 2017, s.p.)

Ainda de acordo com a SETUR MG, o estado possui 45 circuitos turísticos certificados, envolvendo todas as regiões de Minas e aproximadamente 450 municípios regionalizados.

De acordo com a Associação Terras Altas da Mantiqueira - ATAM (2017), este foi o primeiro circuito turístico de Minas Gerais, criado em meados de 1998 como uma estância climática voltada para o desenvolvimento do turismo nos municípios de Aiuruoca, Alagoa, Itamonte, Itanhandu, Passa Quatro, Pouso Alto, São Sebastião do Rio Verde e Virgínia.

Em 2000, o deputado Manoel Costa, idealizador do circuito, foi convidado a assumir a Secretaria de Estado de Turismo e todo o Estado de Minas Gerais passou a adotar uma política pública baseada na descentralização, interiorização e integração regional para desenvolvimento do turismo, baseada na criação de circuitos turísticos, e antecipando conceitos que passariam a ser política nacional em 2003 (ATAM, 2017).

O circuito Terras Altas da Mantiqueira forma um conjunto de unidades de conservação, incluindo o Parque Nacional do Itatiaia (sua área no município de Itamonte), a Floresta Nacional de Passa Quatro e o complexo da Serra do Papagaio, e, dentre seus maiores patrimônios, estão as Agulhas Negras, o Alto do Capim Amarelo, a Pedra da Mina e o Pico dos Três Estados (ATAM, 2017). Seus municípios também integram a Estrada Real, uma rota turística baseada nas três primeiras estradas oficiais do Brasil, que visavam fiscalização e controle do ouro, de pessoas e de mercadorias entre a região das minas e o litoral, ligando Paraty, no Rio de Janeiro e o antigo Arraial de Tejuco (hoje Diamantina) à região de Vila Rica (hoje Ouro Preto) (ATAM, 2017).

Os municípios de Bocaina de Minas e Passa-Vinte não fazem parte de nenhum circuito turístico de Minas Gerais, o que não significa que não possuem atrativos turísticos. De acordo com o jornal online Correio do Papagaio (2017), Passa-Vinte possui cachoeiras, grutas e pedreiras como atrativos turísticos, além da antiga estação de ferroviária cujo horário do trem denominou a cidade.

Bocaina de Minas possui atrativos como cachoeiras, artesanato e culinária, destacando-se o distrito de Mirantão (com construções no estilo colonial, vista para o Pico do Itatiaia e a Pedra Selada), a vila de Santo Antônio do Rio Grande (rodeada por montanhas das quais vertem córregos que se precipitam em várias cachoeiras) e a vila de Maringá- MG, localizada na fronteira com o Rio de Janeiro que faz parte do destino turístico conhecido como Região de Visconde de Mauá. (BOCAINA DE MINAS, 2017). Esse

destino, por sua vez, faz parte da região turística das Agulhas Negras, destacando-se, assim, neste estudo.

Destaca-se que o fato de não pertencer a nenhum circuito turístico de Minas Gerais significa perda de vantagens financeiras para esses municípios. Dentre as ações de fomento que o estado de Minas oferece para o desenvolvimento da atividade turística está o repasse de ICMS estadual para municípios que atendem alguns critérios relacionados à atividade turística. Fazer parte de um circuito turístico é um deles (MINAS GERAIS, 2014).

O percentual do ICMS turístico repassado aos municípios é definido por uma fórmula matemática (estabelecida pela lei estadual nº 18.030/09) que atribui notas relativas à organização turística do município, de todos os municípios habilitados e um índice de receita corrente líquida per capita de cada município (MINAS GERAIS, 2014). Esse cálculo é realizado anualmente e depende da comprovação que o município possui um sistema de planejamento e gestão de turismo completo e atuante, de acordo com os seguintes critérios:

1. Participar de um Circuito Turístico reconhecido pela SETES- MG, nos termos do Programa de Regionalização do Turismo no Estado de Minas Gerais;

2. Ter elaborada e em implementação uma Política Municipal de Turismo;

3. Possuir Conselho Municipal de Turismo (COMTUR), constituído e em REGULAR funcionamento, e;

4. Possuir Fundo Municipal de Turismo (FUMTUR), constituído e em REGULAR funcionamento. (MINAS GERAIS, 2014, p. 47)

Assim, subentende-se que, apesar dos municípios de Passa-Vinte e Bocaina de Minas possuírem recursos turísticos, a gestão da atividade não se desenvolveu a ponto de cumprir com os requisitos básicos para reconhecimento por parte do governo estadual mineiro.

Ainda de acordo com a legislação mineira (Resolução 007/2003 que trata do certificado de reconhecimento dos Circuitos Turísticos), os municípios mineiros podem fazer parte de circuitos que englobam municípios fronteiriços:

Artigo 3º - Os Circuitos Turísticos poderão ser constituídos por municípios pertencentes aos Estados Federados limítrofes a Minas Gerais, devendo apresentar em sua composição um

número igual ou maior de municípios mineiros (MINAS GERAIS, 2003).

Ressalta-se, entretanto, que os municípios de Bocaina de Minas, Itamonte, Resende, Itatiaia, Quatis e Porto Real não poderiam ser considerados parte de um circuito mineiro, pois a maioria das cidades estaria em território fluminense, contrariando o que versa essa legislação.

A próxima seção aborda as origens da criação do Conselho Regional de Turismo das Agulhas Negras, incluindo as razões pelas quais ele ficou restrito aos municípios do estado do Rio de Janeiro.

4.3 A GESTÃO DESCENTRALIZADA DO TURISMO E A CONSTITUIÇÃO DO