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1.7 O CORPO, SUAS SIGNIFICAÇÕES E EXPECTATIVAS NA

1.7.3 OS PADRÕES ESTÉTICOS E AS EXPECTATIVAS DE

Refletindo sobre o momento atual, podemos perceber que a febre de culto ao corpo, muito mais direcionado à estética corporal, influencia o comportamento das pessoas que procuram academias de ginástica e institutos/clinicas estéticas, spas, na busca da aquisição do padrão ideal de beleza. Esta busca ansiosa, frustra, cria rejeições corporais nas pessoas que não se encaixam no estereótipo elaborado preconceituosamente pela cultura moderna. O homem contemporâneo valoriza apenas o aspecto externo do indivíduo, uma visão parcial do corpo em busca da forma física ideal, distanciando-se da visão de corpo cuidado: visão na qual o indivíduo transforma, recria os estereótipos corporais, através dos conhecimentos e autoconhecimentos de modo reflexivo, em ser humano presente de forma integral.

Processos culturais são, em grande parte, os responsáveis pela definição de padrões estéticos e da própria beleza corporal constituindo-se em intervenções da cultura sobre o corpo, por condicionarem a percepção que dele se tem. Esses padrões, bem como a concepção de beleza corporal, sofrem variações conforme os diferentes contextos culturais que se sucedem ou coexistem no tempo e no espaço.

A beleza assume importância para as mulheres, e a sua insatisfação neste domínio, pode ter impacto negativo sobre sua auto-estima. QUEIROZ diz que,

Sendo o corpo fundamental para a atratividade feminina e como esta é o elemento essencial de sua auto-imagem, é possível prever que o peso e a satisfação com respeito a ele sejam determinantes para a satisfação integral da mulher. É comum que elas se vejam acima do peso, mesmo quando efetivamente tal percepção não corresponde à realidade. O número de mulheres que fazem regime para emagrecer é tão elevado que o padrão alimentar “normal” delas, em países ocidentais, poderia ser caracterizado como uma permanente dieta (2000, p. 57).

A auto-estima é o indicador mais amplamente aceito de saúde emocional e de bem estar, que, por isso, deve ser uma preocupação do professor de educação física. A auto- estima está associada com a felicidade pessoal, com a satisfação e a estabilidade mental. A pratica de atividade física regular pode auxiliar no tratamento, manutenção de baixos níveis de ansiedade e elevados de auto-estima. Segundo FOX,

A atividade física pode ser um veículo para o desenvolvimento de aspectos da auto- estima como aceitação social e um sentido de controle comportamental. É importante que prestemos atenção às percepções das capacidades físicas como a aptidão física ou às habilidades esportivas, porque elas são preditoras da auto- estima geral e do envolvimento na atividade física (1988, p.66).

A educação física escolar pode atrair os jovens para praticar a atividade física durante a vida toda, através da educação reflexiva que recria, transforma os preconceitos em conceitos de beleza corporal que podem ser construídos mantendo elevados os níveis de auto-estima. O que se percebe, é que as crianças estão saindo da escola sentindo que as aulas de educação física e a atividade física não tem nada a oferecer, ou até é uma fonte potencial de ameaça à auto-estima.

Em estudo tendo como base anúncios da seção “classline” do jornal Folha de São Paulo, em 21 de março de 1999, para determinar a importância da beleza como critério de seleção de parceiros, verificou-se que os homens (45%) solicitaram o atributo, beleza em parceiras potenciais. As mulheres (18%) solicitaram esse atributo em parceiros potenciais (QUEIROZ, 2000, p. 55).

A percepção e as expectativas que uma pessoa tem de outra, sejam elas favoráveis ou desfavoráveis, condicionam o modo como os indivíduos se posicionam no processo interativo, sem que os envolvidos necessariamente se dêem conta disso. Neste caso, a aparência – traços fenotípicos, posturas, gestos, vestimentas etc. – desempenham um papel essencial. O corpo tem diferentes representações dependendo da classe social a que o individuo pertença. As subjetivações valorizadas são os padrões estéticos de beleza. Neste sentido, QUEIROZ diz que

A valorização da “magreza” é mais intensa nas camadas superiores. Nos segmentos subalternos, para os quais a força muscular desponta como atributo de maior valor, os padrões estéticos tendem a corresponder a uma elevada intensidade da atividade física, enquanto os indivíduos das classes dominantes conferem maior importância às atividades intelectuais, alimentando um conjunto de representações estéticas correlatas (2000, p.59).

Nas sociedades ocidentais modernas, estabelece-se uma identidade entre beleza corporal, inteligência e poder aquisitivo elevado. Segundo este mesmo autor, a expectativa é que pessoas bonitas sejam capazes e bem-sucedidas. Também, o grau de tolerância em relação às transgressões quotidianas é geralmente maior quando os transgressores melhor correspondem ao ideal de beleza estabelecido. Até mesmo para os criminosos a atratividade física pode contribuir para atenuar a punição legal, garantido- lhes penas mais brandas (2000, p. 59).

A existência humana, em todos os seus aspectos, configura-se, pois, como manifestação de modos de agir, pensar e sentir concebidos no ventre fecundo da nossa condição naturalmente cultural. O corpo e os usos que dele fazemos, bem como as vestimentas, adornos, pinturas e ornamentos corporais, as práticas corporais, tudo isso constitui, nas mais diversas culturas, um universo no qual se inscrevem valores, significados e comportamentos, cuja compreensão e crítica reflexiva se fazem necessárias, principalmente no espaço educacional.

1.7.3.1 ALGUNS DOS PRECONCEITOS CORPORAIS

Existem diferenças nos sistemas de regras que regem as relações entre os indivíduos e seus corpos, de acordo com as camadas sociais a que pertencem. A relação do individuo com o próprio corpo parece ser menos consciente quanto mais intenso o seu uso, ou seja, quanto maior o esforço físico despendido, nas camadas inferiores da hierarquia social, o uso do corpo é bastante intenso, os indivíduos se utilizam do corpo como força de trabalho. Nas camadas superiores da hierarquia social, decresce o volume de trabalho manual em favor de atividades intelectuais, com o que os indivíduos alteram o sistema de regras que regem as relações com os seus corpos, tornando-se mais conscientes do seu uso e dedicando a ele, cuidados mais atentos e sofisticados. Para QUEIROZ,

Uma maior preocupação com a manutenção da forma física e da valorização “da graça“, maleabilidade e flexibilidade corporais são mais comuns e intensas nos segmentos abastados do que nas camadas subalternas. Duas pessoas de mesma corpulência física serão consideradas magras nas classes populares e gordas nas superiores, este exemplo mostra como a condição econômica e a estrutura de classes interferem e impõem regras ao corpo (2000, p. 37).

Um outro preconceito construído socialmente e culturalmente está relacionado com a verticalidade e horizontalidade do corpo do ser humano.

A verticalidade do corpo humano, derivada do bipedismo da espécie, permite atribuir significados a diferentes partes dessa linha somática longitudinal. O simbólico vai criando uma topografia com áreas côncavas e convexas, que separa o exterior – anatomia - do interior – fisiologia. O simbólico cria nessa e a partir dessa verticalidade uma verdadeira geografia ou espaço corporal segmentado em áreas proibidas e não- proibidas, louvadas e desqualificadas, superiores e inferiores, belas e feias, atraentes e repugnantes. Esses pormenores, plenos de significados, são a fonte geradora de sentimentos ligados ao pudor, à sexualidade, à beleza, ao nojo.

Segundo QUEIROZ, a horizontalidade é a negação do humano e da vida, é uma posição corporal inerte, ou está carregada de simbolismo ligado à morte, também é indicadora de uma horizontalidade do indivíduo no plano social, (2000, p. 71). Este sentido da horizontalidade também pode se referir a estatura ou altura que os corpos das pessoas atingem, ou seja, o indivíduo de estatura alta, logelíneo se encontra distante do plano horizontal, o que pode representar ser hierarquicamente e socialmente vitorioso, já o indivíduo de estatura baixa, brevilíneo se encontra mais próximo do plano horizontal, do chão, o que pode representar ser hierarquicamente e socialmente derrotado.

A representação verticalizada do corpo humano é o que permite dividi-lo, em uma escala de qualificação-desqualificação, em parte superior e parte inferior, e a luz de critérios simbólicos ou classificatórios, as diferentes partes do corpo dão margem a representações variadas. A porção superior, mais nobre é associada às funções mais relevantes. A sede da razão, do pensar e do fazer dos seres humanos, faculdade que mais os distinguiria dos animais. A porção inferior do corpo, que se inicia no abdômen e vai até os membros inferiores, onde se abrigam os órgãos sexuais, chamada de baixo

corporal. É no baixo corporal que estão as áreas mais pudoradas do corpo humano na

cultura ocidental. É uma espécie de área diabólica e divina, ao mesmo tempo, pois nela reside o ponto central do erótico, que é uma mistura entre sexualidade e a reprodução da vida. Reúne os órgãos considerados mais animalescos e “indignos”, em geral escondidos e dissimulados, assim como as funções que lhes correspondem, posto que nos aproximam ameaçadoramente da condição animal, da própria natureza.

1.8

ÉTICA PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA A PARTIR DA ÓTICA DO

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