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os povos indíGenas e outras comunidades com sistemas

No documento a Governança Responsável (páginas 44-50)

reconhecimento jurídico e cessão de direitos e deveres

9 os povos indíGenas e outras comunidades com sistemas

tradicionais de posse

9.1 Os atores estatais e não estatais devem reconhecer que a terra e os recursos pesqueiros e florestais encerram um valor social, cultural, espiritual, econômico, ambiental e político para os po- vos indígenas e outras comunidades com sistemas tradicionais de posse.

9.2 Os povos indígenas e outras comunidades com sistemas consue- tudinários de posse que exercem a autogovernança das terras, das áreas pesqueiras e das florestas devem promover e oferecer direitos equitativos, seguros e sustentáveis sobre esses recursos, e cuidar especialmente para que as mulheres tenham acesso equitativo a esses direitos. Nas decisões referentes aos sistemas de posse da terra, deve-se promover a participação efetiva de to- dos os membros desses sistemas, tanto homens como mulheres e jovens, por meio de suas instituições locais ou tradicionais, es- pecialmente no caso dos sistemas de posse coletiva. Deve-se dar às comunidades assistência para que possam incrementar a ca- pacidade de seus membros de participar plenamente da tomada de decisões e da governança fundiária, quando necessário. 9.3 Os Estados devem garantir que todas as ações se ajustem às obri-

gações existentes no âmbito do direito nacional e internacional, considerando-se os compromissos voluntários assumidos em vir- tude dos instrumentos regionais e internacionais aplicáveis. No caso dos povos indígenas, os Estados devem cumprir com suas obrigações e compromissos voluntários pertinentes, a fim de pro- teger, promover e aplicar os direitos humanos, incluídos aqueles derivados da Convenção nº 169 sobre Povos Indígenas e Tribais em Países Independentes da Organização Internacional do Tra- balho, da Convenção sobre a Diversidade Biológica e da Decla- ração das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas.

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9.4 Os Estados devem oferecer reconhecimentos e proteção ade- quados aos direitos legítimos de posse dos povos indígenas e de outras comunidades com sistemas tradicionais de posse, em concordância com as obrigações no âmbito do direito nacio- nal e internacional, levando-se em conta os compromissos vo- luntariamente assumidos em razão dos instrumentos regionais e internacionais aplicáveis. Nesse reconhecimento, devem ser consideradas a terra, as áreas pesqueiras e as florestas que uma comunidade utiliza exclusivamente e aquelas que ela comparti- lha, além de se respeitarem os princípios gerais da governança responsável. As informações sobre o reconhecimento devem ser divulgadas em local acessível, de forma apropriada, que seja compreensível nos idiomas pertinentes.

9.5 Onde os povos indígenas e outras comunidades com sistemas tradicionais de posse têm direitos legítimos de posse das terras ancestrais em que vivam, ali os Estados devem reconhecer e proteger tais direitos. Os povos indígenas e outras comunidades com sistemas tradicionais de posse não devem sofrer despejos forçados dessas terras ancestrais.

9.6 Os Estados devem considerar a adaptação de seus marcos po- líticos, jurídicos e organizacionais para reconhecer os sistemas de posse dos povos indígenas e de outras comunidades com sistemas tradicionais de posse. Se as reformas constitucionais ou jurídicas reforçam os direitos das mulheres e as colocam em situação de conflito com os costumes, todas as partes devem cooperar para que essas mudanças sejam incorporadas aos siste- mas consuetudinários de posse.

9.7 Ao elaborar as políticas e as leis sobre a posse da terra, os Esta- dos devem considerar os valores sociais, culturais, espirituais, econômicos e ambientais da terra e dos recursos pesqueiros e florestais, sujeitos a sistemas de posse, dos povos indígenas e de outras comunidades com sistemas tradicionais de posse. Todos

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os membros das comunidades interessadas ou seus representan- tes, incluídas as pessoas vulneráveis e marginalizadas, devem poder participar de maneira plena e efetiva na elaboração das políticas e das leis relacionadas com os sistemas de posse dos povos indígenas e de outras comunidades com sistemas tradi- cionais de posse.

9.8 Os Estados devem proteger os povos indígenas e outras co- munidades com sistemas tradicionais de posse do uso não au- torizado de suas terras, áreas de pesca e florestas por parte de terceiros. Se a comunidade não se opuser, os Estados devem colaborar na documentação e na divulgação das informações sobre a natureza e a localização da terra, das áreas de pesca e das florestas que a comunidade utiliza e controla. Quando os direi- tos de posse dos povos indígenas e de outras comunidades com sistemas tradicionais de posse forem documentados oficialmen- te, esses direitos devem ser registrados junto aos demais direitos de posse públicos, privados e comunitários, com o objetivo de evitar reclamações conflitantes.

9.9 Os Estados e as outras partes devem fazer, de boa-fé, pesquisas com os povos indígenas antes de iniciar qualquer projeto, ou antes de adotar ou aplicar medidas legislativas ou administrati- vas que possam afetar os recursos sobre os quais as comunidades possuam direitos. Os projetos devem basear-se em uma consul- ta efetiva e significativa aos povos indígenas, por intermédio de suas próprias instituições representativas, a fim de obter seu consentimento livre, prévio e informado, de acordo com a De- claração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indíge- nas, e levando em conta as posições e as opiniões particulares de cada Estado. Os processos de consulta e de adoção de decisões devem organizar-se sem intimidações e desenvolver-se em um clima de confiança. Os princípios de consulta e de participação estabelecidos no parágrafo 3B, item 6, devem ser aplicados no caso de outras comunidades descritas nesta seção.

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9.10 Os atores estatais e não estatais devem procurar, quando ne- cessário, em conjunto e em cooperação com as instituições representativas das comunidades afetadas, oferecer assistência técnica e jurídica a fim de que essas comunidades participem da elaboração de políticas, leis e projetos sobre o tema da posse da terra, de forma não discriminatória e com sensibilidade diante das questões de gênero.

9.11 Os Estados devem respeitar e promover os enfoques consuetu- dinários utilizados pelos povos indígenas e por outras comu- nidades com sistemas tradicionais de posse para a solução de conflitos de posse nas comunidades, em conformidade com as obrigações existentes no âmbito nacional e internacional, con- siderando os compromissos voluntários assumidos em virtude dos instrumentos regionais e internacionais aplicáveis. Quando a terra e os recursos pesqueiros e florestais são utilizados por mais de uma comunidade, deve-se reforçar ou criar instrumen- tos destinados à solução dos conflitos entre comunidades. 9.12 Os atores estatais e não estatais devem impedir a corrupção rela-

cionada aos sistemas de posse dos povos indígenas e de outras co- munidades com sistemas tradicionais de posse da terra, mediante a consulta e a participação, empoderando, assim, as comunidades.

10 posse informal

10.1 Quando existir a posse informal de terras, áreas pesqueiras e florestais, os Estados devem reconhecê-la de tal maneira que a posse respeite os direitos formais vigentes de acordo com a legislação nacional, de forma que se reconheça a realidade da situação e se fomente o bem-estar social, econômico e ambien- tal. Os Estados devem promover políticas e criar legislações a fim de reconhecer a posse informal. O processo de estabelecimento

dessas políticas e legislações deve ser participativo, sensível ante as questões de gênero e oferecer apoio técnico e jurídico para as comunidades e indivíduos afetados. Os Estados devem, em par- ticular, reconhecer o surgimento do direito de posse informal, produto das migrações em grande escala.

10.2 Os Estados devem garantir que todas as ações referentes à posse informal se ajustem às obrigações existentes no âmbito do di- reito nacional e internacional, considerando os compromissos voluntários assumidos em virtude dos instrumentos regionais e internacionais aplicáveis, em particular, nesse caso, os relativos ao direito a uma moradia adequada.

10.3 Sempre que os Estados reconhecerem legalmente a posse in- formal, devem fazê-lo por meio de processos participativos, levando em conta a perspectiva de gênero e com especial con- sideração com os ocupantes. Nesse sentido, os Estados devem prestar atenção especial aos agricultores e aos produtores em pequena escala de alimentos. Os processos devem facilitar o acesso aos serviços de legalização e minimizar os custos. Os Es- tados devem facilitar apoio técnico e jurídico às comunidades e aos participantes.

10.4 Os Estados devem adotar todas as medidas apropriadas com a finalidade de limitar a posse informal resultante da comple- xidade excessiva nos requisitos legais e administrativos para a mudança do uso e da exploração da terra. Para facilitar os pro- cedimentos de cumprimento, os requisitos e processos relacio- nados com a exploração devem ser claros, simples e acessíveis. 10.5 Os Estados devem eliminar a corrupção, em particular aumen-

tando a transparência, sujeitando os responsáveis pela tomada de decisões à obrigação de prestar contas, e assegurando que as decisões, produto de um processo imparcial, sejam postas em prática sem demora.

10.6 Quando não for possível um reconhecimento legal da posse informal, os Estados devem impedir os despejos forçados que contradigam as obrigações existentes no âmbito do direito na- cional e internacional, em conformidade com as disposições pertinentes da Seção 16.

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Nesta parte, aborda-se a governança fundiária e dos recursos pesqueiros e florestais quando os direitos e deveres conexos em vigor são transferidos ou realocados, voluntária ou involuntariamente, por meio de operações do mercado, das transações sobre direitos fundiários como resultado de investimentos, da aglutinação de parcelas e de outras formas de reorde- namento, restituição, redistribuição ou desapropriação.

11 mercados

11.1 Quando cabível, os Estados devem reconhecer e facilitar a ven- da e o arrendamento justo e transparente como meio de trans- ferir os direitos de uso e propriedade da terra e dos recursos pesqueiros e florestais. Quando existe comércio dos direitos de posse, os Estados devem garantir que todas as ações se ajustem às obrigações existentes no âmbito do direito nacional e interna- cional, levando em consideração os compromissos voluntários

transferências

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