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Os primeiros contatos para ter acesso aos lycées de Grenoble, na França

IV. OS GÊNEROS POÉTICOS NA SALA DE AULA: UM ESTUDO

4.2 Os primeiros contatos para ter acesso aos lycées de Grenoble, na França

Meu contato com o lycée Marie Curie, onde acompanhei as aulas de Mme Valérie Gardey, deu-se por meio de Mme Nathalie Rannou, membro do CEDILIT66. Conheci Mme Rannou na reunião do nosso grupo de pesquisa em junho de 2011 e contei- lhe que procurava contato com professores de francês do lycée a fim de fazer observações em sala de aula, investigando, desse modo, o ensino de poesias na escola. A professora mostrou interesse, disse-me que no momento estava muito ocupada corrigindo as provas do

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bac, mas que entraria em contato com professores que ela conhecia de alguns lycées de

Grenoble a partir do segundo semestre, quando se inicia o ano letivo na França, e me colocaria em contato com eles em breve.

Aproveitei a ocasião para lhe dizer que a correção do bac também era algo que me interessava, pois fazia parte da minha pesquisa contrastar o ENEM brasileiro com o bac francês, ambos exames nacionais que avaliam o desempenho de alunos do Ensino Médio. Mme Rannou perguntou-me sobre o ENEM, como funcionava, se era como o exame francês, e conversamos sobre essas questões durante todo o rendez-vous do CEDILIT.

O encontro de junho de 2011 foi a despedida do semestre rumo às férias de verão, por isso M. Jean-François Massol, meu co-orientador de tese e responsável pelo grupo de pesquisa, preparou um almoço especial para o grupo do CEDILIT, com direito a muito queijo e vinho, na própria Université Stendhal Grenoble 3. Mme Rannou e eu trocamos emails e telefones e, de fato, em pouco tempo ela me colocou em contato com a professora do lycée Marie Curie, Mme Valérie Gardey.

Escrevi a Mme Gardey, que me respondeu de maneira bastante receptiva. Informou-me que estavam em vacances d’été e que as aulas só iriam retornar em setembro. Disse-lhe que aguardaria o contato dela então. Conforme prometeu, Mme Gardey me escreveu um email na primeira semana de setembro e já agendamos um encontro no próprio

lycée Marie Curie. Muito gentil, ela me deu todas as coordenadas para chegar ao local, que tramway (linha A) deveria pegar, para onde me dirigir ao chegar ao lycée etc. Levei quase

uma hora para chegar ao colégio, que, aliás, é muito bonito, organizado e tem uma infraestrutura invejável a muitos colégios públicos brasileiros.

Fui a seu encontro na sala dos professores e fui recebida com muita atenção. Expliquei-lhe meu sujet de pesquisa e Mme Gardey considerou-o bastante interessante, mas lamentou, pois, de acordo com a sua programação, só começaria a trabalhar com “poesias”

em janeiro de 2012. O primeiro módulo a ser trabalhado seria o “teatro”, em seguida o “romance” e, no final do ano, o “texto argumentativo”. O módulo “poesias” tinha sido

agendado para o início do ano seguinte. No entanto, ainda em setembro, trabalharia com

versos”. Propus-me a assistir a essas aulas iniciais e aguardar janeiro do ano seguinte (2012) para acompanhar o módulo “poesias”.

Mme Gardey prometeu que iria contactar outras colegas de trabalho que iriam

trabalhar o módulo “poesias” ainda nesse semestre, já que janeiro estava longe de chegar e

ficaria muito próximo do meu retorno ao Brasil. Reforcei meu interesse em coletar dados e registrar toda uma sequência didática envolvendo poesias em sala de aula o quanto antes,

afinal, tinha ido a Grenoble para realizar a “pesquisa de campo” em território francês.

Felizmente, ela me sugeriu Mme Sarah Blancard, com quem tentei várias vezes entrar em contato por email, mas não fui atendida. Insisti, enviando-lhe duas ou três vezes o mesmo email. Em vão. Recorri a Mme Gardey novamente e pedi-lhe, pessoalmente, que entrasse em contato com Mme Blancard, desse modo, fui prontamente atendida. Mme

Blancard trabalharia com “poesias” logo no primeiro “módulo” do ano letivo, ou seja, em

setembro, por isso eu, a principal interessada, deveria manter a paciência e aguardar a sua boa vontade de me receber no lycée Champollion. Enquanto aguardava o contato de Mme Blancard, fui convidada a assistir às primeiras aulas de Mme Gardey, em setembro, em uma classe do Première Scientifique (S), na qual a professora trabalhou com leituras poéticas, no caso “Les tragiques” (apêndice, p. 423), do poeta Agrippa d'Aubigné (1552-1630), em seu livro I Misères.

Finalmente, depois de vários desencontros com Sarah Blancard, de aulas marcadas e depois desmarcadas por email, finalmente conseguimos agendar o primeiro

rendez-vous para que eu pudesse assistir à sua aula do dia 07 de outubro de 2011, quando então ela trabalharia em classe com três poemas: “Le Crapaud”, de Tristan Corbière, em Les amours jaunes, 1873 (apêndice, p.428); “Le Crapaud”, de Victor Hugo, em La légende des Siècles, 1859 (apêndice, p. 429) e “J’aime l’araignée, j’aime l’ortie”, também de Victor

Hugo, em Les contemplations, 1856 (apêndice, p. 430). Imaginei, a princípio, que não haveria tempo de trabalhar os três, uma vez que cada aula durava uma hora apenas, das 10h às 11h.

Cheguei ao lycée Champollion mais cedo, por volta das 9h30. O colégio ficava relativamente perto de onde morava, no centro de Grenoble, dez minutos para chegar lá a pé. Entrei e me dirigi ao accueil. Não sabia se Mme Blancard havia falado algo sobre mim

e fiquei apreensiva, mas fui muito bem recebida e um senhor muito simpático me indicou o caminho da sala dos professores, dizendo que poderia esperar a professora lá.

Ao entrar, deparei-me com uma professora muito jovem, disse-lhe bonjour sem obter retorno, e peguei meu celular para enviar uma mensagem a Mme Blancard, avisando que estava na sala dos professores à sua espera. Outros professores entraram, alguns me cumprimentaram; outros, não. O clima era de bastante formalidade. Cinco minutos depois a

“professora jovem” que já estava na sala dos professores quando entrei veio em minha

direção e se apresentou: era quem eu procurava. Fiquei surpresa! Confesso que imaginava uma Mme Blancard mais velha, e deparei-me com uma professora de francês muito jovem (aparentemente, deveria ter cerca de 25 anos) – como eu quando comecei minha carreira docente.

Sua simpatia me fez ficar em dúvida quanto à forma de tratamento – se continuava a chamá-la de vous ou se eu poderia tutoyer, já que ela era tão jovem, aliás, mais jovem do que eu. Não tive espaço para isso. Durante a meia hora que conversamos na sala dos professores antes de entrarmos em sala de aula, continuei a vouvoyer e a chamá-la de Madame. Mme Blancard perguntou sobre o que exatamente tratava a minha pesquisa. Expliquei-lhe então a ideia do meu trabalho e o que pretendia observar nas suas aulas de literatura, tranquilizando-a, uma vez que havia percebido, já na leitura dos emails por nós trocados, que ela estava um pouco preocupada, insegura, talvez, de ter uma estranha em sala de aula – daí a impressão que ficou de certa má vontade dela em responder aos meus emails.

Mme Blancard perguntou-me se eu trabalhava com M. Massol. Ela o conhecia, já tinha sido aluna dele na faculdade de Lettres e conhecia também a esposa dele, Mme Chantal Massol. Elogiou-os e disse que M. Massol tinha muitos livros publicados. Eu já sabia disso e aproveitei para ressaltar a importância dele para a realização do meu trabalho de doutorado, pois havia me indicado várias leituras sobre didática da literatura, ampliando assim meu leque de referências bibliográficas sobre o assunto, ainda pouco explorado no Brasil. Com o passar do tempo, ela me confessou que não se deu muito bem com M. Massol na faculdade.

Quando o sinal tocou anunciando a hora de entrarmos em classe, Mme Blancard (mantive a formalidade francesa...) dirigiu-se comigo até o accueil para pegar a chave da sala de aula. A atendente foi um pouco grosseira comigo, pediu que eu fechasse a porta e esperasse a professora lá fora. Ao sair, Mme Blancard pediu desculpas pela funcionária e aproveitou para desabafar que não gostava muito daquela escola, que achava os professores e funcionários muito arrogantes, chatos, e que sentia falta do lycée Marie Curie, onde trabalhara durante dois anos. Compreendi então de onde ela conhecia Mme Gardey. As duas haviam trabalhado juntas naquele lycée.

Comecei a acompanhar as aulas de Mme Blancard de 07 outubro a 02 dezembro de 2011. Ela lecionava em classes do Séconde générale e do Première ES. A cumplicidade entre a professora-observadora e a professora-observada transformou-se em amizade. Só voltei a reencontrar Mme Gardey no lycée Marie Curie em 12 dezembro de 2011, e acompanhei suas aulas até 27 de janeiro 2012, praticamente véspera do meu retorno ao Brasil. Mme Gardey lecionava em uma classe do Terminale L e trabalhou durante todo esse tempo com a leitura de poesias do livro de Phillipe Jaccottet, À la lumière d'hiver.

4.3 O percurso percorrido pelas escolas da rede particular de ensino de Campinas e