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2.2.1 O exercício profissional das/dos Assistentes Sociais dos CRAS

2.2.1.3 Os princípios do Projeto Ético-Político requeridos no exercício

No que diz respeito aos princípios do Projeto Ético-Político (PEP) requeridos e materializados na atuação do CRAS, as assistentes sociais ressaltam que sempre buscam discutir nas reuniões das equipes melhores formas de intervenção junto aos usuários. São lembrados principalmente os princípios da equidade e justiça social,

liberdade, democracia, emancipação humana e política, combate a qualquer forma de preconceito, garantia e ampliação de direitos sociais através das demais políticas sociais.

No âmbito da intervenção junto aos usuárias (os), as profissionais demonstram possuir autonomia para construir mediações a fim de operacionalizar os princípios do PEP, pois “(..) com relação à instituição eu me sinto desrespeitada

com relação ao Código de Ética em várias situações, mas eu acho que com relação ao usuário que é algo (..) que depende de mim enquanto profissional ” (HAUTIL).

Ou seja, no que diz respeito aos direitos das/dos usuárias (os) ligados diretamente ao exercício da profissão (esclarecimento, acolhimento, escuta, atendimento, encaminhamento, etc..) é percebida uma efetivação dos princípios. Contudo, no âmbito dos direitos trabalhistas das/dos profissionais e execução da política pela SAS, as profissionais percebem um descaso e violação de leis e direitos.

(...) o momento que eu tenho de ta informando os usuários sobre seus direitos, mexendo com isso, a questão de cidadania mesmo, de autonomia, ai eu faço. Eu acho que é o meu principal (..), porque eu acho, que eu sinto que é o meu único espaço que realmente eu tenho de contribuir de alguma forma com a transformação (HAUTIL).

Observamos que o princípio da democracia encontra-se bastante presente principalmente nas atividades realizadas com grupos de usuários.

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Democracia. Acho que principalmente nos grupos, (..), tem muito assim, quando a gente fazia os grupos, não é algo fechado, (..) que o CRAS levava, mas era algo pensado e planejado pelo grupo, (...), era dentro da demanda do grupo que surgia, que a gente ai trabalha, não chegava com..a gente leva um norte, mas é o grupo que vai definir, até onde ele vai, o que vai fazer e como ele vai fazer (IGNEZ).

Temos também o princípio da liberdade, do respeito às escolhas feitas pelos usuários e da importância da/do profissional para essa tomada de decisão.

Porque esta questão da liberdade é muito importante. Até pra gente dar liberdade pro usuário, (...) porque o usuário é desprovido de outros direitos, a gente quer tutelar o usuário, então esta questão de dar liberdade pro usuário, ele ser protagonista na decisão da sua vida (...) Isso é um exercício difícil. Porque às vezes a gente vê: - Poxa, a gente ofereceu isso, isso e isso e ele não vai! Não vai porque ele tem liberdade de querer não ir, de ter outras opções, de achar que aquilo que a gente está apontando não é o melhor para ele. Então é um princípio importante e difícil de trabalhar com ele (LUCY).

(...)eu acho que assim, a gente não é dono do saber, então o usuário às vezes nos traz muita coisa, e aí assim a gente tem muito da questão desse olhar maior, (...) , que não sou eu que vou determinar o que aquele usuário tem que fazer, eu to ali simplesmente pra mediar, pra orientar, né?, e pra ele buscar (IGNEZ).

Outro princípio que foi bastante ressaltado foi o compromisso com a

qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva de competência profissional. Alguns profissionais salientam o

importante papel da SAS e do CRESS com esse constante aprimoramento.

Eu acho que o principal que a gente não pode perder é a questão do usuário, é desse usuário, ele que necessita do atendimento, ele que precisa da tua intervenção, então você não pode perder o foco nele (IGNEZ).

(..)falta tanto por parte de mim como por parte (..) das instituições, do Cress, da Prefeitura, de investimento nessa área, uma formação contínua mesmo que eu acho que a gente precisa, na realidade a dinâmica não dá pra você fazer um curso e trabalhar pronto!, você tem que ta sempre se aprimorando (GUIOMAR).

Dos direitos das/dos assistentes sociais foram ressaltados a defesa da

autonomia, do livre exercício da profissão, das condições éticas e técnicas de trabalho, resguardo do sigilo profissional, como instrumentos que precisam ser

defendidos pelos profissionais.

Eu acho que no momento quando a gente não tinha espaço pra atendimento e a gente tinha que fazer o atendimento no pátio de uma escola, no salão de uma associação de moradores. Então assim, o Código de Ética foi super importante pra poder fundamentar a não efetivação

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desse tipo de atendimento. De brigar mesmo por um espaço no CRAS, um espaço de atendimento, para dar o direito da escuta, de sigilo profissional, então isso a gente briga bastante (HAUTIL).

Sobre as competências profissionais, identificamos nas entrevistas pronunciamentos que dizem respeito a uma maior participação da/do assistente social na execução da política, pois sua atuação ainda é muito limitada à mera operacionalização, execução das atividades. De acordo com as falas, não existe um incentivo, por parte da SAS/DPSB, para expansão do exercício profissional da/do assistente social para áreas como avaliação, planejamento e monitoramento, que conforme a Lei de Regulação da profissão (Lei 8.666/93) são também competências profissionais.

Quando questionamos as profissionais sobre a relação entre a Política da Assistência Social e o Projeto Ético-Político, observamos que alguns sentiram certa dificuldade para fazer essa relação. Tal elemento pode apontar para uma debilidade na compreensão da dimensão técnico-operativa do projeto, tendo em vista a ênfase dada à dimensão teórico-metodológica.

Eu nunca parei pra relacionar assim diretamente, a minha atuação profissional com o PEP assim, pra ler e refletir sobre isso na verdade né. Que é mais algo que eu leio de uma forma geral, profissional e tudo, mas não relacionado tão diretamente com a atuação especifica no CRAS, com a política de assistência, até porque acho que é algo maior que não se restringe nessa política né. Que eu procuro ler e ver assim..como .. algo que ultrapassa um campo de atuação, digamos se eu tivesse na saúde ou na educação (GUIOMAR).

Entretanto, outras afirmaram que conseguem visualizar uma sintonia entre o PEP e a Política de Assistência Social.

Olhe se a gente pegar a política (...)e confrontar ao Código de Ética, eu acho que leva. Agora se sabe que na prática essa política efetivamente ainda não acontece como ela é prevista. (...). Por uma série de questões que a gente já colocou: de estrutura, de falta de profissionais, de mobilização da população, de processo educacional que tem que acontecer com essa população, também. Mas eu acho que os dois não são destoantes (...). Eles conduzem numa direção que se não igual, mas que vão levar ao mesmo caminho, agora a prática é que ainda diferem por uma série de questões que vão implicar nisso. Mas eu acho que a política, ela ta de acordo com o que o Código de Ética coloca (IGNEZ).

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2.2.1.4 Desafios para o Projeto Profissional: fortalecimentos e fragilidades