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Capítulo 2 – A Rede Municipal de Ensino de Campinas, as avaliações no Brasil e a

2.3. A “Prova Campinas-2008”

2.3.1 Os princípios orientadores da “Prova Campinas-2008”

Descritos no Relatório Final em um tópico específico, os princípios orientadores foram imprescindíveis para a configuração da avaliação, além do posicionamento político assumido. Descreveremos tais princípios de forma resumida, porém com o cuidado de apresentá-los com todas as suas especificidades e características. Essas informações foram retiradas do Relatório Final (MOURA, et al, 2008), e estão compreendidas entre as páginas 4 e 6 desse documento.

Um dos primeiros posicionamentos assumidos pela equipe elaboradora da Prova é a concepção de que o planejamento de uma avaliação institucional de uma dada Rede de ensino deve articular todos os momentos desse processo, desde a definição de objetivos e dos objetos, até os instrumentos e critérios de avaliação. No caso da “Prova Campinas”, acreditou-se que essa elaboração não poderia deixar de lado o fato de que esse processo deveria construir uma referência para o trabalho posterior, com possibilidades de problematização dos dados gerados e transformação das práticas escolares de mobilização cultural realizadas por professores e alunos.

Essa expressão – práticas de mobilização cultural – tão importante para a construção da Prova, refere-se a um conjunto de ações que são simultaneamente físicas, intelectuais e afetivas, realizadas tanto por professores quanto por alunos, “com o propósito de fazer circular

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o conhecimento promovendo determinadas atitudes e formas de comportamento baseadas em valores” (MOURA, et al, 2008). Essa expressão envolve os conhecimentos, ações, concepções e valores dos sujeitos envolvidos direta e indiretamente no processo escolar de circulação da cultura e faz com que a “Prova Campinas” assuma uma posição distinta dos demais sistemas de avaliação, que privilegiam de forma meritocrática somente o desempenho dos alunos, seja em função de conteúdos previamente estipulados, seja em termos de competências esperadas. O foco da avaliação é, dessa forma, deslocado do domínio estritamente cognitivo e individual para os domínios político, cultural e social.

As práticas escolares, por serem realizadas e postas em circulação por indivíduos integrantes de diferentes comunidades de prática que tomam como referência, no desenvolvimento de suas atividades, a instituição escolar em sentido amplo, são, por essa razão, sempre indicativas de uma forma coletiva, histórico-cultural e social de se pensar o ensino e a aprendizagem. Assim, avaliar pelas práticas constitui um empreendimento muito mais complexo, sutil e profundo do que avaliar o professor enquanto agente individual do ensino, o desempenho deste ou daquele aluno, ou mesmo, comunidades de professores ou de alunos. (MOURA, et al, 2008, p. 4)

A intenção, portanto, de avaliar pelas práticas, e de olhar especificamente para as produções escritas do sujeito que escreve, não é avaliar se o aluno é capaz ou não de inferir, de localizar informações, de escrever com criatividade - como habilidades cognitivas, competências. Mas entender o movimento que ele, o aluno, faz, orientado por um motivo, apoiado em algumas pistas dadas pelo texto e pela sua experiência de mundo, pelos modos culturalmente aprendidos de ler/escrever.

Quatro características dos princípios orientadores da “Prova Campinas” merecem destaque:

1. A elaboração e utilização de questões típicas e atípicas: nessa avaliação houve a

distinção entre as práticas culturais usualmente valorizadas no contexto escolar (possíveis de serem constatadas nos materiais informativos fornecidos pelos professores), consideradas como questões típicas e práticas que, na perspectiva da equipe elaboradora, “poderiam apontar para uma problematização do que está atualmente em circulação na Rede” (p.5), consideradas questões atípicas.

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2. A forma de correção das questões: em alternativa aos tradicionais “certo e errado”,

optou-se por estabelecer uma escala capaz de contemplar seis diferentes grupos de respostas (adequadas, inadequadas, parcialmente adequadas, mais elaboradas, em branco e ilegíveis).

3. Os corretores deveriam assumir a postura de um leitor sensível: “que se esforça por

escutar e interpretar o itinerário de produção das respostas dadas pelos alunos” (p. 6).

4. Natureza da análise dos resultados da avaliação: optou-se por não realizar a

hierarquização de alunos da mesma turma, da mesma escola, ou de escolas da mesma rede. Fala-se, portanto, em “desempenho da rede”. Nesse sentido, Miguel e Moura (2010) acrescentam que, no movimento da “Prova Campinas”, optou-se

pelo não-ranqueamento e pela não-hierarquização de alunos de uma mesma classe, ou de classes de uma mesma escola, ou ainda, de escolas de uma mesma região ou de regiões diferentes. Nesse sentido, trabalhamos com o propósito de produzir uma análise qualitativa situada na educação escolar em Língua Portuguesa e Matemática que pudesse orientar a produção de políticas educativas públicas pautadas em um padrão educativo de qualidade que fosse explícito, atualizado, inclusivo, negociado, não evolutivo, não concorrencial, não meritocrático e, portanto, conectado a um projeto ético-político de cunho efetivamente democrático. (p.651)

O Relatório Final, produzido após as correções das questões de toda a Rede, apresenta uma descrição de cada questão, inclusive os gabaritos – contendo exemplos de respostas que se enquadravam em cada um dos seis critérios de avaliação – seguidos de quadros que apresentam uma análise quantitativa dos dados – apresentação em números reais e em porcentagem – referentes ao desempenho dos alunos de forma geral, considerando todos os participantes. As análises do Relatório Final não se limitam aos dados quantitativos; a partir das informações divulgadas nos quadros, há a interpretação dos mesmos, inclusive com hipóteses sobre as razões para cada resultado. Essa também pode ser considerada mais uma característica particular desse sistema de avaliação.

A proposta de realização da “Prova Campinas” era de que fosse realizada bianualmente. Dessa forma, em 2010 foi realizada a segunda edição da Prova. Até o momento, o Relatório Final de 2010 não foi finalizado e os resultados ainda não foram divulgados.

2.3.2 O Relatório Final da Prova de Língua Portuguesa da “Prova Campinas-