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3. AÇÕES JUDICIAIS POR SAÚDE NO DISTRITO FEDERAL – Uma análise das argumentações

3.1 Os principais argumentos daqueles que demandam por saúde

Os que recorrem às vias judiciais para terem seu direito à saúde tutelado normalmente fundamentam suas pretensões em torno de três argumentos principais, quais sejam: seu inegável direito subjetivo à tutela pretendida, o dever do Estado de prover os meios necessários e suficientes à concretização do direito à saúde, e a supremacia desse direito frente a todos os demais que compõem a ordem jurídica brasileira.

Com efeito, o primeiro argumento, acerca da existência de direito subjetivo, funda-se no artigo 196 da Lei Maior, ao afirmar ser a saúde direito de todos. As petições de saúde, em geral, afastando a interpretação meramente programática do referido artigo, sustentam a existência de um direito pleno e efetivo à saúde, considerada em sua integralidade.

Assim, diante da insuficiente satisfação pelo Estado de suas necessidades sanitárias, os jurisdicionados defendem em suas petições sua legitimidade em pleitear judicialmente a medida suficiente à concretização de seu direito. Exemplo do exposto é o Mandado de Segurança com pedido liminar, impetrado por particular em julho de 2015 no egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, em que pleiteava disponibilização de vaga em Centro de Terapia Renal Substitutiva:

O Direito à saúde é direito subjetivo de todo cidadão e é dotado de eficácia plena; portanto, imediatamente oponível à Administração Pública.

(...)

Há muito o direito à saúde deixou de ser encarado como mera norma programática e passou a ser reconhecido em todas as instâncias do Poder Judiciário como uma garantia efetiva e vinculante das ações da Administração. 94

Sobre esse ponto, destaca-se ser pacificado na jurisprudência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios o entendimento acerca do caráter público e subjetivo do direito à saúde, nos moldes do defendido pelo jurisdicionado. O Desembargador Hector Valverde Santana, da 6º Turma Cível do TJDFT, ao julgar agravo de instrumento interposto contra decisão que havia negado a antecipação de tutela para determinar ao Estado a realização de operação cirúrgica, exposa este entendimento:

“[...] Considerando que a saúde constitui direito público subjetivo do indivíduo, encartado na CF (art. 6º e 196), bem como que a ineficiência do Poder Público no desempenho do seu dever de promovê-la pode dar azo ao prolongamento indesejável do sofrimento daquele que necessita do Sistema Único de Saúde, é viável a antecipação dos efeitos da tutela para determinar a realização imediata de cirurgia premente e a aquisição dos materiais médicos necessários a tanto [...]” 95.

Por outro lado, e concomitantemente à defesa do direito à saúde como um direito público subjetivo, os jurisdicionados creditam ao Estado, aqui incluídos todos os entes que compõem sua estrutura administrativa, o dever de, através de políticas sociais e econômicas, prover um sistema de saúde público eficiente para os seus cidadãos. Dessa forma, diante da omissão estatal, ou da prestação insuficiente por parte deste quanto às condições indispensáveis ao pleno exercício da saúde, os demandantes defendem a adequação da via judicial para exigir do Estado o provimento de determinadas prestação suficientes a salvaguardar seu direito à saúde plena.

94 Mandado de Segurança com pedido liminar urgente. 2015 00 2 018518-60018751-44.2015.807.0000.

95 Acórdão n.863213, 20140020332149AGI, Relator: HECTOR VALVERDE SANTANNA, 6ª Turma Cível, Data de Julgamento: 22/04/2015, Publicado no DJE: 28/04/2015. Pág.: 737.

Nesse sentido, por exemplo, é a argumentação lançada pela Defensoria Pública do Distrito Federal em sede do processo 2014.01.1.025958-7, ocasião em que se pleiteava a condenação do Estado ao custeio de aparelho médico necessário ao tratamento do autor:

A orientação seguida pelo egrégio TJDFT tem sido no sentido de determinar a obrigatoriedade do Distrito Federal fornecer medicamentos, materiais, cirurgias e exames necessários ao tratamento de pessoas desprovidas de condições financeiras que lhe permitam adquiri-los 96.

Em regra, o TJDFT tem decidido, nesse aspecto, favoravelmente aos autores das demandas por saúde, conforme se observa do extrato da decisão do desembargador Teófilo Caetano, abaixo transcrito:

“[...] devendo o Estado implementar ações afirmativas de forma a universalizar os serviços de assistência à saúde aos cidadãos carentes, se incorre em falha quanto ao implemento das graves obrigações que lhe estão debitadas, enseja a germinação do direito subjetivo de o prejudicado pela carência dos serviços públicos, de forma tópica e individualizada, reclamar sua supressão mediante a interseção do órgão judicial, fazendo prevalecer à regra de que a saúde é direito de todos e dever do estado.

(...)

Atualmente já não sobeja nenhuma controvérsia acerca da plena eficácia da regra que está inserta no artigo 196 da Constituição da República e da legitimidade e viabilidade de o cidadão de baixa renda, de forma isolada, exigir o implemento da obrigação de fomento e custeio de assistência médica que está debitada ao Estado, reclamando, mediante a interseção do Judiciário, a cominação de obrigação ao ente público de lhe fornecer medicamentos ou custear o tratamento médico do qual necessita [...] ”97.

Por fim, salienta-se que não só o direito à saúde é defendido como um direito público subjetivo de cada cidadão brasileiro, como também é sustentada a supremacia do direito em questão no ordenamento jurídico pátrio, vez que, além de sua condição de direito fundamental social, este ainda guarda estreita ligação com o direito à vida, bem supremo do ordenamento jurídico brasileiro, e com a dignidade da pessoa humana, fundamento do Estado Democrático de Direito e princípio basilar da República Federativa do Brasil.

Nesse sentido também é o posicionamento dominante do egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, conforma trecho da decisão da lavra do desembargador Teófilo Caetano:

96 Processo 20140112014.01.1.025958-7. Grifo meu.

97 Acórdão n.871059, 20110112102917APC, Relator: TEÓFILO CAETANO, Revisor: SIMONE LUCINDO, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 28/05/2015, Publicado no DJE: 09/06/2015. Pág.: 156. Grifo meu.

A transcendência do direito à saúde, como expressão mais eloqüente da evolução dos direitos básicos inerentes à pessoa humana e das liberdades e garantias individuais, impõe ao estado a implementação de ações positivas destinadas à materialização do almejado pelo constituinte, revestindo de eficácia plena a norma programática que está inserta no artigo 196 da Constituição Federal, que prescreve que o direito à saúde é direito de todos e dever do estado 98.

Do exposto, pode-se concluir que o Poder Judiciário, em regra, posiciona-se favoravelmente aos principais argumentos utilizados pelos jurisdicionados quando da reivindicação, por vias judiciais, do seu direito à saúde.

Diante desse quadro, cumpre analisar similarmente o posicionamento daquela Corte quanto aos argumentos adotados pelo Estado, enquanto ocupante do polo passivo das ações por saúde.

3.2 Os principais argumentos dos entes políticos nas demandas judicias por