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Os principais Passos do Desenvolvimento do Projeto

3. ACOMPANHAMENTO DO PROJETO ECOMANAGE E SUA RELEVÂNCIA PARA

3.2 Desenvolvimento do Projeto Ecomanage na Baixada Santista

3.2.2 Procedimentos da Implantação do Projeto Ecomanage na Baixada

3.2.2.1 Os principais Passos do Desenvolvimento do Projeto

• Elaboração do diagnóstico socioambiental e caracterização dos principais conflitos costeiros

O primeiro passo consistiu em tentar identificar e caracterizar os principais conflitos costeiros sob o ponto de vista físico, ecológico e socioeconômico. Para tal, elaborou-se um diagnóstico da área realizado com base no levantamento de dados pré-existentes, tanto sobre as condições socioeconômicas como em relação aos principais problemas ambientais existentes. Uma primeira etapa desse diagnóstico foi realizada através de consultas a especialistas e também através da própria experiência de trabalho na área dos integrantes da equipe do projeto. Foram também levantados novos dados de campo para suprir algumas informações consideradas essenciais, através de campanhas de amostragem no sistema estuarino, visando avaliar vários parâmetros físicos, químicos e biológicos do ecossistema, de maneira a alimentar o modelo integrador e caracterizar o estado do ambiente.

Esta modelação dos principais processos ocorrentes neste sistema costeiro teve uma importância fundamental para a elaboração do diagnóstico, pois foi a partir desta abordagem integrada que foi possível entender as forças socioeconômicas, biogeoquímicas e físicas ali existentes, responsáveis pela distribuição espacial das atividades econômicas e dos assentamentos humanos (e qualidade ambiental associada).

• Seleção do problema a ser analisado

Uma vez concretizado o diagnóstico, verificou-se que a complexidade associada aos conflitos existentes era demasiadamente elevada para que se

pudesse tentar trabalhar com todos, dentro do horizonte temporal do projeto e com a limitação de recursos humanos disponível. Foi, então, necessário fazer uma escolha por parte dos pesquisadores do problema para o qual seriam desenvolvidas as ferramentas previstas no projeto, dentre as principais questões levantadas. Essa escolha foi realizada apenas pelos pesquisadores do projeto, sem a participação dos stakeholders, considerando-se que seria necessário ponderar principalmente a questão temporal para a conclusão do projeto e a complexidade de certas questões. Além disso, o Projeto Ecomanage tem por objetivo disponibilizar ferramentas práticas, que suscitem o interesse dos stakeholders para as aplicar no gerenciamento dos problemas costeiros. Ora, verificou-se que para que esse interesse surgisse, ou seja, para que se conseguisse envolver um número mínimo de pessoas e instituições de todas as esferas da sociedade no projeto (e em particular do poder público), as questões tratadas pelo Projeto Ecomanage teriam de ter a maior neutralidade possível em termos políticos.

Assim, optou-se por uma questão que fosse o menos controversa possível, a fim de se conseguir o envolvimento dos stakeholders. Os três principais problemas identificados na Baixada Santista - urbanização, atividades industriais e portuárias - são altamente complexos e de difícil resolução em vários níveis (político, técnico, econômico, ambiental, etc.). Porém, após discussão entre os membros do projeto considerou-se que seria mais viável conseguir o interesse quanto a possíveis respostas para a questão da urbanização, pois ela está, acima de tudo, relacionada com a melhoria da qualidade de vida das pessoas, mesmo havendo outras questões envolvidas. Já em relação aos problemas derivados da indústria ou das atividades portuárias, as questões geraram insegurança por parte dos stakeholders a respeito de qualquer medida proposta. Estas iriam, com certeza, envolver questões demasiadamente delicadas (tal como os projetos de expansão do Porto ou a contaminação dos solos e águas pelas indústrias) para se poder obter consenso num primeiro momento. Deste modo, optou-se por descartar estas últimas questões nessa fase de desenvolvimento do projeto, para apenas lidar com o igualmente grave problema do alto grau de urbanização, mas sempre tendo em conta que estes problemas setoriais não estão dissociados.

A expectativa do grupo de pesquisadores, no entanto, é de que, com o resultado do trabalho efetuado para os problemas decorrentes da urbanização, se possa, por um lado, ganhar a confiança dos stakeholders na potencialidade das

ferramentas e, por outro, obter uma visão partilhada quanto ao futuro desejado do estado da Baixada Santista. A partir dessa etapa concluída e com a capacitação de recursos humanos para as ferramentas, espera-se avançar para questões como as do porto ou das indústrias.

Uma vez selecionada a urbanização como o problema central (driver indireto) do Projeto Ecomanage para a Baixada Santista, foram identificados dois problemas importantes (drivers diretos) e de interesse por parte dos stakeholders associados a essa questão. Verificou-se, então, que estes podiam basicamente ser divididos em dois aspectos, os assentamentos humanos e o saneamento.

• Determinação das pressões e impactos do problema: o papel do Sistema de Apoio à Decisão

O passo seguinte consistiu, portanto em caracterizar as pressões (pressures) associadas a esses dois problemas e avaliar o efeito que estas estavam tendo no ambiente (impacts), para então poder ajudar a traçar respostas gerenciais (responses) destinadas a resolver ou minimizar estes problemas ou, pelo menos, indicar quais as melhores alternativas. A determinação destes três últimos parâmetros do modelo conceitual do Projeto Ecomanage foi, sobretudo, feita através do Sistema de Apoio à Decisão.

A construção do DSS foi a ferramenta que mais obrigou a um envolvimento ativo dos stakeholders. Anteriormente, a participação destes no projeto tinha-se resumido ao comparecimento de reuniões de caráter informativo, organizadas pela equipe. A primeira dessas reuniões foi realizada no auditório da UNISANTA, para a qual foram convidados representantes de órgãos governamentais, dos governos municipais e estaduais, representantes das indústrias e da Administração do Porto de Santos, representantes das universidades locais e de várias ONGs, assim como vários mídia. Foram considerados órgãos governamentais todas as instituições ligadas ao governo (como a CETESB ou SABESP), mas que não representassem diretamente o governo (estadual ou municipal). É feita esta distinção entre órgãos governamentais e governo porque estes dois grupos de stakeholders tiveram uma participação bem distinta ao longo do projeto, apesar de ambos representarem o poder público.

Esta primeira reunião teve o objetivo de apresentar o projeto à sociedade, esclarecendo os objetivos e metas do Projeto Ecomanage. Outro objetivo dessa reunião foi identificar os convidados realmente com interesse no projeto. Ao final dos trabalhos, foi constituído um “Conselho Consultivo” do projeto, com a participação dos elementos mais interessados, que seriam pessoas que estariam colaborando ativamente com informações para o diagnóstico e teriam maior interesse em verificar os resultados das ferramentas a serem desenvolvidas pelo projeto. Foram igualmente efetuadas outras duas reuniões ainda de âmbito informativo com os stakeholders, ao final do primeiro e do segundo anos de trabalho, para apresentar os resultados do diagnóstico alcançados até então e o andamento do modelo numérico, cujos modelos de base já se encontravam validados para se testar os cenários. Também foram mencionados os passos seguintes do projeto em que seria necessária maior participação dos stakeholders.

Foi, portanto, apenas no terceiro e último ano do projeto e após a caracterização quali e quantitativa dos problemas dos assentamentos humanos e do saneamento, que se pôde começar a construção do DSS, quando os stakeholders passaram a ter um envolvimento não apenas consultivo, mas verdadeiramente participativo.

Para tal, foi necessário, antes de tudo, formalizar-se um grupo de trabalho composto por atores que representassem os vários setores da sociedade e pelos membros da equipe. Uma vez este grupo montado, efetuaram-se várias reuniões técnicas com a finalidade de construir as matrizes de decisão. Discutiram-se as alternativas de gestão possíveis para os problemas em questão, os diferentes critérios ambientais e socioeconômicos a serem utilizados para ponderar o efeito dessas alternativas e o impacto desses efeitos. Os campos das matrizes foram, portanto, preenchidos com base no conhecimento específico da equipe e dos stakeholders. No final, as matrizes foram processadas e obteve-se uma classificação das alternativas, mostrando qual seria a melhor alternativa para o problema, de acordo com a análise qualitativa conjunta dos participantes.

3.2.2.2 Considerações sobre o Desenvolvimento do Sistema de Apoio à