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2.2 Opções metodológicas

2.2.1 Os procedimentos metodológicos eleitos

Conforme já citado anteriormente utilizei como instrumentos para a „coleta‟ dos dados a serem analisados: a observação participante na qual assumi a posição de “adulto atípico” (CORSARO, 2005), registros em diário

30 Refere-se aqui ao livro recentemente publicado: “A criança fala: a escuta de crianças em pesquisas”. CRUZ, Silvia Helena. São Paulo: Cortez, 2008.

de campo; entrevistas semi-estruturadas mediante gravação em áudio (com a professora, a auxiliar de sala do turno matutino, a professora de educação física, a supervisora pedagógica e a diretora) e o registro fotográfico.

Apresento a seguir cada um dos instrumentos metodológicos e os respectivos encaminhamentos dados a cada um deles no contexto desta investigação:

a)

Observação participante – operacionalizou-se na convivência e no estabelecimento de relações com o sujeitos em estudo – crianças e adultos durante o período em que perdurou esta investigação, mais especificamente, entre os meses de agosto a dezembro de 2009, período este em que estive com estes – adultos e crianças - acompanhando os diversos momentos das experiências vividas nesse espaço. A permanência prolongada possibilitou uma aproximação gradual entre a pesquisadora- e as crianças e adultos na instituição educativa. Isto significa que à medida que foram se construindo relações de maior cumplicidade e confiança, configuraram-se progressivamente as condições favoráveis para se dar corpo a uma descrição minuciosa e detalhada da realidade a estudar, no que concerne ao objetivo de aceder à compreensão dos sentidos, nomeadamente a partir das ações e situações em que as crianças estavam envolvidas, participando e se relacionando entre si e/ou com os adultos. No que diz respeito ao tempo de permanência diária junto ao grupo, este oscilava entre três e cinco horas, de três a quatro dias por semana, todavia, durante várias ocasiões, a exemplo das últimas semanas do ano letivo, as observações estenderam-se o dia todo. A não estipulação de horários determinados para início e saída da pesquisadora no grupo, bem como seu prolongamento em determinados dias, foi proposital, almejando atingir um acompanhamento o mais extenso possível dos diversos momentos em que as crianças permaneciam na instituição31.

A presença em diferentes momentos da rotina diária possibilitou estar com as crianças e observá-las em diferentes

31 Porém, ressalta-se que, nas primeiras semanas de observação, a permanência da pesquisadora no campo ocorreu apenas no período da manhã, sendo esta uma das condições pré-fixadas para a realização da pesquisa em virtude da ausência de uma profissional que atuava com as crianças no turno da tarde.

situações, situação imprescindível na tentativa de perceber as possibilidades, as relações e os constrangimentos advindos das diferentes relações entre as crianças e seus pares, e destas com os adultos no contexto da educação infantil, especialmente no que tange à questão de como as experiências vividas na pré- escola poderiam vir a estar condicionando a construção de sentidos em relação à ida para a escola. O foco das observações foram as experiências vividas pelas crianças, experiências estas tecidas a partir das múltiplas relações entre as crianças e entre essas e os adultos neste espaço. Neste âmbito, embora as práticas pedagógicas não constituírem diretamente o foco das observações, tais se compuseram elementos a serem considerados na medida da necessidade de dar visibilidade às crianças, nos momentos em que suas

experiências no último ano pareciam ser

condicionadas/possibilitadas por uma determinada organização instituída pelos adultos e, deste modo, tanto as interações com os adultos quanto as ações destes para com as crianças configuram-se como importantes na busca da compreensão dos sentidos que estes estavam a construir acerca de sua escolarização futura- ida para a escola de ensino fundamental. Para a realização das observações procurei posicionar-me em locais em que minha presença não se constituísse obstáculo à ação das crianças, mas que, ao mesmo tempo me permitisse ter uma visão ampla das situações. No momento em que se realizavam as propostas dirigidas pela professora, sentava-me junto às crianças, em cadeiras pequenas ou no chão, provida do caderno para anotações, procurava assim colocar-me na mesma altura de suas estaturas. Tal posição de maior horizontalidade visava minimizar a diferença de tamanho e instaurava condição favorável a uma maior aproximação e interação com as crianças. Não se demarcou uma área exclusiva para a observação das crianças, adotando quando, necessário, a estratégia de Ferreira (2002) de “seguir atrás” das crianças objetivando acompanhar os possíveis desdobramentos das situações e encontros, nos movimentos delas no parque, na sala, no refeitório, etc. É importante ressaltar que as observações tiveram como foco principal as relações

estabelecidas entre as crianças e seus pares e com os adultos, visando apreender as formas como lidam, percebem, ressignificam ou transgridem os processos educativos, buscando, assim, perceber como estão vivendo suas infâncias neste espaço e os sentidos que estão socialmente construindo e partilhando.

b)

Diário de campo – tentando captar diferentes aspectos desta realidade e como forma para captar as relações entre as crianças e os espaços educativos na construção e partilhamento social de sentidos, utilizei o caderno de campo, entendendo a necessidade de uma descrição densa (GEERTZ, 1989) dos movimentos, dos gestos, das falas, dos olhares, enfim das múltiplas relações sociais estabelecidas no dia a dia da instituição entre as crianças e seus pares e com os adultos. O diário de campo também foi espaço para transcrição das conversas informais com os adultos, registro de episódios, como passeios, e de uma reunião com as famílias da qual que tive oportunidade de participar.

c)

Entrevistas semi-estruturadas – com intuito de ajudar a compreensão da dinâmica dos processos educativos, bem como contextualizar as questões observadas no cotidiano, realizei entrevistas com as profissionais diretamente responsáveis pelo Grupo VI - grupo de crianças com idade entre cinco e seis anos de idade – professora, auxiliar de sala do período matutino32 e professora de educação física. Também foram realizadas entrevistas com a diretora e a supervisora pedagógica da instituição. Essas entrevistas basearam-se em um roteiro, mas

32 Não obstante serem duas as auxiliares de sala que atuam diretamente com este grupo de crianças – uma no período matutino e outra no período vespertino – só foi possível realizar a entrevista com a profissional que atua no período da manhã, isto porque a outra profissional ausentou-se por motivos de saúde por longos períodos durante os meses em que perdurou esta investigação. Por razões administrativas, somente no final do ano uma profissional veio em sua substituição, sob caráter provisório, por “designação”. Apesar desta não ter tido um contato mais prolongadocom as crianças, imediatamente indaguei-a sobre a possibilidade de realizar a entrevista, sendo que esta se colocou à disposição, porém, preferiu ser entrevistada no decorrer dos últimos letivos, pois assim “as coisas estariam mais calmas”. Todavia, esta profissional, devido à realização de uma cirurgia de urgência não mais compareceu à instituição. Em virtude de tais situações, não foi possível realizar a entrevista com a mesma.

foram se delineando segundo a fluidez e direcionamento dados pelas respostas das profissionais entrevistadas. Tais entrevistas constituíram-se elucidativas para a compreensão de alguns dos encaminhamentos feitos pela professora na realização do trabalho pedagógico para/com as crianças. A opção pela realização de entrevistas semi estruturadas, deve-se ao fato deste procedimento “ao mesmo tempo [em] que valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance liberdade e a espontaneidade necessária, enriquecendo a investigação”. (TRIVIÑOS, 1987 apud FRANCISCO, 2005, p.33).

d)

Fotografia – o registro fotográfico de algumas situações das crianças „em ação‟ em diferentes espaços da instituição permitiu uma descrição mais minuciosa das situações na medida em que proporciona “eternizar” pela captação da imagem aspectos/detalhes imperceptíveis/obscurecidos no momento vivido, somente percebidos ao serem examinados em casa, quando na organização dos registros acerca das observações realizadas no dia. No texto, a apresentação das fotografias tem como propósito complementar ou acrescer, uma vez que, o registro fotográfico leva ao leitor as imagens impressas observadas pelo pesquisador, ampliando as possibilidades de interpretação e apresentando, em uma outra linguagem, o que a escrita por vezes não abrange, não consegue fielmente exprimir33. Para Kramer, “A fotografia é, na verdade, um constante convite à releitura, a uma forma diversa de ordenar o texto imagético. Pode ser olhada muitas vezes, em diferentes ordens e momentos, pode ter outras interpretações: ela é sempre uma outra foto ali presente, pois uma foto se transforma cada vez que é contemplada, revive a cada olhar. (2002, p.12).

33 Antes do início da realização dos registros fotográficos, as crianças e as profissionais foram previamente indagadas sobre o fato de serem fotografadas e solicitada autorização prévia para fazê- lo.

No que concerne ao tratamento dos dados coletados na pesquisa de campo, e mais especificamente às expressões das crianças (não necessariamente, e não somente as falas) ressalto a preocupação de analisá-las, considerando o contexto em que foram produzidas. A questão fundamental que se coloca para a pesquisa com crianças é a questão da vigilância epistemológica, no sentido de que nós, adultos, inevitavelmente temos um grau de interpretação do que as crianças dizem. Consciente de tal implicação, busquei dar visibilidade às expressões das crianças tal como elas as expressaram, e considerando contexto em que tais expressões foram proferidas. Em alguns excertos, buscando acentuar uma dimensão de análise, as falas e/ou ações aparecem grifadas. Pretendo assim, esclarecer que, tais destaques cuidam de preservar ao máximo as falas e outras formas de manifestação das crianças, contudo, constituiu-se um esforço de produzir um conhecimento com e a partir daquilo que as crianças diziam, demonstravam e expressavam de múltiplas formas. Com essa prática, procuro reiterar a compreensão mencionada - “jamais vemos o mundo através dos olhos das crianças, veremos sempre o mundo através de uma multiplicidade de camadas de experiências das crianças e nossas, de uma multiplicidade de camadas de teoria”. (GRAUE & WALSH, 2003, p.5).

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