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Os professores e os motivos do abandono da profissão

Capítulo 1: A construção da identidade profissional docente como

1. Os professores e os motivos do abandono da profissão

Com o intuito de compreender como o processo de abandono foi se construindo entre os professores, pedimos a eles que apontassem os principais motivos que os levaram a deixar o magistério. Os motivos alegados por todos os

docentes foram organizados em um quadro27 que, após agrupados de acordo com o

número de vezes em que foram citados, foram assim sintetizados:

Gráfico11 – Motivos explicitados pelos professores para justificar o abandono da profissão.

27 - Ver apêndice F que reúne as respostas dos professores acerca dos motivos que os levaram a

Foi solicitado aos professores que identificassem, dentre os motivos apresentados para o abandono, aqueles que eram percebidos no interior da escola (intra-escolares) e aqueles externos à escola (extra-escolares). A intenção dessa solicitação era identificar quais os motivos apontados pelos professores para o abandono estavam relacionados diretamente às condições internas da escola, que diziam respeito especificamente às condições de trabalho e aos problemas enfrentados rotineiramente no exercício da profissão. Pela mesma razão, também foi solicitado aos professores que identificassem, dentre os problemas apontados, aqueles de caráter extra-escolar, fora do ambiente escolar, externos à dinâmica da escola e do trabalho propriamente dito que, segundo eles, também foram responsáveis pelo abandono da profissão.

Em alguns casos o limite entre um grupo e outro é tão tênue que alguns professores manifestaram a dificuldade em classificar os motivos apresentados inicialmente como extra ou intra-escolar; de qualquer forma, sabemos que os motivos apresentados pelos professores se cruzam e se influenciam mutuamente. Um exemplo disso é o do caso do professor que afirma que o “fim do encanto com o magistério” foi o responsável pelo abandono da profissão e, em outros momentos da entrevista, justifica que “não agüentava mais tanto descaso e falta de respeito dos alunos e de seus pais”. A tabela abaixo mostra os motivos apontados pelos professores para o abandono. Eles estão categorizados – pelos próprios professores – em extra-escolares e intra-escolares, e está apresentado do mais ao menos citado. Quando um dado motivo aparecia nos dois grupos, evento que foi raro, agrupamos na categoria em que foi citado mais vezes:

Tabela 17 – Motivos intra e extra-escolares apresentados como justificativa pra o abandono da profissão

Motivos intra-escolares Motivos extra-escolares

Indisciplina/Violência dos alunos Desvalorização profissional

Escola desestruturada/desorganizada/Ambiente

ruim de trabalho Salários Baixos

Progressão continuada Famílias desinteressadas / desestruturadas

Péssimas condições de trabalho Instabilidade de emprego

Excesso de tarefas Dificuldade em manter-se atualizado e estudar

Alunos desinteressados / ruins Nova oportunidade de emprego

Trabalho solitário / Ausência de trabalho coletivo Má qualidade da escola pública (professores e ensino ruins) na mídia

Direção de escola autoritária Falta de identificação com a profissão

Problemas de saúde decorrentes do exercício

profissional Distância entre o aprendido na faculdade e a realidade da sala de aula

Desunião entre os professores Descaso do poder público com os professores

Salas lotadas Não era o que eu esperava

Obrigatoriedade de cumprir o HTPC Leis de educação feitas por quem não entende de educação Falta de compromisso dos colegas professores Fim do encanto com o magistério

Ausência de profissionais de apoio Falta de vocação / dom

Diferenças sócio-econômicas entre os alunos Impaciência para ensinar

Em relação aos motivos intra-escolares, as principais queixas dos professores estão relacionadas à indisciplina dos alunos, seguida da desorganização/ desestruturação da escola, do ambiente ruim de trabalho, da progressão continuada, das péssimas condições de trabalho, do excesso de tarefas e da ausência de trabalho coletivo. É interessante notar que a referência aos alunos repete-se, também, como desinteressados e ruins, além dos indisciplinados e violentos. Em relação aos motivos extra-escolares, ou seja, externos à rotina da escola, os professores destacaram a desvalorização profissional, os baixos salários, o desinteresse das famílias, a dificuldade em manter-se atualizado.

1.1. Os professores e os problemas intra-escolares

A indisciplina e a violência dos alunos são, segundo os professores, os maiores problemas que enfrentam dentro da escola. Também se referem aos alunos

como desinteressados e ruins. Trata-se, portanto, para os professores, de alunos indisciplinados, violentos, desinteressados e ruins.

A questão da indisciplina na escola não é uma discussão recente no campo educacional e há muito tempo se revela uma preocupação e objeto de estudo sociológico, como já destacava Durkheim (1984) no final do século XIX ao propor uma reflexão sobre a relação entre sociologia, educação e moral. Existe uma vasta produção acadêmica sobre indisciplina escolar e muitos pesquisadores brasileiros e estrangeiros (Estrela, 1992; Domingues, 1995; Aquino, 1996,1998; Amado, 1998; Curto, 1998) discutem questão da indisciplina escolar e seus impactos sobre o cotidiano escolar e sobre o trabalho docente. Foge ao escopo dessa investigação fazer uma revisão acerca de como a indisciplina escolar vem sendo tratada pelas pesquisas no campo da educação, tampouco fazer uma revisão das discussões realizadas nesse sentido. Nos limites dessa investigação interessa-nos a maneira como os entrevistados falam da indisciplina escolar, como a compreendem e porque tal questão é, para muitos, determinante para o abandono da profissão.

Em primeiro lugar é necessário discutir o que está sendo nomeando por indisciplina. Segundo Carvalho (2005), o conceito de indisciplina é muito vago e amplo, abrangendo tanto o descumprimento de regras escolares especificadas em regimentos ao que acontece no pátio, durante o recreio escolar, quanto a situações variadas, que ocorrem no cotidiano das salas de aula, cabendo aos professores, cada um a seu modo e estilo, delimitarem o que consideram como indisciplina. Até mesmo entre os professores de uma mesma escola a idéia de indisciplina é muito variada e difusa, dependendo, na maioria das vezes, da maneira como o professor identifica a possível indisciplina, que vai desde usar um boné em sala de aula à

recusa em realizar alguma atividade escolar, passando, inclusive, pela agressão física.

Segundo Amado (1998, p.37), existem diferentes maneiras de conceber e enxergar a indisciplina escolar. O autor identifica três níveis básicos de percepção da indisciplina escolar: o primeiro, nomeado por desvios às regras de produção, comporta os incidentes que perturbam o andamento da aula, um segundo nível nomeado por conflitos interpares traduz a dificuldade de relacionamento entre alunos e, um terceiro nível, designado conflitos da relação professor-aluno, é marcado por atitudes que colocam em evidência comportamentos discentes que confrontam o poder e o estatuto do professor, abrangendo, inclusive, ações de vandalismo e depredação do patrimônio escolar. Os depoimentos dos professores revelaram, basicamente, que as questões ligadas à indisciplina escolar estão situadas, na classificação de Amado (1998), no primeiro e terceiro níveis.

Quando terminei a faculdade hesitei um pouco em começar a dar aulas. Ainda tentei fazer outras coisas, ter outros empregos. Enquanto fazia faculdade ficava ouvindo meus colegas dizendo de como era legal ser professor, outros se queixando das escolas que trabalhavam. Bom, perdi o emprego que tinha e resolvi ver como era. No começo tudo é bom, depois a gente vai conhecendo melhor, vendo que não dá pra fazer tudo que acha certo. As condições de trabalho são precárias, os salários baixos, as famílias não estão nem aí com os filhos, mas o pior mesmo é a indisciplina, o desrespeito. A gente se mata de falar com os alunos, de cobrar as atividades, e eles nem ligam, parece que não tem ninguém falando com eles. Pra quem você vai recorrer? Falar com a coordenação? Com a direção? Bobagem! Eles passam a mão na cabeça do aluno e mandam de volta pra sala de aula. E aí? Fazer o que? Eles fazem o que querem, o que bem entendem. Só resta ao professor não ligar, ou, então, desistir. (H.P., masculino, 31 anos, 12 anos de magistério)

Fica evidente que esse professor está se queixando da perda de autoridade. Reclama de falta de atitude da direção da escola e da coordenação pedagógica diante da recusa dos alunos em cumprirem com suas obrigações escolares. Em outro trecho da entrevista, ainda falando de como os alunos tratam os professores, diz

É muito pouco caso, muito! Na semana passada um aluno de sétima série me disse uma coisa que não tenho coragem de repetir, de deixar gravado. Eu mesmo tenho vergonha de repetir o que ele me disse, tudo porque pedi o caderno dele pra ver se tinha feito as atividades de casa. Palavrão, daqueles que você nunca imagina que vai ouvir em seu ambiente de trabalho, ainda mais dentro de uma escola. Ah! E pensa que foi a primeira vez? Só procurei a coordenadora depois que já tinha tentado tudo: falei com o aluno, com uma irmã mais velha que estuda na escola, chamei a mãe, que nunca apareceu. Sabe o que a coordenadora me disse? Que essa era a cultura dele, que na casa dele era comum falar daquele jeito. Esse dia foi, pra mim, a gota d’água: cheguei em casa, pensei muito, nem dormi direito. Considerei que aos 30 anos ainda posso conseguir um emprego onde não seja tão desrespeitado, humilhado. Acordei, pedi demissão e não me arrependo. Posso suportar tudo, menos a falta de respeito e, ainda por cima, ouvir de quem deve cuidar da parte pedagógica que isso é normal. (H.P., masculino, 31 anos, 12 anos de magistério)

Os relatos de professores sobre a indisciplina dos alunos são freqüentes. Queixam-se da perda de autoridade diante dos alunos, da falta de apreço por parte da coordenação e da direção por suas reclamações, da perda de controle sobre os alunos. A maioria dos professores entrevistados queixa-se da falta de clareza das normas das escolas em que atuaram e apontam que isso dificultava a adoção de medidas de controle da indisciplina escolar, já que nuca sabiam o que era passível de punição. Essa indefinição normativa, muitas vezes marcada por um distanciamento entre o que está estabelecido no plano formal por meio de acordos, documentos e regimentos ao que ocorre cotidianamente, de maneira informal, como apontada tanto por Domingues (1995) quanto por Curto (1998), acaba favorecendo o agravamento de fenômenos de indisciplina escolar, tanto no plano organizacional, quando se leva em conta os aspectos normativos propriamente ditos, como no relacional, quando se dá prioridade às relações entre os diferentes sujeitos do processo educativo. Em relação aos efeitos da indisciplina, Estrela (1992) afirma que se a indisciplina produz efeitos negativos no aproveitamento escolar dos alunos também o faz entre os professores:

(...) ela produz igualmente efeitos negativos em relação aos docentes. Embora menos evidentes e imediatos, esses efeitos não são menos nocivos, pelo

que a indisciplina constitui hoje, juntamente com o insucesso escolar, o problema mais grave que a escola de hoje enfrenta em países industrializados [...] O tempo que o docente gasta na manutenção da disciplina, o desgaste provocado pelo trabalho num clima de desordem, a tensão provocada pela atitude defensiva, a perda do sentido da eficácia e a diminuição da auto-estima pessoal levam a sentimentos de frustração e desânimo e ao desejo de abandono da profissão. (Estrela : 1992, p. 107)

Embora a indisciplina escolar incomode muito os professores entrevistados,

os depoimentos destes revelam uma fluidez naquilo que denominam indisciplina. A

indisciplina escolar é percebida pelos professores de maneira variada e compreende uma série de situações como: faltar com os respeito com colegas e professores, descumprir regras pré-estabelecidas, ter mal comportamento, ser malcriado, perturbar o trabalho dos colegas, fazer barulho, provocar desordens, falar o tempo todo, atrapalhar o funcionamento das aulas, não ser pontual, rebeldia à autoridade e boicote às aulas. Situações idênticas às relatadas pelos professores foram apontadas por Oliveira (2002, p. 90) ao discutir a indisciplina em sala de aula na perspectiva de alunos e professores.

Os professores entrevistados destacam muitas situações que, segundo eles, são exemplares de indisciplina escolar. Na maioria das vezes tais situações estão relacionadas ao uso do boné em sala de aula sem sua autorização, à utilização de aparelho de walkman durante a aula, ao não cumprimento das atividades escolares, aos atos de violência física ou verbal, aos problemas afetivos, a questões sócio- econômicas, entre outras. De maneira geral os professores entrevistados situam a indisciplina escolar no campo comportamental, dissociada da dinâmica institucional, concebendo-a como uma desobediência às regras e justificando-a, na maioria das vezes, com expressões como:

Sabe, essas crianças não têm afeto em casa, não reconhecem a autoridade de ninguém. Como elas vão respeitar professor, diretor, se não respeitam nem aos seus pais? Muitos alunos não tem formação em casa, de valores, de bons costumes, de bons hábitos. ((T.M., feminino, 46 anos, 7 anos de magistério).

O que falta para esses alunos é limite, noção de certo e errado, o que pode e o que não pode. Mas isso é de berço. Também, com essas famílias desestruturadas só podia dar nisso. Vai ver com quem esses alunos vivem? Ficam sozinhos, se viram por conta própria. E tem também as dificuldades econômicas. Não estou falando que pobre é indisciplinado. De jeito nenhum. Estou dizendo que a carência, as dificuldades obrigam esses alunos a se tornarem adultos cedo demais. Acho que ficam revoltados por causa disso. (N.R.F., feminino, 35 anos, 12 anos de magistério).

Quando eu dava aula era uma dificuldade para os alunos seguirem as regras, as normas da escola. Eu fazia cartaz, colava em sala de aula, os lembrava diariamente de suas obrigações, de seus deveres. Direitos eles são bons pra reclamar, mas em relação aos deveres... Hoje em dia os alunos têm dificuldades de se relacionarem com as regras. A gente tem que medir as palavras para falar com os alunos, caso contrário, lá vem ameaças disso e daquilo. No meu tempo era diferente. (T.C.M.S., feminino, 48 anos, 10 anos de magistério).

Predomina nas justificativas dos professores aquilo que Aquino (1998) denomina por abordagem psicologizante, onde a indisciplina decorre de falhas dos indivíduos, prevalecendo, assim, uma perspectiva moralista em detrimento de uma perspectiva institucional. Nesse sentido, as questões relacionadas à dinâmica institucional, como a produção de regras e normas, ficam fora das análises dos professores sobre indisciplina escolar. Dessa forma, para os professores entrevistados, a indisciplina dos alunos, principal motivo intra-escolar apontado para o abandono da profissão, está associada às condutas dos alunos não legitimadas pelos professores no contexto regulador de sua prática pedagógica, prática essa marcada por relações de poder e controle.

O ambiente de trabalho também é apontado pelos professores como um dos motivos para o abandono da profissão. É interessante observar que todos professores que reclamaram do ambiente em que trabalhavam passaram por escolas variadas, identificando nessas escolas características comuns de bons e maus ambientes de trabalho. Para a maioria dos entrevistados a escola em que atuavam antes de deixar a profissão era desestruturada e desorganizada, caracterizando, assim, um ambiente ruim para o exercício profissional. Sempre que

falavam de suas antigas escolas, os professores o faziam comparativamente às escolas em que tinham trabalhado anteriormente ou, ainda, em relação às que freqüentaram quando eram alunos.

Já tinha trabalhado em duas outras escolas nos seis anos que fiquei no magistério. No começo, a gente muda muito de escola. Passei por uma excelente, com alunos mais interessados, uma direção mais atuante, uma coordenadora envolvida com o trabalho. Depois, as três seguintes foi um verdadeiro desastre. Vi que a primeira era uma exceção. Escola sem horário definido para o trabalho, coordenadora muito fraca, diários de classe entregues quase no final do semestre, diretora que deixava os alunos fazerem tudo. Nunca tinha aula direito, cada dia tinha uma coisa diferente pra fazer, coisa que a gente descobria na hora. Acredita que nessa última escola eu nunca participei de uma reunião de conselho de classe? Quando ficava sabendo já tinha acontecido. (R.G.P., feminino, 45 anos, 6 anos de magistério)

Quando eu estudava tinha vontade de ficar dentro da escola. Minha escola era um prédio bonito, imponente, limpo, com jardim. Dava gosto ir mais cedo, fazer trabalhos em grupo. A escola era um lugar agradável. Pensava que quando me tornasse professora sentiria o mesmo prazer em estar dentro da escola [...] Sempre que chegava pra trabalhar encontrava a escola suja, depredada, feia. Aquelas construções rápidas, mal acabadas. Quando reclamava à diretora ela dizia que não tinha funcionário, que não dava tempo de limpar a escola toda. Tinha dó dos alunos por estarem ali, no meio daquela sujeira, daquele mobiliário carcomido, daquele abandono. Muitos colegas mandavam os alunos varrerem a sala, dizendo que isso também era educativo. Não acho. Educativo era estimulá-los a manterem a sala limpa, não a limparem a sala. Quando sai, chegou uma tal verba para embelezamento. Vê se pode! Embelezamento! Diz, é possível ensinar e aprender em um lugar assim? (V.S.L., feminino, 27 anos, 7 anos de magistério)

Podemos perceber nos depoimentos selecionados dois aspectos distintos apontados pelos professores entrevistados. O primeiro está relacionado à dinâmica organizacional da escola, como a organização do horário de aulas, a utilização dos impressos escolares, a organização dos conselhos de classe; o segundo destaca aspectos físicos do prédio como pintura, limpeza, mobiliário, jardinagem, etc. O dois relatos selecionados representam a opinião de muitos entrevistados que destacaram tanto a desorganização pedagógica e administrativa da escola como as precárias condições de conservação e manutenção dos prédios escolares.

O desejo manifestado pela professora V.S.L de trabalhar em uma escola parecida àquela que freqüentou, um “prédio bonito, imponente, limpo, com jardim “ é compartilhada por outros professores, que também apontam como um problema para o exercício profissional a existência de prédios e equipamentos inadequados. Acerca das questões relacionadas aos prédios escolares, sua arquitetura e conservação e, principalmente, sua relação com a aprendizagem, Escolano (1998) afirma que:

(...) a arquitetura escolar é um elemento, invisível ou silencioso, ainda que ela seja, por si mesma, bem explícita ou manifesta. A localização da escola e suas relações com a ordem urbana das populações, o traçado arquitetônico do edifício, seus elementos simbólicos próprios ou incorporados e a decoração exterior e interior respondem a padrões culturais e pedagógicos que a criança internaliza e aprende. (Escolano : 1998, p. 45)

Em relação à organização pedagógica e administrativa da escola os professores apontaram diversas situações que afetavam diretamente o trabalho pedagógico. Muitos entrevistados reclamaram dos horários indefinidos de aula, que mudavam toda semana e, quando finalmente ficavam prontos, às vezes já no final do semestre, traziam um número excessivo de intervalos entre as aulas, fazendo-os esperar várias horas para ministrar duas aulas. Outras vezes, a queixa sobre a organização do horário estava relacionada aos critérios utilizados pela escola para atender às solicitações dos professores, cuja prioridade não era a organização do trabalho pedagógico, mas interesses particulares, como, por exemplo, a existência de dias de folga.

Uma das coisas que me fez desistir de ir da aula foi a injustiça. Saia de casa cedo e pegava dois ônibus pra chegar à escola. Dava a primeira, terceira e quinta aulas. Depois ficava pra fazer uma hora de HTPC. Isso acontecia três vezes na semana. No quarto dia eu dava a primeira e a última aula e somente em um dia da semana tinha as cinco aulas. Pedi várias vezes pra diretora arrumar meu horário, mas ela nunca arrumou. Dizia que a prioridade para a organização do horário era a da escala: primeiro os efetivos e, depois, os contratados com mais pontos. Muitos tinham o horário impecável, sem nenhuma janela e, ainda, com dia de folga. Isso não

acontecia só comigo. Tinha colegas que precisavam se deslocar para outras escolas e, por conta disso, nem conseguiam se alimentar direito. O horário da escola era tão bagunçado que eu passava até um mês sem entrar em algumas salas, pois toda semana tinha horário novo, mesmo sem atender as necessidades como as minhas. Isso durava quase todo o semestre. (J.S.T., feminino, 29 anos, 2 anos de magistério).

A organização do horário de aulas não foi a única reclamação dos professores. Falaram também da ausência de momentos destinados à discussão do aproveitamento escolar dos alunos, da falta de reuniões pedagógicas, da ausência da coordenação pedagógica nos momentos de trabalho coletivo, já que estava freqüentemente ocupada com o serviço da secretaria da escola ou cuidando de questões disciplinares, da demora na entrega de listas de alunos e diários de classe aos professores, dos comunicados e avisos que não chegam a todos, dos erros constantes e freqüentes no pagamento dos professores, ocasionados por erros da unidade escolar no envio de informações à Secretaria da Educação.

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