• Nenhum resultado encontrado

Os recursos materiais presentes na escola e sua utilização no processo de

Os recursos disponíveis e os procedimentos didáticos adotados pelo professor auxiliavam no entendimento e assimilação ativa dos conteúdos escolares pelas crianças, porém isso nem sempre ocorria de forma lúdica pela falta de materiais que possibilitassem esse tipo de trabalho. Nas observações foram utilizados apenas os recursos disponibilizados pela escola. Apesar disso notamos que a professora tentava encontrar estratégias para atingir os objetivos da aula, tais como o uso de brinquedos e jogos feitos pelos próprios alunos ou pelos alunos de outra turma que eram emprestados entre as professoras de primeiro ano da escola. A mobilização pessoal por parte da professora em relação aos usos de recursos ficou evidente em sua resposta:

Tem alguns brinquedos que podem ser adaptados, como jogos de bingo, de formação de palavras, fora isso fica por conta do professor mesmo estar buscando atividades diferenciadas, imprimindo por conta própria porque isso a gente também não tem cópias de Xerox nem nada, então o professor faz por conta ou teria que recorrer à lousa mas como eles ainda não conseguem escrever, então fica por conta do professor, tem que dar um jeitinho (PJ).

Como já mencionado anteriormente, a escola não contava com um acervo adequado de materiais pedagógicos que permitissem trabalhar de forma lúdica com as crianças do primeiro ano. A maioria dos materiais utilizados era proveniente de doações feitas pelos pais dos alunos e comunidade escolar:

A gente conseguiu o que tem por conta da escola, solicitou para os pais a doação de brinquedos porque realmente não tinha chegado nada do governo pra gente, então foi uma solução interna, que a gente fez, não teve muita

colaboração, então a escola usou o dinheiro da APM para comprar alguns brinquedos e montar uma salinha de brinquedos para eles (PJ).

A sala de brinquedo a que a professora se referiu é a brinquedoteca citada no item anterior e que não dispunha de variedade e qualidade adequada de brinquedos.

O brincar tem uma significativa relevância no desenvolvimento da criança como afirmou Vygotsky (1998). Para o autor, o aprendizado e o desenvolvimento estão inter- relacionados e a atividade do jogo e da brincadeira estão estreitamente ligadas à relação com o ambiente sócio-cultural. O mesmo autor enfatizou que o desenvolvimento cognitivo só ocorre efetivamente se o indivíduo tiver o contato e o suporte de outros indivíduos e que este deve ocorrer de forma lúdica, a partir de situações propícias ao aprendizado. Entendemos então que o brincar auxilia a criança no processo de aprendizagem, proporcionando situações imaginárias em que ocorre o desenvolvimento cognitivo, devendo por isso ser estimulado na escola.

A professora entrevistada afirmou saber da importância do brincar, principalmente na faixa etária dos seis anos, porém disse que encontrava muitos obstáculos para a execução de atividades lúdicas na escola:

Sinto que falta a parte lúdica pra eles, porque nessa faixa etária 60 % das atividades devem ser lúdicas então eles tem que adaptar muito e ás vezes fica falho e os alunos sentem essa falha também, porque eles pedem por atividades diferentes e a escola infelizmente não em como atender essa necessidade deles (PJ).

No que se referia ao material didático utilizado nas atividades de alfabetização, observamos que alguns foram disponibilizados pelo Governo do Estado via Secretaria de Educação. Esse material continha livros de histórias, gibis, contos e parlendas e, de acordo com a professora, constituía um acervo de leituras complementares:

O governo mandou pra gente apenas um acervo de leituras complementares e que no caso é o professor que faz a leitura diária para o aluno desse acervo. Mas livros de atividades ou de orientações ao professor, em relação às atividades, não (PJ).

Devido a falta de recursos materiais disponíveis, a professora procurou se reunir com outros colegas que atuavam no primeiro ano para planejar as formas de adaptação da escola pesquisada. Assim, construíram alguns materiais que eram utilizados coletivamente:

Como eu falei anteriormente a escola não tem os materiais. Os professores do primeiro ano se reuníram em fevereiro e a gente já sabia dessa realidade de que não tinha material didático para o primeiro ano então no momento do planejamento, a gente definiu que teríamos que agir por nossa conta em todas as turmas de primeiro ano (PJ).

Pudemos compreender com a análise dos dados coletados a partir das observações e entrevista, que os recursos materiais disponíveis na escola pesquisada não atendiam às necessidades de trabalho com as crianças de seis anos.

O espaço físico não era adequado e os materiais não eram suficientes tanto no que se referia à quantidade quanto à qualidade. As causas eram diversas e iam desde a falta de planejamento da unidade escolar antes da inclusão dessas crianças até a falta de respaldo do Governo do Estado no que se referia ao apoio financeiro.

A professora enquanto profissional tinha consciência das especificidades e necessidades das crianças, porém não era possível atender as mesmas com a qualidade determinada pelos documentos oficiais sem o devido respaldo estrutural e material por parte dos sistemas de ensino que acabaram incluindo as crianças de seis anos apenas no que se referiu ao acesso, isto é, à oferta de vagas. Era evidente a ausência de reorganização substancial no âmbito físico e pedagógico para o atendimento das crianças de diferentes faixas etárias atendidas pela escola campo de pesquisa. Também notamos que várias ações e adaptações ocorridas na escola dependeram mais da mobilização pessoal das professoras envolvidas com o 1º ano do que de intervenções do poder público.

5.2 Organização das atividades na escola e em sala de aula

Nesse eixo temático serão apresentadas as interpretações dos dados relacionados às práticas pedagógicas da professora e a organização das atividades na escola.

Iniciaremos abordando a questão da prática pedagógica da professora que atuava no primeiro ano do ensino fundamental de nove anos no momento da coleta. Para Libâneo (1998) a prática pedagógica consiste na direção do processo de ensino/aprendizagem que se dá de forma sistematizada e tanto no planejamento como no desenvolvimento das aulas, conjuga objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas do ensino.

A partir da imersão na sala de aula, espaço complexo de relações e interações humanas, com o objetivo de realizar a análise da prática pedagógica, observamos as múltiplas dimensões das atividades da professora tais como: organização da sala de aula, métodos de

ensino, avaliação, relação do professor com alunos, objetivos da aula, conteúdos apresentados, meios de ensino11.

A partir dos estudos de Libâneo (1998) os quais apontam que a direção do processo de ensino requer por parte do professor o conhecimento de princípios e diretrizes, métodos e procedimentos, procurei analisar quais desses aspectos estavam presentes na prática pedagógica da professora da sala de aula observada.

Documentos relacionados