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HABITANTES POR FOGO LM BRAGP ? Termo

3. A MORTALIDADE NO CONCELHO DE BRAGA

3.1. Os registos paroquiais

A notícia mais antiga, no que diz respeito aos registos paroquiais, prende-se

com uma lei promulgada em Évora, pelo rei D. Afonso IV, a 7 de Dezembro de 1352, e na qual se instituía a obrigatoriedade dos registos de casamentos "... para reprimir os crimes e os abusos cometidos pelo clero"112. Se esta lei foi ou não observada, e em caso afirmativo com que extensão, nada sabemos, dado que nenhum documento, que a tal se refira, chegou até nós.

Teremos de esperar mais de dois séculos para que no decurso de uma das sessões do Concílio de Trento, a 11 de Novembro de 1563, sejam definitivamente criados os registos de baptismos e casamentos, os quais se estenderão aos óbitos apenas a 17 de Junho de 1614, como assinala o ritual romano, editado sob a ordem de Paulo V113.

No entanto, e no que a Portugal se refere, já na primeira metade do séc. XVI sabemos da existência de registos paroquiais, quer da iniciativa dos párocos, quer das directivas emanadas através das constituições diocesanas. Assim, o livro paroquial

mais antigo, de que temos conhecimento, é um de assentos de baptizados da extinta freguesia de Santiago da cidade de Coimbra, abarcando o período de 1510 a 1569114.

1 1 2 FÉLIX, Emília — Les registres paroissiaux et l'état civil au Portugal, in «Archivum», Vol. VIII (1958),

1959, p. 89; CABRAL, António Machado de Faria de Pina — Da instituição dos registos paroquiais

em Portugal, in «Arqueologia e História», Vol. X, 1932, pp. 8-10.

1 1 3 FÉLIX, Emília — Les registres paroissiaux et l'état civil au Portugal, cit., p. 90; CABRAL, António

Machado de Faria de Pina — Da instituição dos registos paroquiais em Portugal, cit., p. 7.

1 1 4 CABRAL, António Machado de Faria de Pina — Da instituição dos registos paroquiais em Portugal,

cit., pp. 11-12; ALCOCHETE, Nuno Daupias d' — Considerações acerca do valor dos assentos

paroquiais anteriores à lei do registo civil de 1911, Lisboa, União Gráfica, 1964, p. 6. Sobre este

assunto ver também LOUREIRO, Henrique — Os assentos parochiaes anteriores ao Concílio de

Provavelmente como resultado destas práticas que vão lentamente surgindo, um pouco, por diversas paróquias, o sínodo reunido em Lisboa, a 25 de Agosto de 1536, por iniciativa do Cardeal Infante D. Afonso, Arcebispo de Lisboa, filho de D. Manuel I, estabelece a obrigatoriedade do registo de baptismos e óbitos115.

Logo no ano seguinte, nas constituições do Arcebispado de Braga, publicadas a 14 de Setembro de 1537 no sínodo convocado pelo Arcebispo Infante D. Henrique, e impressos em Lisboa, por German Galharde, em 1538116, se refere a obrigatoriedade da existência, em cada paróquia, de um livro onde serão lançados os baptizados e os óbitos.

"... E em outra parte do dito livro escreva os que falecerem de sua parochia e ho dia/mes e anno: e a quem deixara por seus testamenteiros"117. Mais tarde, no século XVII, por iniciativa do Arcebispo D. Sebastião de Matos e Noronha são ordenadas novas constituições sinodais do Arcebispado de Braga, que embora datadas de 1639, são mandadas imprimir por D. João de Sousa, apenas em 1697118.

Nelas se obriga a que os livros sejam compostos de quatro partes: a primeira para os baptizados, a segunda para os crismados, a terceira para os casados e a derradeira para os defuntos.

Trento, in «Archivo do Conselho Nobiliarchico de Portugal», II volume, 1927, pp. 113-118. Emilia

Félix, no seu trabalho "Les registres paroissiaux et l'état civil au Portugar, por nós já referido, indica como o registo mais antigo uma acta de baptismo de 1529, pertencente à paróquia de Nabainhos, concelho de Gouveia (FELIX, Emilia, op. cit., p. 89).

1 1 5 FÉLIX, Emília — Les registres paroissiaux et l'état civil au Portugal, cit., p. 89; ALCOCHETE, Nuno

Daupias d' — Considerações acerca do valor (...), cit., p. 4.

1 1 6 VASCONCELLOS, António de — Nota chronológico — bibliográphica das constituições diocesanas portuguesas, até hoje impressas, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1911.

1 1 7 Constituições do Arcebispado de Braga, (Infante D. Henrique), Lisboa, German Galharde, 1538, fól. nu.

1 1 8 VASCONCELLOS, António de — Nota chronológico-bibliográfica (...), cit.

"... Os defuntos, em que dia falecerão, onde se enterrarão, & quem forão seus testamenteiros, se deixarão obrigação de Missas perpetuas"119.

São estas as directivas que vão servir de base à feitura dos livros de assentos paroquiais, e que se vão manter praticamente inalteradas até final da época sobre a qual nos debruçamos, pese embora algumas tentativas para os alterar resultantes de diversas reformas liberais.

Teremos de esperar por 1859, e tendo por base um relatório do Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Eclesiásticos e de Justiça, Martens Ferrão120, onde era referido, nomeadamente, que:

"... O estado em que presentemente se acha o registro parochial, Senhor, é lastimoso tanto mais, se se considerarem os seus effeitos em relação aos factos sociaes, onde a sua intervenção é decisiva e indispensável. Os seus principaes defeitos podem ser reduzidos a quatro:

19 Falta de unidade de forma, resultante, já da irregularidade e falta de formulários nas diferentes constituições diocesanas, já da falta de observância d'esses mesmos formulários n'aquellas partes onde existem. 29 Imperfeição de execução, já na deficiência das declarações, já na

irregularidade das emendas e additamentos, já na verificação e guarda dos documentos comprovativos.

1 1 9 Constituições Sinodais do Arcebispado de Braga, Ordenadas no anno de 1639 pelo lllustríssimo Senhor Arcebispo D. Sebastião de Matos e Noronha e mandadas imprimir pela primeira vez pelo lllustríssimo Senhor D. João de Sousa (...)■ Lisboa, Officina de Miguel Deslandes, 1697, p. 24. 1 2 0 Collecção Official da Legislação Portugueza, redigida por José Máximo de Castro Netto Leite e

Vasconcellos, Anno de 1859, Lisboa, Imprensa Nacional, 1860, p. 465.

38 Falta de fiscalização da boa execução do registro.

48 Finalmente, deficiência de garantias da sua fiel e segura conservação", para que fosse elaborado um Decreto121 para "...regular o registro parochial em harmonia com as prescripções da Lei civil e eclesiástica, para que possa satisfazer aos fins que as mesmas leis tiveram em vista".

O Decreto estipulava, entre outras coisas, os assentos que deviam continuar a ser feitos pelo respectivo pároco ou pelo eclesiástico que para este fim legitimamente o substituísse, que os registos paroquiais compreendessem os nascimentos, casamentos, óbitos e o reconhecimento e legitimação dos filhos e que os assentos devessem sempre declarar: o dia, mês e ano em que eram feitos; a paróquia, concelho, distrito eclesiástico e bispado a que pertencessem; o nome, apelido e qualidade do pároco ou eclesiástico que os fez; o nome e apelido, naturalidade e residência da pessoa ou pessoas por cuja causa tivesse lugar o assento, e de seus pais e mães, e os nomes de seus avós paternos e maternos; os nomes, apelidos, estado, profissão e residência de quaisquer outras pessoas que tenham de figurar nos assentos, tais como padrinhos e testemunhas, e reconhecimento desses; finalmente, todas as outras declarações que no Decreto vão indicadas para cada uma das espécies de assentos.

Os assentos de óbitos deverão especialmente declarar: o dia, mês e ano em que teve lugar o falecimento; o sexo, idade e estado do falecido, e sendo casado ou viúvo o nome do cônjuge com quem tinha sido casado; se faleceu com ou sem testamento; se a pessoa morta for desconhecida, declarar os sinais que tem, as feições,

121 Decreto de 19 de Agosto de 1859, in Colecção Official da Legislação Portugueza (...), Anno de 1859, cit., pp. 465-468.

o lugar em que foi encontrada, e finalmente todos os indícios que pudessem ajudar o seu reconhecimento.

Também era estabelecido que no prazo dos primeiros dois meses de cada ano, os vigários da vara ou Arciprestes fizessem a visita à sua vigairaria ou arciprestado, para verificar o estado do registo paroquial, e a regularidade com que era feito, conferindo todos os livros de registo do ano anterior, lançando no fim deles o seu visto, e anotando as faltas ou irregularidades que encontrassem.

Este decreto era complementado por um outro122, em que foram publicados os modelos dos assentos tal como deveriam ser lançados nos livros de registo paroquial.

Mais tarde, em 1861, é nomeada uma comissão para analisar as reclamações apresentadas por alguns párocos e propor as alterações necessárias para que o Decreto de 19 de Agosto de 1859 pudesse ser aplicado com maior facilidade123, dela resultando um novo Decreto124, que para além de apresentar novos modelos para a execução dos respectivos registos, introduziu algumas alterações nos assentos de óbitos, entre as quais destacamos a indicação da profissão do falecido; se era filho legítimo, ilegítimo ou exposto; se deixou filhos; se recebeu sacramentos e o lugar da sepultura.

Estes decretos que acabamos de referir tiveram como principal objectivo a uniformização dos assentos através da imposição de formulários rigorosos. Também, como ficou visto, a efectivação e controlo da qualidade dos registos paroquiais esteve

1 2 2 Decreto de 8 de Outubro de 1859, in Collecção Official da Legislação Portugueza (...) Anno de 1859,

cit., pp. 663-667.

123 Decreto de 22 de Maio de 1861, in Collecção Official da Legislação Portugueza (...), Anno de 1861, Lisboa, Imprensa Nacional, 1862, p. 198.

1 2 4 Decreto de 2 de Abril de 1862 in Collecção Official da Legislação Portugueza (...), Anno de 1862,

Lisboa, Imprensa Nacional, 1863, pp. 68-75.

sempre sob a alçada exclusiva das autoridades eclesiásticas, sendo a forma e o conteúdo dos mesmos verificados pelo visitador, através de visitas anuais (o que algumas das vezes não acontecia...)- Depois de observar os livros, neles eram registados os reparos julgados pertinentes, sendo datados e assinados. Exemplo do papel dos visitadores pode ser dado pelas diversas "reprimendas" que ficaram exaradas nos livros de óbitos da freguesia de O Salvador de Tebosa resultantes do grande número de óbitos incompletos.

Quando nos dispomos a utilizar este tipo de fontes, como diz Pierre Goubert, "... é preciso saber o que são os registos paroquiais, e o que se lhes pode pedir: eles não foram criados para satisfazer a curiosidade dos historiadores demógrafos"125. O mesmo autor refere ainda que "... cada grupo paroquial fornece ao investigador a sua originalidade, por vezes bem desapontadora. É preciso portanto interessarmo-nos por a descobrir: as regras da crítica das fontes aplicam-se também a esta categoria de documentos"126.

A principal fonte manuscrita por nós utilizada foi constituída pelos livros de assentos paroquiais, tendo sido consultados os existentes no Arquivo Distrital de Braga, e os ainda depositados na Conservatória do Registo Civil de Braga.

No que diz respeito ao estado de conservação dos livros, eles encontram-se em condições razoáveis, notando-se, no entanto, uma certa dificuldade na leitura de certos óbitos resultante da utilização, quer de papel, quer especialmente de tintas, que corroeram os respectivos assentos. De todos os livros compulsados apenas um não foi utilizado — o Misto 2 de S. Paio de Ruilhe, referente ao período 1665-1741, dado o seu

1 2 5 GOUBERT, Pierre — Une richesse historique en cours d'exploitation: Les registres paroissiaux, in

«Annales E.S.C.», 9e. année, na 1 (Jan. - Mars), 1954, p. 84. 1 2 6 GOUBERT, Pierre — Une richesse historique (...), cit., p. 85.

péssimo estado de conservação, com a distruição de cerca de um terço de todas as folhas. Noutros casos o seu mau estado não nos impediu a observação necessária, sendo disso exemplo o Misto 2 de S. Martinho de Espinho (1691-1701) e o Misto 2 de Sta. Maria de Lamaçães (1668-1722).

Infelizmente, e por razões que depois apontaremos, não possuímos séries completas de assentos de óbitos para as 60 freguesias, gjje^ãQ_Qpjectoido mesmo estudo, e para o período temporal (1700-1880) que foi considerado.

No quadro 27, que a seguir apresentamos, são indicadas as lacunas detectadas.

Quadro 27

Lacunas nas séries cronológicas (1750-1880)

N8 Freguesias 1. Cividade 3. S. Lázaro 4. S. Vitor 6. Souto 8. Arcos 12. Celeiros 15. Dume 16. Escudeiros 17. Espinho 19. Este (S. Mamede) 21. Ferreiros 33. Mire de Tibães 34. Morreira 35. Navarra 38. Oliveira 41. Panoias 43. Passos 46. Penso (S. Vicente) 47. Pousada 50. Ruilhe

51. Sta. Lucrécia de Algeriz

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