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Os registros como instrumentos de apreensão do vivido

No documento mariacristinafontesamaral (páginas 37-43)

2 REGISTROS E AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: O QUE DIZEM

2.2 REGISTROS E AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: O QUE NOS DIZEM

2.2.4 Os registros como instrumentos de apreensão do vivido

Nessa categoria, foram agrupados trabalhos que focalizam os registros produzidos pelas professoras e pelas crianças, atividades propostas pelos professores nas creches e pré- escolas, cadernos, portfólios, agendas escolares e diários de classe. Nesses materiais, os pesquisadores buscam evidências das práticas cotidianas, elementos das práticas curriculares, percursos e rastros que indiciem fatores que motivaram a professora a realizar e sustentar a prática do registro e, ainda, compreender como ocorre a comunicação entre escola e família.

Quadro 7: Trabalhos relacionados aos registros como instrumento de apreensão do vivido

Temática 4: Os registros como instrumentos de apreensão do vivido

Ano Autor Título Natureza

2009 Aline Shiohara O registro como mediação criadora de

possibilidades

Dissertação

2009 Maria Paula Vignola Zurawski

Escrever sobre a própria prática: desafios na formação do professor da primeira infância

Dissertação

2010 Ana Simara Fragoso Kilpp

O papel da agenda escolar no cotidiano das instituições de educação infantil: uma questão em

debate

Dissertação

2010 Marelenquelem

Miguel

Entre atividades, cadernos e portfólios: análise dos saberes e materiais utilizados na educação infantil

Dissertação

Fonte: banco de teses e dissertações da CAPES

Cumpre ressaltar que as teses e dissertações analisadas são trabalhos desenvolvidos a partir de abordagens qualitativas de pesquisa, diferenciando-se apenas quanto às opções teórico-metodológicas: análise documental, levantamento bibliográfico, relatos autobiográficos, pesquisa-ação, pesquisa-ação colaborativa e estudos de natureza fenomenológica.

Dentre os trabalhos encontrados no banco de teses e dissertações da CAPES, o estudo realizado por Paz (2005) merece uma análise individualizada por se tratar de um estudo da produção acadêmica brasileira voltada para a avaliação na educação infantil veiculada pelas reuniões anuais da ANPED entre 1993 e 2003. Desse modo, ao realizar minhas buscas sobre a temática da avaliação entre os trabalhos encomendados, trabalhos apresentados e pôsteres expostos nas reuniões anuais da ANPED, considerei os dados do referido estudo. Nele, a autora realiza um levantamento bibliográfico nos programas e resumos das Reuniões Anuais da ANPED em todos os grupos de trabalho (GTs), utilizando como descritores de busca os termos avaliação, planejamento e proposta pedagógica. Segundo a pesquisadora, a partir da seleção dos trabalhos relacionados à educação infantil, foi possível, por meio da análise de conteúdo, destacar as referências mais frequentes sobre a avaliação, comparar as diferentes matrizes e relacioná-las com as diretrizes contidas no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.

Essa pesquisa evidenciou que os modelos de avaliação na educação infantil geralmente se subordinam àqueles do ensino fundamental, desconsiderando as especificidades da educação de crianças na faixa etária de 0 a 6 anos. O trabalho desenvolvido por Paz (2005) constata, ainda, a existência de um número reduzido de estudos sobre avaliação na educação infantil, pois, de um total de 137 trabalhos apresentados sobre o tema, incluindo pôsteres e trabalhos encomendados, apenas três referem-se à educação infantil, estando os demais distribuídos entre outros níveis e modalidades de ensino.

De acordo com Paz (2005), há uma preocupação entre educadores e pesquisadores da maioria dos grupos de trabalho da ANPED com questões que envolvem a avaliação de um modo geral, e não apenas acerca dessa prática na ação pedagógica. Ainda de acordo com a referida autora, observa-se, entretanto, que a avaliação é ainda um tema incipiente no grupo de trabalho que trata da educação das crianças de 0 a 6 anos (GT7). Os três trabalhos que tratam do tema da avaliação na educação infantil, embora abordem aspectos diferenciados, explicitam uma preocupação com a qualidade das práticas de educação e cuidado das crianças de 0 a 6 anos. Em suas considerações, a autora ressalta:

[...] as [três] pesquisas foram unânimes em apontar a necessidade de qualificar a educação nesse nível, através de profissionais habilitados, ambientes adequados, materiais didáticos pedagógicos que atendam aos interesses das crianças, formação continuada e permanente dos profissionais que aí atuam, ação pedagógica planejada, relações amistosas entre a crianças, adultos e famílias como um fator relevante na qualidade, razão adulto/criança, valorização dos profissionais, entre outros aspectos. (PAZ, 2005, p. 65, grifo nosso)

A constatação da autora a respeito da existência de uma relação entre as reflexões acerca da avaliação e a ideia de qualidade na educação infantil converge com aquelas desenvolvidas por outros autores nos demais textos analisados e, ainda, com Amaral e Micarello (2012), citadas no corpo deste trabalho. Concordo com a afirmação de Paz (2005) de que a qualidade desse processo passa pelos estudos, debates e reflexões acerca dos encaminhamentos, propostas e práticas que vêm sendo construídas e materializadas nos contextos institucionais de educação infantil. Acredito que, a partir de um estudo sobre os processos de avaliação e seus desdobramentos, é possível avançar para a compreensão e superação dos problemas e dilemas que ainda envolvem essa ação uma vez que as pesquisas nos revelam possibilidades de continuidades.

Prosseguindo a busca nas reuniões da ANPED no período de 2004 a 2011 – subsequente àquele abordado por Paz (2005), em dois grupos de trabalho (GTs) – Educação da criança de 0 a 6 anos (GT 07) e Ensino Fundamental (GT 13), privilegiei os trabalhos voltados para a avaliação da ação pedagógica.

No GT do Ensino Fundamental, encontrei publicações relacionadas à avaliação em todos os anos, com exceção de 2009 e 2010, totalizando sete trabalhos que abordam a temática. Desse total, cinco foram trabalhos apresentados e dois, pôsteres.

Em contrapartida a esse quadro, no GT educação de crianças de 0 a 6 anos, encontrei apenas um trabalho no mesmo período. Esse único trabalho – “Registros Pedagógicos de Professoras da Educação Infantil” (MACHADO, 2010) – é resultado de uma pesquisa que teve como objetivo compreender como as professoras da educação infantil de uma rede pública organizam o trabalho docente a partir de seus registros pedagógicos (MACHADO, 2009).

Foi possível constatar, então, que a tendência identificada por Paz (2005) no período de 1993 a 2003 se manteve nos anos posteriores: comparativamente à abordagem do tema no ensino fundamental, o número de pesquisas acerca da avaliação da ação pedagógica na educação infantil permanece reduzido.

Esse dado me levou a questionar as concepções com relação à função dos processos de acompanhamento das aprendizagens para o desenvolvimento infantil nesta etapa da educação básica. Prevaleceria na educação infantil uma visão na qual a ação pedagógica é tratada de forma espontaneísta, uma vez que a avaliação não tem sido necessariamente a base para o planejamento da ação pedagógica?

Os trabalhos com os quais dialoguei nessa revisão, além de apresentarem as diferentes funções que os registros podem assumir nas instituições escolares, reafirmam a importância e necessidade da avaliação na educação infantil, evidenciando que essa prática, quando distanciada do caráter de promoção, apresenta possibilidades para subsidiar as práticas pedagógicas, valorizando os processos de construção do conhecimento através do acompanhamento dos interesses e especificidades das crianças. Nesse sentido, os portfólios têm sido priorizados como um instrumento que possibilita não apenas esse acompanhamento como também a reflexão dos docentes sobre suas ações. Por isso, torna-se igualmente fundamental a formação dos professores para que promovam práticas de registro e avaliação que considerem as vozes das crianças e de suas famílias. Além disso, as pesquisas, de uma

maneira geral, revelam que a superação de concepções de educação infantil que a identificam como uma reprodução, em menor escala, do ensino fundamental faz-se necessária e requer clareza acerca dos objetivos que se deseja alcançar no trabalho com as crianças.

Os trabalhos analisados, em sua maioria, tendem a uma perspectiva diagnóstica, sendo as pesquisas de caráter propositivo ainda em um número reduzido. Apenas em quatro estudos mapeados, as crianças se constituíram como interlocutoras, fato que reforça o caráter unilateral que ainda marca as práticas pedagógicas nessa etapa da educação. Isso significa que temos um longo caminho a percorrer com vistas ao enfrentamento de tendências que têm por intenção a classificação e padronização dos sujeitos a partir de uma visão idealizada de criança.

Ao proceder-se a essa revisão bibliográfica, foi possível constatar a relevância conferida aos atos de registrar e avaliar na educação infantil, vislumbrada nos documentos oficiais e nas pesquisas acadêmicas, visto que ambas as fontes revelam as possibilidades que essas ações proporcionam à autorreflexão dos professores, ao acompanhamento e apreensão do vivido e, ainda, à aproximação com as famílias e com as próprias crianças. Desse modo, pode-se considerar que as práticas de registro e de avaliação, a partir do envolvimento de professores, crianças e famílias, favorecem a afirmação e qualificação do fazer pedagógico, estando atreladas à busca pela qualidade do atendimento nas instituições de educação infantil. É nesse sentido que percebo a relevância da presente pesquisa, uma vez que foi possível compreender, a partir dos significados atribuídos por professores, familiares e crianças aos registros produzidos em uma instituição de educação infantil, como esses registros podem se configurar como elementos para subsidiar a avaliação das práticas e do desenvolvimento infantil nessa etapa da educação básica.

Finalmente, considero que situar minha pesquisa no atual cenário educacional brasileiro por meio do mapeamento dos trabalhos já existentes contribuiu para que eu compreendesse diversas situações vivenciadas no trabalho de campo, descortinando possibilidades de continuidade dos diálogos e discussões acerca das práticas de registro e de avaliação na educação infantil.

A fim de compreender as diferentes funções que os registros podem adquirir nas práticas pedagógicas e nos processos de avaliação, tais como acompanhamento ou sentenças finais, processos ou produtos, técnica ou formação, considerei relevante refletir, no próximo capítulo, sobre as formas pelas quais a avaliação pode se consolidar nas instituições de

educação infantil. A partir dessa reflexão, procuro esclarecer a concepção de avaliação que estou defendendo destacando a relevância de múltiplos registros nesse processo.

3 REGISTROS E AVALIAÇÃO NAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL:

No documento mariacristinafontesamaral (páginas 37-43)