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3 A ATENÇÃO ESPECIAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL PARA COM O

3.4 Os requisitos e vias necessárias à demonstração da atividade rural

Para que o segurado especial goze dos benefícios presentes no rol da previdência social não é necessário que tenha certa quantidade de contribuições mínimas, mas sim que possua um tempo mínimo de efetivo exercício da atividade campesina.

Vale destacar a diferença da realidade fática quanto à comprovação da atividade rural quando a comparamos com a modalidade urbana. Utilizando por base o exemplo da concessão do benefício de aposentadoria por idade, verifica-se que

quando o assunto é relativo ao campo do segurado urbano, o indivíduo não percebe tanta dificuldade em provar a sua qualidade quanto tem aquele campesino na comprovação da atividade rurícola, visto que naquela primeira situação basta apenas ter a idade mínima e o período contributivo também mínimo, comprovado através do extrato previdenciário de contribuições previdenciárias.

Diferentemente, o modo de obtenção da aposentadoria por idade na modalidade rural se mostra dificultado e enfrenta barreiras para a sua conclusão. Em virtude de as exigências serem, em teoria, mais simplificadas, os meios de prova para chegar ao cumprimento delas encontram empecilhos pelo seu caminho, de modo que se exige um conjunto de provas inequívocas para chegar à concessão do benefício pleiteado.

A Lei nº 8.213 de 1991 em seu artigo 106, o qual teve redação inteiramente substituída à dada pela Lei 11.718 de 2008, deixa claro:

Art. 106. A comprovação do exercício de atividade rural será feita, alternativamente, por meio de:

I – contrato individual de trabalho ou Carteira de Trabalho e Previdência Social;

II – contrato de arrendamento, parceria ou comodato rural;

III – declaração fundamentada de sindicato que represente o trabalhador rural ou, quando for o caso, de sindicato ou colônia de pescadores, desde que homologada pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS;

IV – comprovante de cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, no caso de produtores em regime de economia familiar;

V – bloco de notas do produtor rural;

VI – notas fiscais de entrada de mercadorias, de que trata o § 7o do art. 30 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, emitidas pela empresa adquirente da produção, com indicação do nome do segurado como vendedor;

VII – documentos fiscais relativos a entrega de produção rural à cooperativa agrícola, entreposto de pescado ou outros, com indicação do segurado como vendedor ou consignante;

VIII – comprovantes de recolhimento de contribuição à Previdência Social decorrentes da comercialização da produção;

IX – cópia da declaração de imposto de renda, com indicação de renda proveniente da comercialização de produção rural;

X – licença de ocupação ou permissão outorgada pelo Incra.

Destaca-se que a presença do termo “alternativamente” no caput do artigo supracitado significa dizer que o rol de documentos destacados não é cumulativo, ou seja, necessita que se tenha apenas um início de prova material ofertado por quaisquer documentos constantes ali. Logicamente, quanto mais provas o pretendente ao benefício tiver, maiores são as suas chances de ter o seu pedido deferido.

É assim que entende o Superior Tribunal de Justiça através de jurisprudência pacificada sobre o tema, como se vê em decisão proferida no Recurso Especial nº 1650326 MT 2017/0005876-0 visto a seguir:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. VOTO- VISTA DO MIN. MAURO CAMPBELL MARQUES. ALINHAMENTO COM A POSIÇÃO DO NOBRE COLEGA. APOSENTADORIA POR IDADE. ATIVIDADE RURAL. INÍCIO RAZOÁVEL DE PROVA MATERIAL RECONHECIDO PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS E CORROBORADO

POR PROVA TESTEMUNHAL. VALORAÇÃO DO CONJUNTO

PROBATÓRIO. POSSIBILIDADE. ÓBICE DA SÚMULA 7/STJ AFASTADO. 1. A controvérsia gira em torno do preenchimento dos requisitos para a concessão de pensão por morte à autora. 2. A jurisprudência do STJ se

mostra firme no sentido de que o reconhecimento de tempo de serviço rurícola exige que a prova testemunhal corrobore um início razoável de prova material, sendo certo que o rol de documentos hábeis à comprovação do exercício de atividade rural, inscrito no art. 106, parágrafo único, da Lei 8.213/1991, é meramente exemplificativo, e não taxativo. 3. Segundo a orientação do STJ, as certidões de nascimento, casamento e óbito, bem como certidão da Justiça Eleitoral, carteira de associação ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, ficha de inscrição em Sindicato Rural, contratos de parceria agrícola, podem servir como início da prova material nos casos em que a profissão de rurícola estiver expressamente mencionada desde que amparados por convincente prova testemunhal. Precedentes: AgRg no AREsp

577.360/MS, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 22/6/2016, e AR 4.507/SP, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, Terceira Seção, DJe 24/8/2015. 4. O acórdão recorrido concluiu desconsiderar as provas materiais, afastando a decisão do juízo sentenciante que presidiu a instrução do feito, que bem valorou as provas ao ter estabelecido contato direto com as partes, encontrando-se em melhores condições de aferir a condição de trabalhador rural afirmada pelo autor e testemunhas ouvidas. 5. O juízo acerca da validade e eficácia dos documentos apresentados como o início de prova material do labor campesino não enseja reexame de prova, vedado pela Súmula 7/STJ, mas sim valoração do conjunto probatório existente. Precedentes: AgRg no REsp 1.309.942/MG, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 11/4/2014, e AgRg no AREsp 652.962/SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 3/9/2015. 6. Recurso Especial provido.

(STJ - REsp: 1650326 MT 2017/0005876-0, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Data de Julgamento: 06/06/2017, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 30/06/2017, grifo nosso).

Dessa forma, conclui-se que, além de ser exigido apenas um início robusto de prova, o depoimento testemunhal acerca do caso fático deve corroborar e justificar a condição de trabalhador rural pelo tempo exigido pela Lei para que assim seja concedido o benefício demandado pelo indivíduo.

Além disso, destacam-se mais dois pontos: primeiro, as provas do cônjuge ou companheiro do indivíduo ajudam a formar entendimento acerca da existência da condição de trabalhador rurícola, motivo pelas quais não devem ser ignoradas quando se busca a obtenção do benefício; segundo, não é necessário que a prova

documental e testemunhal apresentada seja equivalente a todo o período de carência necessário, bastando o indício de que tenha ocorrido o exercício campesino por tempo suficiente ao atendimento da demanda (GOES, 2018).

Desse modo, o ordenamento jurídico visou facilitar os meios de prova daquele que pretende ser um segurado especial, haja vista a dificuldade dos trabalhadores rurais em obter e guardar documentos comprovantes da sua atividade, inclusive em virtude da ampla falta de instrução que atinge a grande maioria dos agricultores, principalmente aqueles mais velhos.

4 APOSENTADORIA HÍBRIDA COMO ESPÉCIE DE BENEFÍCIO